Por Luciana Gurgel

Luciana Gurgel

Maior revista de esportes americana, a Sports Illustrated publica anualmente, desde a década de 1960, sua célebre edição Swimsuit, reunindo ensaios fotográficos de modelos e atletas com pouca roupa.

A publicação − com seus produtos derivados − tornou-se um dos mais rentáveis projetos da indústria editorial, apostando na sensualidade das mulheres para agradar a uma audiência predominantemente masculina.

A última edição teve a tenista Naomi Osaka como uma das estrelas de capa, em um ensaio em Malibu com direito até a vestido branco molhado pela água do mar.

Osaka é dona do próprio nariz e adulta o suficiente para expor seu corpo da forma como quiser.

Naomi Osaka

No entanto, a sexualização do esporte ou de figuras associadas ao mundo das competições não é vista com bons olhos por todos. E tem levado até a questionamentos sobre as práticas da imprensa ao cobrir torneios esportivos.

O mais recente episódio dessa natureza ocorreu no último fim de semana, quando a geração de imagens do campeonato mundial de escalada esportiva em Moscou resolveu destacar o traseiro de uma atleta, com direito a replay.

Não foi a primeira vez que a austríaca Johanna Farber viveu a experiência que considerou desagradável. Em junho ela já tinha sido vítima de incidente semelhante, que chamou de “desrespeitoso e perturbador”.

Pegou mal para a Federação Internacional de Escalada Esportiva, que teve que pedir desculpas.

O presidente da entidade fez a autocrítica: “Quantas vezes as coisas terão que ser feitas de maneira errada antes de aprendermos como fazê-las da maneira certa?”.

Johanna Farber

É uma boa pergunta. A resposta começa a vir dos campos e das quadras, com movimentos indicando que nem todas as atletas gostam da ideia de ver seus atributos físicos utilizados como troféus para atrair ou reter audiência.

Nas Olimpíadas de Tóquio, ginastas alemãs trocaram os maiôs por macacões que cobriam todo o corpo. Justificaram o ato como uma forma de incentivar atletas mulheres a escolherem os trajes que as façam se sentir mais confortáveis durante as competições.

Meses antes, as norueguesas da equipe de handebol de praia haviam sido multadas por vestir shorts em vez de biquínis em uma partida do campeonato europeu na Bulgária. A Federação Européia de Handebol (EHF) disse em comunicado que sua comissão disciplinar havia lidado com “um caso de vestimenta imprópria” na partida pela medalha de bronze contra a Espanha. Só não disse para quem era imprópria.

Os dirigentes da Noruega apoiaram a atitude de suas meninas, declarando orgulho das mulheres que se levantaram contra uma prática arraigada no esporte. Tão arraigada que chega a fazer parte do regulamento. Segundo as normas da Federação, os uniformes determinados são destinados a melhorar a performance esportiva e “manter coerência com a imagem atrativa do esporte”. Mais claro impossível.

Os uniformes da equipe norueguesa (Crédito: Reprodução Twitter / @NORhandball)

Assim como tantos outros regulamentos de outras eras, esse pode acabar sendo revisto diante de manifestações individuais ou coletivas, assim como os padrões adotados pelas emissoras de TV na cobertura de grandes eventos, porque os ventos começam a soprar em outra direção.

Papel social do esporte

Um estudo publicado por Lorenzo Kurras e Sasha Schmidt, pesquisadores da escola de negócios alemã Otto Beisheim, analisa o futuro do marketing esportivo depois da pandemia, examinando o efeito do afastamento do público dos estádios devido às restrições impostas pelas autoridades sanitárias.

O trabalho contabiliza o impacto do coronavírus sobre os investimentos em patrocínios esportivos, que segundo a empresa de pesquisas GlobalData caiu de US$ 22 bilhões em 2019 para US$ 12,9 bilhões em 2020.

Mas os pesquisadores são otimistas, apontando “um futuro brilhante e lucrativo” para os negócios em esportes, principalmente devido à tecnologia, que melhora o desempenho e aumenta as chances de interação dos fãs com as competições. Eles citam o engajamento de torcedores pelas mídias sociais e novidades como óculos de realidade virtual e aplicativos de realidade aumentada.

Mas alertam que, mesmo com estádios vazios, o esporte é baseado em emoções. E que, por isso, “um elemento-chave desse tipo de patrocínio é a capacidade de se adaptar rapidamente às mudanças e de estar próximo do consumidor e de suas emoções − onde quer que estejam”.

Segundo os pesquisadores, justiça e igualdade são valores que se espera que o mundo do esporte reflita, indo além do perder ou ganhar.

Sob esse prima, a sexualização das figuras esportivas − mais comum sobre as mulheres, mas também aplicada a homens − é algo que pode estar com os dias contados. E mudanças começarem a acontecer nas quadras, campos, placares de propaganda, vestiários e mesas de edição.


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