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Condenação do STJ a Octávio Costa e Tábata Viapiana é mácula à liberdade de imprensa no País

Condenação do STJ a Tábata Viapiana e Octávio Costa é mácula à liberdade de imprensa no País

Não foi uma condenação qualquer. Ao determinar que os jornalistas Octávio Costa e Tábata Viapiana paguem R$ 150 mil de indenização ao ministro decano do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, corrigidos monetariamente desde a publicação da reportagem Negócio Suspeito, na revista IstoÉ em 2017, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) abre um preocupante precedente na história da liberdade de imprensa no País, não só pela decisão em si, mas por tudo que a cerca.

Importante ressaltar que o recurso foi impetrado por Gilmar Mendes ao STJ em maio de 2021, após perder na primeira e na segunda instâncias. Na ocasião, o ministro Villas Bôas Cueva, relator do caso no STJ, rejeitou a apelação em uma decisão monocrática. No entanto, quase quatro anos depois, sem nenhum fato novo, o mesmo Cueva mudou de entendimento e afirmou que a matéria está “permeada de ironias e insinuações” contra o ministro, defendendo a condenação da revista e dos jornalistas, no que foi seguido por outros quatro magistrados.

Ao atingir o presidente da ABI, uma das mais importantes e respeitadas instituições do País, a decisão do STJ atinge frontalmente a própria liberdade de imprensa, já que praticamente passa um recado aos jornalistas e à sociedade de que os membros da corte suprema são intocáveis e podem se voltar contra qualquer profissional que, cumprindo o seu ofício, escreva sobre eles, independentemente do motivo. No caso em questão, a partir de reportagem amplamente documentada, como entenderam as instâncias inferiores.

Octávio Costa

Ironia do destino, Octavio trabalhou por quase um ano no STJ, primeiro como assessor do ministro Edson Vidigal e, depois, chefe da Assessoria de Comunicação, em 2004.

Chama a atenção o valor arbitrado, de R$ 150 mil, com correção monetária e juros moratórios a contar da data da publicação da matéria, podendo superar os R$ 300 mil, o que é excessivo e desproporcional. No caso de Octavio, atinge um profissional de 75 anos, que tem como única fonte de receita a aposentadoria pelo INSS, e que hoje se dedica única e exclusivamente a presidir a ABI, trabalho voluntário e não remunerado. E, no caso da repórter Tábata Viapiana, trata-se de uma profissional que vive do seu trabalho em uma assessoria de comunicação em Curitiba. Ou seja, nem em sonho os dois terão como pagar o que Gilmar quer receber.

Vale também lembrar que a Editora Três foi condenada no mesmo processo, mas que, como massa falida, não será atingida pela decisão.

A este J&Cia, Octavio informou que entrará com embargo no STJ tão logo seja publicado o acórdão com a íntegra da decisão. E que, em não tendo sucesso, apelará ao próprio STF, de Gilmar Mendes, esperançoso de que os demais magistrados da Suprema Corte, defensores intransigentes da liberdade de imprensa, revejam essa decisão absurda, que tantos riscos traz para a democracia e para as liberdades constitucionais, vindos do ministro decano do STF.

Para entender o caso

Tábata Viapiana

A Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça decidiu na noite de segunda-feira (9/6) condenar a Editora Três e os jornalistas Octávio Costa e Tabata Viapiana por danos morais ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes. Em 2017, Octávio e Tabata assinaram uma reportagem na revista IstoÉ sobre a venda, em 2013, de uma universidade da família do magistrado para o governo do Mato Grosso por R$ 7,7 milhões.

A matéria em questão, intitulada Negócio Suspeito, abordava uma investigação de improbidade administrativa relacionada ao processo de estatização da universidade, de Diamantino, no Mato Grosso. A instituição foi fundada por Mendes e a irmã, que permaneceu sendo uma das proprietárias até a venda investigada.

Em seu voto pela condenação dos jornalistas, o relator Ricardo Villas Bôas Cueva declarou que a reportagem está “permeada de ironias e insinuações que se voltam nitidamente contra Gilmar, sendo nítido o intuito de associá-lo, de forma pejorativa, à imagem de alguém que se distancia da ética e que visa apenas resguardar benefícios pessoais e favorecer pessoas próximas”. Acompanharam o relator os colegas Humberto Martins, Daniela Teixeira, Moura Ribeiro e Nancy Andrighi.

