Vicente Alessi, filho, integrante do Conselho Editorial da AutoData Editora, e o filho, Gil Alessi

O drama shakespeariano, aquele do príncipe dinamarquês, acompanhou Gil Alessi até o ponto de não retorno: foi obrigado a ser jornalista por falta de alternativa. Pois ele fugiu da profissão como lhe foi possível até descobrir, enfim, que não havia mais pra onde correr, onde se esconder. E aceitou que seu destino era juntar-se a nós.

Ele se juntou a uma galeria de crianças grandes editada em forma de livro pela Attachée de Presse, de Daysi Bregantini, quando comemorou seus 20 anos, em 2001, uma edição com jornalistas e seus filhos, também jornalistas. Naquela edição, a maior parte dos pais era constituída de amigas e amigos meus, queridos: a minha chefe Cecília Zioni, Joelmir Beting, meus chefes Nair Suzuki e Pedrinho Cafardo, Helinho Campos Mello, Ricardinho Kotscho e Ricardo Setti, Tão Gomes Pinto… fiquei enternecido com aquele trabalho da Attachée e hoje sugiro que a edição seja aumentada e revista, com Gil, claro, com Carlos, de Samuel Iavelberg, com dois filhotes de Luiz Henrique Fruet, os dois meninos de Aloysio Biondi

Decisão sábia, afinal, a de Gil. Ele se tornou um muito bom profissional, daqueles para quem Eduardo Martins teria uma palavra de apoio, e sabe, sempre, qual o seu lado. Melhor: não tem dúvida a respeito de qual seja o seu lado.

Claro que acompanhei de perto sua vida profissional, desde a incipiente assessoria ao Instituto Sou da Paz àqueles frilas para revistas editadas por Marianinha Bergel até tempos mais próximos, amadurecendo, em que a forma começou a dispor de tanta importância quanto o conteúdo. Passar quase sete anos no El País Brasil pelas mãos de Carla Jimenez – que conheci quando tinha 20 anos, junto com outro amigo querido, Serginho Ayarroio –, e na companhia de uma rapaziada excelente, foi fundamental para que percebesse o valor e a importância das tarefas que nos caem nas mãos.

Ele diz, hoje, que pretendia uma profissão “mais prática e menos acadêmica”, e acredita que suas alternativas lamentavelmente o carregariam para a universidade, para a didática e para a pesquisa.

Ôuquei. Mas sempre soube, desde que o rebento tinha, lá, seus 10, 12 anos, que muitas características para o jornalismo já estavam concentradas ali, na figura adorável e ainda gorduchinha de Gil.

Desde o primeiro grau, cumprido no Colégio Caravelas até a 8ª série, e depois no Colégio Equipe, ele mostrou estar próximo das letras, apesar de a sua própria ser uma barafunda. O menino era curioso, muito curioso, desde pequeno. Os como, por que e de que jeito dele costuravam a farra dos almoços familiares de fim de semana. Ouvia minhas histórias de olhos muito abertos, o que hoje não acontece. Leituras eram forma de vida corrente para ele e sua irmã, Helena, quatro anos e meio mais velha, nascida em 1978, testemunha próxima dessa história de aceitação, ao lado da mãe, Maria.

Quando a nação do império invadiu o Iraque na Guerra do Golfo, Gil perpetrou redação escolar à luz de suas impressões a respeito da guerra noturna que nunca ninguém vira de maneira massiva. O título era Advertência ao Presidente Bush. Ele dizia que o império não tinha direito à invasão.

Havia uma promessa ali − e é razoável a ideia, então, que repito de vez em quando para plateia cada vez menor – de que Gil deveria ter optado rapidamente pelo jornalismo para não perder tempo. Mas… claro que não. Escolheu ciências sociais e, pra não correr a tentação de puxar fumo o dia inteiro, foi obrigado a escolher uma segunda especialidade que lhe ocupasse o tempo vago, relações internacionais. A primeira ele fez seriamente e a segunda abandonou no primeiro instante possível – mas manteve sua vaga na PUC, o que foi muito importante ao fim dos quatro anos de USP, em 2010: voltou à escola, mudou de curso e investiu no jornalismo.

Acho que para Gil foi um golpe, que ele assimilou como aquele tal de cabrito bom que não berra. Eu fiquei animadíssimo com as perspectivas a bordo da minha certeza de que o caminho era aquele, sim.

Foram mais quatro anos de escola e fiquei muito pimpão quando ele apresentou seu TCC, que deixou feliz o orientador Luiz Carlos Ramos, querido amigo do Estadão, em banca da qual participaram o também amigo do Folhão Serginho Pinto de Almeida e o também professor Hamílton Octávio de Souza, outro velho amigo do Estadão e de lutas sindicais. Foi uma festa bonita, essa do TCC.

Mas aí tínhamos o dia seguinte. Gil já trabalhava, na produção de A Liga, tarefa que certamente lhe deu grande capacidade de resolver encrencas e de entender um pouquinho melhor a alma humana, que, junto a algum talento, são os segredos de qualquer profissão.

O desafio no Repórter Brasil, agora, o coloca numa experiência bem distante daquela do ser ou não ser. É um profissional maduro o que chega lá, que aceita e, espero, divirta-se muito, com sua escolha tardia: ser jornalista.

0 0 votes
Article Rating
Subscribe
Notify of
guest
0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments