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quinta-feira, março 28, 2024

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Repercute nota da Fenaj sobre demissão na Band-RJ

A Fenaj emitiu em 6/2 uma nota de repúdio à demissão do repórter Jackson Silva da Band do Rio, no início deste mês (2/2). O motivo da dispensa teria sido a recusa dele a assinar um termo que isentava a emissora de responsabilidade sobre consequências da cobertura realizada em áreas de risco.

Rodolfo Schneider, diretor da Band no Rio, reagiu com indignação: “Nunca existiu esse termo, nunca ouvi falar de uma empresa ter isso. Jackson foi chamado para receber uma advertência de que infringia regras de segurança, e não concordou em assinar a advertência. Ao contrário do que disse a Fenaj, existem, sim, regras de segurança – estão aqui para serem apresentadas a quem for – e ele as infringiu: não usava o capacete balístico que fornecemos, não estava perto do motorista para sair do local com rapidez. Não tem que entrar na favela, não é para entrar junto com a polícia. A melhor imagem não vale o menor risco, não cobro isso de ninguém. Temos reuniões periódicas sobre segurança, com o que pretendemos implantar e os prazos para implantar. Não é conversa de corredor, são reuniões formais. O desligamento é mais uma demonstração de que temos nossas regras de segurança. Não queria dispensar o Jackson, é bom repórter, era da produção e foi promovido. Mas perdemos Gelson em conflito de favela, e isso não pode acontecer de novo”.

O cinegrafista da Band Gelson Domingos morreu baleado por traficantes durante um confronto com policiais, em novembro de 2011. Jackson Silva dá a sua versão: “Um diretor da Fenaj no Rio soube pelos colegas e me ligou. Contei o que aconteceu, e ele perguntou se poderiam fazer uma nota. Durante o tiroteio da Vila Aliança, Zona Oeste do Rio, eu e o cinegrafista tínhamos três alternativas: seguir para o blindado, deitar no chão ou correr para o carro da equipe. Preferi o blindado por questão de segurança: ali havia policiais para nos proteger. A Band tem outros programas com cobertura policial, o Brasil Urgente, o Datena. Antes de passar para o Jornal da Band, esperavam que o [Ricardo] Boechat falasse da matéria de outra forma. Ele falou do risco, o que não era novidade para ninguém. Quando ele assumiu essa posição, mudou o discurso para se proteger, para mostrar que não era conivente com o risco. E sobrou para mim. No dia seguinte, recebi uma carta de advertência, que dizia que eu estava assumindo riscos e que, se no futuro isso viesse a acontecer, eu seria punido. Questionei o fato de que a empresa está ciente do tipo de matéria que eu faço. Não assinei a carta e o RH pediu para explicar por quê. Mandei um e-mail contando, e dizendo que a responsabilidade era da empresa, não minha. Minhas fontes na polícia me avisavam sobre as operações com antecedência, e eles pautavam. Eu executava o que era pedido. Gostavam desse tipo de matéria, que eu fazia porque empresa pedia, mas não queriam assumir. Foram omissos em todos os momentos. A ordem do diretor era: fica longe, não faz a matéria. Fala para não entrar, para ficar no acesso, mas pode ser até pior para levar um tiro. Ideal era não fazer esse tipo de cobertura”.

Jackson esteve na Band por quase cinco anos, tem passagem por TV Globo e assessoria da Guarda Municipal. Paula Máiran, presidente do Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio, afirma que soube do caso pela nota na Fenaj: “Não temos contato direto com esse profissional, e a Fenaj infelizmente se pronunciou sem antes conversar conosco. É fundamental garantir o fortalecimento das nossas entidades na questão da segurança”.

Durante a reunião semanal da diretoria, na 2ª.feira (9/2), a questão foi discutida. Paula prossegue: “Deliberamos que o primeiro passo será cobrar esclarecimentos da própria Band. E num dia muito especial, 10/2, em que faz um ano da morte de Santiago Andrade”. Celso Schröder, presidente da Fenaj, comenta os desdobramentos: “Fizemos a nota a partir de uma demanda de jornalistas do Rio. O diretor de Jornalismo da Band gentilmente nos ligou, fez suas considerações, tentou explicar o que teria acontecido, e parece compartilhar uma posição parecida com a da Fenaj. Estou planejando ir ao Rio, e devemos nos encontrar para conversar sobre que posições seguir”.

A Fenaj registrou, em documento recente – Relatório 2014 da violência contra jornalistas e liberdade de imprensa no Brasil – os indicadores fortíssimos do aumento da violência no Brasil. Schröder propõe três ações: no âmbito parlamentar, uma lei federal que auxilie nas investigações; por parte do Executivo, um acompanhamento desde as denúncias até o esclarecimento; e um Protocolo de Segurança, válido para todos os estados, para a constituição de uma comissão de segurança nas empresas.

Nessa comissão, os jornalistas, juntamente com as chefias, vão analisar a pertinência dessas pautas e como fazê-las, além de equipamento, treinamento jornalístico mais investigativo, e seguro de vida para os profissionais.

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