Mendes havia sofrido derrotas judiciais relacionadas ao caso, em primeira e segunda instâncias, no Distrito Federal, mas conseguiu reverter agora a situação no STJ. Antes da votação, entidades defensoras da liberdade de imprensa haviam alertado para o perigo da decisão sobre o caso, que poderia abrir um precedente de censura judicial contra jornalistas que atuam sem má-fé e em prol do interesse público. O processo também levanta discussões sobre o uso do sistema de Justiça por figuras públicas para intimidar repórteres e veículos de comunicação.

A origem de tudo

STJ condena jornalistas por reportagem sobre Gilmar Mendes
Gilmar Mendes (Crédito: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

A origem de tudo foi a compra, em 2013, pelo então governador de Mato Grosso, Silval Barbosa (MDB), da faculdade União de Ensino Superior de Diamantino (Uned), que pertencia a Maria Conceição Mendes França, irmã de Gilmar, por R$ 7,7 milhões. Ele transformou a instituição num dos campi da Universidade Estadual do Mato Grosso (Unemat), no município de Diamantino, cidade natal do ministro.

Em 2017, conforme informou o jornal Gazeta do Povo, do Paraná, “a IstoÉ teve acesso a investigação do MP sobre a negociação e publicou a matéria Negócio suspeito. A defesa do decano do STF acionou a justiça por considerar que a revista ‘se prestou a tecer uma série de impropérios, com a clara intenção de desabonar a honra e a imagem do Autor e de minar sua credibilidade’”.

Ressalta a Gazeta do Povo: “Gilmar perdeu na primeira e na segunda instância. O juízo de primeiro grau considerou o pedido improcedente e condenou o ministro ao pagamento das despesas processuais e de honorários advocatícios, fixados em 10% do valor da causa. Gilmar apelou, mas a Quinta Turma Cível, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT), rejeitou o recurso por unanimidade. Para o TJDFT, a matéria jornalística foi publicada ‘nos limites do direito à livre expressão das atividades de comunicação, assegurado nos artigos 5º, inciso IX, e 220 da Constituição Federal, em que inexistiu ato ilícito por parte do suposto ofensor, não enseja a reparação civil por dano moral’. Os embargos de declaração de Gilmar, uma espécie de recurso após a decisão, também foram negados. Em um recurso especial, a defesa do ministro argumentou que o tom utilizado pelos jornalistas na matéria continha ‘maliciosa insinuação’ para ‘induzir’ seus leitores a acreditarem que Gilmar ‘exerceria suas atribuições como magistrado em desacordo com a legislação e a Constituição, flertando com ilicitudes das mais repugnantes’. Em maio de 2021, o recurso foi analisado pelo ministro Villas Bôas Cueva, relator do caso no STJ, que rejeitou a apelação do decano do Supremo em uma decisão monocrática. Em fevereiro deste ano, a defesa de Gilmar apresentou um agravo e o relator reconsiderou e levou o caso para análise da Terceira Turma.”

Entidades apontam “precedente de censura judicial” contra jornalistas

A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) destacou a preocupação com a liberdade de imprensa diante da possibilidade de condenação dos jornalistas, apontando para o risco da criação de um “precedente de censura judicial contra jornalistas que atuam sem má-fé e em prol do interesse público”.

“O processo também levanta discussões sobre o uso do sistema de Justiça por figuras públicas para intimidar repórteres e veículos de comunicação”, apontou a Fenaj. A Coalizão em Defesa do Jornalismo (CDJor) reforçou que “as decisões de primeira e segunda instâncias julgaram a ação improcedente, destacando a veracidade das informações publicadas e a legitimidade das críticas jornalísticas”.

A CDJor fez um apelo aos integrantes da 3ª Turma do STJ para que siguissem o “já consolidado entendimento do STF de que críticas dirigidas a autoridades públicas podem ser fortes e ácidas sem que isso gere o dever de indenizar”.

O caso Rubens Valente

Rubens Valente

Esse processo de Gilmar Mendes contra jornalista não foi o primeiro. São vários os que ele abriu contra profissionais.

Um dos mais emblemáticos foi contra o repórter Rubens Valente, que, condenado a pagar uma indenização da ordem de R$ 400 mil ao magistrado, em última instância, decidiu recorrer à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, em processo acolhido contra o Estado brasileiro. O relatório de admissibilidade é de março de 2025. Valente, representado pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), alega que foi condenado a pagar uma indenização a um ministro do STF [Gilmar Mendes] após publicar um livro criticando sua atuação num caso sobre corrupção. Valente também afirma que o Poder Judiciário brasileiro teria determinado a inclusão da condenação em edições futuras do livro.

O caso seguirá para exame de mérito quando a CIDH, após alegações das partes, decidirá se o Brasil violou os direitos humanos da vítima à honra, à liberdade de expressão e à propriedade.

