Segundo levantamento da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), 2020 foi o ano mais violento para profissionais de imprensa brasileiros desde o início da década de 1990, quando a entidade passou a contabilizar os índices de violência contra jornalistas. O principal agressor foi o presidente Jair Bolsonaro.
O relatório contabilizou 428 casos de violência contra profissionais de imprensa em 2020, mais do que o dobro do número detectado em 2019. Bolsonaro foi responsável por quase 175 ataques, o equivalente a 41% do total.
A ação de tentar desacreditar a imprensa foi a mais frequente: dos 428 casos registrados, 152 (35,51%) foram discursos que buscavam desqualificar a informação jornalística, seguidos por censura (85 casos – aproximadamente 20%) e agressões verbais/ataques virtuais (76 casos – quase 18%).
A Fenaj escreveu no relatório que “a explosão de casos está associada à sistemática ação do presidente da República, Jair Bolsonaro, para descredibilizar a imprensa e à ação de seus apoiadores contra veículos de comunicação social e contra os jornalistas”.
Maria José Braga, presidente da Fenaj, declarou que “esse crescimento evidencia a institucionalização do desrespeito ao princípio constitucional da liberdade de imprensa, por meio da Presidência da República, e a disseminação de uma cultura da violência para a relação cidadãos/veículos de comunicação/jornalistas”.
Estão abertas as inscrições para as bolsas de jornalismo do Instituto Reuters em parceria com a Universidade de Oxford. O programa oferece £ 2.000 (quase R$ 15 mil) a profissionais de todo o mundo que tenham mais de cinco anos de experiência.
Segundo o site do Instituto Reuters, os selecionados passarão por “um período de reflexão e uma oportunidade de realizar uma pesquisa relevante em profundidade, longe da pressão de prazos apertados”.
Para inscrever-se, é preciso preencher um formulário (em inglês), além disso, os candidatos devem enviar uma declaração explicativa sobre o projeto. Junto, será necessária uma carta de apresentação que explique os motivos do interesse no programa, um currículo e duas referências profissionais. O prazo vai até 8 de fevereiro.
* Por Cristina Vaz de Carvalho, editora regional de Jornalistas&Cia no Rio de Janeiro
Na segunda-feira (25/1), a Globo emitiu um comunicado que agitou os canais digitais de televisão, com a informação de que Fausto Silva deixará a emissora no final do ano, quando vence seu contrato. O programa Domingão do Faustão, depois de 32 anos nas tardes de domingo da emissora, pode ou não continuar. Diz a nota: “Diante da decisão do apresentador de encerrar sua jornada à frente de programas semanais, só cabe à TV Globo respeitar e aplaudir a história que ele construiu”.
Ao elaborar uma remodelação completa na programação de domingo da Globo, Ricardo Waddington, diretor de Entretenimento, ofereceu a Fausto um programa diferente, a ser desenvolvido, para as noites de quinta-feira. A ideia seria fazer face à concorrência de A praça é nossa, do SBT, nesse horário. Fausto, porém, preferiu não renovar seu contrato nessas bases. O que não quer dizer que ele pretenda se aposentar. Sobre seu futuro na telinha, há apenas especulações.
Em resumo, Fausto começou como jornalista no rádio, e estreou na TV como apresentador do programa Perdidos na noite, exibido sucessivamente pelas TVs Gazeta, Record e Bandeirantes. Em 1989, convidado por Boni, assumiu o Domingão do Faustão na Globo, para concorrer com Sílvio Santos nas tardes de domingo.
Com uma equipe de criação própria consagrou diversos quadros de grande apelo e, com seu senso de improvisação, bordões como “quem sabe faz ao vivo”.
Feras da cobertura de celebridades, como Daniel Castro, Flávio Rico, Leo Dias e Maurício Stycer cederam espaços generosos a Faustão, caracterizando uma unanimidade em termos de respeito pelo seu trabalho. Ao contrário da postura avessa às entrevistas, que Fausto adotou desde o seu enorme sucesso, ele agora falou aos que o procuraram, sempre agradecendo e elogiando a emissora.
Há dez anos, Jornalistas&Cia o entrevistou, e sua biografia, currículo e postura profissional continuam valendo. Patrícia Kogut – que não divulga informação privilegiada –, no jornal O Globo, acrescentou que o diretor artístico do programa, Jayme Praça, deixa a empresa já em fevereiro e Cris Gomes,o diretor-geral da atração, acumula as funções dele.
As guerras do século XXI serão todas irregulares, com terrorismo, guerrilhas, movimentos de resistência e não mais com grandes batalhas, bombardeios, emprego de tanques e batalhões de infantaria. Nessas novas guerras, a que já estamos assistindo, a liberdade da imprensa e a mídia são vitais tanto para os insurgentes, sejam eles quais forem, como para as Forças Armadas regulares.
