Em greve de fome desde junho e alimentada à força por uma sonda nasal, a jornalista-cidadã chinesa Zhang Zhan, que estava detida desde maio, foi condenada a quatro anos de prisão em Xangai nesta segunda-feira (28/12), pelo crime de “provocar discórdia e causar problemas”. Ex-advogada de 37 anos, Zhan notabilizou-se por transmitir notícias sobre a pandemia via WeChat, Twitter e YouTube a partir de Wuhan, cidade chinesa onde o coronavírus foi inicialmente identificado, tendo sido presa em maio.
A condenação ganhou destaque na imprensa em todo o mundo, mas não foi surpresa. A China lidera os rankings de jornalistas presos em 2020 elaborados pelas principais organizações que defendem a liberdade de imprensa, como a Repórteres Sem Fronteiras e o Comitê para a Proteção de Jornalistas. O caso de Zhan vinha sendo citado nos relatórios como emblemático da repressão contra a mídia no país.
O advogado da jornalista, Zhang Keke, relatou que ela compareceu ao julgamento em uma cadeira de rodas, que havia perdido de 15 a 20 quilos, seu cabelo fora cortado e estava fortemente abalada. Ele disse via redes sociais que o promotor apenas leu a lista de evidências, sem mostrar a maioria delas, e que Zhan quase não falou, mas afirmou que “o discurso do cidadão não deve ser censurado”.
Muitos ativistas foram ao local para acompanhar o caso e prestar solidariedade, mas, de acordo com reportagem do South China Morning Post, a entrada na sala do julgamento foi proibida pela polícia. Alguns que tentaram entrar foram levados para a delegacia. A AFP postou nas redes sociais imagens de jornalistas sendo abordados por policiais tentando impedir o trabalho. (Veja+)
Editor-chefe do Digital da RedeTV, André Lucena deixou a emissora após nove anos e seguiu para o Olhar Digital. Na RedeTV, além de comandar a equipe que bateu o recorde de faturamento do Digital da emissora, ele atuou como comentarista do programa Papo de Bola e dos campeonatos italiano, turco, mexicano e Copa Sul-Americana. Também participou de grandes coberturas do canal, como o UFC Rio e debates eleitorais multiplataformas.
Em fevereiro deste ano, quando a cidade de São Paulo ficou completamente alagada, ele apresentou (com pouca experiência diante das câmeras) um boletim de duas horas e meia de duração, com as participações, por telefone, de Boris Casoy (então âncora do RedeTV News) e Franz Vacek (superintendente de Jornalismo e Esporte da emissora).
A chegada dele ao Olhar Digital inaugura uma nova fase no portal, com integração maior das redações de vídeo e texto, bem como a criação de produtos.
Quem o substitui no portal da RedeTV é Jéssica Soares, que começou na empresa como estagiária.
Morreu na madrugada desta quarta-feira (23/12) o repórter José Maria Mayrik, aos 82 anos, em São Paulo, vítima de complicações de uma leucemia. Ele deixa esposa e quatro filhas.
Com mais de 50 anos de carreira, Mayrik iniciou no Jornalismo em 1961, quando começou a colaborar no Jornal do Povo, da cidade de Ponte Nova, no interior de Minas Gerais. Um ano depois trabalhou no Correio de Minas. Formou-se em Jornalismo na Faculdade Cásper Líbero, em São Paulo, e especializou-se na cobertura de religião. Trabalhou nos últimos 20 anos como repórter especial do Estadão.
Mayrik cobriu eventos históricos, como o golpe militar no Chile, a eleição de dois papas e a beatificação de outros dois. Era conhecido como uma “enciclopédia” em assuntos do Vaticano. É autor de obras como Filhos do Divórcio (1984), Anjos de Barro (1986), Vida de Repórter (2002) e 1968 – Mordaça no Estadão (2002).
A Mega Brasil decidiu inovar e pela primeira vez produziu um Especial de Natal do seu Jornal da Comunicação Corporativa, com um programa em vídeo e uma newsletter, reunindo depoimentos e performances de executivos de comunicação que estiveram ao lado da empresa neste difícil e complexo ano de 2020. Marco Rossi, que dirigiu os especiais, diz que a tônica do projeto foi a liberdade dada a todos os convidados e a emoção que cada um colocou nessa participação inédita na área da comunicação corporativa.