No caso de uma derrota final, Octavio Costa tenderá a seguir o mesmo caminho de Valente.

Prêmio Jatobá PR terá categoria especial sobre a COP30

Festa do Jatobá será na noite de 2 de dezembro. Venda de lugares e mesas já foi aberta

A edição 2025 do Prêmio Jatobá PR, que está em sua nona edição, terá uma categoria especial sobre a COP30. Ao contrário das demais, exclusivas para Grandes Agências, Agências-Butique ou Organizações Empresariais e Públicas, a nova categoria será aberta a cases de todas as verticais.

Podem concorrer, segundo destaca o Regulamento da premiação, “projetos de qualquer das disciplinas de comunicação e mesmo projetos integrados que demonstrem um claro compromisso de contribuir com os debates, de propagar e incentivar o cumprimento das diretrizes das autoridades ambientais e climáticas junto à sociedade, que se desdobrem em ações complementares pelo mercado, que assumam claros compromissos internos e externos em defesa do meio ambiente, que busquem engajar os vários stakeholders da marca nos projetos desenvolvidos, que contenham compromissos públicos e oficiais da alta cúpula da organização na aderência à causa da emergência climática etc”.

O objetivo, segundo explica o diretor do Grupo Empresarial de Comunicação (Gecom) Thales Toffoli, foi o de abrir uma janela na premiação para a multiplicidade de ações que estão em curso em todo o mercado voltadas para a Conferência do Clima: “Temos visto empresas empenhando-se em levar para Belém todos os tipos de iniciativas com foco na preservação ambiental, na disseminação de uma cultura preservacionista, no letramento da sociedade sobre os temas mais urgentes da emergência climática e entendemos que seria importantíssimo abrir espaço no Jatobá para que esses cases fossem apresentados, analisados e eventualmente premiados”.

“Mas não só isso”, complementa Hélio Garcia, também diretor do Gecom. “Todos esses cases, vencedores ou não, finalistas ou não, terão um lugar de destaque no Banco de Cases da premiação, ganhando uma perenidade que não teriam de outra forma. E esse é o propósito do Banco de Cases, dar perenidade às centenas de cases que todos os anos disputam o Jatobá, independentemente do resultado final. E por que isso? Para permitir ao mercado, às universidades e a todos os interessados acesso aberto e gratuito ao estado da arte da comunicação corporativa no Brasil”.

Até o próximo dia 31 de julho, as inscrições ao Jatobá contarão com um desconto promocional de 15%. Clique aqui para mais informações.

FSB Holding propõe-se a criar grupo audiovisual mais completo do Brasil e começa com a aquisição da produtora Santeria

Felipe Luchi (esq.), Francisco Soares Brandão, Edgard Soares Filho e Marcos Trindade

A FSB Holding anunciou em 9/6 a aquisição da produtora de filmes Santeria. Fundada há cinco anos e com mais de cem trabalhos anuais, firmou-se como uma das produtoras mais premiadas do Brasil internacionalmente, conforme o ranking do Meio & Mensagem. O empresário Edgard Soares Filho e o diretor de criação Felipe Luchi são os fundadores da Santeria, que seguirá sob a liderança executiva de ambos. Eles também conduzirão a expansão e estruturação de um novo grupo dentro da holding, especializado no audiovisual.

“É a nossa estratégia desenhada, de construir um ecossistema mais completo na área de reputação, pois pretendemos chegar a 1 bi em 2027”, definiu Marcos Trindade, CEO da FSB Holding. O grupo detém o maior faturamento bruto – R$ 735 milhões em 2024 – entre as agências brasileiras de comunicação corporativa. Trindade conversou com Cristina Vaz de Carvalho, editora do Portal dos Jornalistas no Rio de Janeiro, sobre mais esse passo.

Felipe Luchi (esq.), Francisco Soares Brandão, Edgard Soares Filho e Marcos Trindade

Jornalistas&Cia – Por que o audiovisual?

Marcos Trindade – A parte de vídeo tem uma demanda grande dos clientes. O vídeo é muito eficiente – uma pesquisa do LinkedIn mostrou que cresceu 52% na comunicação dos CEO, tanto interna como em relatórios para os clientes. É a mídia mais potente e mais autêntica. E estamos aqui para investir em um negócio dentro do projeto de gestão de reputação. Já tínhamos feito uma parceria com a Santeria, que tem sinergia com o que fazemos. Resolvemos, então, adquirir, trazer para dentro.

J&Cia – A aquisição foi anunciada como sendo o início de um “novo grupo audiovisual com ambição nacional”. Seria o primeiro passo para ser o maior do Brasil? Concorrer com a Globo?

