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Marcelo Freitas lança livro sobre bastidores da cobertura da Covid

Marcelo Freitas lança livro sobre bastidores da cobertura da Covid

Os bastidores da cobertura da Covid-19, a maior operação da imprensa brasileira em toda a sua história, são apresentados no livro Nós também estivemos na linha de frente, de Marcelo Freitas. O lançamento foi nesta quarta-feira (17/8), no Sindicato dos Jornalistas de Minas. A obra conta como foi a migração do jornalismo presencial para o home office; os desafios enfrentados para a cobertura da pandemia no novo modelo; a formação do Consórcio de Veículos de Imprensa; as agressões e tentativas de intimidação que os jornalistas sofreram durante a Covid-19; a parceria do jornalismo com os cientistas; e o retorno ao sistema presencial nas redações, a partir de 2022.

O livro teve como base entrevistas com 61 profissionais de imprensa, além de assessores de comunicação de instituições, cientistas e o ex-ministro da Saúde Nelson Teich. Também foram entrevistados diretores de instituições representantes dos jornalistas e empresas na área de comunicação.

Freitas considera que o jornalismo apresenta, em sua essência, um paradoxo, pois é a profissão que reporta o que acontece no mundo, dos pequenos aos grandes acontecimentos, alegres ou tristes, mas quase não fala de si próprio. E essa situação se fez presente também durante a pandemia, quando, segundo o autor, pouco ou nada se falou sobre como as redações se reorganizaram, da noite para o dia, para cobrir um acontecimento do porte da Covid-19. “Nenhum veículo mostrou como foi a rotina do jornalista trancado em casa, em home office e tendo que noticiar algo que não gostaria que fosse notícia. Nenhum veículo descreveu o medo dos jornalistas que iam para as entrevistas coletivas ou para os hospitais. O objetivo do livro é mostrar um pouco de tudo isso”.

O preço do livro é de R$ 55 e ele pode ser adquirido aqui.

Pública: Governo Federal nega acesso a peças de campanhas milionárias durante período eleitoral

A Abraji lançou um edital para a colaboração de jornalistas e veículos de comunicação que utilizam a Lei de Acesso à Informação (LAI).
A Abraji lançou um edital para a colaboração de jornalistas e veículos de comunicação que utilizam a Lei de Acesso à Informação (LAI).
Texto publicado originalmente em 15/8/2022 pela Agência Pública

Ministério das Comunicações barra Lei de Acesso à Informação com justificativa das eleições; Secretaria de Comunicação é oitavo maior anunciante de política no Facebook no país

Por Bruno Fonseca

O Ministério das Comunicações está barrando o acesso a dados públicos e usando o período eleitoral como justificativa. Através da Lei de Acesso à Informação (LAI), a Agência Pública requisitou o acesso às peças produzidas nas campanhas “Governo Honesto, Trabalhador e Fraterno”. No início de agosto, revelamos que o governo pagou quase R$ 90 milhões neste ano para agências de publicidade realizarem as três campanhas.

O acesso às peças foi negado, segundo o Ministério, devido ao “período de defeso eleitoral”. Nas palavras do governo, o período “restringe a divulgação de material publicitário com assinatura/marca figurativa do governo federal”.

A justificativa do governo, contudo, não tem fundamento na legislação que trata da divulgação publicitária no período das eleições, baseada na chamada Lei das Eleições, a 9.504/1997.

“A legislação eleitoral não impede o atendimento a pedidos de acesso à informação. Pelo contrário. É justamente em período eleitoral que o cidadão tem (ainda mais) direito a acessar informações públicas, mesmo se essas informações forem peças publicitárias feitas pelo órgão de comunicação”, explicou à reportagem Bruno Morassutti, cofundador e coordenador de advocacy da agência de dados independente e especializada na Lei de Acesso à Informação (LAI), Fiquem Sabendo.

A Pública apurou que a justificativa já foi utilizada outras vezes  pelo Ministério das Comunicações para negar acesso a dados públicos. Em julho, a pasta negou enviar as transcrições dos discursos do presidente Jair Bolsonaro (PL) usando o período de defeso como razão. Outro pedido, que requisitou o acervo dos vídeos publicados no canal do Planalto no YouTube entre 2018 e 2022 também foi negado com a mesma justificativa.

“Estamos em um momento particularmente sensível em relação às consequências da falta de informação. É sempre lesivo em uma democracia, há um dano difuso, quando não se cumpre a lei de acesso à informação. Mas em especial no período eleitoral essa informação é ainda mais relevante para que a população compreenda se o governo está fazendo propaganda institucional e quais os seus custos, ainda mais quando o chefe do poder é um dos candidatos”, explica o consultor da Transparência Internacional Brasil, Michael Mohallem. Na visão do especialista, quando órgãos públicos não cumprem com o acesso à informação e a transparência à utilização de recursos públicos, há mais brechas para corrupção e desvio da finalidade da máquina pública. “O não cumprimento pode caracterizar infração disciplinar de um agente político ou autoridade que decida pela não resposta. No limite, isso pode levar a um processo de improbidade administrativa”, explica.

Governo pagou R$ 89 milhões para seis meses de campanhas positivas

Os quase R$ 90 milhões pagos pelo Ministério das Comunicações para agências de publicidade realizarem as três campanhas “Governo Honesto, Trabalhador e Fraterno” foram atestados entre fevereiro e junho deste ano — justamente o período que antecedeu as restrições por causa das eleições. Desde o dia 2 de julho, a Secretaria Especial de Comunicação Social do Governo Federal (Secom) deletou os seus perfis nas redes sociais, tornando impossível acessar o conteúdo dessas campanhas. No período, é proibido qualquer ação de comunicação que possa configurar propaganda eleitoral ou desvio de finalidade — a legislação não cita a Lei de Acesso à Informação.

O Ministério informou à reportagem que as três campanhas milionárias levaram à produção de filmes para TV, Internet e plataformas de vídeos curtos, spot, posts e banners para redes sociais, peças para digital out of home (DOOH), mobiliário urbano (MUB), vinhetas, anúncio para jornal e revista, adesivo e minidoor.

Ainda segundo o governo, apesar dos pagamentos terem ocorrido apenas neste ano, as peças foram veiculadas desde 18 de dezembro de 2021. A última veiculação teria ocorrido em junho de 2022, totalizando pouco menos de seis meses de campanhas. Em média, isso equivale a um gasto de mais de R$ 504 mil por dia para a veiculação.

Secretaria de Comunicação é 8º anunciante do Facebook no Brasil em temas políticos

O Governo Federal, através da Secretaria Especial de Comunicação Social, já gastou mais de R$ 896 mil em anúncios nas redes do Facebook/Meta desde agosto de 2020. O gasto coloca a Secom como o oitavo maior anunciante na plataforma dentre todos os anúncios marcados como temas sociais, eleições ou política. O primeiro lugar é ocupado pela Brasil Paralelo.

Segundo os dados do Facebook, a Secom gastou em média R$ 32 mil para cada anúncio. Ao todo, foram 28 anúncios.

Um dos exemplos é de um anúncio sobre o Auxílio Brasil, ainda com o valor de R$ 400. A postagem, veiculada no Facebook e Instagram entre 25 e 30 de junho, custou entre R$ 80 mil e R$ 90 mil. Ela rendeu mais de 1 milhão de impressões, a maior parte vista por mulheres entre 25 e 34 anos, que acessaram do estado de São Paulo.

Além disso, o Governo Federal gastou outros R$ 500 mil em anúncios que não foram veiculados com o rótulo da Secom. Ao todo, o Governo gastou mais de R$ 1,3 milhão em anúncios nas redes do Facebook.

Ministério das Comunicações diz que não impulsiona conteúdo nas redes

Apesar de ser um dos maiores anunciantes do Facebook em temas políticos, a Secretaria de Comunicação do Governo Federal tem dificultado o acesso às informações sobre esses impulsionamentos. Isso porque, em resposta a um pedido de acesso à informação, o Ministério das Comunicações  — estrutura da qual a Secom faz parte — afirmou que “não houve nenhuma publicação impulsionada” nas redes gerenciadas pelo Ministério. “Nosso tráfego em todas as redes sociais é adquirido 100% de forma orgânica”, acrescentou a pasta.

Contudo, segundo dados do Governo, a Secretaria Especial de Comunicação Social do próprio Ministério pagou quase R$ 30 milhões para agências de publicidade realizarem campanhas em redes sociais durante a presidência de Jair Bolsonaro.

A maior parte desse valor foi paga para as agências realizarem ações no Facebook, mais de R$ 15,8 milhões. Outros R$ 11,3 milhões foram pagos para campanhas no Twitter, R$ 2,5 milhões no Linkedin e R$ 286 mil no Tik Tok.

Esses valores foram pagos a quatro agências de publicidade e propaganda que têm contratos com o governo: Calia/Y2, Artplan, Nova S/B e PPR. Dos R$ 30 milhões pagos pelo governo a essas empresas, R$ 25,6 foram repassadas às plataformas — parte do dinheiro que o governo gasta fica com as próprias agências, que cobram pelo trabalho de anunciar em redes sociais, TVs, rádios e outras mídias

Questionado pela reportagem, o Ministério das Comunicações informou que não responde pelas redes da Secom. Já a assessoria de imprensa da Secom não respondeu aos questionamentos da reportagem e orientou que os pedidos fossem realizados via Lei de Acesso. Os pedidos via LAI, contudo, precisam ser direcionados ao Ministério das Comunicações no sistema do governo, desde a recriação do Ministério, que ocorreu em julho de 2021.

Justiça condena Gilberto Barros à prisão por crime de homofobia

Justiça condena Gilberto Barros à prisão por crime de homofobia

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) condenou o apresentador Gilberto Barros a dois anos de prisão por crime de homofobia devido a um comentário que fez no programa Amigos do Leão, no seu canal do YouTube, em setembro de 2020. Cabe recurso.

No episódio em questão, Barros falava sobre os 70 anos da TV brasileira. Ele contou que, durante sua passagem pela Rádio Globo, na década de 1980, presenciou um “beijo de língua de dois bigodes”, pois havia uma boate para o público LGBTQIA+ em frente ao local.

“Não tenho nada contra, mas eu também vomito. Eu sou gente, ainda mais vindo do interior. Hoje em dia, se quiser fazer na minha frente, faz. Apanha os dois, mas faz”, declarou o apresentador.

Na decisão, a juíza Roberta Hallage Gondim Teixeira afirmou que houve “agressividade das palavras aplicadas, as quais discriminaram os homossexuais especialmente diante do uso da palavra ‘nojo’. (…) A manifestação verbal do acusado ajusta-se à prática e indução da discriminação e preconceito em razão da orientação sexual”.

Por ser réu primário, com pena inferior a quatro anos, a juíza substituiu a pena de privação da liberdade por prestação de serviços à comunidade, além de pagamento de multa, que será revertida em cestas básicas para instituições que atuam em prol da população LGBTQIA+.

A defesa de Barros disse que o apresentador se sentiu constrangido com a decisão, “pois sempre usou sua arte ou ofício para melhorar o País” e que, “pelo seu sangue italiano, ele costuma falar muito, mas jamais teve a intenção de incitar a violência”.