Rossi faz um convite a todos “para que acompanhem este nosso Especial de Natal e confiram as mensagens de Alcides Ferreira, Carlos Battesti, Carol Silvestre, Carolina Gutierrez Prado, Caroline D Avo, Celia Romano, Claudia Leite, MSc, Daniela Cristina Dias Teixeira, David Grinberg, Fernanda Dabori, Fernando Saliba, Gislaine Rossetti, Leandro Modé, Lígia Batista, Luciana Leite, Malu Weber, Marcio Cavalieri, Martha Becker, Myrian Vallone, Nancy Assad, Nelson Silveira, Sandra Paula Tomazi Weber, Priscilla Caetano, Rosângela Ribeiro, Rose Campos − Ecos do Meio, Tania Magalhães e Viviana Toletti”.
A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) vai lançar no ano que vem o Centro de Proteção Legal para Jornalistas, com o objetivo de custear processos movidos contra profissionais de imprensa no Brasil, principalmente comunicadores freelances que trabalham fora dos grandes centros urbanos e que não contam com o apoio jurídico de veículos.
Profissionais que queiram processar autoridades públicas também poderão solicitar apoio financeiro, assim como possíveis casos de litigância estratégica. O caso será avaliado pela Abraji, que, além de contratar o advogado, vai seguir de perto os processos e produzirá eventualmente reportagens para registrar o andamento deles. O projeto tem apoio financeiro da organização internacional de direitos humanos Media Defence, com sede em Londres. (Veja+)
Em crise política, Bielorussia foi um dos países que mais prenderam jornalistas mulheres em 2020, segundo RSF / Foto: Reuters
A OnG Repórteres sem Fronteiras publicou a primeira parte de seu balanço anual de abusos cometidos contra jornalistas em todo o mundo. Em 2020, 387 jornalistas foram presos, 54 foram feitos reféns e 4 estão desaparecidos. O número de prisioneiros permaneceu estável, apesar de um aumento significativo das violações e prisões ligadas à crise sanitária.
O número de mulheres jornalistas detidas, porém, aumentou em 35%. Ao final de 2020, 42 delas estão privadas de liberdade. As novas prisioneiras são, sobretudo, da Bielorrússia, que sofre com uma repressão sem precedentes desde a controvertida eleição presidencial, em agosto, do Irã e da China, onde a repressão ficou mais forte com a crise sanitária. Na lista das mulheres jornalistas presas, está a vencedora do Prêmio RSF da Liberdade de Imprensa de 2019, Pham Doan Trang, do Vietnã.
Segundo a pesquisa, mais da metade dos jornalistas presos (61%) estão em apenas cinco países: China, Egito, Arábia Saudita, Vietnã e Síria, que pelo segundo ano consecutivo representam as cinco maiores prisões do mundo para jornalistas.
Ainda que não exaustivos, os dados coletados pelas equipes da RSF e do Observatório 19 revelam que o número de prisões e interpelações arbitrárias quadruplicou entre os meses de março e maio de 2020, início da disseminação do coronavírus pelo mundo. Embora a maioria dos jornalistas fique detida por algumas horas, dias, ou semanas, 14 jornalistas ainda estão presos por conta das suas coberturas da pandemia de Covid-19.
“Cerca de 400 jornalistas vão passar as festas de fim de ano atrás das grades, longe de familiares e amigos, em condições de detenção que, por vezes, colocam suas vidas em perigo”, denuncia o Secretário-Geral da RSF Christophe Deloire. Desde 1995, a RSF publica o Balanço Anual de ataques contra jornalistas, que se baseia em dados coletados ao longo de cada ano. A entidade publicará ainda o Balanço Anual dos jornalistas mortos em 2020, no dia 29 de dezembro.
Grande número de iniciativas adiadas ou suspensas por causa da pandemia foi o destaque negativo de 2020
Em sua décima edição, o Ranking dos +Premiados da Imprensa Brasileira chegou à marca de 170 prêmios de jornalismo analisados, entre iniciativas nacionais e internacionais, extintas ou ativas. Em um ano marcado pela Covid-19, o destaque negativo desta edição do levantamento foi o grande número de premiações que cancelaram ou adiaram para 2021 suas edições em decorrência da pandemia.
A redução, como já era de se esperar, impactou diretamente no número de jornalistas premiados em 2020. No total, 282 jornalistas conquistaram algum dos 170 prêmios analisados neste ano, menos da metade dos 598 registrados em 2019.
Dos 75 prêmios de jornalismo que realizaram concursos em 2019, 40 não divulgaram resultados em 2020, com destaque para algumas iniciativas tradicionais como os prêmios Comunique-se, BNB, Estácio, Gabo, Abraji e MPT. No total, apenas 31 dos prêmios que já integravam a base de dados do Ranking mantiveram suas edições mesmo com a pandemia. A elas, juntaram-se outras quatro iniciativas: CICV de Cobertura Humanitária, ADPEC, Policiais Federais e 99 de Jornalismo.
