Por Luciana Gurgel

Luciana Gurgel

Um novo estudo sobre redes sociais do Pew Research Center adotou uma abordagem diferente da que tem sido usada na maioria das pesquisas sobre o tema: discussões em grupo para entender as percepções e comportamentos dos usuários em vez de questionários estruturados, que ’enquadram’ as opiniões e as apresentam em forma de tabelas e gráficos.

O centro, um think thank norte-americano que faz pesquisas regulares sobre assuntos variados como religião, política e tecnologia, ressalva que as opiniões não são estatisticamente representativas de um conjunto completo de usuários das redes ou de populações de outros países.

O objetivo foi capturar experiências pessoais capazes de revelar como os participantes “navegam pelas complexidades de seus mundos online”.

O Pew realizou cinco grupos focais envolvendo 23 adultos norte-americanos classificados como “usuários altamente engajados”. Todos usavam as plataformas com frequência (pelo menos três sites e aplicativos de mídia social, cada um deles, mais de uma vez por semana).

Foram escolhidas pessoas que compartilham conteúdo sobre si mesmas, repostam conteúdo de outras pessoas e comentam postagens de terceiros.

Não houve uma verdade ou percepção única extraída das conversas. Os relatos dos participantes foram “diferenciados e únicos”, segundo o Pew.

Ainda assim, os pesquisadores encontraram traços comuns, embora não dominantes. Um deles foi o uso das redes para procurar por comunidades, apoio e interação social, o que se intensificou com a pandemia da Covid-19.

Um homem descreveu como o TikTok o ajudou a se sentir menos sozinho na crise do coronavírus. Outro contou como usou o Nextdoor para conhecer vizinhos, saindo do online para o offline.

Uma mulher destacou o uso do Facebook como alternativa para se conectar com pessoas e manter relacionamentos a distância.

Já em relação a como os usuários se apresentam nas redes as opiniões foram divergentes, variando entre reserva total, exibição do que têm de melhor e autenticidade total.

Alguns participantes disseram que gostam de “ser um livro aberto” e de “viver em voz alta”, enquanto outros se mostraram relutantes em se expor ou seletivos em relação ao que tornam público sobre suas vidas.

Um usuário descreveu sua tática de manter as coisas “vagas”, enquanto outros contaram preferir “deixar sua personalidade brilhar” ou “espalhar positividade”.

Para uma pare deles, as decisões sobre o que revelar estão associadas a plataformas específicas e a quem vê o que publicam em cada uma. Eles descreveram sua percepção sobre o quão “públicas” certas plataformas parecem ser como fator para decidir onde posta – ainda que a maioria ofereça diferentes opções de configurações de privacidade.

Um homem de 20 anos manifestou cautela em relação ao Facebook, onde “todos podem ver”. Ele demonstrou mais conforto com o Instagram, “onde se pode postar uma opinião estúpida, pois ela desaparecerá em 24 horas e só meus seguidores a verão”.

Do ponto de vista de liberdade de expressão, houve um comportamento interessante de um grupo de mulheres: elas relataram a prática de usar as plataformas digitais com a finalidade de chamar a atenção para injustiças e expressar opiniões firmes.

Ao mesmo tempo, o temor de que opiniões políticas possam gerar consequências foi manifestado por vários usuários, bem como o medo de serem vigiados. Uma mulher de 40 anos contou ter sido atacada no Facebook após postar uma imagem da família recebendo a vacina da Covid-19. “Isso feriu meus sentimentos, quase chorei − como alguém pode ser tão mau?”, disse.

Por fim, os pesquisadores do Pew Center perguntaram aos participantes dos grupos focais o que eles diriam ao CEO de uma plataforma de mídia social a respeito de como torná-la melhor para as pessoas que a usam se ele estivesse sentado na sala naquele momento.

Novamente não houve uma opinião predominante. Alguns mencionaram o desejo de que o Facebook e outros tenham uma postura mais forte no combate a opiniões e endossos autoritários. Uma mulher reforçou a necessidade de que os limites de idade sejam cumpridos. Outra verbalizou um desejo difícil de as plataformas atenderem, e que soa como um pedido de socorro: “Dê-me um limite de tempo − assim que eu o atingir, me bloqueie”.


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