Programa da Abraji incentiva criação de núcleos de checagem em redações

Programa da Abraji incentiva criação de núcleos de checagem em redações

Programa Núcleos de Checagem Eleitoral, da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), com o apoio da Google News Inititive, incentiva a criação de núcleos de verificação e checagem de fatos em 31 veículos de todo o País durante o período eleitoral.

A iniciativa inclui também 40 horas de treinamento e 72 horas de mentoria por parte da entidade, além de bolsas para os jornalistas participantes durante todo o programa. A primeira fase da capacitação foi ministrada em julho e agosto deste ano, e a ideia é que, até o fim das eleições, os núcleos recebam mentoria do Projeto Comprova, coalizão de veículos que atua na checagem de informações suspeitas.

O programa pretende fazer com que os veículos participantes produzam cerca de 900 checagens sobre as eleições deste ano. A iniciativa será encerrada em 31 de outubro, após o segundo turno do período eleitoral. Os veículos do programa comprometeram-se a manter os núcleos de checagem atuantes durante as eleições, e caberá a eles decidir se vão mantê-los ou não após esse período.

“Com a capacitação e a experiência da Abraji, conseguiremos garantir uma cobertura das eleições com verificação e checagem de fatos sendo feita por profissionais do jornalismo em todos os estados brasileiros, nesse momento tão importante para a democracia”, disse Marco Túlio Pires, um dos coordenadores da Google News Initiative no Brasil. “Apoiar o ecossistema de jornalismo e de checagem é contribuir para um ambiente com mais informação de qualidade à disposição de quem mais precisa, que são os eleitores brasileiros”.

Fazem parte do programa A Gazeta (ES), Band (SP), Band TV (SP), CBN Cuiabá (MT), Correio Braziliense (DF), Correio de Carajás (PA, TO), Correio do Estado (MS), Estadão Verifica (AP, SE e SP), Estado de Minas (MG), Folha de S.Paulo (SP), Grupo Sinos (RS), GZH (RS), Imirante (MA), Jornal Plural (PR), Metrópoles (DF), Nexo Jornal (BR), NSC Comunicação (SC), O Dia (RJ), O Popular (GO), O Povo (CE), Portal Cidade Verde (PI), Portal Norte de Notícias (AC, AM, RR), Rádio Bandeirantes (SP), SBT (DF, PA, RJ, RS, SP e MT), Sistema Jornal do Commercio de Comunicação (PE), Tribuna do Norte (RN), TV Allamanda (RO), TV Aratu (BA), TV Ponta Verde (AL), TV Tambaú (PB) e UOL (SP).

GIJN cria ferramenta que analisa segurança de organizações jornalísticas

GIJN cria ferramenta que analisa segurança de organizações jornalísticas

A Rede Global de Jornalismo Investigativo (GIJN, em inglês) lançou em agosto a Ferramenta de Avaliação de Segurança do Jornalista (JSAT), que oferece um diagnóstico sobre a força e a resiliência da segurança física e digital de uma organização, trazendo também recomendações sobre como melhorar sua segurança.

A iniciativa é feita em parceria com a Fundação Ford, que adaptou sua ferramenta de segurança cibernética para que grupos jornalísticos possam utilizá-la.

Interessados em verificar a situação da segurança de suas organizações, podem fazê-lo ao preencher esta avaliação. O processo exigirá informações de vários membros da empresa, incluindo equipe de operações ou responsáveis por tomar decisões. Ao final, a ferramenta fornecerá uma pontuação sobre a segurança da organização, que ajudará mapear em que áreas a empresa deve melhorar a questão.

A GIJN realizará em 23/8, às 11h, uma sessão de treinamento para ajudar jornalistas a fazerem melhor uso da ferramenta. A treinadora será Ana Carolina da Hora, a Nina da Hora, pesquisadora do Centro de Tecnologia e Sociedade da Fundação Getulio Vargas (CTS-FGV) e colunista da revista MIT Technology Review. Inscreva-se aqui.

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Justiça condena Jovem Pan a se retratar por ofensas a Randolfe Rodrigues

Justiça condena Jovem Pan a se retratar por ofensas a Randolfe Rodrigues

O 1º Juizado Especial Civil de Brasília condenou na semana passada a rádio Jovem Pan a se retratar publicamente por ofensas dirigidas ao senador Randolfe Rodrigues no Pingos no Is.

Durante o programa, em agosto de 2021, comentaristas da emissora falaram sobre suposta prática de “rachadinha” pelo congressista. Segundo a decisão da juíza Marilza Neves Gebrim, a retratação deve ir ao ar no mesmo horário e com “o mesmo destaque” dos comentários.

A Justiça também condenou a Jovem Pan a pagar R$ 3.000 a Randolfe por danos morais, e a excluir a postagem com ofensas ao congressista no prazo de 5 dias após o recebimento da intimação com a sentença, sob pena de multa diária de R$ 1.000 a R$ 15.000.

Na decisão, a juíza declarou que “a liberdade de expressão não é absoluta. Abusos cometidos quando de sua utilização impõem a inibição e a reparação respectiva, principalmente quando causar danos à imagem de outrem. Ao contrário do que pretende fazer crer a parte ré, não versa a reportagem sobre meras críticas, mas de imputação, em tese, de prática criminosa, sendo que o fato de se tratar o autor de pessoa pública não afasta o resguardo de direitos da personalidade, traduzindo-se a conduta em ato ilícito”.

Randolfe já havia pedido a exclusão dos vídeos e publicações com as acusações, além de retratação pública e indenização de R$ 44.400 por danos morais. A Jovem Pan argumentou que há “primazia da liberdade de expressão e a ausência dos requisitos do dever de indenizar”.

Ao Poder360, Randolfe disse que “o veículo usou o seu alcance para agir irresponsavelmente e sem ética com a informação. Isso deve ser combatido. O mais prejudicado é o público que é desinformado por essa rede de fake news”.

#diversifica – Especial: Subjetividades – Transcrição: Ep. 4 – Entrevistada: Nayara Felizardo

[ LUANA IBELLI / ABERTURA ]  

Olá! Tá começando o #diversifica, um podcast sobre diversidade, equidade e inclusão no jornalismo. Esse é o especial Subjetividades

Eu sou Luana Ibelli, e hoje eu converso com mais um jornalista que representa a diversidade nas redações.  

A convidada de hoje é um exemplo de um jornalismo que sabe ouvir, e dar destaque àquilo que importa. Nós vamos falar de diversidade regional com uma especialista em pautas nacionais que acontecem no Norte e Nordeste. 

Nayara Felizardo, bem-vinda e obrigada por aceitar o nosso convite! 

[ NAYARA FELIZARDO ]

Obrigada, Luana. não tinha como recusar, né? Um tema desse, é o que eu trabalho, é o que eu… é a minha luta, então obrigada a você por me deixar falar sobre isso! 

[ LUANA IBELLI ] 

Ai, que bom! 

[ NAYARA FELIZARDO ]

[Risos]

[ LUANA IBELLI ] 

Que bom que cê tá empolgada… 

…E para esse bate-papo, eu não estou sozinha, quem tá com a gente hoje é a Anna, nossa estagiária. Vou pedir pra ela se apresentar. 

[ ANNA FRANÇA ]

Olá, eu me chamo Anna França, sou estagiária do Portal [dos Jornalistas] há um ano e meio, sou de Juazeiro, interior da Bahia, e estou no último ano, né, de jornalismo, pela UNEB, a Universidade do Estado da Bahia, e estou muito feliz em participar, em conhecer a Nayara pessoalmente porque assim… o seu trabalho é maravilhoso… [risos]

[ NAYARA FELIZARDO ]

[Risos]

[ ANNA FRANÇA ]

… sigo no Twitter. Maravilhosa! 

[ NAYARA FELIZARDO ]

Obrigada! 

[ LUANA IBELLI ]

E a gente achou que ia ser super legal ter a Anna, né, que ela representa essa diversidade regional, né, na equipe do Portal dos Jornalistas…Então acho que vai ser uma troca muito legal.

[ NAYARA FELIZARDO ]

Sim, vai me ajudar também, a falar sobre isso. 

[ ANNA FRANÇA ]

[Risos] Sim, sim…

[ LUANA IBELLI ]

É, hoje vocês estão em maioria, porque a Anna é uma guerreira numa equipe cheia de paulista…

[ ANNA FRANÇA, NAYARA FELIZARDO ]

[Risos]

[ LUANA IBELLI ]

…então hoje aproveita que vocês… [risos] 

[ ANNA FRANÇA ]

É, a nordestina

[ LUANA IBELLI ]

…tão em maioria! 

[ ANNA FRANÇA ]

[Risos]

[ LUANA IBELLI ]

Gente, eu vou passar então a palavra para Nayara, queria que você começasse falando um pouco da sua trajetória, e o que você faz hoje.

[ NAYARA FELIZARDO ]

Bom, hoje eu sou repórter investigativa no site Intercept Brasil. Também sou uma das co-fundadoras da Cajueira, que é uma newsletter, na verdade uma plataforma de valorização de conteúdos de jornalismo independente produzidos nos nove estados do Nordeste.

Então, esse… isso é o que eu faço hoje. Mas já trabalhei muita coisa [risos] antes disso. E eu acho super importante começar com essa pergunta, porque uma das coisas que eu semp-, que eu reflito muito, né, é de como a nossa trajetória anterior ao que se chama o veículo nacional, né, ela costuma ser apagada. 

Como se a nossa carreira, ela tivesse começado a partir do momento que a gente trabalha num veículo dito nacional. Quando na verdade nossa carreira começa, às vezes, lá no estágio, lá quando a gente está… no meu caso, no quarto período, que eu comecei a estagiar num site, do Piauí, né? Eu me formei na Universidade Estadual do Piauí, com muito orgulho, e… então trabalhei no… desde 2007. Eu trabalho em redação, passei por jornal impresso, por site… 

Por último, antes de trabalhar no Intercept, eu coordenei um site de notícias, lá em Teresina, e essa experiência, né, soma aí uns dez anos antes de começar na imprensa, né, que se diz nacional [risos]. 

[ LUANA IBELLI ]

Nossa, eu vou emendar então com uma pergunta, né… 

O que é a imprensa nacional? 

[ NAYARA FELIZARDO ]

 Isso! Acho que vocês observaram que eu falei, né, a imprensa que se diz nacional.

[ ANNA FRANÇA ]

Sim, sim… 

[ NAYARA FELIZARDO ]

Porque, é… teoricamente, a imprensa nacional era para cobrir o Brasil inteiro. 

Mas o que a nossa imprensa cobre são as pautas do Sudeste, né, com algumas variações, pequenas variações, para os outros estados e para as outras regiões.

E a diferença dessa… assim, o que eu questiono nesses veículos, que se dizem nacionais, é que a pauta só é pauta nacional se interessar a um público sudestino, né? 

Então, eu acho que a imprensa, ela ainda não consegue ser, né, uma imprensa nacional. Exatamente por falta inclusive de profissionais, que cubram para esses veículos pautas dos seus territórios. 

