Uma vida premiada e o dia a dia como alvo da violência Ele era um menino que brincava nas paisagens de Foz de Iguaçu. Tudo sugeria tranquilidade junto a uma das Maravilhas da Natureza. Era pouco para ele. O garoto queria ser correspondente de guerra. Tanto fez que se tornou jornalista e acabou encontrando nas ruas o ambiente hostil dos campos de batalha Na redação da Gazeta do Povo, em Curitiba, onde é repórter especial, Mauri König faz um balanço dos principais momentos de sua vida e pensa em mudanças. Já foi espancado pela polícia paraguaia e deixado na fronteira do Brasil jogado à própria sorte. É a batalha de quem não se acomoda vendo a corrupção na pauta do dia. Sonhador, com uma trajetória profissional em que seria correspondente de guerra, de certo modo viu esse desejo atendido. Só que não há campo minado e o inimigo se confunde com o conjunto de pessoas no fluxo de pedestres ou no trânsito de qualquer cidade. Há um risco a cada esquina, um perigo que nega ao repórter o direito de ir, vir e voltar com vida. Incrível que o tempo seja de paz e exista uma interminável guerra surda que, recentemente, o fez optar por um exílio temporário. Ameaçado, principalmente em seu próprio país, é hora de reflexão e redirecionamento da carreira – tem comentado o repórter que construiu sua trajetória profissional no jornalismo investigativo. Engana-se quem acredita em possível renúncia aos projetos de matérias de impacto, nas quais desnuda figuras importantes do mundo da corrupção. Dois casamentos desfeitos e 17 prêmios depois, o repórter está no topo do ranking dos mais respeitados jornalistas brasileiros e não quer deixar de escrever. A solidão do super-herói De comportamento introvertido, beirando o antissocial, conforme sua própria definição, Mauri decidiu que a grande guinada será a partir dele próprio. Longe dos filhos e da mulher – que deixaram Curitiba recentemente por falta de segurança –, o profissional de tantas aventuras, ao estilo dos super-heróis, dá sinais de que precisa tomar fôlego, respirar e alçar novos voos. Algo precisa ser feito e numa pausa entre uma pauta e outra confessa a busca do afeto comum a qualquer ser humano. Há uns 12 ou 13 anos, uma crise emocional quase o tirou das reportagens. O corajoso repórter chegou a imaginar que a saída seria o magistério ou a literatura, setores em que projetava ter plenas condições de êxito. É autor do livro Narrativas de um correspondente de rua e participou da antologia El mejor del periodismo de América Latina. Sua preocupação é afastar a chance de qualquer interrupção na atividade jornalística. Formado em Letras e Jornalismo, pós-graduado em Jornalismo Investigativo, Mauri König se vê como uma espécie de personagem, o protagonista de uma história forçado a alterar o seu perfil para continuar em ação. Este comunicador de poucas palavras com pessoas fora do universo da imprensa está revendo conceitos. Foram tantos os momentos em que deu prioridade ao trabalho, passou horas e horas de seus finais de semana arquitetando matérias e deixou em plano secundário o descanso e o relacionamento com familiares e amigos. O trabalho o expôs, deu-lhe notoriedade, mas também o afastou de coisas primordiais. Aparentemente durão ao enfrentar obstáculos, o novo Mauri que está nascendo deve contar com mais espiritualidade e leveza. Já estão na agenda idas regulares aos médicos e um papo sério com analista para cuidar da saúde e longevidade. Se as dores vierem, a receita é não abusar de remédios alopáticos… Acupuntura deve ser uma das bases do tratamento. Isto –como o repórter espera – vai se refletir na estética e narrativa do texto. Tranquilidade para curtir as conquistas Já dá para prever… Que venham novos prêmios como Esso, Embratel categoria Região Sul, Jabuti, Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, Direitos Humanos de Jornalismo da Sociedade Interamericana de Imprensa e International Freedom Press Awards. A estante está enriquecida com tantas honrarias. E onde fica o homem, com seus sentimentos e perspectivas? Este homem permanece almejando dar conta da carga de trabalho sem abrir mão do direito ao repouso do corpo e da mente e à ampliação dos compromissos com o lazer. Muito provavelmente os novos hábitos vão levá-lo a conquistar novas amizades e aprimorar a sociabilidade. Até incluiu no planejamento a matrícula em uma academia de dança de salão. São providências mágicas, que aplacarão a ira dos denunciados por irregularidades? Com certeza, não. Não há nada mágico, reconhece. Só que, ao adotar um estilo de escrever e viver bem mais tranquilo, ao se expor na mídia sem facilitar que lhe cortem a cabeça, a pressão será atenuada e será melhor para reestruturar a vida pessoal. Serão valorizados aspectos de fatores que se fizeram a razão de torná-lo um homem profissionalmente bem-sucedido e que, bem equacionados, também devem fazê-lo satisfeito e próximo ao seu núcleo familiar.
