A Editora Abril avisou Paulo Zocchi que vai antecipar em dez meses o fim de sua liberação sindical, convocando-o a retornar à empresa a partir de 30 de outubro. Ele tem vínculo com a Abril, mas desempenha as funções de presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo (SJSP) e de vice-presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj).
Em assembleia realizada em 15/10, mais de 40 profissionais de imprensa decidiram, por unanimidade, fazer uma campanha de denúncia contra a Editora Abril. O ato mobilizará diversos sindicatos de diferentes categorias, com publicações nas redes sociais e cartas direcionadas à empresa, explicando a necessidade de manter a liberação do presidente do sindicato até o prazo combinado.
Segundo o SJSP, “a atitude da empresa ataca o exercício do mandato sindical, pois a jornada normal de trabalho impede o desempenho pleno das atividades ligadas à Presidência da entidade. (…) A Abril está rompendo uma prática acordada desde os anos 1960 entre empresas de comunicação e o Sindicato dos Jornalistas, quando todos os presidentes do Sindicato começaram a ser liberados pelas empresas durante o mandato, mantendo os salários e os direitos recebidos no emprego”.
Nesta segunda-feira (19/10), haverá uma reunião para discutir estratégias e diretrizes da campanha de denúncia contra a Abril. É possível inscrever-se previamente por meio deste link.
Jornais impressos expostos na banca da rodoviária. 23-01-209. Foto: Sérgio Lima/PODER 360
Jornais impressos expostos na banca da rodoviária. 23-01-209. Foto: Sérgio Lima/PODER 360
O PoderData, divisão de estudos estatísticos do Poder360, divulgou uma pesquisa sobre credibilidade e características em geral da imprensa brasileira. Os números indicam que 61% dos entrevistados têm certa desconfiança das notícias veiculadas pelas empresas jornalísticas, classificando-as como “mais ou menos confiáveis”.
Vale destacar que esse número aumentou seis pontos percentuais desde a última pesquisa sobre o assunto, em agosto passado, na qual 55% achavam o trabalho jornalístico “mais ou menos confiável”. Apenas 16% disseram que as notícias publicadas pela imprensa são “muito confiáveis”, número que fica próximo aos 17% que as classificam como “pouco confiáveis”.
O PoderData identificou que participantes apoiadores do governo Bolsonaro duvidam mais da imprensa. Cerca de 34% daqueles que avaliam o presidente como “ótimo” ou “bom” classificam a imprensa como “pouco” ou “nem um pouco confiável”. Entretanto, 85% das pessoas que enxergam o governo Bolsonaro como “ruim” ou “péssimo” consideram a mídia como “mais ou menos” ou “muito confiável“.
Outro dado relevante da pesquisa é que 41% dos entrevistados usam veículos jornalísticos na internet como principal fonte de informação. TV e rádio são usados por 27%, redes sociais foram escolhidas por 16% e jornais impressos e revistas, por apenas 13%.
O Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo (Projor), em parceria com o Insper, lançou o Manual GPI Eleições 2020, que serve como guia para profissionais de imprensa e outros cidadãos interessados em temas sobre as eleições municipais.
O Manual oferece as informações e recursos necessários para cobrir as eleições de 2020, abordando temas como impostos, políticas públicas, ferramentas de gestão, transparência e prestação de contas, análise de dados municipais, entre outros.
O guia apresenta um Raio X dos Municípios, que compara cidades por meio de estatísticas sobre educação, habitação, meio ambiente, mobilidade, saúde e segurança. Há também seções dedicadas ao impacto do trabalho jornalístico durante eleições, à desinformação e a como as fake news prejudicam o debate público e a cobertura do tema.
FinCEN Files: matéria investigativa do BuzzFeed com participação de Poder360, Época e piauí (Crédito: Reprodução/BuzzFeed)
Em comemoração ao Dia Mundial da Notícia (World News Day), iniciativa da Fundação de Jornalismo do Canadá e do Forum Mundial de Editores, o site britânico journalism.co.uk compilou sete grandes trabalhos que marcaram 2020 até agora, sobre temas como a pandemia, o movimento Black Lives Matter e o meio ambiente. MediaTalks by J&Cia traz um resumo de todos eles e links para o conteúdo original.
E tem brasileiros na lista. Uma das matérias destacadas, publicada pela revista AreWeEurope, é assinada por uma jornalista brasileira, Fernanda Buriola, baseada em Bruxelas.