Então, quando você tem uma pauta que é fora do Sudeste, você geralmente manda um jornalista do Sudeste para ir cobrir, né? Quando, que aí é o que eu digo… a desgraça precisa ser muito grande…

[ ANNA FRANÇA ]

[Risos] 

[ NAYARA FELIZARDO ]

… pra pauta de outro lugar virar uma pauta nacional.

E aí você vai, manda o jornalista cobrir, né? Em vez de ter profissionais naquela região, naquele território, ou até contratar profissionais que já estejam lá como freelas, ou enfim, né? Temporários.  

Então, é isso. A imprensa, ela se diz apenas nacional. Mas ela não é.

[ LUANA IBELLI ]

E você que pauta, né, tem… pauta muito nacional a partir de territórios que estão fora desse eixo sudestino. Quais são os reais critérios para uma pauta nacional?

[ NAYARA FELIZARDO ]

Uhum…

Pra mim, a pauta, ela para ser nacional ela precisa ter um interesse… público, né, haver o interesse público sobre aquele assunto.

Portanto, se é uma pauta que acontece, é um assunto, um tema que… de algo que acontece em São Paulo, mas ele só interessa a São Paulo, isso não é nacional, né? Então, o critério, é pra ser sempre o mesmo.

Então, não é porque uma coisa acontece no interior do Maranhão, que ele deixa, que ela deixa de ser de relevância nacional porque a gente precisa estar informado sobre o que acontece no Brasil. 

O paulista, o carioca ele não… deveria, pelo menos, se fechar ali no seu mundinho de informação. Então para mim o critério é esse. Inclusive o critério para questionar pautas que se dizem… nacionais. Quando na verdade ela é de interesse bem restrito.

[ LUANA IBELLI ]

Eu tenho uma… acho que isso tem a ver um pouco com esse tema, né, que eu queria introduzir, que tem a ver com o tema do nosso… da nossa série, que é o Subjetividades, falando um pouco da objetividade jornalística, né? 

Então queria que você falasse um pouco, o que que você acha dessa questão da neutralidade, da imparcialidade no jornalismo… É possível? E como isso se relaciona com essa questão da regionalidade. 

[ NAYARA FELIZARDO ]

Sim. Ó, eu vou até pescar aqui…

[ LUANA IBELLI ]

[Risos]

[ NAYARA FELIZARDO ]

… eu anotei [risos]. 

É, quando fala sobre jornalismo imparcial, né, tem sempre… são sempre as duas alas, a que… radicalmente contra e que é radicalmente a favor desse jornalismo que se diz imparcial.

Eu acho que não pode haver imparcialidade no jornalismo porque o nosso Código de Ética proíbe. E aí, eu anotei aqui uns três pontinhos… uns três tópicos do nosso Código de Ética, que ele diz o seguinte que…

É dever do jornalista, né, entre outras coisas, mas esses três pontos específicos.

Opor-se ao arbítrio, ao autoritarismo, e à opressão, bem como defender os princípios expressos na Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Também é dever do jornalista defender os direitos do cidadão, contribuindo para a promoção das garantias individuais e coletivas, em especial as das crianças, dos ddolescentes, das mulheres, dos idosos, dos negros e das minorias.

E aí, eu entendo aqui como parte dessas minorias a população que está sub-representada no… na imprensa, né, no poder. Enfim, então, populações nortistas, comunidades, né, enfim… do Norte, do Nordeste. E aí, último, é…

Combater a prática da perseguição ou discriminação por motivos sociais, econômicos, políticos, religiosos, de gênero, raciais, de orientação sexual, condição física ou mental, ou de qualquer natureza.

E aí, de qualquer natureza, eu incluo as questões regionais, né?

Então, não tem como ser imparcial se a gente defender esses princípios. O jornalista, ele tem que ter um lado. Pelo próprio Código de Ética.

Quem se diz imparcial, ele tá deixando de tomar o lado que a gente, como profissionais, eticamente, somos obrigados a tomar.

Então, eu acho que é impossível. 

[Risos] 

Quem diz que não tem lado, quem diz que jornalista não tem lado, não tem… tem que ser imparcial, na verdade tem lado!  

[ ANNA FRANÇA ]

Com certeza! 

[ NAYARA FELIZARDO ]

E o lado… e o lado é do… de quem tá no poder, é de quem é maioria, é de quem tem domínio, né? Então, acho que nosso lado tá bem expresso ali no próprio Código de Ética, não precisa nem muito longe não. 

[ LUANA IBELLI ]

Quer perguntar, Anna? 

[ ANNA FRANÇA ]

Não, não… [risos] 

[ LUANA IBELLI ]

É… eu queria saber um pouco, eu acho que tem a ver com a questão dos estereótipos assim, né… Eu acho que esses lados acabam trazendo estereótipos, né? E eu queria que você falasse um pouquinho de como você vê os estereótipos na mídia, principalmente relacionados ao Nordeste. 

[ NAYARA FELIZARDO ]

Uhum…

Existem aqueles estereótipos que já são…de tão antigos, eles já estão até sendo menos… visíveis, né? Já estão até sendo menos repetidos. Mas… 

Que são aqueles da terra seca… o nordestino que é pobre, ele não é pobre. Ele é miserável. Ele é paupérrimo, ele passa fome. 

Como se fome só existisse no Nordeste, né?

Esses estereótipos, eles ainda existem, claro, mas existem outros que são mais… menos perceptíveis, mas não deixam de ser estereótipos.

O Durval Muniz, que é um escritor, e ele é nossa inspiração, né, foi nossa inspiração para a criação da Cajueira, do projeto da gente. E ele foi base do nosso manifesto, quando a gente lançou a Cajueira lá em novembro de 2020…

…Ele disse o seguinte, que estereótipos, para se manterem, eles não podem ser apenas ruins, porque senão o próprio grupo que é alvo desse estereótipo, ele vai recusar aquele estereótipo. Para existir e para se manter, o estereótipo tem que ser defendido inclusive pelo próprio grupo que é alvo dele.

Então, o nordestino forte, o nordestino batalhador, o nordestino que aguenta, que é arretado… 

Eu… vocês costumam falar arretado?

[ ANNA FRANÇA ]

Nunca! 

[Risos] 

[ NAYARA FELIZARDO ]

[Risos]  

Nunca falei arretado também… 

[ ANNA FRANÇA ]

Nunca falei arretado…

[ NAYARA FELIZARDO ]

[Risos] 

Um dia desses eu perguntei sobre isso para as outras meninas que fazem a Cajueira, né.  Gente, vocês falam arretado? Não, não falo. [Risos]

Tipo, ó, as meninas da Cajueira são… Rio Grande do Norte, Pernambuco, e eu cearense. E então já nesses três estados… Bahia aqui…

[ ANNA FRANÇA ]

Bahia… [risos] 

[ NAYARA FELIZARDO ]

Já temos aqui quatro dos nove estados, não falam essa palavra arretado mas, enfim … 

[ LUANA IBELLI ]

Mas o paulista continua achando que tem né… 

[ NAYARA FELIZARDO ]

Mas o paulista continua achando que a gent-

[ ANNA FRANÇA ]

Apenas em novelas. 

[ NAYARA FELIZARDO ]

É!

[ ANNA FRANÇA ]

Arretado só existe em novelas.

[ NAYARA FELIZARDO ]

Isso, é… só a Regina Casé… [risos] que usa. 

Mas… então assim, essa coisa do jornalista for-… do nordestino, arretado, que aguenta, né, que batalha, que não perde a fé

Isso é um é um bom estereótipo, quem não quer ser forte, quem não quer ser, né, ser essa rocha, ser forte como cacto do sertão, que aguenta seca, né?

[ ANNA FRANÇA, LUANA IBELLI ]

[Risos] 

[ NAYARA FELIZARDO ]

Mas é um estereótipo, porque não, não necessariamente somos fortes, não necessariamente a gente, né, enfim… Principalmente quando a gente considera que o Nordeste são nove estados totalmente diferentes.

[ ANNA FRANÇA ]

Sim. 

[ NAYARA FELIZARDO ]

Cada estado é totalmente diferente. 

Juazeiro da Bahia, né? 

[ ANNA FRANÇA ]

Da Bahia. 

[ NAYARA FELIZARDO ]

Juazeiro da Bahia é totalmente diferente de Salvador.

[ ANNA FRANÇA ]

E de Petrolina, que faz a divisa ali pela ponte.

[ NAYARA FELIZARDO ]

E de Petrolina, já… é… 

[ LUANA IBELLI ]

Não, e a gente aqui é isso, né, quando eu tava apresentando a Anna, fala, ah, a Anna é de Juazeiro. E vocês, Juazeiro da Bahia, ou Juazeiro do Norte? Porque, olha, não é a mesma coisa. 

[ NAYARA FELIZARDO ]

São dois Juazeiros! 

[ LUANA IBELLI ]

Tem outro Juazeiro…

[ NAYARA FELIZARDO ]

O sotaque, né. 

Ah, eu acho tão lindo o sotaque de você… do nordestino. 

Primeiro, não existe um sotaque nordestino. No Ceará, só no Ceará, que eu sei, são dois sotaques diferentes das regiões que eu conheço, que é a capital, Fortaleza, e a região de onde eu sou, que é a região do Cariri. Que já é mais próximo, ali do sertão pernambucano… 

[ ANNA FRANÇA ]

Sim… 

[ NAYARA FELIZARDO ]

…que também já é mais parecido com sotaque do sul do Piauí, que é totalmente diferente do sotaque de Teresina. 

Meu sotaque já é… nem é de lugar nenhum, porque mistura do Cariri, de onde eu sou, do Pernambuco, de onde meus pais são, de…de Teresina, que também… já tem um chiado, uma coisa. 

Então, esses estereótipos que são usados pra classificar ou pra descrever o nordestino, eles não se aplicam, né. E não são necessariamente ruins. Mas são… eles são perpetuados, né? Por quem? 

Por jornalistas que cobrem pautas nessas regiões sem conhecer, por jornalistas que cobrem a partir de outra visão, a partir de outro território, né?

[ LUANA IBELLI ]

Inclusive, eu tava ouvindo o Deixe de Pantim, né, que muitas das coisas que eu trouxe aqui foi foi nesse podcast, né, que eu peguei, porque afinal de contas muitos questionamentos não passam pela minha vivência, e elas estavam comentando do quanto inclusive… o jornalismo é um dos principais perpetuadores de estereótipos. 

[ NAYARA FELIZARDO ]

Sim! Sim… 

Eu fui entrevistada pelo Deixe de Pantim, também participei, muito legal, e a gente sempre também usa, como referência, elas na Cajueira.

Nesse livro do Durval Muniz, né, que é A Invenção do Nordeste, então o próprio…

[ ANNA FRANÇA ] 

Maravilhoso!

[ NAYARA FELIZARDO ]

 … o próprio título… 

É a Bíblia, né? [risos]

[ ANNA FRANÇA ] 

Maravilhoso. 

[ NAYARA FELIZARDO ]

O próprio título já diz, né, muita coisa.

E aí ele fala sobre… esse livro tem quais setores da sociedade foram contribuindo pra formação dessa… para formação desse estereótipo do Nordeste, ou seja, pra invenção do Nordeste, do que é um Nordeste no imaginário, né, social.