TRT/SP suspende demissões no Estadão
O Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo acatou pedido do Sindicato dos Jornalistas e concedeu nesta 4ª.feira (10/4) liminar que suspende as demissões anunciadas pelo Estadão na última 2ª.feira. Também marcou para a manhã desta 5ª uma audiência para tentar uma conciliação. O Sindicato tomou a decisão de entrar com pedido de dissídio coletivo e da liminar porque o jornal não recebeu seus dirigentes para negociar e pressionou os jornalistas a não participarem da assembleia que a entidade realizou defronte a sede da empresa, na própria 2ª.feira. Segundo Raphael Maia, advogado coordenador do Departamento Jurídico do Sindicato, “a Justiça entendeu que as dispensas havidas na semana passada são ilegais, por falta de prévia negociação sindical, bem como arbitrou multa diária de R$ 50 mil em caso de descumprimento da decisão”. A desembargadora Rilma Aparecida Hemetério, vice-presidente judicial do TRT, que deferiu a liminar, argumentou que é preciso proporcionar “aos representantes dos trabalhadores, em tempo hábil, informações necessárias sobre as despedidas, com transparência e motivação, apresentando os critérios utilizados e mediante consulta e negociação”. O Sindicato está convocando os jornalistas do Estadão para uma assembleia às 15h desta 5ª.feira (11), na portaria da empresa, para deliberar sobre as negociações e informar o resultado na audiência de conciliação no TRT. (Com informações do Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo)
Grupo Exame cria núcleo para tablets e mobile
Na Abril, a Unidade Tecnologia e Negócios (que engloba as revistas Exame, Exame PME, VocêSA, VocêRH e Info), liderada por Cláudia Vassallo, acaba de criar um pool para a produção das versões das publicações em plataformas tablet e mobile. Ele inclui designers, programadores e profissionais multimídia, sob coordenação de Roseli de Almeida, diretora de Arte da Exame. O objetivo é aprofundar as iniciativas da UTN nas plataformas digitais e, ao mesmo tempo, simplificar processos internos de produção de conteúdo. É o primeiro núcleo do gênero desenvolvido na editora, modelo que deverá ser replicado para outras unidades, com adaptações. Segundo Cláudia, “um processo semelhante vem sendo tocado com a área de revisão, que passa agora a trabalhar sobre a forma de pool para todos os títulos da Unidade”. Em entrevista a Jornalistas&Cia, Roseli informou que Cláudia teve a ideia no final de novembro do ano passado, quando começaram a analisar as revistas e iniciaram os estudos em janeiro, dando início à implantação em março. Segundo ela, o núcleo faz todas as revistas da Unidade e todos os especiais de cada uma: “Fazemos tablets (iPhone e Android), mobile e temos um núcleo de vídeo que produz os conteúdos jornalísticos digitais. Não fizemos testes e estamos produzindo direto. Sabendo que todas as revistas fecham na mesma data, criamos um esquema operacional para editarmos todas. Os usuários são os mesmos de cada revista”. Após garantir que “o investimento foi pequeno, otimizamos as operações”, Roseli informou já terem publicado Exame, PME, Você S/A, Você RH, CEO e que nesta 5ª.feira (11/4) será a vez de Info e, novamente, PME. Além dela, são 11 profissionais na equipe: Bruno Lozich, editor; Germano Lüders, editor de fotos e vídeos; Teresa Morrone, jornalista; Mayte Coelho e Gabriel Lira, produtores de multimídia; Eduardo Ianicelli, Luiz Lula, Marcel Facetto, Marilia Traversim, Suely Andreazzi e Valéria Marin, designers digitais.
Auto Press comemora 20 anos e lança retrospectiva do mercado
Para celebrar seus 20 anos de fundação, a agência Auto Press lançou a revista especial Auto Press 20 Anos em Revista – Panorama Automotivo Brasileiro 1993/2013. Com 100 páginas, a publicação reúne 15 reportagens temáticas, como evolução de mercado, produto, produção, design e marketing, apresentando inclusive uma timeline com datas e fotos dos principais lançamentos automotivos, de janeiro de 1993 a dezembro de 2012. No total, foram impressos cinco mil exemplares, distribuídos para profissionais do setor automotivo, mas também é possível conferir o resultado do trabalho em versão digital, no http://bit.ly/Yyq2ea. Coordenaram a produção do especial os diretores Editoriais Luiz Humberto Monteiro Pereira ([email protected]) e Eduardo Rocha ([email protected]), que contaram com o apoio dos redatores Rodrigo Machado, Michael Figueredo, Raphael Penaro e colaboração de Luiz Fernando Lovik e Augusto Paladino. Integram ainda o time, na equipe de Fotografia, a editora Luiza Dantas e os repórteres fotográficos Jorge Rodrigues Jorge e Pedro Paulo Figueiredo. Entre os veículos que utilizam o conteúdo distribuído pela Auto Press estão jornais como O Tempo (Belo Horizonte), Jornal de Brasília, Correio do Estado (Campo Grande), A Gazeta (Cuiabá) e Notícias do Dia (Joinville e Florianópolis), além dos sites Motor Dream, Meu Carro Novo, CarZ e CoisasdeAgora.
Em semana tensa, Estadão anuncia cortes e reestruturação
Com medidas drásticas, como extinção e fusão de cadernos, cerca de 40 demissões, unificação de fechamentos, entre outras, empresa busca encontrar nova fórmula editorial para a atual realidade de mercado; e retomar a sustentabilidade dos negócios, a partir do seu reequilíbrio econômico-financeiro Em clima de perplexidade, tristeza e uma certa comoção, os jornalistas do Estadão viram cerca de 40 de seus companheiros de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília darem adeus à empresa, na cota profissional de sacrifícios exigida por nova reestruturação dos negócios. Em pouco mais de dois anos, o Grupo Estado promoveu o encolhimento de aproximadamente 170 vagas em suas redações. O número baseia-se em estimativas de Jornalistas&Cia, que noticiou seis cortes no período, desde que a empresa pôs em prática, em 2010, o projeto de redução de custos: 22 demissões em fevereiro de 2011 (J&Cia 782); 20, em agosto do mesmo ano (J&Cia 806); 40, em dezembro ainda de 2011 (J&Cia 824); 40, em outubro de 2012, neste