Trindade – Se é para sonhar, vamos sonhar grande. Edgard e Luchi são os dois sócios que vão tocar a operação. Não se trata de concorrer com a Globo, mas de podermos produzir para a Globo. Ter como parceiro uma plataforma de streaming como o Globoplay.

J&Cia – Quando começou a negociação?

Trindade – Temos parceria há um ano e meio com a Santeria; montaram um bureau dentro do nosso escritório. Essa experiência mostrou-se lucrativa e demandada pelos clientes sob dois pontos de vista. Em primeiro lugar, a realidade de atender à carteira de clientes. Depois, uma necessidade de mercado, de poder construir um hub na área do audiovisual.

J&Cia – O anúncio afirma que a FSB pretende ainda “criar e incorporar novas produtoras audiovisuais” e ter uma “estrutura dedicada exclusivamente à produção de conteúdo para entretenimento”.

Trindade – Pretendemos adicionar mais produtoras. Na produção de streaming, na área de incentivo fiscal, tem também muita gente especializada. São produções bonitas, como a do Ayrton Senna. Outro dia vi uma produção muito boa sobre Osama Bin Laden. Na medida em que se consegue viabilizar isso na plataforma de streaming, temos ganhos efetivos. É uma operação casada: projeto, produtor, plataforma, recursos. Uma decisão olhando para a frente no mercado. Mas, em primeiro lugar, essa área passa a atender à carteira de clientes, o institucional, olhando também para o produto de incentivo.

J&Cia – Foi divulgada a formação de um conselho consultivo com nomes relevantes do mercado. Quantos serão e com que perfil? Mais voltados para o negócio em si ou para o mercado?

Trindade – O conselho que avalia os projetos da Santeria está investindo muito na questão de governança, processo que vai alavancar o crescimento da produtora. Só entra no negócio gente para tocar essas competências.

Nosso modelo de crescimento é por meio de partnership na holding e sócio nas operações. São coisas diferentes. No grupo, são 11 sócios da holding e cerca de 20 sócios nas operações. Temos mais de 50 pessoas líderes de negócios de frente. E há muita troca entre as lideranças. Atualmente, só existe o conselho para o grupo dos sócios. O conselho da holding está se formando ainda.

A operação ficou grande, precisa de gente participando. Fazemos isso para investir no negócio, dentro do projeto de gestão de reputação.

MPF recomenda que STJ negue recurso da Globo e a obrigue a renovar contrato com TV de Fernando Collor

MP-AL concorda com pedido judicial que pede que Globo seja obrigada a renovar com TV de Collor
Fernando Collor de Mello (Crédito: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

O Ministério Público Federal recomendou ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) que não aceite um recurso da Globo e obrigue a emissora a renovar o contrato com a TV Gazeta, do ex-presidente Fernando Collor, até 2030. A Folha de S.Paulo teve acesso ao parecer do Ministério Público, assinado pelo subprocurador-geral da República Maurício Vieira Bracks, que acredita que, sem o apoio financeiro da Globo, a Gazeta demitirá muitos funcionários e não conseguirá cumprir o plano de pagamento de credores.

A Globo recorreu ao STJ para romper o contrato de afiliação com a TV Gazeta em Alagoas. A emissora carioca utiliza como argumento casos de corrupção envolvendo Collor e sua emissora. A Justiça do Alagoas negou dois recursos da Globo sobre o caso. A expectativa é de que, até o fim de junho, haja uma sentença definitiva.

“É preciso combater a ‘pejotização’ e cuidar da saúde mental dos jornalistas”, diz advogado trabalhista

Crédito: Marcelo Camargo/Agência Brasil

É bem verdade que a profissão de jornalista não tem muito uma rotina estabelecida. Chegamos à redação e não temos hora para ir embora. Em dias com pautas mais “quentes”, a situação piora ainda mais. Isso sem contar os outros empregos, colaborações e frilas. E o fato de a maior parte da categoria ser contratada como Pessoa Jurídica (PJ), segundo a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), também não ajuda.

Os jornalistas, portanto, estão de certa forma expostos a uma série de abusos e situações desagradáveis no que diz respeito a direitos trabalhistas. Considerando também a baixa estabilidade de trabalho da profissão, como podemos combater esses abusos? Como buscar nossos direitos?

Rubens Gama Jr

Pensando nesses tópicos, o Portal dos Jornalistas conversou com Rubens Gama Jr., advogado especialista em direito trabalhista que atende a muitos jornalistas que enfrentam justamente esses tipos de problema. Ele falou ao repórter Victor Félix sobre o que fazer para impedir ou evitar ao máximo abusos trabalhistas na jornada de trabalho, sobre assédio judicial contra o trabalho jornalístico, e o que a imprensa deve ter em mente ao enfrentar esse tipo de situação.