E ele… então você tem, na música, a partir do Luiz Gonzaga, né, que marcou esse…contribuiu para marcar um estereótipo, né, do chapéu de couro, do gibão, da sanfona…

Tem… então, na literatura também, né, e enfim… 

Então, muitos setores, e claro, jornalista, não podia deixar de ser diferente, né.

[ ANNA FRANÇA ] 

Sim! 

[ NAYARA FELIZARDO ]

Não podia ser diferente.

Um estereótipo pra se formar e pra se manter, ele precisa ter muitas contribuições, né? Inclusive do próprio grupo que é a alvo. 

[ ANNA FRANÇA ] 

Isso que você falou sobre ser forte, e da literatura… na entrada de Canudos, tem aquela faixa de nordestino, antes de tudo, um forte, que é de Euclides da Cunha…

[ NAYARA FELIZARDO ]

Sim…

[ ANNA FRANÇA ] 

…E por muitos anos, as pessoas viram isso como orgulho.

Só que aí, quando você para analisar aquele livro, você vê que ele tem um olhar estrangeiro, né? E vê… ele até cita como uma sub-raça. E aí quando as pessoas conseguem perceber o que tá, o que essa frase realmente quer dizer, acaba sendo pejorativo, né? 

Que… por que tem que ser forte? Por que eu vou querer ser forte, né? O que é que eu tenho que enfrentar tanto aqui na minha região? 

 

[ NAYARA FELIZARDO ]

É… 

[ ANNA FRANÇA ] 

Tem muito isso.

[ NAYARA FELIZARDO ]

O sertanejo, antes de tudo, um forte. 

Mulher macho sim senhor.

Então são muitos… 

O cabra macho.

Então. 

[ LUANA IBELLI ] 

E no seu trabalho Nayara, como é que você consegue… 

Porque assim, a sua presença, com certeza ajuda para quebrar muito desses estereótipos, né, no trabalho que você faz como repórter. 

Então quais são os cuidados que você toma, quando você vai fazer suas reportagens, para que esses estereótipos não aconteçam.

[ NAYARA FELIZARDO ]

Uhum… 

É muito difícil você conseguir muita coisa quando é sozinho, né? Então, se a gente for ver pela questão racial, imagina uma agência de publicidade que… além, enfim, redação, enfim… todo lugar, geralmente tem brancos, homens.

Imagina ser uma mulher negra sozinha, digamos, numa agência de publicidade. Se passa um um anúncio racista e machista, geralmente as pessoas perguntam… mas não tinha uma pessoa negra, não tinha uma mulher para falar aquilo ali? 

Às vezes tinha, mas às vezes ela era sozinha! E às vezes ela não tinha o poder suficiente de decisão, poder editorial… 

Então essa… acaba quando… 

Por isso que a gente fala muito de diversidade, né? Porque a diversidade não é ter um. É ter equidade, é ter muitos, é ter muitos de várias…de vários segmentos da sociedade, né? É de fato… diverso, é que de fato seja diverso. 

Então, partindo desse ponto, né, que ser só um torna as coisas mais difíceis, uma coisa que eu sempre faço é que… com certa frequência eu faço, é muitas vezes, quando surgem algumas pautas, eu digo, eu acho que essa pauta é muito local.

Né? Porque às vezes é! É uma pauta que parece interessante só porque acontece em São Paulo. Ou só porque acontece no Rio, né? Mas se ela acontecesse… muitas vezes, eu pergunto, se essa pauta, se essa sugestão de pauta fosse… se isso tivesse acontecido no interior da Paraíba, isso seria nacional?

Então, às vezes isso gera ali algum debate, né, algum comentário, e tal, e muitas vezes, realmente a gente passa… discute a partir daquilo ali.

Pessoalmente, eu cubro o Norte. E isso, de certa forma, até me incomoda. Porque… 

Não me incomoda trabalhar com esse tipo de pauta, pelo contrário. Eu gosto, e tudo, e assim como eu trabalho já… também faço pautas do Sudeste, já fiz do Centro-Oeste… 

Me incomoda, na verdade, é essa ideia de que se você é nordestina, você entende Nordeste e  Norte. 

Norte-Nordeste… 

[ ANNA FRANÇA ]

É… [risos]

[ NAYARA FELIZARDO ]

Né? [risos] 

Porque é tudo, ali, vizinho, é o quintal. Tá ali no seu quintal. 

[ ANNA FRANÇA ]

É tudo do lado.

[Risos] 

[ NAYARA FELIZARDO ]

É, tudo do lado. 

E aí então, assim, essa ideia de que se é nordestino, se é do Nordeste, entende do Norte também, isso acho que já diz muito, né… 

Mas por outro lado, quando eu chego numa cidade do Norte, há uma identificação. É diferente de chegar um paulista. Diferente de chegar um… sabe? 

Então, já ouvi de algumas pessoas… ah, que legal que você é do Nordeste, não sei o quê…

[ ANNA FRANÇA ]

[Risos] 

[ NAYARA FELIZARDO ]

Porque… ó, gente, se o Nordeste é estigmatizado e, né… invisibilizado, imagina o Norte. Imagina o Norte, hein… é muito mais. 

Então, existe ali uma certa identificação que já, de certa forma, já me aproxima desse… dessas pautas e dessas fontes.

Mas eu sei muito pouco sobre Norte, eu sei muito pouco sobre a Amazônia, né, não é meu foco de cobertura, então para eu entender, quando eu vou… se eu faço uma pauta sobre isso, eu preciso estudar antes, entender.

E aí, um cuidado que eu tomo é, muitas das minhas fontes iniciais em uma cidade, um estado que eu nunca fui, são jornalistas. Então, eu procuro jornalistas, que são meus colegas, são pessoas que entendem ali como funciona, né, a notícia e tal… procuro primeiro. 

Mas quando eles têm uma pauta, eu me certifico de que eles tenham… de que eles não tenham interesse de fazer aquela pauta.

Porque se eles têm, eu faço a ponte deles com os editores, né? Então, ó, vou te passar o contato do editor, passo a pauta para o editor, ou então eu digo pra ele, olha, me passa a pauta resume ali em um, dois parágrafos, faz um título que você acha que seja chamativo o suficiente, que seja, né… relevante, que mostre a relevância da pauta, e eu passo para o editor, ou então se você quiser, você diretamente fala com ele. Passo o contato e tal.

Quando, que é também muito comum… o jornalista não pode por questões políticas, por questões… enfim, várias, geralmente políticas mesmo… não pode fazer, e aí ele quer … ele quer ver a pauta publicada, ele quer ver aquela denúncia vindo a público, né?

E aí ele não quer… aí sim, então, ótimo, então agora você é minha fonte [risos] e eu vou precisar da sua ajuda. Eu não conheço essa região, eu não conheço essas pessoas, eu não conheço esse contexto. Principalmente o contexto, né?

E aí ele passa a ser a minha fonte, então é a pessoa que eu vou consultar para não falar besteira, para não escrever, né… então, muitas vezes eu pergunto, se eu uso esse termo, é correto? 

Agora… há alguns dias, eu entrevistei um pesquisador de povos indígenas isolados, né. E muitos pontos, eu perguntei para ele, eu perguntei… como é que escreve isso aqui, como é que… isso aqui é adequado, falar dessa forma?

Foi uma entrevista ping-pong, mas tem um texto Inicial, né? O texto de abertura.

Então, assim… ter proximidade com as fontes que estão no local. Ter abertura com essas pessoas, ter… ali uma relação, né de confiança, principalmente deles comigo, né? Muito mais deles comigo, do que eu com eles. 

É… para mim, é muito importante para evitar repetir estereótipos e para manter ali o respeito com o contexto, né.  Mas, mais e também do que o respeito com as pessoas, mas com o contexto do local.

[ LUANA IBELLI ] 

Nossa, eu percebi muitas vezes, assim, na minha experiência, né, de editores que evidentemente tinham um tratamento totalmente diferente dependendo de quem era a fonte, né? Então se é aquele especialista, branco, da USP…

[ NAYARA FELIZARDO ]

Uhum… 

[ LUANA IBELLI ] 

…você respeita os nomes, toda forma como ele se identifica e cada mínima teoria que ele coloca. Agora, quando é uma pessoa que tá falando de qualquer outro viés, é outra coisa, né? A gente não respeita. 

Então, era muito difícil isso, porque a gente que tá próximo da fonte… aí você tem um editor que não respeita, né? E que usa aquela entrevista de uma forma super complicada, então acho que é bem… que tem esse lado também, né? 

[ NAYARA FELIZARDO ]

É… o pesquisador da USP, ele só precisa ser pesquisador da USP.

Mas o pesquisador da… da UFBA… 

Eu não sei se chama lá Úfiba ou é U, efe, bê, a… 

[ ANNA FRANÇA ] 

Úfiba.  

[ NAYARA FELIZARDO ] 

Úfiba

Da Universidade Federal da Bahia, ele precisa ser… pesquisador da Universidade Federal da Bahia, com mestrado em tal… doutorado, especialista, não sei o quê. Porque a pergunta que vem é, mas por que ele está falando sobre esse assunto? 

Então, você tem que justificar porque é aquele pesquisador que tá falando, né, enquanto que o pesquisador da USP, ele basta ser pesquisador da USP, pronto. Já é suficiente. 

[ LUANA IBELLI ]

E agora, eu queria perguntar para você, se teve alguma reportagem específica que você sentiu que a sua presença mudou o rumo da conversa. 

Sobre regionalidade, né?

[ NAYARA FELIZARDO ] 

Ai, eu não vou lembrar agora, mas assim, o que eu… 

É muito frequente… esse meu questionamento sobre a validade de uma pauta, a importância de uma pauta, só porque ela acontece em determinado ali, no eixo, ali, né, porque ela faz parte, ela interessa a um grupo específico, e um pequeno grupo.

Mas assim, uma pauta, eu não vou lembrar agora.

É. Não vou lembrar…

[ LUANA IBELLI ] 

Mas isso que você falou de… da pauta que representa um grupo específico, né? Eu acho que eu já ouvi você falando… por que que é relevante as praias cariocas lotadas? 

[Risos] 

[ ANNA FRANÇA, NAYARA FELIZARDO ] 

[Risos] 

[ LUANA IBELLI ] 

Qual diferença faz?

[Risos] 

[ NAYARA FELIZARDO ]

É! E assim… faz diferença no jornal local. No jornal… no RJTV, aqui ó, não sei nem se é RJTV, mais… enfim…

[ ANNA FRANÇA, LUANA IBELLI ] 

[Risos]

[ NAYARA FELIZARDO ]

No SPTV faz diferença para o jornal local, mas não faz diferença para o Jornal Hoje, que é um jornal nacional, né? Inclusive o Jornal Hoje, da Globo, eu acho que é o que tem mais diversidade de informações, de lugares, até porque é mais longo, né, e tudo. 

Mas se você for falar Jornal Nacional, né? Então, você vê muita coisa relevante acontecendo, inclusive o site, o G1, era um site que tinha muita possibilidade de ser mais diverso, porque ele tem os G1’s locais, né, os G1’s os estaduais. 