caso em decorrência do fechamento do Jornal da Tarde (J&Cia 870); e 7 na Agência Estado em fevereiro passado (J&Cia 881). A elas agora se somam as demissões atuais, democraticamente espalhadas por praticamente todas as editorias e principais praças. Na sede do jornal, foram mais de 30 demissões, abrangendo editores-executivos, editores, repórteres, fotógrafos e diagramadores. Saíram Décio Trujillo, editor-executivo a quem estava confiado o projeto do portal do Jornal do Carro; Rinaldo Gama, editor do agora descontinuado caderno Sabático; José Eduardo Barella, editor de Vida; Gilson Vilhena (editor-adjunto), José Francisco de Oliveira (editor assistente ) e Daniel Akstein e Valeria Zukeran (repórteres) – Esportes; Cláudia Ribeiro (editora do Portal), Marcelo Rehder, Lilian Cunha e Melina Costa (repórteres) – Economia; Yara Martinez (editora-assistente) e William Gonçalves Cardoso, Denize Ramos Guedes e Valéria França (repórteres) – Cidades/Caderno Metrópole; Camilo da Rocha (repórter). do descontinuado caderno Link; os fotógrafos André Lessa, Mônica Bento de Souza e Ernesto Rodrigues; os ilustradores Carlos Müller e Eduardo Baptistão; os diagramadores Leandro Martins e Jairo Rodrigues; os assistentes do núcleo iPod Audiane Amada Pereira, Ana Paula Lucinski e Filipe Corso Campoi; e as secretárias Isabel Silva e Sonia Maria Pereira. A sucursal de Brasília entrou na cota com o fechamento de três vagas e dois cortes, um na redação e outro na fotografia. As vagas fechadas foram as de Renato Andrade (ex-coordenador de Economia), que aceitou convite para ser o secretário de Redação na sucursal da Folha; a da Eugênia Lopes, repórter de Política, que se muda para o Rio de Janeiro ainda este mês, em projeto familiar que já anunciara ao jornal; e uma terceira, mais antiga, que estava sendo ocupada interinamente pela coordenação de correspondentes do Grupo. Saíram Vannildo Mendes, da equipe de Nacional, e os fotógrafos Wilson Pedrosa, que chefiava a equipe, e Roberto Barata. No caso da Fotografia, a perda é de apenas uma vaga, pois a segunda será preenchida com a transferência de um profissional da sede. Da sucursal do Rio de Janeiro saíram o repórter especial de Economia Fernando Dantas e o fotógrafo Tasso Marcelo. Demissões e comunicado Há quem acredite que as demissões anunciadas na última 6ª.feira (5/4) estavam programadas para esta 3ª.feira (9/4), mas teriam sido antecipadas pelo vazamento da informação e a pressão que começou a ser exercida pelo Sindicato dos Jornalistas para abrir negociações, como aconteceu no episódio do fechamento do Jornal da Tarde. Verdade ou não, o fato é que a empresa não abriu negociações espontâneas com o Sindicato e consumou as demissões entre o final da manhã e começo da tarde da própria 6ª.feira, num movimento tenso entre aqueles encarregados de comunicar os cortes – e que ainda não se haviam preparado para isso – e todos os demais, inclusive os que não foram cortados. Nesse mesmo dia, a direção do Grupo Estado achou prudente adiar, por razões óbvias, um almoço que havia marcado com o ministro da Fazenda Guido Mantega. Curiosamente, o ministro concedeu uma entrevista coletiva pela manhã e ali, durante o encontro, o repórter da Agência Estado soube dos cortes que estavam ocorrendo no jornal pela assessoria de imprensa do ministro. Três cadernos e fechamento único às 21h30 Anunciadas as dispensas, a empresa soltou um comunicado assinado por seu diretor de Conteúdo Ricardo Gandour em que este adiantava para a redação as principais mudanças em curso, ao mesmo tempo em que a convocava para uma reunião geral, às 15h30. O texto de Gandour abriu informando que o jornal estreará uma nova configuração de cadernos e um novo processo de produção industrial e logístico em 22/4 e que essa nova configuração se apoiava em três cadernos mais um suplemento e num único fechamento, às 21h30, “com trocas programadas no decorrer da rodagem”. Ou seja, o jornal vai acabar com a distinção entre as edições Brasil (fechada às 20h30) e São Paulo (às 23h30), menos na jornada de sábado, que fecha a edição de domingo, esta inalterada. O primeiro caderno abrigará as editorias Política, Internacional, Metrópole (incluindo os temas da atual Vida) e Esportes; o segundo, Economia, Negócios e Tecnologia; e o Caderno 2 amplia a cobertura de entretenimento e incorpora comportamento digital e literatura. “Na 2ª.feira, diz o comunicado, circulará o suplemento Edição de Esportes, retomando marca clássica do grupo – Link e Negócios viram seções dentro de Economia. Na 3ª, o Viagem. Na 4ª, Jornal do Carro. Na 5ª, Paladar e Classificados. Na 6ª, Divirta-se. No sábado, os Classificados ganharão mais espaço editorial. No domingo, também circula a Edição de Esportes, o Casa, o Aliás se amplia com a nova seção Olhar Estadão, e circulam os Classificados”. As mudanças, segundo ainda o comunicado, tiveram como base “pesquisas qualitativas e entrevistas em profundidade com diversos setores da sociedade”, sugerindo “mais conveniência e eficiência de leitura, mais apostas de edição, um jornal mais compacto – principalmente nos dias úteis. Tudo isso sem perder o aprofundamento e o poder de análise que caracterizam o jornalismo do Estado”. Com base nesse diagnóstico, “um grupo de trabalho multidisciplinar, capitaneado por Conteúdo e Mercado Leitor e que congregou todas as áreas da empresa, trabalhou durante seis meses na revisão detalhada de todo o processo produtivo. O objetivo: redesenhar o produto e sua configuração física, buscando uma solução que atendesse às demandas dos leitores. E acentuando o foco em reportagens exclusivas e abordagens analíticas”. O ponto chave para os profissionais – a explicação das demissões – veio de forma ligeira e cifrada no penúltimo parágrafo do texto, em que, usando figuras de linguagem, quem sabe para amenizar o impacto das medidas drásticas, Gandour revela: “A partir dessa nova configuração e do novo fechamento, mais simplificado, revisaram-se os processos de trabalho e a composição das equipes, cujas