Autor de livro-reportagem de maior sucesso no Brasil, Laurentino Gomes fica na segunda colocação
Patrícia Campos Mello
Pela segunda edição consecutiva, o Ranking dos +Premiados da Imprensa Brasileira, iniciativa promovida desde 2011 por Jornalistas&Cia, com o apoio deste Portal dos Jornalistas, apontou a repórter especial e colunista da Folha de S.Paulo Patrícia Campos Mello como a jornalista mais premiada do ano no Brasil. Foi a primeira vez, não apenas de forma consecutiva, que um profissional repetiu a liderança da pesquisa.
No total, ela conquistou 150 pontos, cinco a mais do que em 2019, a partir de três prêmios de jornalismo. Dentre eles, destaque para o Maria Moors Cabot, mais antiga premiação de jornalismo do mundo, concedido pela Universidade Columbia, de Nova York. Ela também faturou neste ano o Mulher Imprensa de Contribuição ao Jornalismo e o Prêmio Folha, na categoria Reportagem, pelo especial Desigualdade Global.
Estes reconhecimentos são fruto do excelente trabalho investigativo que Patrícia vem realizando nos últimos anos. Em 2018, após publicar a reportagem Empresários bancam campanha contra o PT pelo WhatsApp, que denunciava investimentos não declarados de R$ 12 milhões por apoiadores do então candidato Jair Bolsonaro, ação vedada pela Justiça Eleitoral, ela passou a receber inúmeros ataques e ameaças nas redes sociais. Ainda como desdobramento desse trabalho, em fevereiro deste ano ela foi alvo de insultos de cunho sexual durante a CPMI das Fake News por parte de membros do governo.
Laurentino Gomes
Na segunda colocação, com 110 pontos, aparece o premiado escritor de livros-reportagem Laurentino Gomes. Maior vencedor do Prêmio Jabuti, ele ergueu mais uma vez o tradicional troféu da literatura brasileira neste ano, com o livro Escravidão Volume I – Do primeiro leilão de cativos em Portugal até a morte de Zumbi dos Palmares.
Ele já havia conquistado a premiação anteriormente em outras três oportunidades com a trilogia 1808 (2008), 1822 (2011) e 1889 (2014). Também foi reconhecido neste ano com o prêmio Personalidade da Comunicação, concedido pela Mega Brasil.
Completando o pódio, aparece Rafael Ramos, da Record TV, que integrou as equipes do programa Câmera Record que venceram em 2020 os prêmios Rei da Espanha – Televisão, Vladimir Herzog – Multimídia e República – TV.
Alvo de diversas ações judiciais por seus artigos no Jornal GGN e sem uma grande empresa para respaldá-lo juridicamente, Luís Nassif publicou em 20/12 um desabafo sobre sua situação. Ele debita a um “ativismo ideológico de parcela do Judiciário” a enxurrada de ações contra sites e jornais, que estaria extrapolando qualquer limite de razoabilidade.
“A falta de jurisprudência, de consenso, de regras mínimas de atuação está transformando o Judiciário na maior ameaça à liberdade de expressão desde os anos de chumbo da ditadura militar”, escreveu ele no artigo Estou juridicamente marcado para morrer. “O protagonismo político da Justiça espalhou-se por todos os poros da corporação. Não há mais limites para a atuação de juízes militantes, fazendo do seu poder uma arma política, não apenas para inviabilizar a liberdade de expressão, mas para a própria destruição dos ‘inimigos’”.
Ele afirma ter-se criado uma atmosfera em tudo semelhante à dos anos 1970, quando muitos profissionais, marcados pela ditadura, eram obrigados a mergulhar, a buscar trabalhos de forma clandestina, para não serem esmagados pelas restrições impostas pela ditadura: “Narro a minha situação, que deve ser igual a de outros jornalistas que não possuem o respaldo de empresas jornalísticas, alvos de uma ofensiva que, se não for contida, inevitavelmente atingirá também os grupos jornalísticos. Estou juridicamente marcado para morrer por críticas que faço ao Judiciário, cumprindo minha função de jornalista”.
Em seguida, detalha cinco das ações de que é alvo para depois concluir que o cerco o está expulsando do exercício do jornalismo, “pouco importando se tem 50 anos de carreira, inúmeras premiações e um trabalho reconhecido na área de economia e na defesa dos direitos”.