A lista inclui também a investigação liderada pelo BuzzFeed sobre os documentos financeiros vazados do tesouro americano, que teve a participação de Poder360e das revistas Épocae piauí.
O Radar Aos Fatos lança, em parceria com a Twist Systems, seu monitoramento público automatizado de desinformação no WhatsApp. Hoje, mais de 270 grupos públicos de discussão política são monitorados e mais de um milhão de mensagens são coletadas e analisadas todas as semanas em busca de padrões linguísticos e de imagens com potencial desinformativo.
O Radar Aos Fatos está em sua versão beta e continua em desenvolvimento. Até novembro, a empresa planeja expandir o número de grupos monitorados e implementar a análise de imagens, vídeos e links, fundamentais para a compreensão do panorama desinformativo que há no WhatsApp. (Veja+)
O Google lançou nesta quarta-feira (14/10) o Treinamento de Imersão em Produto para Redações de Pequeno Porte, que visa a ajudar pequenas redações a pensar em seus produtos e encontrar novos caminhos de sustentabilidade comercial.
Podem se inscrever no treinamento, gratuito, profissionais que trabalhem em redações com menos de 50 jornalistas no Brasil e em todos os países das Américas do Sul, Norte e Central. Não é necessário ter nenhum conhecimento prévio.
Ao longo de oito semanas, com início em janeiro de 2021, os participantes vão definir uma estratégia executiva, equilibrar as necessidades do usuário e as regras do bom jornalismo. Além da teoria, será possível colocar em prática o que foi aprendendido, em empresas jornalísticas de diferentes perfis.
As inscrições vão até 11 de novembro. O grupo de participantes será anunciado em dezembro. Inscreva-se!
A Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj) divulgou nesta quarta-feira (14/10) os dados de um monitoramento para contabilizar todos os ataques feitos pelo presidente Jair Bolsonaro à imprensa nacional em 2020. De janeiro a setembro, foram 299 declarações ofensivas ao jornalismo. Os números indicam a média de 33 ataques por mês.
O levantamento levou em conta discursos do presidente, entrevistas, lives, declarações oficiais e postagens em redes sociais. Do total de ataques, 259 são classificados como descredibilização da imprensa, ou seja, investidas contra o jornalismo em geral ou contra um veículo específico; 38 casos são ataques diretos a um profissional de imprensa; e outros dois ataques a organizações sindicais.
A Fenaj preparou uma linha do tempo, que contém todos os ataques de Bolsonaro à imprensa em 2020 ordenados cronologicamente. Confira!
No livro The Fleet Street Girls, a jornalista Julie Welch relata as barreiras enfrentadas por mulheres para ocupar espaço nas masculinas redações britânicas, em uma época em que a discriminação era tamanha que os pubs das redondezas só atendiam a homens. Welch abriu caminho para profissionais como Katharine Viner, que comanda o The Guardian, e Roula Khalaf, editora-chefe do Financial Times.
Mas a representação das mulheres no jornalismo continua sendo um desafio, e não apenas como chefes. Cientistas e médicas têm sido citadas com muito menos frequência do que seus colegas do sexo masculino na cobertura do coronavírus, de acordo com estudos feitos em diversos países.
Seria simples se o problema estivesse apenas nas mãos da imprensa. No relatório Mulheres na Saúde Global, publicado em abril, o British Medical Journal contabilizou apenas 20% delas no comitê de emergência da OMS, embora respondam por 70% da força de trabalho global em saúde.
Registrou que não havia à época mulheres no comitê italiano; apenas 10% delas no grupo de saúde pública americano; e 22% no Sage, o time de assessoria científica do governo britânico. A entidade examinou 24 forças-tarefa nacionais contra o coronavírus e encontrou paridade de gênero ou mais mulheres do que homens em apenas três.
A imprensa acaba por refletir a baixa participação. Pesquisa feita pela City University encontrou 2,7 homens para cada mulher nas reportagens sobre a Covid-19 em veículos britânicos em março. A Universidade de Zurique calculou que havia apenas duas mulheres entre os 30 cientistas mais citados pela imprensa no país no primeiro semestre deste ano.
