Alguns dos principais jornais impressos brasileiros publicaram nesta terça-feira (23) um informe publicitário com um manifesto favorável ao “tratamento precoce” contra a Covid-19. A publicação foi assinada pela Associação de Médicos pela Vida, com sede em Recife, e ocupou as páginas de O Globo, Folha de S. Paulo, Estado de Minas, Jornal do Commercio, Zero Hora, Jornal Correio, Correio Braziliense e O Povo.
A campanha foi motivo de muitas críticas ao longo do dia, principalmente porque, como amplamente divulgado não somente pela mídia, mas também em revistas científicas, não existe tratamento precoce cientificamente comprovado para a doença.
Uma das primeiras publicações a alertar sobre a questão, o site Congresso em Foco, destacou o fato de parte desses mesmos veículos ser vítima constante de ataques do governo justamente por negar essa mesma narrativa em suas reportagens.
“A imprensa é um dos setores que mais vêm sofrendo com ataques do governo federal por conta da defesa de Jair Bolsonaro sobre o uso da cloroquina”, destacou a reportagem assinada por Marina Oliveira. “O Ministério da Saúde chegou a mudar a forma e o horário de publicar os dados sobre a doença para não coincidir com os horários dos telejornais noturnos. A partir daí, estes mesmos veículos que hoje publicaram o manifesto se uniram em um consórcio para levantar números sobre a doença”.
Sobre o caso, a Associação Nacional de Jornais (ANJ) afirmou não ter uma posição específica: “mas defendemos, naturalmente, a liberdade de expressão, que vale também para essa nota”.
Para a Associação Nacional dos Jornais, é uma questão de "liberdade de expressão" https://t.co/iCIGRoxJiI
— Amanda Audi (@amandafaudi) February 23, 2021
Em respeito ao jornalismo e aos 247 mil brasileiros mortos.
— Sleeping Giants Brasil (@slpng_giants_pt) February 23, 2021
Gostaríamos que @folha; @JornalOGlobo; @jc_pe; @em_com; @correio; @correio24horas; @opovoonline e @gzhdigital publiquem amanhã no mesmo tamanho um pedido de desculpas e a verdade que: NÃO EXISTE TRATAMENTO PRECOCE!✊🏽 pic.twitter.com/bHURVETRFe
Jornais lutam para que se leve jornalismo profissional a sério. Democracia também depende disso
— Conrado Hubner (@conradohubner) February 23, 2021
Mas aceitam que associação de médicos laranja compre espaço para anúncio cloroquinista (anúncio amigo da morte, não da ciência)
O público fica confuso
Este anúncio foi PAGO por médicos nos principais jornais do país divulgando um tratamento para Covid-19 que a ciência já disse que NÃO FUNCIONA. É o cúmulo do negacionismo. Deveriam ser responsabilizados judicialmente por atentado contra a saúde pública. pic.twitter.com/6VsMqiAKsV
— Fernanda Melchionna (@fernandapsol) February 23, 2021