Por Luciana Gurgel

Luciana Gurgel

Pesquisas sobre o papel das mídias digitais como fonte de informação costumam examinar as grandes plataformas, mas o Pew Center acaba de divulgar um estudo olhando para onde não se costuma prestar tanta atenção: as chamadas “novas opções”, que se apresentam como alternativas às Big Techs.

O estudo combina entrevistas com usuários americanos de sete redes e uma auditoria analisando aspectos como a forma de apresentação do site e recursos de privacidade. Os pesquisadores examinaram também as 200 contas com o maior número de seguidores em cada uma delas.

Foram coletadas todas as postagens publicadas por essas contas em junho de 2022 − um total de 585.470 − e analisadas suas frases-chave, temas e links.

Uma das plataformas cobertas pelo trabalho é Truth Social, aventura de Donald Trump que enfrenta problemas operacionais e financeiros e não conseguiu dar ao seu criador nem 5% dos 80 milhões de seguidores que tinha no Twitter até ser banido.

Mas ela não é a única conexão do ex-presidente com seus potenciais eleitores para voltar ao cargo.

As outras redes avaliadas pelo Pew são reconhecidas como preferidas por pessoas que se alinham ao pensamento conservador e à extrema-direita: BitChute, Gab, Gettr, Parler e Rumble.

A sétima da lista é o Telegram, que em locais sob censura como a Rússia virou primeira opção para transmitir informações que não seguem a narrativa estatal. Mas em países sem censura é uma plataforma largamente utilizada pelos que querem fugir da moderação mais rigorosa das demais.

Nas entrevistas, o Pew descobriu que, embora menos de um em cada dez americanos confirme usar qualquer um desses sites para se informar, a maioria dos que o fazem afirma ter encontrado uma comunidade de pessoas com ideias semelhantes.

E os consumidores de notícias nos quatro sites com números suficientemente representativos para serem analisados individualmente – Parler, Rumble, Telegram e Truth Social – em grande parte dizem que estão satisfeitos com sua experiência ao receber notícias por eles, considerando as informações mais precisas e as discussões amigáveis.

Parece uma boa notícia, mas não é bem assim. Os autores acham que esse comportamento não passa de um sinal de que esses sites encarnam o discurso público cada vez mais polarizado e as divisões partidárias dos americanos. O debate é amigável porque a maioria lá pensa igual. Quando saem da bolha, dá briga.

Em linha com o perfil dessas plataformas, a maioria dos que recebem notícias regularmente de pelo menos uma das sete redes alternativas de mídia social (66%) se identifica como republicana ou se inclina para o Partido Republicano.

Trump e sua rede social

Por outro lado, consumidores de notícias nas redes sociais mais tradicionais, como Twitter, Facebook e YouTube, se identificam amplamente como democratas.

O Pew também apurou que cerca de um quarto das contas mais proeminentes identificam-se como conservadoras ou republicanas ou apoiando o ex-presidente Donald Trump ou seu movimento “Make America Great Again”.  Muitas se concentram em temas como patriotismo e identidade religiosa, diz o Pew.

E uma parcela significativa dos donos dessas contas − 15% − foi banida ou desmonetizada em outras mídias sociais, possivelmente por conteúdo associado a discurso de ódio ou teorias conspiratórias.

Um exemplo é o QAnon. A auditoria encontrou 6% de contas mencionando conexão com a teoria da conspiração que apoia Donald Trump e inspirou o ataque ao Capitólio.

Na BitChute, o percentual de desmonetizados ou banidos das BigTechs chega a 35%.

Provando a tese da câmara de eco, os americanos que ouviram falar dessas redes mas não as usam como fontes de notícias as vêem com desconfiança.

Quando perguntados sobre a primeira coisa que vem à mente ao pensar nelas, as pessoas nesta categoria geralmente citam imprecisão e desinformação, viés político, direita política, extremismo e ideias marginais.

Para o jornalismo, o estudo lembra o ditado “não há nada tão ruim que não possa ser piorado”. A ameaça ao jornalismo confiável não está apenas nas grandes plataformas, como muitos defendem, mas também em um “universo paralelo”, onde o controle de discurso de ódio e desinformação é ainda menor.

Os pesquisadores disseram que “essas redes se tornaram um refúgio para alguns que sentem que não têm um lar nas redes mais estabelecidas”.

Menos de um em cada dez americanos se informando por elas parece pouco.

Mas somando-os aos que se informam nos canais pouco confiáveis que resistem firmes nas grandes plataformas, aos que assistem a redes mainstream como a Fox News e aos que são influenciados diretamente por esse público, uma volta de Donald Trump à Presidência e o aprofundamento das divisões na sociedade parecem estar no horizonte dos EUA.


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