O mais abrangente estudo sobre o tema foi publicado em setembro. Comissionado pela Fundação Gates, examinou a cobertura online da pandemia em cinco nações − Reino Unido, Estados Unidos, Nigéria, África do Sul e Índia − entre 1º de março e 15 de abril. E apurou que:
As mulheres representaram19% dos especialistas citados nas matérias;
matérias com uma mulher como fonte traziam também três, quatro ou até cinco homens como entrevistados;
elas raramente foram retratadas como especialistas ou detentoras de poder, tendo aparecido mais vezes expressando opiniões pessoais ou como vítimas da doença;
a cobertura jornalística da pandemia privilegiou fatos, deixando menos espaço para um enfoque no ser humano, o que na opinião da autora do estudo, Luba Kassova, reflete melhor o interesse das mulheres.
Exemplo da predominância masculina entre os especialistas
Para aliviar a culpa da imprensa, o trabalho assinala a menor presença de mulheres no universo da política como uma das razões para o domínio dos homens, fazendo com que jornalistas tenham à disposição mais fontes masculinas. E faz recomendações para empresas jornalísticas equilibrarem o jogo, adotando procedimentos para elevar a presença de mulheres como fontes em suas reportagens.
Também na França estão sendo feitas recomendações à mídia, só que pelo Governo. Um levantamento publicado pelo Ministério da Cultura em setembro constatou o domínio masculino nas capas de jornais do país durante a crise – 83,4%. E formulou 26 orientações para as empresas de mídia equilibrarem a presença entre homens e mulheres em seu noticiário.
Médicas e cientistas reagem
Enquanto a igualdade não chega, há as que se intimidam e as que não deixam barato.
Em maio, um grupo de 35 cientistas publicou um artigo coletivo no site do The World University Ranking protestando contra o patriarcado na ciência. Elas se disseram “fartas” e classificaram os jornais de tendenciosos ao darem voz apenas aos homens, apesar de haver mulheres na linha de frente da Covid-19.
No Canadá o tempo esquentou durante uma entrevista na CBCNews sobre medidas de isolamento. A médica Nili Kaplan-Myrth reagiu com energia quando um colega que participava da entrevista disse que ela estava falando alto. Classificou o comentário de sexista e seguiu com a defesa de sua tese. Depois postou nas redes o protesto:
“NUNCA diga a uma mulher (profissional ou não) que ela não pode falar com autoridade. NUNCA diga que não somos preparadas o suficiente, especialistas o suficiente ou boas o suficiente. Temos a mesma autoridade para falar”.
Nili Kaplan-Myrth reage com energia durante a entrevista
Mais sobre as pesquisas que mostram a baixa presença de mulheres na imprensa (e no comando das redações) e as recomendações do relatório da Fundação Gates para as redações
A Exame, agora transformada em plataforma de mídia de negócios, anunciou em 8/10 uma aliança com a Bloomberg Businessweek para compartilhar artigos da publicação internacional em suas mídias impressa (revista Exame), site e redes sociais no território brasileiro. A Bloomberg Businessweek tem tiragem global de 600 mil exemplares, com edições semanais em inglês na América, Europa e Ásia, e edições locais na Turquia, Hong Kong, China e México.
Em entrevista ao Portal dos Jornalistas, Lucas Amorim, editor-chefe de Exame, detalhou esse e outros acordos recentes firmados pela plataforma e falou sobre as mudanças pelas quais a marca vem passando desde que foi vendida pela Abril ao Banco BTG, no final do ano passado.
Portal dos Jornalistas − O acordo com a Bloomberg Businessweek permite a livre escolha de conteúdos pela Exame?
Lucas Amorim − Temos autonomia para escolher os conteúdos da Bloomberg Businessweek que podem ser publicados. Isso nos dá total liberdade para fazer uma curadoria de olho nas necessidades de informação de empresários e executivos brasileiros. A pandemia escancarou como o mundo está interconectado, e trazer conteúdo da Businessweek neste momento é essencial para nossos leitores se guiarem no dia a dia.
Portal − Esse conteúdo ficará à disposição de todos os leitores ou será restrito?
Lucas − Sempre haverá matérias da BBW na revista, com destaque para os grandes personagens e as grandes reportagens. Mas, conteúdos adicionais também estarão disponíveis para os assinantes nos demais canais da plataforma Exame, tratando de negócios, finanças, tecnologia, empreendedorismo, política e Casual (nossa seção de estilo de vida).
Portal − A BBW reproduzirá algum conteúdo da Exame?
