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quarta-feira, abril 24, 2024

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Jorge Antônio Barros e os riscos da reportagem policial

Repórter de Cidade há mais de 30 anos, atualmente em O Globo (impresso e online), Jorge Antônio Barros venceu por duas vezes o Esso, em 1988 e 1994. Carioca da Zona Norte, ingressou no Jornalismo com o sonho de ser crítico de artes plásticas. No entanto, durante sua primeira experiência profissional ? como radioescuta do Jornal do Brasil, em 1981 ? tomou gosto pelos assuntos policiais. Em entrevista ao Portal dos Jornalistas, Barros conta mais sobre a vida de um repórter policial, os riscos que envolvem a profissão e o que pensa sobre segurança nas comunidades do Rio de Janeiro. Portal dos Jornalistas ? Como é a vida de um repórter que fala sobre criminalidade? Jorge Antônio Barros ? Tenho uma vida normal, mas estou sempre atento a regras básicas de segurança, em relação ao crime e também a eventuais desafetos produzidos por matérias e opiniões no blog Repórter de Crime [criado em 2005 e que está, desde 2007, em O Globo Online, a convite do colunista Ancelmo Gois]. PJ ? Já sofreu algum tipo de ameaça por causa dessas matérias? Barros ? Sim. Ameaças veladas e até mesmo por e-mail.  PJ ? Como é sua relação com as fontes, já que ela envolve policiais, vítimas e até mesmo bandidos? Barros ? Considero a relação com as fontes um dos maiores patrimônios de um jornalista. Procuro nortear essa relação com base no respeito e na credibilidade. Minha palavra tem muito valor e procuro cumpri-la a qualquer custo. Evito ao máximo contato com criminosos que estão foragidos para não me tornar, de alguma forma, cúmplice deles. Eventualmente posso manter contato com criminosos que cumprem pena. PJ ? Alguma vez sentiu-se exposto a uma situação de perigo real? Barros ? Escapei de ser baleado e até morto durante tiroteio na Favela da Rocinha, onde fui morar por uma semana para fazer reportagem que foi publicada em fevereiro de 1988 no extinto Caderno Especial do Jornal do Brasil, intitulada Rocinha Sociedade Anônima ? Como se vive e como se morre na maior favela da América Latina. Nosso carro, com o fotógrafo Alcyr Cavalcanti e o motorista Osmar Sombra, foi alvo de disparos feitos por traficantes, que nos confundiram com pessoas ligadas a policiais a serviço do jogo do bicho, que estavam em disputa com o tráfico.  PJ ? Como foi a experiência de viver na Rocinha para fazer essa reportagem? Barros ? Foi uma experiência fascinante. Primeiro porque fui o primeiro jornalista brasileiro a morar em favela para fazer uma reportagem. Além do pioneirismo, tive a chance de lidar com todos os segmentos sociais da comunidade, que é uma das mais ricas do Rio de Janeiro. Ali entrevistei o então chefe do tráfico, conhecido como Sérgio Bolado, que era bastante articulado e mostrava que os criminosos não eram tão alheios a tudo como se imaginava na época. Era uma época em que havia algum respeito ao jornalista por parte do criminoso. PJ ? E sobre as Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs)? Acha mesmo que o Rio está mudando com a implantação dessas unidades nas comunidades? Barros ? Apesar de a ocupação na Rocinha estar passando por problemas, já que os traficantes estariam voltando aos poucos, o projeto de pacificação das favelas tem sido de modo geral bem-sucedido. A principal diferença entre a maioria das favelas pacificadas e as outras é que a PM conseguiu de fato retomar o território e banir os criminosos com armamento pesado. Isso permitiu que a comunidade confiasse mais na polícia, o que nunca foi possível, em razão do alto índice de policiais envolvidos com os criminosos na favela. A pacificação tem sido feita por uma nova geração de policiais que, em sua grande maioria, tem honrado a farda da PM. Já surgem alguns casos de corrupção dentro de UPP e o futuro desse projeto vai depender do apoio da sociedade e das comunidades. O projeto, entretanto, necessita também de ajustes na área de inteligência de tal modo que produza mais prisões. Como o Estado adotou a estratégia de comunicar oficialmente as ocupações ? com o objetivo de reduzir o risco de vítimas inocentes, em eventuais confrontos ?, muitos bandidos conseguiram fugir e migraram para outras áreas do Estado do Rio, como a antiga capital, Niterói, onde há grande aumento dos índices de criminalidade e da sensação de insegurança. Pessoalmente acredito no projeto das UPPs, mas creio que ele precisa de ajustes constantes e as autoridades também precisam estar mais atentas às críticas feitas pela sociedade e pela imprensa.

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