alterações estão sendo divulgadas na data de hoje. Tais providências se inserem na necessária e permanente gestão de recursos, imprescindível para a competitividade da nossa marca e seu lugar no futuro das mídias”. Mudanças diminuirão consumo de papel Por meio da assessoria de imprensa de Lúcia Faria, a direção do Grupo Estado concedeu a seguinte entrevista a Jornalistas&Cia: Jornalistas&Cia – As medidas também tiveram fundo econômico? Quanto representarão de economia (em papel e em reais) para a empresa? Grupo Estado – A empresa não abre valores, mas podemos afirmar que, com a evolução do Redesenho, baseada em vasta pesquisa, que trouxe um produto que atende a demanda de hoje e do futuro dos leitores e do mercado publicitário, esse rearranjo de seções, cadernos e suplementos para deixar o jornal alinhado com essas demandas gerou um produto que terá mais tempo para produção e distribuição e menor consumo de papel. J&Cia – Como está a circulação do jornal e que tendências tem apresentado? Estado – Nossa circulação paga em fevereiro de 2013 foi de 230 mil exemplares de 2ª a sábado e de 266 mil exemplares na edição dominical. A expectativa é que, com o novo produto, a circulação cresça. O Estadão é há anos líder na circulação paga na Grande São Paulo, além de ser o jornal mais admirado do País, segundo a pesquisa IPM (Índice de Prestígio de Marca) do Meio & Mensagem. J&Cia – E as receitas de publicidade, têm de fato decrescido? Como foi 2012? Estado – Os jornais de São Paulo, segundo o Projeto Inter-Meios, tiveram queda na receita de 1% em 2012 com relação a 2011. J&Cia – Elas (publicidades) são suficientes para garantir a saúde financeira da empresa, inclusive na questão do pagamento das dívidas? Estado – Com toda certeza. Este é mais um dos ajustes necessários para a adequação às demandas do mercado. É resultado de nossa visão de futuro e do nosso compromisso em focar os negócios de forma a manter uma situação financeira sempre saudável. O Projeto Redesenho faz parte da visão de sustentabilidade empresarial do Grupo Estado, de seu olhar para o futuro. Estamos adequando nossos produtos e processos a um mundo mais veloz, mais digital. J&Cia – Quais executivos do jornal participaram dos estudos que desaguaram nas atuais mudanças, nos seis meses em que eles duraram? Estado – A empresa não divulga essas informações, mas podemos dizer que foi um grupo multidisciplinar, capitaneado por Conteúdo e Mercado Leitor e que congregou todas as áreas da empresa, com o objetivo de redesenhar o produto e sua configuração física, buscando uma solução que atendesse às demandas detectadas nas pesquisas e acentuando o foco em reportagens exclusivas e abordagens analíticas. J&Cia – Com que cenários financeiros e de circulação a empresa passa a trabalhar a partir das mudanças? Estado – O jornal permanecerá com a mesma distribuição e a expectativa é de crescimento de circulação. J&Cia – A empresa sinaliza, com esta ação, o fim das demissões? Se sim, por qual período? Estado – A empresa não divulga essas informações. J&Cia – A empresa concedeu algum tipo de benefício aos que foram demitidos (salários, extensão de plano de saúde etc.)? Estado – A empresa não divulga essas informações. J&Cia – Como será a conversação com o Sindicato, que nos informou que a empresa, ao contrário do episódio do JT, não se mostra propensa a negociar? Estado – A empresa não divulga estas informações. Impactos das mudanças no meio jornalístico Fora os veículos que cobrem o meio, pouco repercutiu a reestruturação do Grupo Estado na mídia. Curiosamente, uma das informações mais buscadas por todos – e não revelada pelo Grupo Estado –, o número de demissões, foi divulgado na edição de sábado (6/4) da Folha de S.Paulo. A nota afirma que, “como parte da reestruturação, houve 25 demissões ontem (6ª.feira) e outras 15 estão previstas”. Sites, blogs e redes sociais capitaneados por jornalistas também repercutiram com vigor o movimento do Grupo Estado, em geral com teor crítico. Um ex-editor do jornal, por exemplo, que havia saído no corte anterior, comentou: “O clima lá está terrível. Embora o projeto Redesenho 2.0 tenha ficado claro, a Redação não engoliu o passaralho e acredita que os três cadernos poderiam ser a solução, mas ela chega com alguns anos de atraso. Teria razão se adotada antes de 2010, quando, agora se sabe, o jornal já percebia que as contas não fechavam”. Logo que saiu a notícia do fechamento dos cadernos, o professor João Cezar de Castro Rocha organizou pelo Avaaz.org uma petição contra o fim do Sabático que em menos de 48 horas foi assinada por 1.558 pessoas de 17 países. Ela já foi encaminhada à Direção do Grupo Estado, mas quem a assinou não deve ter ilusões de que a empresa voltará atrás na sua decisão. Outra fonte ouvida por J&Cia, muito ligada nos bastidores do Grupo, fez as seguintes indagações: “Não vi dito em lugar algum, até agora, e creio que ninguém sabe, qual é o limite para essa série já exaustiva de mini e macroenxugamentos, como os realizados nos últimos dois anos. Seria o cronograma das dívidas com os credores (bancos), que está ficando apertado? Ou os acionistas estão exigindo ($$$) mais, e mais cedo, do conselho diretor? Quanto por cento dessa penúria é resultado da queda dos anúncios (grande, e já sabida) e quanto decorre do aumento das exigências presentes nas duas perguntas anteriores? Sem esses dados – que o Estado não conta porque não quer, não sabe ou não pode – não se tem a dimensão do problema que a empresa atravessa”. Em seu artigo no Observatório da Imprensa, com o título A montanha pariu um rato, Luciano Martins Costa (ex-editor do próprio Estadão e um dos inauguradores da versão digital do jornal), comenta: “Havia especulações sobre cortes desde o início do mês, mas o novo projeto acabou surpreendendo pelas mudanças radicais na configuração tradicional do diário. Alguns detalhes da mudança, parte do projeto de redução de custos iniciado em 2010, foram divulgados por sites especializados antes de terem sido comunicados à