Mas eu sei que existem os os jornalistas de rede, que chama, né, que são aqueles jornalistas que estão no estado que são responsáveis por levar pautas desses estados para repercussão nacional. 

E eles penam, sofrem para convencer os veículos… aliás, os chefes, a redação aqui do G1 do Sudeste, de que aquela pauta de fato é relevante. Enquanto isso, está lá na home do portal que a praia do Rio Grande… do Rio de Janeiro, tá lotada.

[ LUANA IBELLI ] 

[Para Anna] Você tem algum comentário? Você se identifica com isso?

[ ANNA FRANÇA ]

Nossa, bastante, bastante. 

Porque quando vem alguma pauta, assim, para o nacional, é sempre aquela coisa do chão rachado… aí já faz aquela abertura com o chão rachado, é mostrar um crânio de um animal, ali, morto, perto…

[ LUANA IBELLI, NAYARA FELIZARDO ]

[Risos] 

[ ANNA FRANÇA ]

Sempre, assim…

Na Bahia, assim, tem a época do umbu, né? E aí, sempre que vão fazer alguma reportagem sobre umbu, faz sobre que a época, é uma época que tá muito seca, e por isso tem umbu, e começa todo aquele aquele show de horrores nas imagens…

Só que aí, poderiam pegar essa pauta e mostrar como umbu serve para muitas produções, né? Porque tem a cervejaria, ali, que faz cerveja de umbu… tem vários doces, várias coisas…

[ NAYARA FELIZARDO ]

A im-bu-za-da

[ ANNA FRANÇA, LUANA IBELLI ]

[Risos] 

[ LUANA IBELLI ]

A imbuzada, a umbuzada…

Olha, gente, um dos refrescos de ter família baiana é que eu não passei sem conhecer uma umbuzada na minha vida.  

[ NAYARA FELIZARDO ]

É vida… delícia! 

Que inclusive eu só fui, é… ouvir umbuzada já muito tempo… para mim era imbuzada. Do imbú [risos]. 

[ LUANA IBELLI ]

É que em Salvador era um umbuzada.

Mas sabe que vocês falaram isso da abordagem, né? Eu apresento um programa que fala sobre agroecologia, enfim, e aí eu sempre cai no mesmo erro, quando a gente vai fazer pauta de saúde, fala de mudança de temperatura, eu tô lá… 

Porque quando esfria né, gente… aqui, friozinho, aí muda… 

E a gente tem uma coordenadora, que ela é cearense, ela fala, gata…[risos] 

[ ANNA FRANÇA, NAYARA FELIZARDO ] 

[Risos]

[ LUANA IBELLI ]

Então, olha, no nordeste, tipo… e outros estados, é tempo de chuva, então inclui lá…

E eu caí muito nesse erro! Ela sempre tava lá, ó, tipo… frio e em alguns locais, chuva…

[ NAYARA FELIZARDO ] 

Sim…

[ LUANA IBELLI ]

E o programa passa em outros locais…

[ NAYARA FELIZARDO ] 

Eu só fui entender… Ok, uma coisa é você estudar, saber, qual é primavera, verão, outono inverno, e saber os meses em que acontece… você sabe que você estuda, né, lá na escola e tal. 

Mas entender mesmo, e ter a vivência de diferença de estação do ano, só quando eu passei a morar em Campinas, né? Porque lá no sertão de Pernambuco, ou no Cariri também no Ceará, e em Teresina… não sei em outras regiões do Nordeste, eu acredito que não tenha… lá é… inverno e verão. 

O inverno é chuva. Não é frio, é chuva… 

[ ANNA FRANÇA, LUANA IBELLI ] 

É chuva. 

[Risos] 

[ NAYARA FELIZARDO ] 

E o verão, que na verdade é a seca, né, é inverno e seca. E a seca é o período sem chuva, que é o período que é mais quente que tal, então… não tem primavera. 

Ah que a primavera…tem não.  

[ ANNA FRANÇA ] 

[Risos]

[ LUANA IBELLI / INDICAÇÃO RÁDIO ESCAFANDRO] 

Gente, eu vou fazer uma pequena pausa agora, para aquele momento que a gente sempre gosta de indicar um conteúdo, que a gente faz parte da Rádio Guarda-Chuva, né? Eu soube que a Nayara ama podcasts então ela vai adorar essa dica. 

A Rádio Guarda-Chuva tem vários, tem um catálogo enorme, assim, de vários podcasts incríveis… E como a gente estava comentando aqui, né, de mergulhar na pauta, de ter atenção a detalhes que muitas vezes passam despercebidos, tem um podcast para quem gosta disso. 

É o Rádio Escafandro, podcast apresentado pelo Tomás Chiaverini, que a cada 15 dias faz um mergulho profundo num assunto diferente. As reportagens trazem fatos inusitados com entrevistas inéditas e gravações em campo. 

É uma abordagem sempre jornalística, mas com elementos da literatura, da filosofia, então é um conteúdo muito rico, muito bem… costurado, vale a pena demais! 

Para ouvir, é só procurar Radio Escafandro no seu tocador favorito. 3:54

[ LUANA IBELLI ]

Agora, eu quero entrar…você falou um pouquinho isso, no começo da conversa, e eu queria aprofundar um pouquinho mais. Falar se você acha que a diversidade regional poderia ser tão vista, né, tão considerada quanto as outras diversidades. 

[ NAYARA FELIZARDO ] 

Sim, e eu faço uma comparação com as outras diversidades. A gente já fala né, sobre a importância da diversidade de gênero, a diversidade racial… de classe, também, a gente fala sobre a importância de ter pessoas periféricas nas redações, pessoas negras, pessoas LGBT… 

Mas ninguém fala sobre diversidade regional, então, sobre isso ninguém tá nem falando, não chegamos nem nesse ponto de falar, porque as outras diversidades a gente pelo menos está falando, embora não esteja colocando, né. De fato, não há redações diversas em nenhum aspecto. 

Mas pelo menos se fala dessas outras diversidades, a diversidade regional não se fala.

E é isso, claro que tem repercussão, e que interfere na produção, né, do jornalismo, interfere no acesso às notícias que… vão ao ar, que, né, são publicadas.

E aí, isso contribui diretamente para que nós não tenhamos uma população de fato informada, né, de fato informada sobre o que acontece no Brasil. 

A gente muitas vezes sabe o que acontece na Paulista, em São Paulo, mas a gente não sabe do que acontece ali no nosso estado. A gente não tem…

O candidato ao governo de São Paulo, ele é praticamente um candidato nacional. Mas a gente não entende a disputa que tá acontecendo lá no Ceará, né? Não é notícia… 

A disputa toda que tá acontecendo, a disputa que tá acontecendo em Pernambuco, né, a gente não sabe, não sabe nem quem são os candidatos, os candidatos a deputado federal, quem são essas pessoas que vão interferir… diretamente na aprovação de leis, né, que faz… 

É super importante quem a gente escolhe pro Congresso, ninguém tá cobrindo esses candidatos a deputados federais nos Estados, né? Então, eu acho que a gente tem uma grande perda de diversidade de conteúdo e de informação, de fato, quando a gente perde em diversidade regional.

E quando eu falo, também, em diversidade regional, eu não falo novamente de colocar um jornalista numa redação.  

Um nordestino! 

[ ANNA FRANÇA, LUANA IBELLI ]

[Risos] 

[ NAYARA FELIZARDO ] 

[Risos] 

Um nordestino numa redação…

O Nordeste, são nove estados! É um terço… em número de estado, é um terço do Brasil!

E aí, você coloca um lá…

Eu não conheço todos os estados do Nordeste. E olhe…e olhe que eu cubro Nordeste. Então… mas tem muitos estados que eu não conheço. Muitos não, tem a Paraíba, é… acho que Paraíba, só. É, a Paraíba, não conheço. Mas…

E assim, então, não dá para ser assim. 

Eu acho que o ideal seria as redações, os veículos investirem em… sucursais, seria assim uma coisa… né, um sonho. O ideal, na verdade, era isso. 

Mas, diante da crise do jornalismo, diante das dificuldades de custeio e tudo, mas que tivesse pelo menos um… correspondente, sabe, em cada estado. Dependendo do estado, dois, porque tem estado muito grande. 

Você vê o Amazonas… se você tem um correspondente na capital, muitas vezes é impossível  ele ter informação sobre o que acontece no interior do estado que só para chegar, são 15 horas de barco, três dias de barco.

Então, eu acho que seria essencial que os veículos investissem em… correspondentes que estivessem no território, e cobrissem as coisas a partir do território que eles estão, sabe? Não necessariamente… 

Não adianta trazer um nordestino pra redação e colocar ele para cobrir… também não adianta colocar ele para cobrir as pautas que são iguais, as pautas de sempre. 

Não ouvir, não dar atenção à visão que ele tem de cobertura, de pauta, de assuntos relevantes, né? Então, a diversidade, ela vai muito além de ter uma pessoa no Nordeste, de ter uma cota, né…

[ ANNA FRANÇA, LUANA IBELLI ]

[Risos] 

[ NAYARA FELIZARDO ] 

…Na redação, vai muito além disso.

E quando se fala em diversidade regional, acho que ajudaria muito que tivesse pelo menos esse correspondente. Muitas vezes, os veículos, eles se blindam dizendo que têm freelas, né? 

Só que dependendo do lugar, você achar que ter um freela no lugar é suficiente… não é, às vezes, você tá colocando um profissional em risco. Porque um freela, ele não tem direito trabalhista, ele não tem segurança, né, trabalhista… 

Você for pensar que é suficiente contratar um freela para cobrir conflito nas regiões de… nas terras indígenas, né, da Amazônia… talvez você esteja colocando um profissional em risco, né? 

Então, eu também problematizo muito essas… as condições de trabalho que são oferecidas pros jornalistas quando eles estão nesses territórios, né? Então, você contrata o sudestino, você dá-lhe uma CLT, uma carteira assinada pro jornalista sudestino…

[ LUANA IBELLI ]

[Risos]

[ NAYARA FELIZARDO ] 

…ou para o jornalista que vem para o Sudeste, né? Mas o que cobre, o que te dá a notícia, que te traz notícia lá de outras regiões, ele não tem segurança nenhuma, ele não tem, é… garantia trabalhista nenhuma. 

Então, também… acho que isso também não é diversidade, sabe?

[ LUANA IBELLI ]

Um outro aspecto que eu já vi você comentando, e que me chamou atenção, né… e que a gente tava hoje conversando no carro, antes de vir, né, o Fernando, que é nosso editor, fez esse comentário, né, sobre os sotaques. 

E eu lembrei de uma fala sua, né, que também, essa falta de diversidade regional faz com que a gente perca de conhecer vários aspectos da nossa cultura e da nossa forma de ser. 

[ NAYARA FELIZARDO ] 

É, por muito tempo, a gente tinha… aquela coisa, né, de que para ser jornalista da Globo, que é a referência, né, e tal, maior… precisava fazer um… não sei como tá hoje isso, mas enfim, que havia… tinha que ter um, fazer um trabalho com fonoaudiólogo para tratar, para evitar os sotaques, né? 

Mas veja, para evitar os sotaques… não existe sotaque neutro! Do jeito que não existe jornalista neutro, não existe sotaque imparcial! 

