No total, dez profissionais deixaram a publicação nos últimos dois meses

O Intercept Brasil promoveu há alguns dias um profundo corte em sua redação, atingindo de uma só vez quase 40% de sua equipe editorial. Segundo apurou este Portal dos Jornalistas, deixaram a casa o editor de audiência Emílio Moreno, a diretora de vídeo Luiza Drable, o editor de vídeo Marlon Peter, o editor de arte Rodrigo Bento, o editor sênior André Uzêda, os repórteres Paulo Victor Ribeiro e Carol Castro, e o gerente financeiro Thiago Pilloni.

Vale lembrar que em março a publicação já havia demitido a coordenadora de estratégias e operações Maria Teresa Cruz, e em comum acordo, desligado o editor-chefe Flavio VM Costa, que assumiu novos desafios profissionais como colunista do UOL e como consultor do Alma Preta, onde participará da criação do núcleo investigativo do site.

Em dificuldades financeiras desde que se desligou em 2022 de sua operação nos Estados Unidos, o Intercept vem promovendo há meses uma intensa campanha para captação de recursos através de doações. Segundo a publicação, a mudança no contexto político no Brasil fez com que muitos financiadores filantrópicos também deixassem de contribuir com instituições brasileiras, entre elas o próprio Intercept, impactando diretamente no jornalismo independente.

 

Sindicato acusa “cena de massacre”

Em texto publicado em seu site, o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo (SJSP) fez um paralelo entre os cortes no TIB e a reportagem Cena de Massacre, publicada pelo próprio Intercept um ano antes, quando denunciou os bastidores das demissões em massa nas empresas Meta, Twitter, Google e XP.

Segundo a entidade, a publicação “descumpriu um entendimento do Supremo Tribunal Federal, o STF, que em março do ano passado decidiu que casos de demissão em massa devem contar com prévia intervenção sindical, e isso não aconteceu”, e promoveu “demissão coletiva sem comunicação prévia aos representantes dos sindicatos dos trabalhadores e sem propor pacote adicional de indenizações”.

Em nota enviada a este Portal dos Jornalistas, Andrew Fishman, presidente e cofundador do The Intercept Brasil, se disse surpreso com as acusações feitas pelo SJSP, lamentou não ter sido procurado para comentar as acusações e afirmouu qe “comparar a situação de um veículo independente e sem fins lucrativos com demissões em big techs, que sabidamente têm lucros bilionários e violam sistematicamente direitos, mostra má-fé”.

Ele explicou ainda que “todos os direitos trabalhistas foram pagos integralmente e todas as leis aplicáveis foram seguidas” e negou que não houve diálogo da publicação com a diretoria da entidade. “Na reunião, o TIB não foi avisado sobre prazo. Depois – antes do feriado – foi estabelecido um prazo unilateral e curto”, afirmou em nota.

Ainda de acordo com o Sindicato, as demissões tinham como principal objetivo substituir profissionais que eram CLT por PJs, e que dias após as demissões o Intercept Brasil teria publicado um vídeo anunciando caras novas na equipe e informando que seu time editorial havia crescido, o que não seria verdade, levando-se em consideração os recentes cortes. A direção do Intercept não comentou essa acusação.

Confira abaixo a íntegra da nota do Intercept Brasil:

 

Hoje nós do Intercept Brasil fomos surpreendidos com essa publicação no site do sindicato. Não fomos sequer procurados pelo SJSP para comentar as – graves – acusações. Sentimos necessidade de responder porque o SJSP sabe, melhor do que ninguém, o quanto a nossa indústria está em crise. O quanto veículos independentes têm sofrido para se manterem vivos.

Como é de amplo conhecimento público, o Intercept Brasil era, até 2022, ligado ao Intercept dos EUA, e a maior parte do nosso orçamento vinha de lá. Naquele ano, conseguimos convencê-los a não fechar nossa redação, nos separamos, mantivemos os empregos que pudemos, e iniciamos uma intensa campanha de arrecadação para garantir nossa sustentabilidade.

Como é de amplo conhecimento público também, a mudança no contexto político no Brasil fez com que muitos financiadores filantrópicos deixassem de financiar instituições brasileiras – e o jornalismo foi um dos principais impactados. A falta de recursos é um problema coletivo. Além disso, a dependência de plataformas digitais tem derrubado o alcance consideravelmente de veículos de mídia – problema que o SJSP também deve estar acompanhando.

Portanto, uma conjunção de fatores desfavoráveis fez com que os cortes na equipe fossem inevitáveis – para garantir a própria sobrevivência do Intercept Brasil. Os profissionais foram desligados por várias razões, que não cabe detalhar para não expô-los, mas a principal delas é que o Intercept precisou se reorganizar e se reestruturar em várias frentes para manter nossa missão de pé, dentro do curto orçamento que temos hoje. Essencial destacar que todos os direitos trabalhistas foram pagos integralmente e todas as leis aplicáveis foram seguidas. 

Comparar a situação de um veículo independente e sem fins lucrativos com demissões em big techs, que sabidamente têm lucros bilionários e violam sistematicamente direitos, mostra má-fé. 

Importante destacar também que não é verdade que não houve diálogo com a diretoria. Na reunião, o TIB não foi avisado sobre prazo. Depois – antes do feriado – foi estabelecido um prazo unilateral e curto. Nossa equipe, inclusive, respondeu hoje de manhã avisando que teria uma resposta hoje. Horas depois, vocês fizeram sua publicação.

Ao colocar em xeque o principal meio de sustentabilidade do Intercept Brasil, o SJSP e a Fenaj também ameaçam a sobrevivência do nosso jornalismo que continua vivo e pulsante, com uma equipe brilhante que segue trabalhando incansavelmente. Basta olhar nossas últimas publicações – nunca deixamos de publicar reportagens. 

É lamentável a instrumentalização do SJSP – uma entidade fundamental para o jornalismo, e da qual somos parceiros de trincheira, se prestar a esse papel. Infelizmente, essa má-fé não só prejudica o Intercept Brasil, os profissionais que aqui estão, e a possibilidade de negociações contínuas de boa-fé, mas também a reputação de seus sindicatos – e a sustentabilidade do campo do jornalismo independente como um todo. 

 

Atenciosamente, 

O Intercept Brasil

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