A partir deste 6 de maio publicaremos, semanalmente, histórias e causos vividos por profissionais da imprensa esportiva ao longo de sua trajetória no jornalismo esportivo, como parte da campanha de divulgação do novo Prêmio +Admirados da Imprensa Esportiva. Ao todo serão publicados 15 relatos, culminando no início da eleição, que ocorrerá no dia 29 de julho.

No primeiro relato, João Palomino, parceiro de logística do prêmio pela LiveSports, conta um episódio marcante no seu início de carreira no jornalismo esportivo. Confira!

Minha história, minhas lembranças

Por João Palomino

J&Cia lança série com Histórias do Jornalismo esportivo
João Palomino

Ainda guardo o recorte do Diário Cidade de Taquaritinga do dia 5 de maio de 1980. Considero a data oficial do ingresso na profissão que abracei e da qual nunca me desvinculei. Isso já faz 41 anos. Era o dia das Comunicações, data simbólica que só fui considerar tempos depois.

A matéria- para um iniciante de 14 anos- era simples: o treino do time da cidade, o Clube Atlético Taquaritinga, para o jogo do final de semana. Poucas linhas, poucas informações, pouco interesse geral, mas uma importância descomunal para quem sonhava, de alguma forma, estar ligado ao futebol e queria poder exercitar a arte de escrever, criar, informar e discutir aspectos éticos, políticos, esportivos, quem queria viver este emaranhado apaixonante que é o jornalismo.

E num ambiente amplamente criativo e de fatos e históricos recheados de dramas e tramas, conquistas e decepções, construção e queda.

1980 foi o ano em que o CAT disputou a terceira divisão, assim como em 1981. Em 1982 já estava em outro degrau, a Segunda Divisão, e me lembro dos confrontos históricos com Sertãozinho e Inter de Bebedouro. Até que veio a acesso à Primeira Divisão, à Elite do futebol paulista, naquela época verdadeiramente uma elite.

O quadrangular final teve jogos no Pacaembú e Palestra, e envolveu Araçatuba, Mogi Mirim e Bragantino. Dois turnos, todos contra todos. CAT Campeão, e acesso direto à primeira divisão.

O obstáculo era o Estádio Antonio Storti. Ninguém nunca definiu exatamente, mas era para não mais que 3  mil pessoas. A exigência à época era de capacidade mínima para 15 mil pessoas.

E  lá foi a cidade se juntar, doar cimento, vergalhões, transporte, mão de obra, para que surgisse o Estádio Municipal Adail Nunes da Silva, o Taquarão, inaugurado num “clássico” diante do Cruzeiro, que tinha Tostão, o “genérico”, e Palhinha, o “original”. 5×2 para o time de Minas e o orgulho de 50 mil pessoas que, de alguma forma, colocaram de pé um monumento à resistência, porque a política já era fator de famigerada influência. O Bragantino, adversário do Taquaritinga, era então chefiado por Nabi Abi Chedid, lembram dele?

Pois o CAT precisou da Justiça para fazer justiça. E viveu dois anos de sonhos, recebendo os grandes em casa, lotando o estádio, hoje com capacidade para 35 mil torcedores.

Na minha vida profissional, como repórter, narrador ou apresentador, tive oportunidade de participar de coberturas de Copas do Mundo, Olimpíadas e grandes eventos. Participei de programas com grandes nomes do esporte e da vida. Entrevistas com Nelson Mandela e Fidel Castro. Entrevistas com Presidentes Brasileiros, grandes atletas, ícones e ou mitos, como Ayrton Sena. Guardo lembranças de retina mesmo, como ao narrar as medalhas de ouro de Usain  Bolt, as grandes conquistas das mulheres brasileiras, Maurren Maggi (atletismo) e Jaqueline e Sandra (vôlei de praia), entre outros. Champions League, Mundiais de Clubes, Campeonatos Brasileiros, Estaduais e Copas do Brasil. Vi de perto uma espécie de “Maracanaço”, quando o Juventude empatou em 0x0 com o Botafogo e conquistou a Copa do Brasil.

Mas as recordações que moldam o nosso caráter e nossa vida, aquelas que não desgrudam mais da nossa memória, surpreendem. E a vitória do CAT sobre o Corinthians da Democracia, por 2×0, em 1983, gols de Carlinhos Maracanã e Edvaldo, o ponta-esquerda que jogou depois no Atlético-MG, São Paulo, Palmeiras e disputou a Copa de 1986, é dessas inesquecíveis, para meus conterrâneos e para mim.

Foi a primeira vez que vi de perto um ídolo do futebol e da vida, com quem pude posteriormente desfrutar bons momentos e deliciosas histórias, o craque, gênio, um ser humano como poucos, um brasileiro, acima de qualquer dúvida e de qualquer suspeita. Sócrates estava parado na porta do vestiário quando o interpelei sobre a derrota. Lacônico, só disso algo mais ou menos assim: “Todo mundo SÓ quer ganhar do Corinthians. Viu como o estádio lotou? A região inteira veio pra cá.” A mais pura verdade. Taquaritinga não conseguiria lotar o estádio, mas a região, perto de Araraquara, Ribeirão e Rio Preto, essa sempre mostrou uma força enorme no futebol brasileiro.

Essa felicidade toda não durou muito. 

No ano seguinte, na rua Javari, o Taquaritinga, que brigava para se manter na primeira divisão com o XV de Piracicaba, perdeu do Juventus por 1×0. Precisava vencer. Terminava ali uma aventura emocionante que colocou a cidade no mapa e me deu a oportunidade de viver intensamente, como aspirante a jornalista, os quatro anos mais brilhantes da história do futebol da cidade.

Depois daquele momento, vieram Campinas, Brasília, Americana, Rio de Janeiro, São Paulo. O jornalismo de economia e de política num período efervescente da história contemporânea brasileira. Planos Econômicos áridos a serem explicados, impeachment, viagens pelo mundo, mudanças comportamentais na vida das pessoas, debates e discussões e a ESPN, onde fiquei por 25 anos, 17 deles como narrador e apresentador, 8 deles como VP de Conteúdo e Produção. Um bom tempo, não?! 25 anos. 

O Taquaritinga teve mais história para contar também. Essa é uma data que não esqueço: 14 de julho de 2002. Contra aquele mesmo XV de Piracicaba, mas aí jogando no Taquarão, com gol de André Beraldo, o CAT empatava no finalzinho do jogo em 1×1 e garantia acesso à Série A2 do Paulistão. No mesmo dia nascia meu primeiro filho, João Vítor. 

Sim, futebol, jornalismo e vida são uma emoção só. E contaram a minha história.

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