redação”. Insatisfeito com as explicações divulgadas, ele diz: “Não se trata de uma mudança no conceito do jornal: é apenas a radicalização de um processo de enxugamento iniciado ainda na gestão do ex-presidente Silvio Genesini, que representou uma tentativa frustrada e desastrada de profissionalizar a direção da empresa. A justificativa é parte dos discursos da mídia tradicional há mais de duas décadas. Diante dos imensos desafios que as empresas jornalísticas enfrentam neste início de século, tudo indica que a montanha estremeceu, roncou… e pariu um rato”. E ironiza: “O contexto lembra a anedota popularizada por Augusto Boal na obra A deliciosa e sangrenta aventura latina de Jane Spitfire e creditada a variados ditadores militares latino-americanos: ‘Estávamos à beira do abismo. Agora vamos dar um passo adiante’.” Um dos colegas que acaba de deixar o jornal, desabafou: “Está complicado falar do caso. Apesar dos boatos que rolavam, foi tudo muito rápido. Os editores foram chamados para uma reunião e informados de que deveriam fazer as demissões previamente combinadas em uma hora. Depois, o Gandour chamou toda a redação remanescente para outra reunião, ampla, no auditório, e fez um discurso otimista, projetando um futuro melhor, mas o momento era de muita tensão e tristeza e houve queixas sobre isso, sobre uma falta de sensibilidade da empresa. Há um temor generalizado de que o Grupo esteja numa situação muito mais crítica do que se imaginava. E já há boato sobre um novo corte no curto prazo”. Eduardo Baptistão, ilustrador que acaba de sair após 22 anos de casa, postou no facebook uma mensagem otimista e cheia de gratidão ao jornal: “O que falar dessa casa que me acolheu, me abrigou e me fez crescer pelos últimos 22 anos? Entrei no Estadão ainda cru, e saio de lá um profissional. Esse nome formou com o meu, durante todo esse tempo, mais que uma rima, um aposto quase indissociável. A esse jornal eu devo tudo o que consegui profissionalmente, e muito do que consegui pessoalmente… Vai ser estranho não ir mais pro jornal todos os dias, não ver a turma, voltar a trabalhar sozinho, mas vou me acostumar. Obrigado, Estadão. A minha gratidão é eterna”. J&Cia também apurou com outra fonte da empresa que “além das adaptações às mudanças na indústria da comunicação, os cortes foram vistos como reação da empresa à forte queda na receita publicitária, que não dá sinais de recuperação depois da habitual retração entre o fim de ano e o carnaval. Acredita-se que será preciso grande esforço e criatividade das áreas comercial e de marketing para o jornal recuperar a receita que vem perdendo para a televisão e a internet (principalmente Google e Facebook).O fechamento de cadernos ou sua transformação em seções dentro de outras editorias do jornal (caso de Negócios, Link, Sabático e Vida) resultou em demissão ou mudanças de função de repórteres, fotógrafos, redatores e editores, entre estes, dois editores-executivos (Laura Greenhalgh e Luiz Américo Camargo) anunciadas anteriormente. Gandour, na reunião, mostrou confiança no sucesso do Estado em sua nova formatação e pediu apoio e empenho aos que ficavam, sem em momento algum afirmar que os cortes se esgotavam ali”. Importantes questões também foram levantadas por outro executivo que foi muitos anos do jornal e saiu num dos cortes anteriores (portanto, com grande acesso ainda a fontes primárias da casa): 1. A empresa emitiu R$ 150 milhões em debêntures capitaneadas pelo Bradesco em 12/2011 (fato) e não estaria conseguindo cumprir as garantias da emissão (especulação); a segunda parcela vence em junho de 2013 (fato), a última, em junho/2015 (fato). Os cortes seriam, então, imposição dos credores (mais uma vez). 2. A queda de faturamento em 2012 beirou 20% em relação a 2011 (especulação – eles costumam divulgar o balanço no feriado de 21 de abril). O deste ano ainda não saiu. 2011 em relação a 2010 teve queda de 8%, segundo o balanço. 3. A cisão familiar estaria atingindo agora o ramo majoritário: herdeiros de Júlio, Luiz e José (especulação), que se contrapõem aos herdeiros de Ruy e Luiz Carlos. 4. O fim do caderno Metrópole se contrapõe à missão estratégica sempre assumida (ser líder na cidade líder) e ninguém entende o fim do caderno de Esportes em ano de Copa das Confederações e às vésperas de Copa do Mundo e Olimpíada. 5. Na minha ótica, tudo é explicado pelos números frios da circulação: em junho de 2012, quando publicou pela última vez a tiragem de domingo, o jornal informou 290 mil exemplares. Anos anteriores, sempre em junho: 308 mil/2011 e 330 mil/2010. O apogeu foram 712 mil/1997 – a queda começou aí: 520 mil/1999 e 300 mil em 2009. A Folha, já faz tempo, publica a tiragem conjunta impresso+digital: 314 mil hoje. 6. Por fim, os números dos últimos balanços mostram que O Estado vinha em receita ascendente desde a retirada da família (líquida de R$ 483 milhões em 2005 e de R$ 723 milhões em 2010). Com Genesini, caíram a receita (R$ 700 milhões em 2011) e a circulação (ele pegou com 300 mil exemplares em 2009 e devolveu com 290 mil em 2012). As novidades a caminho No press-release distribuído na 6ª.feira, a empresa enfatiza as novidades do jornal que chegarão ao mercado com a reestruturação anunciada. Cita o novo aplicativo para celulares, com estreia prevista para 22/4; os novos sites do Jornal do Carro e a nova plataforma de Classificados de Imóveis, além da nova versão tablet do Estadão. Em relação à equipe, com as cerca de 40 demissões, as funções exercidas pelos que saíram começam a ser progressivamente absorvidas e distribuídas pelo restante da redação. Uma delas já é conhecida: com a saída de Cláudia Ribeiro ([email protected]), Cley Scholz, que durante anos cuidou da pauta da editoria, assumiu a edição de Economia do Portal. J&Cia acompanhará e trará nas próximas edições outras mudanças em curso e também detalhes da carreira dos profissionais que deixaram o jornal, para que, conhecendo melhor, outros veículos eventualmente em fase de contratação os possam procurar.