Lucas − Em outro acordo firmado recentemente, o conteúdo da Exame passará a ser distribuído nos terminais da Bloomberg. E não descartamos a possibilidade de novos acordos para levar a produção da Exame e as análises do cenário econômico brasileiro para o exterior.
Portal − Há outros acordos do gênero em vigor? Ou em negociação?
Lucas − A Nova Exame, lançada este ano, tem como premissa ser o principal canal de informações relevantes para os negócios no Brasil. A marca Exame há 53 anos preza por conteúdo de qualidade e traz insumos para a tomada de decisão de empresários e executivos, e vem se reinventando como plataforma moderna, ágil e multimídia. Dentro desse projeto ousado que estamos colocando de pé, um dos caminhos é buscar parcerias com fontes globais de informação relevantes para subsidiar o nosso público. Além de parcerias com outros veículos, estamos também construindo modelos de parceria com fontes relevantes dos setores produtivos, consultorias, empresários e influenciadores. A ambição é estar sempre na frente para fazer a diferença no desenvolvimento do capitalismo brasileiro.
Portal − Em agosto, Exame e FSB lançaram a plataforma Bússola, que tem site, newsletters, webinars e podcasts. Como está esse processo?
Lucas − Esse é um dos modelos que comentei acima e que já está em prática. A FSB é nossa agência de comunicação e produz muito conteúdo sobre seus clientes. Chegamos a um modelo que abre espaço em nossos canais para análises, dados e reportagens branded content de alta qualidade, produzidos pela FSB (e identificados como tal).
Portal− Você era editor executivo da revista e assumiu a Redação com a venda para o BTG. Mudou algo nas configurações da sua função nessa transição? E na linha editorial da revista?
Lucas − Estou há 13 anos na Exame e participei ativamente da integração das redações física e digital. Na nova Exame, a prioridade foi definitivamente invertida: o foco é site, app, redes sociais e novos produtos digitais. A revista, com mais espaço para grandes reportagens e leiaute mais moderno, é nossa oportunidade de, a cada duas semanas, marcar a posição da Exame sobre os temas do momento e aprofundar o debate. Abrimos espaço para mais diversidade, com mais mulheres nas capas, por exemplo, mais inovação e mais ESG. É a forma de a Exame conseguir ser mais ágil, mais conectada às demandas de 2020, e mais relevante.
Portal − Você responde apenas pela área editorial ou tem ingerência nas outras frentes de negócio − Academy (educação financeira e executiva), Research (análises do mercado financeiro) e Experience (eventos e conteúdo direcionado)?
Lucas − Respondo pelo editorial, seguimos com nossas demandas e objetivos específicos, mas temos interação diária com as outras áreas. Nesta nova estrutura temos a visão de que há muita sinergia e muita oportunidade na união das várias frentes para uma gama crescente de projetos. A ideia é funcionar como startup, com lançamento de projeto, definição de objetivos e muito teste, o tempo todo. Seguiremos inovando no jornalismo, mas a Exame tem ambição de ser referência em todas as áreas de atuação.
A manifestação da rainha Elizabeth valorizando o papel da imprensa durante a pandemia, que abriu a semana Journalism Matters promovida pela News Media Association do Reino Unido, é um sinal do respeito da sociedade ao jornalismo no país. Parte dele pode ser atribuído ao jornalismo de campanha, prática pouco comum no Brasil.
Em artigo no MediaTalks by J&Cia, reunimos os 23 cases de campanhas realizadas por jornais britânicos, selecionados pela associação para concorrer ao prêmio Making a Difference (vencido pelo Daily Mirror e, em nível regional, pelo Yorkshire Post). Vale conhecer as iniciativas que combinam séries de reportagens investigativas, eventos e engajamento da comunidade por meio de atividades como petições online e fundraisings, levando a uma transformação tangível da realidade
E aproveitando que jornalismo de campanha está em pauta, examinamos em outro artigo como ele faz parte da cultura da imprensa no Reino Unido, como se diferencia do jornalismo investigativo e porque tem sido visto como um dos caminhos para convencer o público a pagar por conteúdo.
O jornalismo de interesse social é uma vertente promissora apontada pelo recente estudo do Instituto Reuters sobre estratégias de jornais regionais europeus para se adaptarem ao ecossistema digital. Como exemplo trazemos o caso do The Bristol Cable, um jornal premiado por suas campanhas, administrado em sistema de cooperativa, que adotou um modelo de negócio baseado no engajamento dos leitores.