Confira a entrevista na íntegra:

Portal dos Jornalistas − O jornalista, na grande maioria das vezes, não tem uma rotina fixa. Chega à redação, e não tem hora certa para sair, boa parte deles trabalha no final de semana, raramente tem feriados. Como evitar rotinas de trabalho e empresas abusivas, quando falamos de direitos trabalhistas?

Rubens Gama Jr. − Hoje, talvez o principal desafio, não só para os jornalistas, obviamente, mas para eles em especial, é o fenômeno da “pejotização”, muitos comunicadores sendo contratados em esquema de Pessoa Jurídica. Na medida em que o empregador coloca seus funcionários como PJs – e essa PJ é só uma formalidade, porque, na prática, o funcionário é tão subordinado quanto qualquer empregado registrado na CLT –, não se aplica mais a lei, não se aplica mais a CLT e a jornada de trabalho fica ad infinitum (sem fim). Então, esse é o principal desafio, combater essa “pejotização” no jornalismo.

Um segundo desafio é um certo surto, uma epidemia de ansiedade e depressão entre os jornalistas, que algumas vezes podem ser mal diagnosticados. O advento das novas tecnologias e a diminuição dos postos de trabalho, assim como uma geração nova chegando já com maior intimidade com essas tecnologias, fazem com que os jornalistas sejam ainda mais demandados. E essa demanda adicional, essa pressão adicional, interfere diretamente na saúde, especialmente a mental. E a saúde mental, inclusive tem um agravante por ser de certa forma “oculta”, e às vezes com um pouco de estigma ao redor. As pessoas não gostam, têm vergonha de admitir que estão deprimidas, então é importante valorizar e atentar-se também à saúde mental dos jornalistas.

E um terceiro fator, que se soma aos dois primeiros, é o fato de os jornalistas serem muito apegados à própria atividade, esquecendo que estão trabalhando para um empregador, com uma certa autoridade. Ou seja, na medida em que são muito apegados, vestem muito a camisa, eles acabam não priorizando cuidados próprios à saúde, cuidados de controle de jornada de trabalho, ou seja, acabam não se priorizando e colocando o trabalho à frente deles mesmos.

Portal Outra preocupação da categoria é a falta de estabilidade. Muitos frilas, contratos curtos para a cobertura de determinado evento, fazem parte do cotidiano do jornalista para complementação de renda. Como podemos, ao mesmo tempo, lutar pelos direitos e fugir desses abusos trabalhistas, mas também garantir estabilidade de trabalho?

Rubens − Creio se tratar de uma questão de cultura. Os empregadores ganham quando têm um empregado ativo por períodos mais longos, a cultura da empresa é mais bem incorporada por esses empregados e, portanto, a contratação de freelancers deve ser reservada apenas para situações esporádicas, muito específicas ou de muita demanda. Porque os jornalistas da casa conhecem muito mais a cultura da empresa e conseguem traduzir na sua atividade a cultura corporativa melhor do que aquele que é freelancer. Então, é uma questão de sabedoria tanto do empregado, mas também do empregador. É preciso que as empresas jornalísticas tenham isso em mente.

Portal − Os jornalistas sofrem muito com ataques, processos e ações judiciais, muitas vezes sob o argumento de “danos morais”. Mas, por outro lado, quando falamos de jornalismo sério, feito com apuração, baseado em fatos, os conteúdos são de interesse público. Como combater esse assédio judicial e proteger o conteúdo jornalístico de censuras e exclusões?

Rubens − A sua própria pergunta tem parte da resposta. Porque, na medida em que o jornalismo foi bem-feito, se você tem uma informação precisa, objetivamente constatada, isso já é uma vacina contra qualquer tipo de demanda judicial externa. Você já está bem protegido do ponto de vista dos fatos e, portanto, uma demanda judicial será infrutífera. O que acredito que pode e deve ser feito é que os sindicatos de jornalistas e as próprias empresas fiquem atentos para que, em situações desse tipo, que envolva a pessoa física do jornalista, do repórter que é vítima da ação, o empregador, o veículo, também atue junto na defesa daquela reportagem, daquele determinado conteúdo. Que eles estejam também envolvidos naquela apuração e que deem assistência jurídica, para que a condição do repórter seja mais protegida e mais confortável.

Portal − O que os jornalistas devem saber, ter em mente a todo o momento, quando enfrentam esse tipo de situação em suas trajetórias, seja de violação de direitos trabalhistas ou de assédio judicial por algo publicado? Quais são as “lições de casa” que os jornalistas devem fazer para se defenderem?

Rubens − O primeiro “diploma” é a própria CLT. Ler e se atentar aos artigos 303, 304, 305, até o 309, que são os que falam da profissão do jornalista. A primeira lição de casa é estudar essa parte da CLT especificamente sobre a categoria. A partir disso, um segundo passo é se atentar à questão da “pejotização” que comentei antes, ter o cuidado para não se permitir ser contratado como PJ em situações muito generalizadas e muito vulgares, pois isso derruba todos os seus direitos de uma vez só.  

Rômulo Mendonça assina com a CazéTV para o Mundial de Clubes

Rômulo Mendonça assina com a CazéTV para o Mundial de Clubes
Rômulo Mendonça Crédito: Instagram

A CazéTV anunciou nesta terça-feira (10/6) a contratação do narrador Rômulo Mendonça, que chega para reforçar a equipe de transmissão do Mundial de Clubes, que começa no próximo sábado (14/6). A CazéTv vai transmitir todos os jogos do torneio, incluindo as partidas de Botafogo, Flamengo, Fluminense e Palmeiras, que representam o futebol brasileiro no campeonato.

Não é a primeira vez que Mendonça integra o time da CazéTV. O narrador atuou na cobertura dos Jogos Olímpicos de Paris, narrando diversas modalidades esportivas no canal. Vale lembrar que a CazéTV fechou recentemente um acordo com o Grupo Disney e passa a integrar o streaming Disney+.

Conhecido por seus bordões e a forma bem humorada de conduzir transmissões esportivas, Rômulo Mendonça foi narrador da ESPN entre 2011 e 2022. Nos últimos três anos, comandou as transmissões de NBA no Amazon Prime Video. Narra também jogos do Campeonato Brasileiro e da Copa do Brasil.

STJ condena jornalistas por reportagem sobre Gilmar Mendes

STJ condena jornalistas por reportagem sobre Gilmar Mendes
Gilmar Mendes (Crédito: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

A Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça decidiu na noite de segunda-feira (9/6) condenar a Editora Três e os jornalistas Octávio Costa (atual presidente da Associação Brasileira de Imprensa) e Tabata Viapiana por danos morais contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes. Em 2017, Octávio e Tabata assinaram uma reportagem na revista IstoÉ sobre a venda de uma universidade da família do magistrado para o governo do Mato Grosso por R$ 7,7 milhões, em 2013.

A matéria em questão, intitulada Negócio Suspeito, abordava uma investigação de improbidade administrativa relacionada ao processo de estatização da universidade, de Diamantino, no Mato Grosso. A instituição de ensino foi fundada por Mendes e sua irmã, que permaneceu sendo uma das proprietárias até a venda investigada.

Em seu voto pela condenação dos jornalistas, o relator, Ricardo Villas Bôas Cueva, declarou que a reportagem está “permeada de ironias e insinuações que se voltam nitidamente contra Gilmar, sendo nítido o intuito de associá-lo, de forma pejorativa, a imagem de alguém que se distancia da ética e que visa apenas resguardar benefícios pessoais e favorecer pessoas próximas”. Acompanharam o relator os colegas Humberto Martins, Daniela Teixeira, Moura Ribeiro e Nancy Andrighi.

Mendes havia sofrido derrotas judiciais relacionadas ao caso, em primeira e segunda instâncias, no Distrito Federal, mas conseguiu reverter agora a situação no STJ. A condenação por danos morais inclui o pagamento de indenização de R$ 150 mil, com correção monetária e juros moratórios.

Antes da votação, entidades defensoras da liberdade de imprensa haviam alertado para o perigo da decisão sobre o caso, que poderia abrir um precedente de censura judicial contra jornalistas. A Coalizão em Defesa do Jornalismo havia feito um apelo à Terceira Turma do STJ para que seguissem o entendimento de instâncias anteriores: “Críticas dirigidas a autoridades públicas podem ser fortes e ácidas sem que isso gere o dever de indenizar. Trata-se de importante proteção às liberdades de expressão e de imprensa, que visa resguardar não somente os direitos do veículo e dos jornalistas, mas também da sociedade, de ser informada”.

Agência Pública lança campanha para investigar o impacto das bets no Brasil

Foto: Anna Tolipova/freepik.com

A Agência Pública está com uma campanha de financiamento coletivo para investigar o império das casas de aposta online no Brasil. O objetivo é arrecadar R$ 100 mil até o dia 30 de junho para produzir uma série de reportagens investigativas inéditas sobre o tema e detalhar como esse mercado influencia o esporte, a cultura e a política.

