Por Luciana Gurgel

Luciana Gurgel

À primeira vista, os números de representação de gênero na mídia não animam. No ritmo atual, faltam mais de 60 anos para atingirmos equidade na cobertura, com espaços iguais para homens e mulheres, segundo o último levantamento do Global Media Monitoring Project.

Dados como esses estão na nova edição especial do MediaTalks, que começa a circular nesta quinta-feira (30/3), fechando o mês do Dia Internacional da Mulher.

Trata-se de um mergulho profundo na desigualdade de gênero na mídia, suas causas e suas consequências.

Mas o mais importante de tudo é o levantamento de diversas iniciativas que estão sendo implantadas para mudar o cenário, que não é exclusivo do Brasil ou de alguns países.

Correspondentes mulheres mostram casos e estatísticas impressionantes de países tão diversos como Argentina (Márcia Carmo), Austrália (Liz Lacerda), Estados Unidos (Eloá Orazem), Suécia (Cláudia Wallin), Alemanha (Marina Azaredo) − e eu no Reino Unido.

Mas também falamos das ações bem-sucedidas já implantadas por alguns veículos, como o uso da contabilidade de gênero para contar a quantidade de homens e mulheres ouvidos e premiar as equipes que atingem o equilíbrio.

Destacamos o programa de inclusão de gênero BBC 50:50 e um portal na Austrália que oferece fontes femininas alternativas aos homens que são os entrevistados de sempre.

Na Alemanha, a linguagem de gênero virou polêmica, mas segue ganhando espaço no jornalismo.

Há até iniciativas pouco comuns, como um uma rede de mídia na Finlândia que está oferecendo media training a fontes mulheres.

Há muito ainda a caminhar. O último levantamento do Instituto Reuters sobre gênero nas redações mostra que nos 12 países analisados os homens ocupam a maioria dos cargos de liderança editorial, mesmo naqueles onde as mulheres são maioria na profissão.

Considerando os editores principais dos dez principais veículos online e dos dez off-line, o Brasil ficou em penúltimo lugar no número de mulheres na chefia.

Certamente vai ser preciso um esforço por parte dos veículos brasileiros para melhorar a representação das mulheres – e de outros grupos minoritários, como os negros – na liderança das suas redações. Olhares mais diversos têm um melhor entendimento do contexto e contribuem com melhores soluções para transformar a realidade.

Crédito: John Hain / Pixabay

Um bom exemplo disso é mencionado no especial: o da cobertura de um estupro feita pelo New York Times, inicialmente por um jornalista e sua visão de mundo, cuja narrativa muda completamente após a entrada de uma jornalista no caso.

A revitimização das mulheres agredidas é outra face obscura do desequilíbrio de gênero na mídia. Isso porque não é raro que elas voltem a ser vitimadas com a exposição de seus nomes, e até com a imputação de culpa pelo que sofreram.

Aliás, a violência é o único tema em que o número de matérias sobre as mulheres é maior do que dos homens. O triplo.

Outra preocupação é o assédio online. O chilling effect congela as mulheres jornalistas que são vítimas de assédio e atrapalha sua vida pessoal e sua carreira.

Mas o equilíbrio da cobertura e uma representação sem rótulos não passam só pelo esforço dos veículos de notícias e das plataformas. O crescimento da liderança feminina corporativa e o aumento do número de mulheres porta-vozes é essencial para mudar o quadro.

Nessa área, o especial traz depoimentos inspiradores de executivas de sete empresas. Elas falam do esforço necessário para quebrar as barreiras ao crescimento. Dizem que a discussão sobre as mulheres no mercado de trabalho já não cabe mais e que a mudança pode não ser linear, mas que é irreversível. E já pensam nos próximos passos: em como reter as mulheres no topo e abrir espaço na liderança para mulheres negras.

O jogo está longe do fim. Mas alguns gols já foram marcados, demonstrando que é possível, sim, virar o placar da representação, desde que cada integrante do time faça a sua parte.

Leia aqui a revista.


Para receber as notícias de MediaTalks em sua caixa postal ou se deixou de receber nossos comunicados, envie-nos um e-mail para incluir ou reativar seu endereço.

0 0 votes
Article Rating
Subscribe
Notify of
guest
0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments