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sábado, abril 20, 2024

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Memórias da Redação ? Festival de bobagens

Ela é novamente uma colaboração de Sandro Villar ([email protected]), correspondente do Estadão em Presidente Prudente (SP). Festival de bobagens Tem coisas que a gente conta e as pessoas custam a acreditar na verossimilhança (desculpem o “palavrão”) de tais fatos, mas este filho de dona Ema (quando nasci eu era filhote de Ema) só conta a verdade nua e crua, sem mentira vestida e cozida. Mas deixemos de vã filosofia, pois isso não nos permite comprar uma van novinha em folha, e narremos os “acontecidos”. Não faz muito tempo, uma apresentadora de televisão em Presidente Prudente entusiasmou-se ao falar de um grupo musical que se apresentaria na cidade. Até aí tudo bem. O que ficou estranho foi quando a colega anunciou uma das músicas do repertório, o clássico bolero Besame Mucho, sucesso mundial, que está até em trilha sonora de filme russo e de filme chinês. “Eles vão apresentar Besame Mucho, de Carlos Gardel”, disse a prezada jornalista ao pedir uma palhinha aos músicos no jornal da hora do almoço. Como é que é? O francês Carlos Gardel, criado no Uruguai e radicado na Argentina, é o compositor do bolero mais famoso de todos os tempos? Ledo engano, dona Leda… Bem que Gardel gostaria de ter composto esse bolero, mas o autor é outro. Ou outra. Besame Mucho é de autoria da compositora mexicana Consuelo Velasquez. Tremenda desinformação da apresentadora. Ela não pagou mico, pagou um King Kong, mas deixa pra lá, pois, afinal, a mídia, principalmente o rádio, parece não ter o compromisso de divulgar o nome do compositor e, às vezes, nem o nome da música é divulgado. Também não faz muito tempo uma televisão de Araçatuba proporcionou momentos hilários em um de seus telejornais. O apresentador chamou um repórter para falar de futebol. Se não me engano, o rapaz estava em uma emissora de rádio e, do estúdio, ele fez um flash pro telejornal. De repente, não mais que de repente, como diz o verso de Vinicius de Moraes, o repórter começou a falar de um clube espanhol. Na verdade, um clube basco. A todo momento ele mencionava o “Atlético de Bilau”, motivo mais do que suficiente para o apresentador interrompê-lo e explicar que o nome correto é Atlético de Bilbao. Talvez com problema de surdez, o rapaz não ouviu direito a ponderação do colega e continuou falando do “Atlético de Bilau”. Com tanto bilau no ar, deram um drible no moço e o calaram de vez. Vai ver – e pensando bem, pode ser – que o repórter não seja um mentecapto completo. Ele apenas levou tudo ao pé da letra – ou à mão da letra, sei lá –, e foi o mais fiel possível em sua narrativa. O prezado colega deve ter levado em consideração que um time de futebol é formado por 11 marmanjos de Bilau, que dizer, bilau, sem contar os jogadores reservas. Se fosse o time feminino, será que ele causaria espanto – ou surpresa – se falasse do “Atlético de Perereca”? Ou “Atlético de Perseguida”? Melhor do que essas gafes só mesmo a campeoníssima, do século 20, protagonizada por $ílvio $antos. Há muito tempo, ainda na Globo, o apresentador quis saber a procedência de um calouro, e perguntou ao candidato a cantor: “De que cidade de João Pessoa você é?”. Vai ver, para $$, Paraíba era apenas a capital do Estado de João Pessoa. Deixando de lado a televisão, onde besteira pula mais do que pipoca e os preços, conto dois “causos” do rádio. Numa rádio paulistana, o locutor apresentava um programa musical, no melhor estilo “vamos ouvir e acabamos de ouvir”, quando ficou em dúvida sobre a pronúncia do nome da música que seria tocada em seguida. Era o Ray Conniff e sua versão do Tico-tico no Fubá, clássico choro (ou seria maxixe?) de Zequinha de Abreu, e que correu o mundo. Antes de prosseguir com esse papo, lembro que Zequinha nasceu em Santa Rita do Passa Cinco, quer dizer, Passa Quatro, terra natal do Salomão Ésper, que, como é óbvio, deu os primeiros passos em Santa Rita antes de se mandar de mala e cuia para São Paulo. Mas, dizíamos, o locutor teve uma baita dúvida e, por fim, optou por anunciar o Tico-tico no Fubá como se fosse música americana. Afinal, era a orquestra do Ray Conniff. Ele pronunciou o título, digamos, “em inglês”. E caprichou na pronúncia: “Nós ouvimos Ray Conniff e sua orquestra executando Taico-taico no Fiubei”. Jogou fubá no ventilador. E mais não disse nem lhe foi perguntado. A clássica marcha carnavalesca O teu cabelo não nega, de Lamartine Babo e dos irmãos Valença, também foi vítima de pronúncia errada em outra rádio paulistana. O apresentador tocou o disco e, na hora de dizer o nome, foi um deus nos acuda. Mais nervoso do que o mercado financeiro, o moço assim falou: “Ouvimos O teu cabelo não, nega”. Assim mesmo, com o “e” de nega fechado. Se naquela época já existisse o politicamente correto (essa frescura que castra o humor), esse rapaz, traído por uma vírgula (inconsciente?), estaria em maus edredons e poderia ir em cana acusado de racismo. Do lado de lá, Lamartine deve ter-lhe dado um puxão de orelhas por reprovar o penteado da mulata.  

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