“As bets já são uma parte da vida dos brasileiros – e não de uma maneira boa”, lembra Natalia Viana, co-diretora executiva da Pública. “São anúncios em todos os esportes, nos celulares, impulsionando uma crise que é comparada a uma epidemia. E o pior é que há muitos setores lucrando enquanto os mais vulneráveis estão perdendo dinheiro pelo vício. O objetivo da Pública nessa investigação é buscar quem está lucrando com essa epidemia de apostas, quem são os políticos que as defendem, como as Big Techs lucram e como funciona o lobby no Congresso. É preciso estar de olho nesse fenômeno”.

O especial também irá mostrar quais são as consequências para quem se endivida em busca de lucros rápidos — e os mecanismos que alimentam esse sistema. Além, claro, de revelar quem lucra com o vício em apostas. Segundo dados do Banco Central, todo mês os brasileiros gastam até 30 bilhões de reais com as bets,

Para apoiar a campanha é possível realizar uma doação pontual via Pix pelo contato@apublica.org ou com doações recorrentes a partir de R$ 20 por mês neste link, com acesso a benefícios exclusivos.

Preciosidades do acervo Assis Ângelo: O cego na História (9)

Graciliano Ramos

Por Assis Ângelo

Pois é, nada me demove da ideia de que o craque do humor Chico Anysio se tenha inspirado na personagem do folclore alagoano Cesária.

Cesária, pra mim, era a Terta do Chico.

E Pantaleão, hein?

Pantaleão, pra mim, foi o Alexandre do folclore alagoano para o Chico.

Alexandre e Cesária eram marido e mulher, tão íntimos como carne e unha.

O livro Histórias de Alexandre, de Graciliano Ramos, é obra pra ser lida sem se cansar. Maravilhoso!

Graciliano Ramos

Dentre os 13 ou 14 contos que formam o referido livro há pelo menos quatro referências a um personagem de asas: papagaio.

O conto Um Papagaio Falador é simplesmente impagável.

Alexandre é um nordestinão todo pabuloso, cheio de onda. É um inventor de histórias que não tem pra ninguém. Inventa tudo e tudo que inventa é na hora. Na lata!

O conto, cujo título foi dito aí em cima, começa quando Cesária lembra ali na sala de tantas histórias o casamento com o seu Alexandre querido. Foi festa seguida de uma semana, segundo ela. Muita comida, muita coisa gostosa. Hilariante. De presente do sogro, ganhou a mulher e com ela um grande dote. E tal e tal.

Casado, Alexandre partiu em busca de mais grana. Consigo levou boiadeiros e tal. E também o pedido irrecusável da mulher.

E que pedido era esse, hein?

Cesária queria que Alexandre lhe trouxesse um papagaio.

E foi, foi e foi e foi…

Antes de voltar à casa, feliz da vida, Alexandre comprou um papagaio caríssimo. Mas era um papagaio que falava tudo e mais e mais.

Alexandre fez um buraco num saco e nele pôs o papagaio, que nele ficou uns dois ou três meses.

Quando voltou, esquecido do papagaio, a mulher viu aquele saco esquisito e perguntou: “O que tem aí?”.

Alexandre deu um tapa na testa e disse: “É o papagaio que comprei pra você, mulher”.

Ao abrir o saco, apareceu o papagaio balançando a cabeça e olhando fixamente nos olhos de Alexandre, dizendo com voz trêmula e bamboleante, algo como: “Isso é coisa que se faça?”.

Pois é, morreu o papagaio.

As histórias contadas do real ou do imaginário por Graciliano Ramos são muito bem “amarradas”: têm começo, meio e fim, desenvolvidas com palavras e frases econômicas.

Não é fácil um escritor começar publicando sua obra com um clássico.

Em 1933, Graciliano tinha 41 anos de idade. Com essa idade, ele publicou Caetés.

E por que estou dizendo isso?

No começo da sua vida, Graciliano era um menino cego. A sua cegueira se manifesta direta ou indiretamente em todos os seus textos. Em Caetés, inclusive. Obra-prima.

O segundo livro de Graciliano foi São Bernardo.

O narrador-personagem de São Bernardo foi um guia de cego.

O terceiro livro de Graciliano foi Angústia. Nesse livro o autor fala de um cego vendedor de bilhete de loteria, de um padre com um olho de vidro, uma mulher cujos olhos não viram o marido morrer pendurado numa corda, um velho Acrísio com olhos comprometidos com a visão… Sem falar no avô centenário do personagem, que se foi sem nada ver.