A colocação é do livro Guerra Irregular – terrorismo, guerrilha e movimentos de resistência ao longo da história, do coronel Alessandro Visacro, do Exército Brasileiro. A obra não é nova, foi publicada pela Contexto em 2009, mas ganha atualidade ao afirmar que situações como as das favelas do Rio de Janeiro, de onde o Estado foi alijado e onde os insurgentes – leia-se traficantes – às vezes têm apoio da população, caracterizam-se efetivamente como guerrilha, com a diferença de que, em vez de lutarem por uma ideologia, lutam por ganho econômico.
O livro mostra que a imprensa é uma arma vital para conseguir a vitória e cita dois exemplos pouco conhecidos, mas importantes. Em 1971, na luta contra o IRA, na Irlanda, o comando do exército britânico liberou todos os soldados para falarem com jornalistas e TV. Eles contavam como seus companheiros foram assassinados pelos insurgentes, mostravam-se como jovens cumprindo o seu dever para com o País e sendo massacrados por bombas que matavam civis e militares indiscriminadamente. Apesar de uma ou outra bobagem dita às câmaras, o resultado foi o apoio da opinião pública e o isolamento dos militantes, que não conseguiram colar nos repressores a imagem de “porcos fascistas” que tentaram difundir.
Outro exemplo, também pouco conhecido foi na guerra do Iraque, quando o Exército americano lançou a operação Mídia Embutida, pela qual 500 repórteres, fotógrafos e cinegrafistas foram incorporados a unidades do exército e dos fuzileiros, compartilhando alojamento, alimentação e combates junto com as tropas.
“Quando os jornalistas participaram, a história correta passou a ser contada”, afirma a coronel Melanie Reeder, citada na obra; “quando não receberam informações, o resultado foi especulação, desinformação e inexatidão da matéria”. E essa visão não é recente pois, ainda segundo o cel. Visacro, já na Primeira Guerra o famoso T.E. Lawrence escreveu que “a imprensa é a melhor arma no arsenal do comandante moderno”.
O livro leva o leitor a comparar o efeito dramático das entrevistas de pessoas do povo que tiveram suas casas invadidas por policiais ou seus filhos mortos por balas perdidas das forças repressoras, com a insossa e repetitiva entrevista dos oficiais superiores que, falando de um gabinete, afirmam sempre que “um inquérito será aberto e que os fatos serão apurados”.
Com uma bibliografia completa, à qual não falta a visão do jornalista, como a obra do repórter policial Percival de Souza, o livro mostra também porque é vital o apoio da população na guerra irregular, em que não se luta por terreno ou domínio de cidades, mas por “corações e mentes”.
Jornais impressos expostos na banca da rodoviária. 23-01-209. Foto: Sérgio Lima/PODER 360
Jornais impressos expostos na banca da rodoviária (Crédito: Sérgio Lima/PODER 360)
O Poder360 fez uma avaliação sobre a pesquisa do IVC (Instituto Verificador de Comunicação) sobre a circulação total (impresso + digital) dos principais jornais do País durante os dois primeiros anos do mandato de Jair Bolsonaro (2019 e 2020). Os resultados indicam uma queda de 1,1% na circulação, número que pode ser entendido como estabilidade.
Para a reportagem, o Poder360 selecionou os seguintes veículos: Folha de S.Paulo, O Globo, O Estado de S.Paulo, Super Notícia (MG), Zero Hora (RS), Valor Econômico, Correio Braziliense (DF), Estado de Minas, A Tarde (BA) e O Povo (CE). Em dezembro de 2018, a circulação total desses dez jornais era de 1.444.104 exemplares. Em dezembro de 2020, segundo o IVC, o número foi de 1.428.073.
Segundo o Poder360, vale destacar, porém, que analisados separadamente, esses veículos tiveram desempenhos diferentes no período analisado: Folha, Globo, Valor e A Tarde, por exemplo, tiveram desempenhos positivos em suas tiragens pagas. Os demais enfrentaram uma queda global de circulação.
Outro dado relevante da pesquisa, segundo o portal, é a diferença entre as versões impressas e digitais dos jornais analisados. Em dezembro de 2018, os dez veículos tinham 654.144 de tiragem média diária. No final de 2020, o número caiu para 437.969, uma queda expressiva de 33%. Já em relação a assinaturas digitais, nos dois anos do Governo Bolsonaro, os números dos jornais subiram de 789.960 para 990.104, um aumento de 25,3%.
Foi um show online, em que não faltaram surpresas e emoções. Profissionais e veículos foram homenageados, recebendo o reconhecimento do mercado pelo brilhantismo do trabalho nas redações. E aqui você pode conferir o trailer da premiação.
Em um ano desafiador, os premiados tiveram seus trabalhos reconhecidos e valorizados no evento, e nós, de J&Cia/Portal dos Jornalistas, ficamos orgulhosos pelos frutos que a cerimônia nos trouxe.