[ ANNA FRANÇA, LUANA IBELLI ]

[Risos]

[ NAYARA FELIZARDO ] 

Não existe!

Então, quando você trabalha com um profissional para tirar o sotaque dele, você tá tirando, primeiro… a identidade dele. Você tá tirando a identidade dele com o público que vai se reconhecer nele, o público, né, do lugar que ele é… 

Então, se um jornalista da Paraíba, ele entra num ao vivo do Jornal Nacional, e ele não entra, não fala como as pessoas da Paraíba… ele tá cobrindo um fato que está acontecendo lá em Campina Grande, tá cobrindo o fato tá acontecendo… né? Mas ele não fala como as pessoas de Campina Grande, ele fala com o sotaque neutro, né? Como se fosse possível. 

O porquê isso? É tão bonito… a gente tem um Brasil enorme, a gente tem um país… super diverso, porque não valorizar isso, porque isso é feio? Porque isso tem que ser escondido?  

Não faz sentido. Se não for pela intenção de pegar um… de que uma região se sobreponha à outra, como se… o Sudeste é a região correta e todas as outras são erradas. 

Então, a gente fala certo, a gente tem um sotaque

Esse… é a partir da ideia da centralidade, né? Então, esse é o centro e os outros são periferias, os outros são margem.

Não faz sentido. É feio! É feio… não é à toa que as crianças, o pessoal fala muito, né, quem tem filho, que os filhos todos falando igual o Felipe Neto

[ LUANA IBELLI, ANNA FRANÇA ]

[Risos]

[ NAYARA FELIZARDO ] 

[Risos] 

A criança da… a criança lá de Cajazeiras… 

[ LUANA IBELLI, ANNA FRANÇA ]

[Risos] 

 

[ NAYARA FELIZARDO ] 

… falando igual o Felipe Neto, né? 

E aí, a gente vai perdendo a nossa beleza, a nossa diversidade. Os nossos… a nossa identidade, né?

[ LUANA IBELLI ] 

E eu fico pensando que isso deve atingir muito a autoestima, né? E assim, até queria ver, né Anna, você, na faculdade, isso bate em vocês? Sabe, quando vocês não se veem, como que é para autoestima, e você se ver… esse futuro como jornalista não se vendo.  

[ ANNA FRANÇA ]

É bem complicado, a gente conversa muito sobre isso, porque a gente olha pra sala, ali, de jornalismo, a maioria são pessoas negras, até porque, a gente tá na Bahia, a gente tá no interior da Bahia, e uma sala muito cheia, é a maior turma, e quantas pessoas negras é… a gente consegue ver na TV, e também… como a gente se identifica, né? 

Porque você fala sobre perder essa identidade, não é nem perder, ela vai sendo roubada, né? Ela vai sendo tirada. E isso é muito cruel, porque quando aparece alguém que tá lá, em rede nacional, com sotaque como o nosso, tem uma certa afinidade com… o que vem acontecendo no nosso cotidiano… mesmo que seja uma coisa mínima, é uma coisa muito impactante. 

Porque você vê que aquela pessoa tá ali, então, algum dia também vai conseguir chegar em algum lugar, porque você tá vendo aquela pessoa. E aí, tem muito isso de… quando tá tendo alguma aula de tele,  a professora, ela fica pegando no pé, porque tem muita gente que tenta disfarçar o sotaque, ela fala… Gente, não tem uma fórmula! Fale do seu jeito, não fique pesquisando, assistindo fulano que tá falando ali. Fale do seu jeito, do jeito que você aprendeu

E é assim, a maioria das pessoas tentam… tirar esse… o tê, assim, de ti, e tal, fica tentando amenizar… Isso na faculdade, imagina no mercado, né? Como, em quanto vai tentar se reprimir para poder alcançar alguma coisa. 

[ NAYARA FELIZARDO ] 

Eu odeio ter parado de falar cibola!

[ ANNA FRANÇA, LUANA IBELLI ]

[Risos]

[ NAYARA FELIZARDO ] 

Odeio isso! 

A gente fala cibola no interior, lá no dos meus pais, né? No Crato, e também lá no Mundo Novo que é zona rural de Serrita, lá em Pernambuco, a gente fala cibola

Aí, eu vim para Teresina. Continuei no Nordeste, certo? Mas só… mas mudei de estado, e vim para Teresina e lá as pessoas…  

E aí eu, na faculdade, falei cibola. E começaram a tirar onda comigo. Até amigos, e tal… Cibola, não sei o quê… e eu, na época, eu… ah, então é cebola o certo, e aí eu fiquei naquela… cebola, cebola, hoje eu falo ceb-, odeio! 

Eu devia ter dito, é cibola e eu vou falar cibola sim!

[Risos] 

[ ANNA FRANÇA, LUANA IBELLI ]

[Risos] 

[ ANNA FRANÇA ]

Realmente…

[ NAYARA FELIZARDO ] 

Ora, mas… o paulista do interior não fala porta [simula o ‘r’ caipira]?  

[ LUANA IBELLI ]

Fala besourro, você já ouviu isso na sua vida? 

[ NAYARA FELIZARDO ] 

Besourro? Não! [Risos] 

[ ANNA FRANÇA ]

[Risos] 

[ LUANA IBELLI ]

Lá em Bauru, no interior… 

Gente, olha, nada contra, eu amo meus conterrâneos [risos]…

[ ANNA FRANÇA, NAYARA FELIZARDO ]

[Risos] 

[ LUANA IBELLI ]

Inclusive, eu tenho o sotaque de lá, mas quando eu cheguei lá da Bahia, que eu morei sete anos, né, passei minha adolescência em Lauro de Freitas, que a família da minha mãe é de lá, e eu achava muito estranho porque as pessoas falavam besourro, e é super comum…

[ ANNA FRANÇA, NAYARA FELIZARDO ]

[Risos] 

[ LUANA IBELLI ]

…e tão lá falando do sotaque da minha mãe, né…  

[ NAYARA FELIZARDO ]

Né?

[ LUANA IBELLI ]

… e do nosso quando a gente chegou mesmo, mas vocês falam besourro e várias outras palavras esquisitas [risos].

[ NAYARA FELIZARDO ]

É! Eu nunca vi ninguém… corrigir o… a pessoa do interior de São Paulo porque fala porta [simula o ‘r’ caipira].

[ LUANA IBELLI ]

Pois é. 

[ NAYARA FELIZARDO ]

O paulistano fala super errado! Errado no sentido…

[ LUANA IBELLI ]

Das conjugações, né… 

[ NAYARA FELIZARDO ]

Das conjugações… das concordâncias verbais. 

Que não é necessariamente porque não saiba, é vício de linguagem, modo de falar, enfim.  

E é isso, então… mas, a partir dessa ideia de que existe o correto, que é o paulistano, que é o paulista, o Sudeste, e que os outros estão errados porque estão à margem, né?

[ LUANA IBELLI ]

É né, as regionalidades, elas são importantes de ser respeitadas, né. Assim, falando do interior, até esse sotaque de porta, porteira e portão eu tô vendo agora, nas televisões, assim, né? Mas mesmo assim, ainda você vê mais do que, né…. o interior, a gente ainda fala de jornalismo local, interior de São Paulo, mas é assim, o interior de São Paulo, né? O Nordeste ainda não tá nessa pauta, né, Norte e Nordeste, assim.

Então, é como se realmente tivesse um sotaque que é muito mais forte e que chama atenção e desvia a atenção da notícia. Isso é sempre muito utilizado, né, pra justificar…

[ NAYARA FELIZARDO ]

É… exato. 

[ LUANA IBELLI ]

Eu queria que vocês falassem, eu acho que a Anna, também, talvez se identifique com isso, né? É…Barreiras, assim, para acender e progredir, e tá no mesmo nível do que os jornalistas desse eixo sudestino, né?

Vocês encontram, assim, mais barreiras, ou você vê que existem mais barreiras para vocês? Você já passou isso na sua vida, você tem medo de encontrar mais barreiras do que outros jornalistas desse eixo do sudeste? 

[ ANNA FRANÇA ]

Nossa, bastante! Até porque, na região onde eu moro, o jornalismo não é uma coisa muito forte, né? E aí, sempre fica aquela de que, para se incluir e ascender profissionalmente, ter que sair ali da região e ir para um grande centro, trabalhar num grande centro porque ali não vai ter muito, né, o que fazer.

Então, acho que fica muito essa apreensão, é… a faculdade tá acabando, e agora, como é que vai ser? Como é que vai ser para incluir, como é que vai ser para conseguir crescer mesmo que seja minimamente, né. 

E é uma ansiedade, assim, [risos] gigante! Vai chegando o TCC, e aí, mil coisas passam pela cabeça, né? Se vai seguir na profissão, se vai partir para o mestrado, para uma especialização. Porque ainda tem isso, né? Sendo ali do interior, para você chegar em… um pouco mais longe, você tem que ter, além da sua formação, claro, várias especializações, como a Nayara falou…

Um mestrado, um doutorado, um pós-doutorado, que é para entenderem que você tem propriedade do que você tá falando, do que você tá fazendo. Que você sabe, realmente, o que você tá fazendo. E para você comprovar isso, você precisa ter um título ali. 

Tem que ter aquele título que faça com que as pessoas te enxerguem, mesmo que pouco. E eu acredito que… não tem nem comparação com uma pessoa que se forma em São Paulo, no Rio, com uma pessoa que se forma ali na Bahia.

 

Porque as oportunidades estão pra cá. E… porque os olhos estão voltados para cá, como é nessa fórmula de que aqui é o certo, é a maneira certa de falar, é o jeito certo de fazer, é ali… é aqui que tem que se enxergar, que o que tá para lá não interessa, não é interessante. 

E aí vai se concentrando e vai excluindo, né, o que tá mais para os outros lados como o Norte e o Nordeste. 

[ NAYARA FELIZARDO ]

A gente… a gente antes de fazer uma carreira nacional, a gente tem que fazer uma carreira local, né? 

[ ANNA FRANÇA ]

Isso.

[ NAYARA FELIZARDO ]

O jornalismo que a gente faz, até chegar num veículo nacional, é um jornalismo local. Ele não é jornalismo, é o jornalismo local.

[ ANNA FRANÇA, LUANA IBELLI ]

[Risos] 

[ NAYARA FELIZARDO ]

Então, só isso aí já é um degrau, né? 

A pessoa que se forma na UERJ, na UFRJ, ele estagia aonde? Ele vai estagiar na Globo. Ele já está estagiando num veículo nacional, né? Mesmo que ele estagie para o RJTV, mas ele já tá no veículo nacional.

E aí, então assim… só isso já é uma um degrau. Aí vem outro degrau, outro obstáculo, que é… que são os acessos, que são as pessoas.

Em toda profissão, a panelinha faz muita diferença, né? Você fazer parte de um grupo, você fazer parte de uma panelinha, você tá perto de quem já está no mercado de trabalho, que é o famoso networking, né? Então, a gente tá longe. 