As Histórias de Alexandre têm um personagem incrível, que vê além dos olhos: cego preto Firmino.

Ah! sim: em Angústia há uma velha senhora chamada Vitória, que passa boa parte da vida tentando ensinar um papagaio a falar.


Contatos pelos assisangelo@uol.com.br, http://assisangelo.blogspot.com, 11-3661-4561 e 11-98549-0333

100 anos de Rádio no Brasil: O novo mapa da mensuração na mídia sonora

Por Álvaro Bufarah (*)

A propaganda sempre teve um dilema existencial: saber se o recado foi ouvido. Não apenas escutado − mas compreendido, absorvido, lembrado. Em tempos de publicidade programática, métricas em tempo real e bilhões de cliques disputando atenção, o áudio parecia ter ficado para trás, limitado a métricas de audiência herdadas da era analógica. Parecia. O novo State of Audio Report – Spring 2025, publicado pela Audacy, mostra que essa era acabou.

Agora, medir o impacto de uma campanha em rádio, streaming ou podcast não é mais arte ou intuição − é ciência, é algoritmo, é IA. E os resultados impressionam: campanhas sonoras registram crescimento de até 16,5% em afinidade com marca, 51% de aumento no tráfego de sites, mais de 100 mil downloads de aplicativos, e retorno comprovado sobre vendas físicas e online.

O relatório traz uma visão multifacetada do potencial do áudio: Brand Lift, Web Lift, Conversões, Foot Traffic, Vendas no Varejo e Downloads de App são agora KPIs mensuráveis com precisão quase cirúrgica. Por trás disso, ferramentas como pixel-based tracking, análise de picos de tráfego por timestamp e modelos preditivos baseados em IA ajudam a traçar o caminho do ouvinte − do momento em que ele escuta um anúncio no rádio até o instante em que faz uma compra no site ou visita a loja física.

Num case exemplar, uma rede de supermercados dos EUA rastreou mais de 15 mil visualizações de página “Encontre uma loja”, 600 compras e mais de US$ 40 mil em vendas geradas diretamente a partir de uma campanha de áudio. Já um restaurante em Detroit viu as visitas durante o happy hour saltarem 20% com spots locais em horários estratégicos. Nada mal para quem achava que rádio era só “música entre propagandas”.

Nos Estados Unidos, a revolução da medição passa por parceiros como Claritas e Nielsen, que combinam gráficos de identidade com modelos de regressão avançada. O resultado? Um sistema capaz de indicar quais segmentos demográficos convertem mais, em qual dia da semana e em que formato. É possível saber, por exemplo, que homens de 35 a 44 anos expostos a anúncios em podcasts de esportes nas manhãs de terça geram 22,6 mil conversões diretas − algo impensável até poucos anos atrás.

Com o avanço da personalização algorítmica, o mesmo anúncio pode ser entregue com diferentes vozes, trilhas e ritmos, conforme o perfil do ouvinte. Um pai jovem escuta um spot com risadas infantis e voz vibrante; sua mãe, aposentada, escuta a mesma mensagem com música suave e tom afetivo. Resultado: o dobro de taxa de conversão.

Dizer que o rádio está morrendo é repetir um clichê preguiçoso. O que está morrendo é o rádio que não se adapta, que não mede, que não aprende com seus dados. O novo áudio − esse que está nos alto-falantes, nos fones, nas assistentes de voz e nos painéis dos carros − vive sua era mais poderosa. Mas, para que isso se traduza em sustentabilidade, é preciso tratar o áudio com o mesmo rigor que o vídeo, o search e as redes sociais já exigem.

Para as emissoras brasileiras, o desafio é claro: ou profissionalizam suas estratégias de mensuração e atribuição, ou continuarão perdendo espaço e investimento para players globais com métricas mais claras. Em uma economia de atenção onde cada clique, cada ouvinte e cada conversão contam, o som que não é mensurado corre o risco de virar apenas ruído.

Fontes consultadas:

Álvaro Bufarah

Você pode ler e ouvir este e outros conteúdos na íntegra no RadioFrequencia, um blog que teve início como uma coluna semanal na newsletter Jornalistas&Cia para tratar sobre temas da rádio e mídia sonora. As entrevistas também podem ser ouvidas em formato de podcast neste link.

(*) Jornalista e professor da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) e do Mackenzie, pesquisador do tema, integra um grupo criado pela Intercom com outros cem professores de várias universidades e regiões do País. Ao longo da carreira, dedicou quase duas décadas ao rádio, em emissoras como CBN, EBC e Globo.

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