Jornalista e agitador cultural, mostra porque é feliz
Jornalista e agitador cultural, mostra porque é feliz Um homem “sem rosto”, odiado por pessoas que aparecem ou temem aparecer nas denúncias em suas matérias, é sempre recebido com honras pelo público telespectador e ouvinte. Este contraste é uma das marcas da trajetória profissional e pessoal de Giovani Grizzotti, Repórter Farroupilha da Rádio Gaúcha de Porto Alegre e repórter especial da RBS Em um contexto onde o sonho é expor a imagem nas mídias, ele busca a discrição. Evita fotos e o foco das câmeras de televisão. É o instinto de preservação da vida… Na pequena Capão da Canoa, à beira mar do litoral gaúcho, onde iniciou a vida como repórter, nas horas vagas era vendedor de milho verde na praia e pintor de móveis em uma pequena marcenaria da família. O contato com o público consumidor serviu para nortear o rumo do profissional da comunicação. Já em Porto Alegre, passou a dedicar-se em tempo integral ao jornalismo e à cidadania. Por sua “onipresença” na mídia e no cotidiano da população, há quem duvide da hipótese de ele sair de férias. Mesmo sem interromper o ritmo da atividade, este homem sem o rosto exposto na mídia é um expressivo agitador cultural. Antes de ganhar o mundo, é necessário conhecer onde vivemos Não há quem não conheça seu trabalho nos mais de 1.500 CTGs (Centros de Tradição Gaúcha) instalados no Rio Grande do Sul e nos quase três mil em funcionamento em vários estados brasileiros. Artistas gaúchos, por sua influência, têm conquistado fama nacional e ganham estímulo para a consolidação da carreira, indo até além dos limites do mercado interno. Giovani diz que para sermos do mundo, primeiro, temos que ser regionais, parafraseando o pensador russo Tolstoi, para quem só é possível ser universal aquele que conhece bem a sua aldeia. Em plena era da globalização, rebate críticas de que o nativismo gaúcho seja um movimento puramente local. Quando está pilchado (usando botas, chapéu, esporas, lenço no pescoço, bombacha e outros acessórios típicos da vestimenta tradicional gaúcha), o visual mostra o cidadão militante da causa nativista. Ele é o gaúcho que se agiganta na defesa da cultura do seu Estado, na difusão da Revolução Farroupilha e no registro dos desdobramentos desta atitude libertária, que considera como um fato histórico fundamental para ajudar a incutir em todo o País o desejo de independência em relação ao domínio estrangeiro. Famoso por reportagens especiais e de grande repercussão em programas como o Fantástico, da Rede Globo, poucos conhecem sua imagem. Em compensação, as matérias com a assinatura de Giovanni Grizzotti fazem a diferença no velho e bom feedback, pois a opinião pública reage e a maioria das irregularidades que aponta no rádio e na televisão se transforma em ações do Ministério Público. Em boa parte isso resulta na necessidade de que seja testemunha nos tribunais e também já lhe rendeu processo. Prudente, Giovani sabe dos riscos inerentes ao seu trabalho. Tanta vivência justifica o máximo de cuidado na apuração do farto material com potencial para ser noticiado. Nada o surpreende e, em igual proporção, tudo sugere desconfiança diante dos fatos. A desconfiança, aliás, é característica da reportagem investigativa. No seu caso, porém, o rótulo não cabe. Giovanni Grizzotti nunca se classifica como investigativo, porque acha obrigatório para todo jornalista ir fundo na análise das informações, principalmente quando sem esse esforço não seria possível divulgar com credibilidade determinado fato de relevante interesse público. Imagine uma redação atual de qualquer meio de comunicação. As pessoas estão sentadas, enquanto a matéria-prima das notícias flui via internet, telefone ou outros recursos que proporcionam praticidade e “fixam” os jornalistas nas cadeiras. Por razões assim não há mais o tête-à-tête com entrevistados e Grizzotti se nega a integrar esse cenário, defendendo a curiosidade e a disposição em não reproduzir, apenas, os dados oficiais que chegam até os veículos. Nativista apaixonado pelo jornalismo Ainda que a fonte seja velha conhecida – e há casos em que a informação vem de pessoas com quem trabalhou, tem ou teve amizade, não importa… –, o curioso repórter checa, confere, desconfia… Foi como ocorreu sua iniciação na reportagem policial e até hoje ele mantém o mesmo comportamento. Trânsito livre entre as autoridades e outras fontes de informação não o dispensa de evitar interferências capazes de causar prejuízos à veracidade na apuração dos fatos. O currículo profissional de Grizzotti registra 25 prêmios. O primeiro foi em 1978, quando recebeu o MP-RS na categoria Rádio. A partir daí sua galeria tem-se enriquecido com prêmios como ARI de Radiojornalismo, CNT de Jornalismo-Rádio, SETCERGS de Jornalismo Rádio e Televisão, Cláudio Abramo de Radiojornalismo, Press de Repórter de Rádio, Vladimir Herzog de Rádio, Embratel de Jornalismo Investigativo e Prêmio Esso Especial de Telejornalismo. Mesmo longe dos prêmios e das pautas, nos acampamentos, ouvindo vanerões ou churrasqueando com amigos do gauchismo, Giovanni não se desliga do espírito jornalístico. Há momentos em que o repórter é tentado a ser o artista. Enfim, é enorme sua intimidade com o palco e o mundo da arte e espetáculos musicais. Admite que sabe cantar, porém faz questão de falar de suas habilidades como profissional da comunicação e utiliza a experiência para atuar no papel de cidadão. Observa, analisa, aproveita o contato com a realidade das ruas e do campo no interior do Rio Grande do Sul e demais Estados onde há preocupação com a preservação da cultura. De vez em quando pode ocorrer algum “estranhamento”, se alguém percebe que ali está um repórter potencialmente em busca de informação para matérias motivadas por denúncias graves. Quando a missão não é uma reportagem, imediatamente ele procura desfazer equívocos. Esclarece seu papel de difusor das manifestações culturais sem, entretanto, deixar de demonstrar a grande paixão pelo jornalismo e por mudanças positivas na sociedade. As tradições gaúchas lhe proporcionam satisfação, complementada pelo fato de ser um comunicador com características especiais. ”Sou curioso, desconfiado, apaixonado e satisfeito”, se autodefine. “Não sou jornalista apenas porque desejo mudar o mundo. Sou jornalista porque assim eu sou feliz”, diz, com o orgulho de um profissional apaixonado pelo que faz.