Luiz Felipe Pondé e Thaís Oyama (Crédito: Divulgação/TV Cultura)
O programa Linhas Cruzadas estreia na TV Cultura em 28/1, às 22 horas. A atração, que irá ao ar às quintas-feiras, é apresentada por Thaís Oyama e pelo filósofo Luiz Felipe Pondé.
O jornalístico trará análises aprofundadas de fatos do noticiário recente. As primeiras edições falarão sobre a ameaça à democracia, marketing digital e censura. O programa será exibido também nos site, YouTube, Facebook e Twitter da TV Cultura.
O tempo esquentou entre Google e Austrália. Melanie Silva, diretora da empresa no país, afirmou que a lei proposta pelo Governo australiano, que faria a empresa pagar por links às empresas jornalísticas, quebraria o modelo de negócios do Google. O primeiro-ministro Scott Morrison rebateu dizendo que a Austrália não se dobra a ameaças e que quem manda no país são os australianos.
Para The Drum, principal website de marketing da Europa, com esse pronunciamento o Google declarou guerra à Austrália. Leia em MediaTalks o que é o projeto que pode até se tornar uma crise diplomática, e também a proposta de uma rede social estatal, feita pelo think tank Australian Institute, o chamado Tech-xit.
A Fundação Gabriel Garcia Márquez anunciou na noite dessa quinta-feira (21/1), em cerimônia virtual, os vencedores do Prêmio Gabo 2020. Dentre os trabalhos reconhecidos nas quatro categorias, destaque para o projeto Radar Aos Fatos, único premiado brasileiro desta edição ao receber o reconhecimento principal na categoria Inovação.
Sob o comando da diretora executiva Tai Nalon, integraram a equipe do projeto do Aos Fatos Carol Cavaleiro, Bárbara Libório, Bruno Fávero, Milena Magabeira, Luiza Barros, Thamyres Dias, João Barbosa, Marina Gama Cubas e Rômulo Collopy, além da agência de inteligência digital Parafernália Interativa.
Tai Nalon: “Em um país em convulsão, a desinformação afeta vidas”
O Radar Aos Fatos é uma ferramenta de monitoramento em tempo real do ecossistema de desinformação brasileiro. A partir de padrões linguísticos e inteligência artificial, o algoritmo capta tendências desinformativas na internet a partir de conteúdos de baixa qualidade. “Em um país em convulsão, a desinformação afeta vidas”, destacou Tai Nalon. “Por isso, quero humildemente dedicar este prêmio aos mais de 200 mil mortos no Brasil devido à pandemia”.
Desde que foi ao ar pela primeira vez, em março de 2020, o núcleo editorial do Radar publicou 39 reportagens que mapeiam os principais meios pelos quais campanhas de desinformação são distribuídas. Em abril, por exemplo, o serviço concluiu que o deputado Osmar Terra (MDB-RS), então cotado para o Ministério da Saúde, era o parlamentar que mais havia disseminado desinformação sobre a pandemia no Twitter.
“O Radar é um mecanismo vivo, que mapeia, toda semana, dados que mudam conforme o momento político”, complementa Natalia Viana, diretora da Agência Pública e uma das juradas do Prêmio Gabo. “É a primeira ferramenta que vejo no jornalismo que busca monitorar diferentes plataformas. É algo que exige coragem e põe em xeque os limites do jornalismo. Radar Aos Fatos ataca um problema que não poderia ser atingido de outra maneira”.
O juiz Luiz Gustavo Esteves, da 11ª Vara Cível de São Paulo, condenou o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL) a pagar uma indenização de R$ 30 mil por danos morais à repórter da Folha de S.Paulo Patrícia Campos Mello. Determinou também o pagamento de custas processuais e honorários advocatícios no valor de 15% da condenação. Cabe recurso da decisão.
Em maio do ano passado, Eduardo Bolsonaro afirmou em live que Patrícia “tentava seduzir” fontes para obter informações que fossem prejudiciais ao presidente Jair Bolsonaro. A transmissão foi ao ar no canal do YouTube Terça Livre TV. Após o ataque, a repórter da Folha acionou a Justiça.
O deputado referia-se a Hans River, ex-funcionário de uma agência de disparos de mensagens em massa, que mentiu e insultou Patrícia em uma sessão da CPMI das Fake News, no Congresso, em fevereiro do ano passado. Ele foi uma das fontes de uma reportagem de Patrícia que revelou uso fraudulento de nomes e CPFs para disparar mensagens em benefício de políticos.
Na sentença, Esteves afirmou que Eduardo Bolsonaro, “ocupando cargo tal importante no cenário nacional – sendo o deputado mais votado na história do País, conforme declarado na contestação – e sendo filho do atual presidente da República, por óbvio, deve ter maior cautela nas suas manifestações, o que se espera de todos aqueles com algum senso de responsabilidade para com a nação”.