Reportagem da LatAm Journalism Review (LJR) mostra como veículos brasileiros estão aproveitando brechas na legislação brasileira de incentivo à cultura – que financia, através de recursos públicos e privados, a produção de atividades como cinema, teatro e shows – para financiar seu trabalho.
“No Brasil, a União, estados e municípios contam com legislações específicas de financiamento de atividades culturais, como produções audiovisuais, teatro e shows, que garantem recursos públicos e privados, por meio de incentivos fiscais, a produtores culturais”, explica a reportagem. “O jornalismo não é especificado como uma dessas atividades culturais, mas veículos brasileiros estão aproveitando brechas na legislação para buscar financiamento e, ao mesmo tempo, reivindicam a criação de políticas específicas para o setor”.
O texto cita, por exemplo, o blog Desenrola e Não me Enrola, criado em 2013, referência na cobertura de áreas periféricas de São Paulo, que conta hoje com uma equipe fixa de seis pessoas e mais dez colaboradores. O blog já colaborou para a formação de 300 jornalistas e comunicadores comunitários e mantém um centro de mídia com infraestrutura de trabalho para comunicadores populares, como equipamento, estúdio e espaço de coworking.
“Mas, apesar da relevância e do alto nível de qualidade da produção jornalística, o Desenrola padece daquele que é o maior desafio para qualquer veículo de mídia, grande ou pequeno: a escassez de recursos”, destaca Júlio Lubianco, autor da reportagem. “Desafio maior ainda para veículos novos e de pequeno porte em estágio inicial, sem acesso a meios tradicionais de financiamento, como investimentos e crédito, ou mesmo capacidade técnica de investir tempo e recursos no desenvolvimento de produtos e novos modelos de negócio”.
Uma oportunidade de obtenção de recursos financeiros para o Desenrola surgiu em 2014. O veículo venceu o primeiro Programa de Valorização de Iniciativas Culturais da cidade de São Paulo (VAI), e recebeu R$ 29 mil, utilizados para o projeto Você Repórter da Periferia. Com a verba, foi possível realizar sete meses da iniciativa, além da compra de equipamentos de qualidade, utilizados até hoje.
Posteriormente, vieram outros editais que ajudaram o Desenrola financeiramente, como mais uma edição do VAI, e a lei de Fomento à Cultura da Periferia, também da cidade de São Paulo.
“Vou ser bem sincero: a gente não existiria (sem os editais)”, disse Ronaldo Matos, cofundador e editor do Desenrola. “Não temos recursos financeiros para investir na nossa própria atuação. Temos vontade, qualificação profissional, e o nosso diferencial é o fazer jornalístico em territórios periféricos. Mas, quando colocamos na balança, isso ainda é muito pouco valorizado no âmbito profissional do jornalismo no Brasil. Então não conseguiríamos existir até hoje se não fossem esses editais que acessamos ao longo da nossa trajetória”.
A reportagem cita também outros casos de uso de editais públicos de incentivo à cultura por parte de veículos jornalísticos, como a revista Nonada, do Rio Grande do Sul, e a revista O Grito!, de Pernambuco. Leia na íntegra.