Nossos professores são maravilhosos. São ótimos… mas eles têm acesso aos veículos locais, né? Então, eles podem nos ajudar, eles podem nos inserir, eles podem nos ajudar em oportunidades de estágio, mas…

Porque também tem uma uma particularidade na nossa profissão de jornalista, pelo menos na minha… em 2005, era assim. A gente tinha que começar a carreira ainda no estágio. Porque se você deixasse para trabalhar, já depois de formado, ninguém… nenhuma redação ia te contratar. 

Porque os estagiários são a mão de obra barata, que você contrata, mas aí ele se destaca, ele é bom, então quando ele se forma fica feio não contratar, né?

[Risos] 

[ ANNA FRANÇA, LUANA IBELLI ]

[Risos]

[ NAYARA FELIZARDO ]

Aí, contrata… e aí você, enfim, de fato, começa a exercer a profissão. É… legalmente, porque até então, você era estagiário e exercia a profissão… fazia tudo o que um profissional fazia, faz, mas como estagiário, ganhando metade do salário. 

E aí você, então… e os professores que a gente tem ajudam nesse processo, e tal.

Mas veja, nos veículos locais. Lá no jornal… na TV Cidade Verde, que cobre Piauí, né, lá na Clube que é a afiliada da Globo, mas que pena para conseguir emplacar uma pauta no… na Globo, né, na rede.

Então você tem o degrau do… do local, né, de fazer carreira primeiro no local. O degrau do acesso, e aí o outro degrau que é… do acesso a cursos, a especialização, a oportunidades de estágio, de trabalho, né? 

Então, você vê, tem muita oportunidade de trabalho que, ah, exige que a pessoa more em São Paulo. Você é totalmente capaz de desenvolver aquele trabalho, você… ah, uma vaga para jornalista com experiência de cinco anos, de dez anos, você tem dez anos de experiência, mas precisa morar em São Paulo.

Só que o salário que te oferecem é cinco mil, quatro mil, e aí, PJ. E aí, como é que você vai sair de onde você tá, de onde você tem sua família, de onde você tem uma estrutura, uma base para vir morar em São Paulo, por quatro, cinco mil reais, PJ, você não vem! 

Então, você perdeu uma oportunidade de fazer uma carreira nacional, ainda mais que você tem dez anos de experiência, [risos] né? Quem é que você vai tá… ter tanto tempo de experiência e vai, né, se subm- 

Mas às vezes a gente se submete, por essa ideia de fazer carreira nacional, né? Essa ideia de fazer uma carreira com… aquela ideia de que eu tô começando, eu preciso aceitar isso para ter essa oportunidade. Como se você tivesse começando! Então, essa exigência também… 

Eu acho, eu espero muito que com a pandemia, a gente… as redações tenham aprendido que dá para fazer jornalismo de onde a gente está. E que é o melhor que seja assim. A gente não precisa estar em São Paulo para fazer jornalismo. Só se você for cobrir São Paulo.

Né? Se for um jornalista para cobrir São Paulo, mas eu acho que já tem demais, jornalista para cobrir São Paulo. Bastante, não precisa mais. 

[ ANNA FRANÇA ] 

[Risos] 

[ NAYARA FELIZARDO ]

Mas não tem jornalista para cobrir… Juazeiro do Norte. Juazeiro da Bahia, né? Ou Juazeiro do Norte, ou Cariri. 

Então, essas barreiras, eu acho que elas são muito ruins… e acho que você falou sobre autoestima, né, sobre como a gente… essas barreiras, também de autoestima. 

Quando a gente sai desse… a gente tem anos de experiência, mas aí, quando a gente entra numa redação de um veículo que se diz nacional, a gente sente como se tivesse começando. A gente…

Mesmo que as pessoas não te façam se sentir assim, e às vezes, e na maioria das vezes fazem… então, eles colocam, te colocam numa posição de que você está aqui aprendendo, você está aqui começando. 

Você tem anos de experiência, mas você está começando. 

Você…é como se você não tivesse nada para ensinar, né, você só tivesse que aprender com aqueles professores, os mestres do jornalismo que já sabem muita coisa, porque simplesmente eles nasceram em São Paulo ou no Rio de Janeiro, né? Ou trabalham aqui há muito tempo.

 

E isso sim, afeta! Afeta a nossa… autoestima enquanto profissional, né, e a gente precisa refletir muito, assim, sobre isso. Sobre… entender que a gente é bom sim, que a gente tem capacidade sim, e que a gente provavelmente seja até melhor.

[ LUANA IBELLI ]

[Risos] 

[ NAYARA FELIZARDO ]

Talvez até seja melhor, né? Mas, é… quem tá ali no topo, não vai perceber isso, não vai valorizar isso.

[ LUANA IBELLI ]

Um pouquinho antes, você falou de panelinha, né? E aí, eu queria que você falasse de uma panelinha bem legal que tá surgindo, e que eu já vi você comentando que pode ser uma alternativa também, né? 

Quando a gente pensa, a gente tá falando aqui de redações tradicionais, né. Mas tem o jornalismo independente que também é uma alternativa, né, pra que essa diversidade regional aconteça independentemente desses espaços tradicionais se abrirem para isso.

[ NAYARA FELIZARDO ]

Uhum!

Eu adoro podcast, a gente tava conversando antes de gravar. Adoro podcast porque ele é um… produto que ajuda muito a garantir diversidade, então, um podcast que eu ouço, por exemplo que é o Budejo. Eu não sei se ele ainda é da Rádio Guarda-Chuva, mas ele até pouco tempo, fazia parte da Rádio Guarda-Chuva, e ele é produzido por… não jornalistas inclusive, né, só um deles é jornalista, um dos participantes… mas os outros não são jornalistas…

Lá do Cariri. Juazeiro, Barbalha… e eles entrevistam, assim, eles entrevistam pessoas super relevantes, eles trazem temas importantes, então, é um podcast, não é necessariamente jornalístico, mas eles pautam muitos assuntos assim, né, de jornalismo.

E eu me informo sobre o que acontece no Ceará por eles. No Cariri, por eles. Eu me informo sobre política cearense pelo podcast As Cunhãs, do Ceará. Que para mim, inclusive, deveria ter um podcast, no mínimo um podcast como o As Cunhãs em cada estado.

Porque aí, a gente ia ter muito mais possibilidade de entender o contexto político dos estados, e não ficar entendendo só porque que o Dória desistiu da candidatura dele a presidente, ou por que existe uma disputa… como essa disputa em São Paulo, né?

Então, acho que assim, é muito importante os veículos… independentes, né, eles são muito importantes para garantir… eles são uma lacuna, eles preenchem essa lacuna que os veículos tradicionais deixam. 

Quando eu digo que o ideal era que tivesse pelo menos um correspondente em cada estado, quando eu digo isso, eu sei que não vai acontecer. Porque não… não existe interesse, talvez não exista recurso também, né, ou talvez não exista interesse nem de buscar o recurso para garantir isso. 

Quem tá fazendo esse trabalho são os veículos independentes. E a Cajueira surge por isso, né? Ela surge por conta disso, porque a gente… não adianta a gente só reclamar. Ah, por que ninguém cobre o Nordeste. Ah, que ninguém cobre…

Tá, mas tem gente cobrindo! 

E esse conteúdo de quem tá cobrindo, tá sendo visto, tá sendo acessado, tá sendo lido, tá sendo ouvido? Se não tá, por que não tá? 

Então, Cajueira, ela tem essa proposta, né, ela é… aquele meme, eu não quero… eu não quero solução, eu quero só… reclamar? 

[ ANNA FRANÇA, LUANA IBELLI ]

[Risos] 

[ NAYARA FELIZARDO ]

A gente saiu… a gente… não, vamos reclamar mas vamos trazer uma solução também?

Então, a gente traz para o público do Brasil, né, o público brasileiro, basta você assinar gratuitamente para ter acesso a conteúdos que estão sendo produzidos por veículos independentes…

Porque é importante a gente frisar isso, tem muito veículo que não é independente, que tem viés político, que é ali de um…deputado, que é de um prefeito na região, esses não interessam não.

Mas os veículos independentes que tratam causas… sites especializados só em cobertura de pautas raciais, só em cobertura política, só, né, em cobertura LGBT… 

Então, acessar esse conteúdo que está sendo produzido é importante. Se a gente fica só assistindo Globo, lendo Folha e ouvindo o podcast Café da Manhã…

[ LUANA IBELLI ] 

[Risos] 

[ NAYARA FELIZARDO ]

… a gente não vai, enfim… a gente também pode buscar outras alternativas de ficar bem informado, né? 

Se os veículos tradicionais não estão nos informando bem, vamos buscar quem possa, quem ofereça isso. E os veículos independentes estão fazendo isso muito bem, e principalmente, hoje, os podcasts, né? Inclusive saiu uma pesquisa no observatório, observatório não…

No Anuário da Imprensa, e esse…não vou me lembrar o nome certinho. Anuário… não vou me lembra o restante. Mas que ele fala sobre a importância, principalmente dos podcasts, na redução dos desertos de notícias.

Então, antes, os desertos de notícia, que eram os locais que não havia nenhum tipo de imprensa, que as pessoas não tinham nenhuma forma, nenhum meio de informação local… hoje estão menores, são menores, né, por conta dos podcasts. 

O Nordeste tem a Rede Nordestina de Podcasts. Então, já se criou uma rede, né? Essa panelinha, ela é essencial! 

Vamos criar… uma vez, acho que eu falei em um evento sobre isso, né? Vamos criar nossas panelinhas. 

Talvez a gente tenha perdido tempo demais querendo entrar na panelinha alheia.

[ ANNA FRANÇA, LUANA IBELLI ] 

[Risos] 

[ NAYARA FELIZARDO ]

Vamos criar nossa, e brigar com a panelinha deles!

[ ANNA FRANÇA, LUANA IBELLI ] 

[Risos]

[ NAYARA FELIZARDO ]

Não tem…Vamos fazer isso! [Risos] 

Em vez de tentar agradar para entrar na panelinha, sabe?  

[ ANNA FRANÇA ] 

Sim [risos]

[ LUANA IBELLI ] 

De certa forma é o futuro, né, a gente fala de futuro do jornalismo e eu acho que isso aponta um pouco pra esse futuro, né, outras possibilidades… fora do que a gente já conhece, né?

[ NAYARA FELIZARDO ]

Sim! 

E aí, também, é importante esses veículos… locais, esses veículos… independentes, mas é importante também… cobrar que eles tenham financiamento, que eles tenham acesso a financiamento, a… projetos, né, muitos projetos financiam…

Não adianta que esses projetos financiem só os veículos de sempre, né? Ou só os veículos independentes do Sudeste, aí pega lá uma cota, de um site… pega lá o Amazônia Real, no Norte e pronto, só existe ele, e só existe no Nordeste a Marco Zero… Não! 

Existem muitos, existem, e de muita qualidade, né. 

Então, eu acho que a gente precisa fazer a nossa panelinha para brigar por acesso a… financiamento, né, a recursos que garantam a permanência, porque também não adianta a gente, ah, que legal, vários veículos independentes, e a galera lá, ó… se lascando, fazendo de graça, sem ganhar um real. 

[ LUANA IBELLI ]  

É… o empreendedorismo, ele precisa acontecer com condições, né? E não como única alternativa, também, porque a pessoa não achou um espaço melhor, vamos dizer assim. 

