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quinta-feira, dezembro 18, 2025

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O adeus a Vladimir Carvalho, guardião da memória e da história do cinema nacional

O adeus a Vladimir Carvalho, guardião da memória e da história do cinema nacional
Crédito: Reprodução/Youtube/EBC na Rede

Semana de despedidas e homenagens marcaram a partida de Vladimir Carvalho, um dos cineastas e documentaristas mais aclamados do País. Paraibano, mas radicado em Brasília desde 1970, faleceu em 23/10, aos 89 anos, de complicações resultantes de um infarto. A morte dele mobilizou a cidade, por suas realizações na arte cinematográfica, e por sua influência entre os tantos amigos e personalidades amealhados por seu carisma. Seu legado foi lembrado por muitos, e sua partida ganhou cobertura diversa da imprensa e relatos de admiradores, além de capa do Correio Brasiliense. Chamado de Camarada Velho de Guerra, teve o corpo sepultado no Campo da Esperança.

Não por acaso, o corpo de Vladimir foi velado no Cine Brasília, considerado sua segunda casa. Por lá, participou praticamente de todas as edições do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Produziu mais de uma dezena de documentários sobre temas da política e da história nacional, entre eles O país de São Saruê (1971), Conterrâneos velhos de guerra (1991) e Barra 68 (2000). Criou ainda o chamado Cinememória, localizado na W3, com o objetivo de preservar os materiais ligados ao cinema candango e nacional. Remanescente do Cinema Novo, guardou por lá, por exemplo, a moviola que pertenceu a Glauber Rocha, com quem também trabalhou.

Viviane Castro assume coordenação de comunicação na FSB Holding

Viviane Castro assume coordenação de comunicação na FSB Holding
Crédito: Reprodução/Linkedin

Viviane Castro, ex-chefe da assessoria de comunicação da Secretaria-Geral da Presidência da República, onde atuou por 1 ano e 3 meses, até janeiro, começou em junho como coordenadora de comunicação na FSB Holding. Ela foi anteriormente assessora especial da Casa Civil (8 meses) e chefe da assessoria de comunicação da própria Presidência da República (2 anos e 10 meses). Também atuou por 3 anos na comunicação da Câmara dos Deputados.

Em seu Linkedin, Viviane expressou entusiasmo com o novo cargo: “Muito feliz em iniciar essa nova etapa na FSB Holding. Como jornalista inquieta, novos ares e desafios sempre me fizeram bem. Quem me acompanha há mais tempo sabe: “saí” do mundo da política pra falar sobre Geologia!”

STJ concede habeas corpus a jornalista que foi alvo de perseguição armada por Zambelli

O STJ concede habeas corpus a jornalista que foi alvo de perseguição armada por Zambelli
Crédito: Reprodução/UOL/Youtube

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) concedeu nesta quinta-feira (31/10) habeas corpus ao jornalista Luan Araújo, condenado a oito meses de detenção por difamar a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), que o perseguiu armada nas ruas de São Paulo na véspera das eleições de 2022.

A parlamentar havia processado o comunicador após ele publicar um artigo no Diário do Centro do Mundo criticando a postura dela na ocasião. A pena havia sido convertida em serviços comunitários e multa. O STJ determinou que o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) reanalise o recurso de Luan, que tinha sido rejeitado por suposto atraso no pagamento das custas processuais.

Com a concessão, a condenação de Araújo voltará a ser examinada pelo TJ-SP. O advogado Renan Bohus, que defende o jornalista, demonstrou confiança quanto ao novo julgamento: “Agora o processo será devidamente julgado pelo Tribunal de Justiça. Vamos aguardar a absolvição”.

Zambelli responde no STF por porte ilegal de arma e constrangimento ilegal com uso de armamento, tendo a PGR solicitado uma indenização e a revogação de sua licença para portar armas. A Procuradoria considerou o uso da pistola constrangedor e injustificado, já que o jornalista não representava uma ameaça real.