Coincidentemente, no mesmo domingo em que saiu o artigo a revista Veja publicou um direito de resposta que ele havia solicitado há 12 anos, por ataques do então colunista Diogo Mainardi, que o acusou de privilégios junto ao BNDES e de chantagear um secretário de Segurança de São Paulo. “12 anos! Qual o efeito dessa decisão? Apenas o de reabrir velhas chagas”, escreveu Nassif.
O ano de 2020 não deixará saudades, sobretudo para as mulheres, desafiadas a conciliar trabalho e cuidados com a casa, família e filhos em condições tão adversas. As jornalistas não foram exceção: em nossa série examinando os efeitos da pandemia sobre a imprensa, reunimos estudos mostrando os efeitos mais perversos da crise sobre elas do que sobre os colegas homens.
Agora, surge mais um. A pesquisa anual da organização Repórteres Sem Fronteiras contabilizou um aumento de 35% no número de jornalistas presas este ano.
Segundo a RSF, em 1º de dezembro 42 delas estavam privadas da liberdade, das quais quatro na Bielorrúsia, país que desde agosto enfrenta protestos contra a reeleição do presidente Alexander Lukashenko. Ao fim de 2019, eram 35 as jornalistas presas por motivos diversos, incluindo denúncias relacionadas à pandemia.
A RSF destaca em seu relatório o caso da vencedora do Prêmio RSF da Liberdade de Imprensa de 2019, Pham Doan Trang, do Vietnã. Ela foi detida em outubro, acusada de fazer “propaganda contra o Estado”.
Pham Doan Trang
A profissional fundou a revista jurídica Luât Khoa e dirige o thevietnamese, publicações que permitem aos leitores conhecerem as leis do país e combaterem arbitrariedades do Partido Comunista. Já prevendo que poderia ser presa, deixou uma carta dizendo “não desejar a liberdade para si mesma, mas algo maior: a liberdade para o Vietnã”.
Haze Fan
Outra história emblemática é a da chinesa Haze Fan, que trabalha na Bloomberg desde 2017. Foi capturada em casa, em Pequim, acusada de atividades criminosas ameaçando a segurança nacional. A China só permite que chineses trabalhem como tradutores, pesquisadores e assistentes para organizações de notícias estrangeiras, e não como jornalistas com direito de fazer reportagens.
A Bloomberg divulgou um comunicado dizendo que havia perdido contato com Fan desde 7 de dezembro e que só recebeu a notícia de sua detenção depois de dias perguntando ao governo em Pequim e à embaixada chinesa em Washington.
Também na China, Cheng Lei, apresentadora australiana que trabalha para a TV estatal chinesa CGTN, foi detida em agosto. Desde então, estaria “sob vigilância em uma residência designada”, como informaram as autoridades do país.
A União Europeia emitiu uma nota em 12 de dezembro pedindo a libertação de todos os jornalistas presos na China. Recebeu como resposta do governo um lacônico “trata-se de assunto interno”.
Mais da metade dos jornalistas presos estão em cinco nações
A China lidera a lista de países apontados pela RSF como os que mais têm jornalistas encarcerados. Os outros são Egito, Arábia Saudita, Vietnã e Síria. O total de profissionais privados de liberdade em 1º de dezembro era de 387, segundo a entidade. Há ainda 54 apontados como reféns − em Síria, Iraque e Iêmen − e quatro desaparecidos.
O número apresentado no relatório é a soma de repórteres profissionais, jornalistas cidadãos (como blogueiros independentes) e os que trabalham para organizações de notícias em funções de suporte. Levando-se em conta apenas os profissionais, o número de presos é de 252, enquanto o de independentes é de 122 e o dos colaboradores é de 13.
Outra entidade que monitora violações à liberdade de imprensa, o Comitê para a Proteção aos Jornalistas, havia identificado pelo menos 274 jornalistas privados de liberdade em 1º de dezembro, dos quais 250 presos este ano, como apresentamos aqui. Há variação nos números, mas em um ponto as duas entidades concordam: ambas apontaram a China como “o pior carcereiro do mundo”.
Não é nada bom ter jornalistas presos, sejam eles homens ou mulheres. Mas tentando ver o lado meio cheio do copo, há uma faceta inspiradora quando vemos mulheres corajosas enfrentando líderes autoritários, muitas vezes à custa da própria liberdade ou correndo risco de vida, como a maltesa Daphne Galizia, assassinada por denunciar corrupção no governo.
Na lista de pedidos para 2020 podemos acrescentar mais dois: que esses números caiam, e que as jornalistas não percam a coragem.