Cícero Lima deixa a Duas Rodas e se associa à Infomotor
Depois de 15 anos na equipe da Duas Rodas, Cícero Lima despede-se da casa onde começou como repórter, passou a editor e ultimamente exercia a função de gerente de Conteúdo e Relacionamento, coordenando os prêmios Moto do Ano e Melhor Motociclista do Brasil. Ele associou-se a Aldo Tizzani e Arthur Caldeira, na Infomotor Comunicação Integrada, empresa responsável pela Agência Infomoto e pela revista bimestral Ordem de Serviço, que Cícero passa a dirigir. Em seu terceiro ano, a publicação é dirigida a vendedores e profissionais de pós-vendas das concessionárias de automóveis e motocicletas, em que chega gratuitamente via mailing. Cícero também atuará como diretor de Novos Negócios, elaborando soluções editoriais e promoções para empresas ligadas ao segmento de duas e quatro rodas. Os novos contatos dele são [email protected] e 11-2574-5640.
Editores convidados preparam especial de 35 anos do M&M
Celso Loducca, sócio-presidente da Loducca, Fernando Chacon, diretor de Marketing do Itaú Unibanco, e Alexandre Hohagen, vice-presidente do Facebook na América Latina, aceitaram convite para uma missão diferente: atuarem como editores do especial de aniversário de 35 anos do Meio&Mensagem, que circulará em 15 de abril. Loducca colabora com seus insights e coordenação junto a Alexandre Zaghi Lemos, editor de Comunicação do M&M; Chacon atua na editoria de Marketing com o titular Jonas Furtado; e, em Mídia, Hohagen trabalha ao lado de Rodrigo Manzano. Todos coordenados pela editora-executiva Lena Castellón e pela diretora de Redação Regina Augusto. Além das matérias normais da semana, todas as editorias trarão reportagens especiais, de profundidade, desenvolvidas especialmente para essa edição, a de nº 1.555. Também estão em produção matérias em vídeo e conteúdo extra para a internet. E a edição de aniversário vai marcar a estreia do aplicativo do M&M para tablets de plataforma Android e Apple. Ainda por lá, registro para a chegada das designers Camila Antunes Silva Costa e Denise Mota Tadei, em Arte, e das estagiárias Bruna Molina Correa (Online) e Aline Rocha Nascimento Silva (Comunicação).
O trabalho de sonhar grande
Cristiane Correa, ex-editora de Exame, lança Sonho grande – Como Jorge Paulo Lehmann, Marcel Telles e Beto Sicupira revolucionaram o capitalismo brasileiro e conquistaram o mundo (Sextante/Primeira Pessoa). A obra aborda a trajetória profissional dos sócios da AB-Inbev, que fizeram fortuna com um modo peculiar de gerir suas empresas. Em entrevista ao Portal dos Jornalistas, a autora conta sobre o que o que percebeu de diferente na trajetória dos três empresários, o processo de elaboração do livro, para o qual se dedicou integralmente, deixando de lado uma carreira de seis anos como editora-executiva da Exame: Portal dos Jornalistas – O que a motivou a escrever sobre a trajetória do Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira? Cristiane Correa – Cubro jornalismo de Negócios desde 1999 e, durante as matérias, comecei a achar que ali era uma cultura diferente, que havia algumas particularidades se comparada a outras culturas empresariais no Brasil. Uma cultura única e bem polêmica. Tem gente que adora, tem gente que detesta, mas eu achava que ela era única. Dava para notar que eles estavam se transformando em empresários de projeção global, então achei que a história merecia ser contada em livro. Portal dos Jornalistas – Quanto tempo durou a apuração para o livro? Cristiane – Mais de um ano. Tentei durante alguns poucos meses conciliar meu trabalho na Exame com a apuração do livro, mas vi que este me tomaria muito mais tempo do que havia imaginado. Desliguei-me da Exame e desde janeiro de 2012 dedico-me só ao livro, que terminei de escrever em janeiro passado. Portal dos Jornalistas – E o contato com eles? Houve abertura? Cristiane – Não. Eles são super-refratários à imprensa, super low profile… Eu tentava convencê-los a fazer esse livro desde 2007, e eles sempre falando que não era o momento, que ainda havia muita coisa para acontecer, que não gostavam de aparecer e tal… Aí, em 2011, depois de quatro anos tentando, cheguei à conclusão de que eles nunca seriam convencidos. E, do mesmo jeito que fazemos matéria por fora, comecei a fazer o livro por fora. Ao longo dos anos, falei algumas vezes com eles e usei algumas frases dessas conversas. Eles não fizeram entrevistas especificamente para o livro. Disseram: “Não podemos te impedir de fazer o livro, mas não vamos participar ativamente disso”. Portal dos Jornalistas – Houve algum tipo de restrição para que os funcionários concedessem entrevistas? Cristiane – Teve gente que eu procurei e me deu entrevista. Outros, não. Acredito que tenha ficado a critério dos entrevistados. Por exemplo, atuais funcionários de Lojas Americanas preferiram não falar. Na Ambev consegui falar com bastante gente. Portal dos Jornalistas – Em relação ao que acompanha da trajetória deles, qual característica em comum dos três – tanto de personalidade como de desenvolvimento de carreira – você aponta como diferencial para que eles tenham alcançado esse sucesso profissional? Cristiane – Os três são muito focados. São três caras simples e que pensam grande, característica que, inclusive, deu origem ao título do livro. O Paulo sempre repete essa história de que sonhar grande e sonhar pequeno dá o mesmo trabalho. Eles têm sempre essa cabeça de pensar grande, mas não é uma coisa de megalomania. As coisas deles nunca foram do dia pra noite, são planos de longo prazo. É uma coisa muito focada, muito passo a passo, muito pé no chão e eles trabalham pra caramba! Também se preocupam com a questão de formação de gente. Há um grupo de executivos, muitos deles sócios, que está com eles há décadas. Isso