Henrique Guidi deixa a Globo após 13 anos

Henrique Guidi (Crédito: Instagram)

O narrador esportivo Henrique Guidi deixou o Grupo Globo após 13 anos de casa. Seu último trabalho na empresa ocorreu na quinta-feira (31/10). Atuava como narrador de transmissões esportivas no SporTV desde 2013. Em post no Instagram, Guidi explicou que deseja passar mais tempo com a família, a esposa e a filha. Ele ainda não anunciou seus novos rumos profissionais.

Guidi atuou como repórter do Sistema Globo de Rádio e apresentador da Rádio Gazeta AM antes de ser contratado como repórter do SporTV, em 2011. Dois anos depois, em 2013, começou a trabalhar como narrador de transmissões esportivas, função que exerceu até a sua saída da emissora.

Segundo seu post no Instagram, Guidi comandou mais de 1225 transmissões em diferentes modalidades esportivas no SporTV e no Premiere. Narrava majoritariamente jogos das Séries A e B do Campeonato Brasileiro envolvendo times paulistas. Comandou também muitos jogos de vôlei. Fez a cobertura dos Jogos Olímpicos de Paris, entre julho e junho deste ano. Na TV aberta, fez aparições em transmissões dedicadas ao público de São Paulo, durante o Show do Intervalo nas tardes de domingo e noites de quarta.

Prêmio Jatobá PR 2024 anuncia finalistas

O Prêmio Jatobá PR anunciou os cases finalistas da edição de 2024, que integram as 39 shortlists da premiação. Ao todo, 172 cases dos 336 inscritos nesta edição classificaram-se para a final.

Neste ano, o prêmio teve 34 categorias, divididas em três verticais: 11 exclusivas para Grandes Agências, 11 exclusivas para Agências-Butique, 11 exclusivas para Organizações Empresariais e Públicas, além de uma geral, PR Internacional, aberta a todo o mercado. Na edição de 2024, as novidades foram a inclusão das categorias Media Trainning nas verticais Grande Agência e Agência Butique; e Inteligência Artificial na vertical Organizações Empresariais e Públicas.

A cerimônia de premiação do Prêmio Jatobá PR 2024 será em 2/12, no Renaissance Hotel, em São Paulo. No evento, serão conhecidos os vencedores de cada uma das 34 categorias, as Organizações do Ano (Grande Agência, Agência-Butique e Organização Empresarial e Pública) e os Cases do Ano (também de Grande Agência, Agência-Butique e Organização Empresarial e Pública).

Além disso, serão revelados os Cases Regionais do Ano. Levarão o prêmio os campeões de Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul. Também na cerimônia, será entregue o Prêmio Jatobá de Contribuição ao PR e à Comunicação Corporativa Decio Paes Manso para a Associação Brasileira de Comunicação Pública (ABCPública).

A reserva de mesas para a cerimônia já está aberta neste link.

Confira a lista completa dos finalistas do Prêmio Jatobá PR 2024.


Próximo da estreia, CNN Money firma parceria com o JOTA

Próximo da estreia, CNN Money firma parceria com o JOTA

O CNN Money, canal dedicado ao mercado financeiro da CNN Brasil, que estreia em 4 de novembro, anunciou uma parceria com o JOTA, veículo especializado na cobertura do Judiciário. A colaboração visa fortalecer a qualidade do conteúdo distribuído e das análises econômicas especializadas.

Além de proporcionar aos jornalistas acesso às plataformas de dados e informações da empresa parceira, a parceria prevê entradas ao vivo dos profissionais do JOTA ao longo da programação do novo canal.

“O CNN Money foi pensando para ter altíssima qualificação e especialização de conteúdo e para isso buscamos parceiros como o JOTA, com imensa credibilidade e expertise reconhecida em sua área de cobertura”, afirma Virgilio Abranches, vice-presidente de Jornalismo, Conteúdo e Operações da CNN Brasil. “Para um público exigente, faz todo o sentido a produção de conteúdo conjunta entre marcas que têm em comum a relevância e a qualidade”.

