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sexta-feira, abril 19, 2024

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Paulo Moreira Leite retrata história da resistência civil à ditadura

No momento em que o País recoloca em discussão os crimes cometidos durante o regime militar, com importantes fatos como a criação da Comissão da Verdade e a recente condenação, em primeira instância, do coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra pela morte de Luiz Eduardo da Rocha Merlino, em 1971, Paulo Moreira Leite lança na próxima 2ª.feira (16/7), na Livraria Cultura do Conjunto Nacional (av. Paulista, 2.073), a partir das 18h30, A mulher que era o general da casa. A obra, com 224 páginas e preço de capa de R$ 36, retrata a luta de personagens como Therezinha Zerbini (cuja história dá o título à obra), Armênio Guedes, Washington Novaes, José Mindlin, Plínio de Arruda Sampaio, Henry Sobel e Florestan Fernandes na defesa dos direitos dos que eram sequestrados, presos e torturados durante o regime militar. Com mais de 40 anos de carreira, em que passou por JT, Folha de S.Paulo, Veja, Gazeta Mercantil (em Washington) e Época, onde está hoje, Moreira Leite reúne no livro entrevistas que fez em diferentes épocas de sua carreira. Na reportagem que dá nome ao livro, a única inédita, ele conta a história de Therezinha Zerbini, mulher de um general cassado pelo golpe de 1964 que transformou a sala de sua casa em refúgio para perseguidos e procurados.   Portal dos Jornalistas ? Como se deu a escolha dos personagens retratados? Paulo Moreira Leite ? Cada um teve sua história e seu momento. O reverendo Jaime Wright era uma fonte importante dos jornalistas nos primeiros anos da democratização. Ele nos ajudava a conhecer o passado da tortura e da violência do regime porque era o responsável pelos arquivos do Brasil Nunca Mais. Ele estava ali, como uma memória viva, para impedir a acomodação e o esquecimento. Quando o reverendo morreu, surpreendendo a todos, eu achei que deveria fazer justiça a ele, reunindo casos que havia me contado em nossa convivência. O caso do Florestan Fernandes é diferente. Todos nós ouvimos falar do Florestan mas eu não sabia de sua militância política, dos atos de resistência contra o regime, que alguns colegas até achavam uma temeridade. Sua origem, como filho de uma empregada doméstica, era conhecida mas eu nunca havia pensado muito a respeito. A história do Henry Sobel foi uma sugestão que recebi da Época. Eles me ofereceram um frila e eu achei uma ótima ideia. O Sobel tem um lugar na história do País que não pode ser apagado em função de um episódio lamentável, mal explicado, mas menor. Portal dos Jornalistas ? O que o motivou a escrever esse livro? Paulo ? Acho que foi uma tentativa de reunir histórias que explicam uma parte da luta pela democratização do País. Minha geração esteve dentro desse processo. Todos ouvimos falar sobre a luta armada. Não faltam livros para falar sobre a luta entre a linha dura contra os generais favoráveis à abertura política. Mas pouco se contou sobre a resistência civil, a luta pela anistia e contra a tortura. Foi por meio dessa resistência que a consciência democrática do País se manifestou. Acho que em 2012, quando se forma a Comissão da Verdade, e o País ainda não acertou as contas com esse passado, o livro pode cumprir um papel importante. Portal dos Jornalistas ? Dentre as histórias, qual o surpreendeu mais? Paulo ? Todas as histórias surpreendem. A gente não tem ideia do que essas pessoas fizeram. Você se pergunta: por que o Henry Sobel, um rabino americano, fã do John Kennedy, anticomunista, resolve tomar aquela atitude na morte do Herzog e muda a história do País? Não é fácil entender. Ou por que o Washington Novaes decidiu denunciar como tinha sido a morte do estudante Edson Luís Lima Souto num programa de tevê, desmentindo um ministro da ditadura ao vivo? Eu tive também uma grande surpresa com a história da Therezinha Zerbini. Como jornalista, tenho uma desconfiança de pessoas famosas, celebradas. A Therezinha já era famosa quando eu era estudante da USP e ela apareceu por lá na campanha da Anistia. Fui reencontrá-la 37 anos depois, na casa dela, no Pacaembu. Descobri que foi uma personalidade muito mais importante do que eu pensava. Eu não imaginava como tinha sido importante, corajosa. Portal dos Jornalistas ? Você começou a carreira durante a ditadura. Qual a sua história em relação a esse período? Paulo ? Acho que a ditadura nos politizou. Quando me tornei jornalista, eu queria ser escritor. Tinha mais interesse em literatura e música do que em política. Mas era impossível fechar os olhos para o que acontecia. Eu era repórter de esportes, gostava de escrever sobre luta de boxe, mas todo dia me contavam uma história sobre uma matéria censurada, ou então sobre a tortura. Eu trabalhava no Jornal da Tarde quando Luiz Eduardo da Rocha Merlino foi morto. Sempre ouvia falar de gente que tinha sido torturada. Isso incomoda. Dá medo. Tira o sono. Portal dos Jornalistas ? Teve contato com algum dos retratados durante aquele período? Paulo ? Tive contatos esparsos. Participei da luta pela anistia como jornalista e como militante. Nessa situação, você está mergulhado na ação, querendo alcançar determinado resultado. Só fui conhecer melhor essas pessoas quando tive a chance de entrevistá-las, já no fim da ditadura ou depois dela. Só então as pessoas tinham tranquilidade para conversar, falar de seus projetos. As matérias e textos que podemos ler hoje seriam impensáveis naquela época.

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