é curioso porque hoje nas empresas brasileiras é muito comum ver um presidente ficar dois, três anos e trocar. As pessoas-chave nas empresas deles estão lá há muitos anos. Portal dos Jornalistas – Inclusive o próprio Marcelo e o Beto era funcionários do Lehmann… Cristiane – Exatamente. O Garantia foi fundado em 1971, o Marcel entrou em 1972, e ele era um boy de luxo. Entregava papel na rua, mesmo, e depois foi ascendendo no banco. Tinha essa coisa de todo mundo começar por baixo. O Beto chegou em 1973 e também não começou por cima, não começou em cargo de diretoria, mas não precisou entregar papel! Os dois foram subindo até chegarem a sócios. Portal dos Jornalistas – E essa cultura de começar por baixo ainda é aplicada na empresa até hoje? Cristiane – O Garantia era um banco com 300 pessoas. Hoje a AB-InBev tem mais de 100 mil funcionários. O começar por baixo hoje poderia ser traduzido de outra forma, que é o investimento que eles fazem em trainées. Eles continuam pegando gente jovem e formando. O grosso dos executivos foi formado internamente e passou pelo programa de trainées. Então, persiste essa coisa de pegar gente nova, recém-formada, dar aquele acabamento e formar com a cultura da empresa. SERVIÇO Livro Sonho grande – Como Jorge Paulo Lehmann, Marcel Telles e Beto Sicupira revolucionaram o capitalismo brasileiro e conquistaram o mundo, de Cristiane Correa Editora: Sextante/Primeira Página Número de páginas: 272 Preço sugerido: R$ 39,90 Trecho da obra disponível em pdf aqui.
Ele narra a violência, respeita os pais, surfa e reza com os filhos
Ele narra a violência, respeita os pais, surfa e reza com os filhos …Quando se vê passaram 50 anos! Agora é tarde demais para ser reprovado… Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio. Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas… Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo… E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo. Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz. A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará. (Trecho do poema O Tempo, de Mário Quintana, um dos autores favoritos de Cid Martins) Um ano antes de concluir o curso de Jornalismo, Cid Martins viveu um drama que indicou seu caminho como profissional. O pai, Aelson, perdeu a visão e passou a depender do rádio para ter acesso às notícias. Foi a deixa para que o jovem estudante prestasse mais atenção a um dos veículos de informação de maior credibilidade junto ao público brasileiro. Assim, estava reforçada a vocação para o radiojornalismo, onde ele inscreve seu nome entre os campeões na conquista de prêmios. Como trunfo para vencer na profissão, há um ensinamento que não veio da universidade nem das redações: Cid segue a orientação do pai e ouvinte número um. Dele, ouve críticas e sugestões e quem trabalha em rádio sabe o quanto os ouvintes são exigentes. Aelson recomenda ao filho ser antes de tudo uma pessoa, porque primeiro vem o ser humano, depois o profissional. Daí o seu cuidado na apuração dos fatos, já que nenhum furo de reportagem compensará o prejuízo eventual causado a uma pessoa. De dona Ivone, a mãe, veio a consciência que resulta no apego à família, à mulher e aos filhos. Casado com Verônica e pai de João Pedro (11) e Lorenzo (6), Cid fica permanentemente conectado para saber se está tudo bem em casa. Mesmo longe, é sagrado o contato. Foi assim, por exemplo, na cobertura da tragédia da boate Kiss, em Santa Maria, na fase de investigação sobre as causas do incêndio. Claro que há ocasiões em que a distância é um problema. Isso aconteceu durante a desocupação de um morro, no Rio de Janeiro. O clima era tenso nas horas que antecederam a expulsão dos traficantes e o início do processo de pacificação do Complexo do Alemão, mas nem por isso ele deixou de ligar. À noite, lá estava Cid Martins ao telefone, rezando e contando histórias para os meninos dormirem. Em sua opinião, isso é indispensável na formação da garotada e ele próprio, até hoje, não passa um dia sem falar com os pais. Quando cita livros favoritos, vêm à lembrança as mais recentes leituras onde se descreve o sonho de um mundo mais humano e socialmente justo, como O Exército de um homem só, de Moacyr Scliar; A cabana, de William Yong, em que o autor mostra o drama de um pai que blasfema contra Deus ante uma violência sofrida pela filha. Ou ainda Camilo Mortágua, de Josué Guimarães, cujo personagem central reflete sobre a luta de sua uma família que desde o início do Século XX enfrentou e venceu problemas causados por mudanças econômicas e políticas. Na poesia, um dos seus autores prediletos é o também jornalista e gaúcho Mário Quintana. Superar dificuldades é comum na vida de Cid Martins, a começar pela infância sem muitos recursos e os obstáculos para a conclusão do curso de Jornalismo. O excesso de trabalho influiu para tornar mais difícil comparecer às aulas e cumprir as tarefas como estudante. Se no início da carreira chegou a pular muro para fazer entrevista, hoje os desafios são outros. Sua palavra afiada mexe com pessoas e situações onde há perigo elevado à máxima potência. Quando pode, atenua o estresse fazendo yoga e se estiver em férias, desliga o telefone. Segue recomendações da esposa, que deixa bem claro: não faz questão de ter um marido herói; quer ter um bom pai para os filhos. Este personagem pleno de vida, que assegura gostar de lavar pratos e ajudar em outras tarefas domésticas, é também um galanteador. Gosta de lembrar que jamais esquece o modelo e a cor do vestido de sua esposa no primeiro dia em que se encontraram… Com os filhos, as horas de lazer incluem a procura pelas grandes ondas. Ele sai com a garotada para praticar surf. Vai cheio de disposição, mesmo se a praia escolhida estiver a 100 km de casa.