[ NAYARA FELIZARDO ]

É, e ninguém é jornalista para fazer caridade também, né? A gente… é a nossa profissão, é o nosso trabalho. A gente precisa ganhar por isso, né?

[ LUANA IBELLI ]  

Gente, estamos chegando no final… 

Antes de terminar, eu queria, para vocês duas, acho que vai ser legal, né, saber disso, falar de sonhos, né, de perspectivas futuras. A Anna, que representa isso, né, na faculdade, queria que você compartilhasse, e depois a Nayara, que que você sonha, Anna, como uma profissional, né, enfim. Que que você quer atingir saindo da faculdade. 

[ ANNA FRANÇA ] 

Eu acho que dar um retorno à região, assim… Pra mim, é o essencial, é… ter bagagem o suficiente pra levar pra a região.

Porque não basta só reclamar que lá não tem, que lá tem esse déficit, né, de informação, e de um jornalismo sério e não fazer nada, né. Tá lá, tá acontecendo, e sair. 

E eu acho que o meu sonho é me estruturar… profissionalmente, e conseguir dar um retorno, né, levar a região para que ela seja vista, né, contribuir… acho que é isso. Entre vários outros [risos]. 

[ LUANA IBELLI ]  

Perfeito. E você, Nayara?

 

[ NAYARA FELIZARDO ]

Sonho, né?

É… assim, o meu maior sonho hoje é acabar com o bolsonarismo, na verdade…

[ ANNA FRANÇA, LUANA IBELLI ]  

[Risos]

[ NAYARA FELIZARDO ]

[Risos] 

[ LUANA IBELLI ]  

Tamo juntíssimas… 

[ NAYARA FELIZARDO ]

[Risos]

Não só derrotar o Bolsonaro, mas acabar com o bolsonarismo. Que acho que muita coisa vai melhorar automaticamente. 

Mas assim, eu queria muito…  que a Cajueira, ela se consolidasse, ela crescesse, sabe? Nós somos pioneiros… pioneiros nesse projeto de valorização dos veículos independentes.

Somos… nós não somos só uma newsletter, nós somos uma plataforma, né, que faz essa curadoria, né, de veíc-, de conteúdos de jornalismo independente no Nordeste…

E eu, pro futuro profissional, uma coisa que eu tenho pensado muito é sobre projetos investigativos que possam gerar ou… mais do que uma reportagem, sabe, que possam virar um documentário, que possam virar um… 

Vai ter até uma palestra, aliás, um evento, né, no Congresso da Abraji, de Jornalismo Investigativo agora, que é sobre isso, então, quais são as possibilidades que a gente tem pro jornalismo que vai além dos veículos, além de fazer uma reportagem para um veículo, né? 

E aí, sobre esse… é um workshop, se não me engano, é sobre investigações para streams, né, pra fazer, imagino, documentário, ou filme, enfim, ou série. E eu tenho me interessado muito por isso. E eu acho que é uma coisa que talvez seja o que eu vá me arriscar… daqui a alguns anos, né. Mas é isso. 

[ LUANA IBELLI ]  

Estaremos atentíssimas esperando esse grande momento. 

[Risos]

[ NAYARA FELIZARDO ]

[Risos] 

Eu já tenho até qual é o assunto, meu Deus.

[ LUANA IBELLI ]  

Ai, pronto! Spoiler depois em off, se você quiser a gente aceita saber… 

[ NAYARA FELIZARDO ]

Ah, dou, dou, dou… 

[Risos] 

[ ANNA FRANÇA, LUANA IBELLI ]  

[Risos]

[ LUANA IBELLI ]

Você quer deixar alguma rede social, algum projeto pras pessoas seguirem, pode falar da Cajueira, enfim, fica à vontade. 

[ NAYARA FELIZARDO ]

Sim! Sigam @Cajueira_

Porque, gente, quando a gente foi fazer o perfil da Cajueira, já existia um perfil Cajueira que não é usado… E aí é por isso que a gente botou lá, o underline… tá? @Cajueira_ no Instagram e no Twitter…

Assinem a nossa newsletter no Substack,  É só colocar lá Cajueira, vai aparecer.

E o meu Instagram… aliás, o meu Instagram é fechado mas o meu Twitter…

[Risos] 

[ ANNA FRANÇA, LUANA IBELLI ]  

[Risos]

[ NAYARA FELIZARDO ]

O meu Twitter é Naya- 

@nayarafelizardo ó …  

Não, corta essa parte. 

[ ANNA FRANÇA, LUANA IBELLI ]  

[Risos] 

[ NAYARA FELIZARDO ]

É porque eu confundi o Instagram com o Twitter. 

Não, o Twitter é @NayaraFelizardo e é a minha rede pública, assim, aberta… então, me sigam lá. 

[ LUANA IBELLI ] 

Ai, perfeito.

Obrigada, Nayara, obrigada Anna, também, por ter topado tá aqui, foi muito legal, acho que todo mundo aprendeu bastante, espero que sirva pra influenciar e pra mudar essa realidade nas redações. 

[ NAYARA FELIZARDO ]

Brigada, Luana, foi ótimo conversar, ainda bem que você me perguntou umas coisas boas de responder.

[ LUANA IBELLI ] 

Que bom, fico feliz! Mas tudo tava baseado no que você sempre trazia, então acho que o mérito é seu. Obrigada mesmo por ter vindo. 

[ NAYARA FELIZARDO ]

Brigada. 

Brigada, Anna!

[ ANNA FRANÇA ] 

Brigada! Foi maravilhoso participar.

[ LUANA IBELLI ] 

Ai, que bom!

[ ANNA FRANÇA ] 

Uma grande experiência. 

[ LUANA IBELLI / ENCERRAMENTO ]  

Gente, vamos pro final, então quero fazer os agradecimentos, né, pra nossa equipe. 

Além da Anna, que tá aqui do meu lado, a gente também tem o Fernando Soares, editor, e o Victor Félix, repórter. Essa é a equipe do Portal dos Jornalistas, né, contextualizar. 

Temos os nossos apoiadores, também, a Ajor, Associação de Jornalismo Digital, a ICFJ, International Center for Journalists, a Meta Journalism Project, a Imagem Corporativa, e a Rádio Guarda-Chuva.  

E os nossos parceiros institucionais, a Énóis Conteúdo e a Oboré Projetos Especiais

Muito obrigada pela companhia, e até o próximo episódio!

25º Congresso de Comunicação da Mega Brasil começa nesta quarta (17/8)

25º Congresso de Comunicação da Mega Brasil começa nesta quarta (17/8)

Nos próximos dias 17, 18 e 19 de agosto (de quarta a sexta-feira), a Mega Brasil realizará a 25ª edição de seu tradicional Congresso de Comunicação, Inovação e Estratégias Corporativas, reunindo convidados de todo o Brasil e temas de vanguarda da comunicação corporativa. O evento será realizado na Unibes Cultural, em São Paulo.

Um dos pontos altos do Congresso será a homenagem ao repórter Caco Barcellos, da TV Globo, idealizador e apresentador do programa Profissão Repórter, que, na noite de 18 de agosto, receberá dos organizadores, com a presença do presidente da ABI, Octavio Costa, o Prêmio Personalidade da Comunicação.

Na noite de 17, que abre a jornada, a Mega Brasil homenageará as feras da comunicação corporativa, com o TOP Mega Brasil aos executivos e agências de comunicação eleitos pelo mercado. Serão homenageados com certificados e troféus da Onça Pintada, os TOP 10 Brasil e os TOP 5 das regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul e, entre eles, o Pódio Brasil, destacando os três executivos e as três agências mais votados do País e os executivos e agências campeões regionais.

A partir da manhã de 18 e até o final da tarde de 19 de agosto, o Congresso Mega Brasil terá como atrações a Arena da Inovação, debatendo A Neurociência e a Web3 aplicada à Comunicação e a Revolução esperada com o Metaverso; o Fórum do Pensamento, cujas discussões se darão em torno de Autoritarismo, intolerância e ameaças à liberdade de imprensa. Qual o futuro do jornalismo nesse contexto?; e outras sete mesas-redondas:

  • Comunicação – a nova arma dos povos originais da Amazônia
  • Diversidade, respeito ambiental e reputação: a saga empresarial para humanizar o capitalismo
  • Conteúdos Proprietários: Uma nova e eficaz fórmula para gerar reputação e atingir os stakeholders e a sociedade?
  • O mercado em transição: do Influenciador para o Embaixador de Marca e Causas
  • Inteligência Artificial, Big Data e Data Driven – O mundo dos dados chegou à comunicação. Veio para ficar? A Comunicação Ponto a Ponto.
  • Mercado, Consumo, Inovação e Reputação: O potencial dos diversos
  • As novas vozes do Jornalismo e seu impacto no mundo empresarial

Confirmaram presença e estarão participando dos debates os seguintes convidados:

  • Aluísio Silva Junior (Conrerp SP/PR)
  • Armando Medeiros (ABC Pública e LCM Conexão Pública)
  • Cassuça Benevides (Instituto Kabu)
  • Carolina Figueiredo (Philip Morris)
  • Daniel Bruin (Abracom)
  • Eric Marky Terena (Mídia Índia)
  • Fábio Zanini (Folha de S.Paulo
  • Gil Giardelli (RecordNews)
  • Josemara Tsuruoka (EMS)
  • Juliana Radler (Rede Wayuri, ISA – Instituto Socioambiental do Rio Negro)
  • Leandro Conti (Hotmart)
  • Lilian Tahan (Metrópoles)
  • Luciana Coen (SAP Brasil)
  • Luciana Sobral (Janssen Brasil)
  • Luciene Kaxinawá (Rede de Jovens Comunicadores da Coiab)
  • Ludmila Lavigne (OEC)
  • Luiz Rigo (Boxnet)
  • Marcel Dellabarba (Samsung)
  • Márcia Rocha (OAB/SP, Projeto Transempregos)
  • Márcio Cavalieri (Abracom)
  • Marco Ornellas (ABRH – Associação Brasileira de Recursos Humanos)
  • Marcos Silva (ESPM)
  • Mariana Scalzo (Arcos Dorados/McDonald’s)
  • Mateus Netzel (Poder 360)
  • Matheus Lombardi (XP Inc
  • Monica Vac (MSL)
  • Natália Viana (Agência Pública)
  • Nelson Silveira (General Motors)
  • Octavio Costa (ABI – Associação Brasileira de Imprensa)
  • Paulo Andreoli (MSL)
  • Raphael Negrão (Coda Payments)
  • Regina Monge (Neurobranding Lab)
  • Ricardo Cesar (Grupo Ideal)
  • Ricardo Gandour (ESPM)
  • Renata Batista (Grupo Energisa)
  • Sandra Bonani (Grupo Trama Reputale)
  • Tania Magalhães (Consultora)
  • Walter Romano (MRV&CO)

Congresso Mega Brasil será presencial e terá algumas apresentações transmitidas ao vivo pelo youtube. São 220 vagas, restando ainda algumas para quem tiver interesse em participar presencialmente. Informações sobre inscrições podem ser obtidas diretamente no site da Mega Brasil.

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