Prêmio Einstein será entregue na próxima segunda-feira, 4 de novembro

Prêmio Einstein +Admirados da Imprensa de Saúde, Ciência e Bem-Estar segue recebendo indicações

Na próxima segunda-feira, 4 de novembro, a partir das 18h30, o Hospital Israelita Albert Einstein homenageará profissionais e veículos de imprensa com o Prêmio Einstein +Admirados da Imprensa de Saúde, Ciência e Bem-Estar. O evento será realizado no Centro de Ensino e Pesquisa Albert Einstein – Campus Cecília e Abram Szajman, no bairro do Morumbi, em São Paulo, tendo como mestres de cerimônia os jornalistas Carlos Tramontina e Fátima Turci, dobradinha que participou das edições iniciais da premiação.

Apoiada por este J&Cia, a premiação distinguirá com certificados de +Admirados os profissionais e veículos eleitos em dois turnos de votação pelos próprios jornalistas e por profissionais de comunicação corporativa e áreas afins. São eles os profissionais TOP 25; os profissionais TOP 3 nas categorias Colunista e Jornalista Especializado em Ciência; e os Veículos TOP 3 nas categorias Agência de Notícias, Site/Portal, Áudio, Veículo Especializado em Jornalismo Científico, Veículo Especializado em Saúde e Bem-Estar, Programa de TV e Jornais/Revistas.

A noite de celebração será completada com a revelação dos +admirados entre os +admirados: TOP 5 +Admirados, +Admirado Jornalista Especializado em Ciência, +Admirado Colunista, os cinco campeões regionais e os veículos campeões das sete categorias. Todos esses levarão para casa, além do certificado, o troféu Einstein de +Admirado de 2024.

A cerimônia de premiação será transmitida ao vivo e poderá ser acompanhada neste link.

“O insight só existe com modelagem dos dados”, diz João Paulo Castro, CEO da Datrix

“O insight só existe com modelagem dos dados”, diz João Paulo Castro, CEO da Datrix
João Paulo Castro

Extrair insights relevantes no complexo ambiente digital exige modelagem de dados estratégica. Essa é a visão de João Paulo Castro, CEO e co-fundador da Datrix – startup de modelagem de dados digitais criada em parceria com a GBR e o Ipespe, liderados por Guilherme Barros e Antonio Lavareda, respectivamente. Com experiência de mais de uma década como editor-executivo no Bandnews TV e passagem pela área de estratégia de dados em grandes agências, Castro compartilhou com o Portal dos Jornalistas as abordagens inovadoras da Datrix para desvendar a complexidade das redes sociais, medir a reputação de marcas e entender o papel essencial do jornalismo profissional no ambiente digital.

Portal dos Jornalistas – Em 2016, você lançou o livro Neuropropaganda de A a Z, que escreveu com o sociólogo Antonio Lavareda. De lá para cá, o que mudou na aplicação da neurociência à comunicação?

João Paulo Castro – Surgiram muitos novos estudos e livros na área, mas os pilares fundamentais da neurociência continuam válidos. O que realmente mudou foi o marketing. Em 2016, a chamada creator economy ainda era um conceito incipiente. Hoje, é possível estudar os influenciadores com o que sabemos sobre o funcionamento do cérebro. Exibir uma vida repleta de itens de luxo, por exemplo, estimula intensamente os seguidores, gerando uma série de reações emocionais. Esse contexto é extremamente favorável ao marketing, pois sabemos que a exposição a produtos de luxo estimula o consumo, mesmo que as pessoas optem por versões mais acessíveis.

Portal Como você mede o ambiente digital tão dinâmico e complexo que temos hoje?

JPC – O ponto central é identificar os dados certos e saber como ponderá-los para obter uma métrica confiável. Chamamos isso de modelagem de dados, e é só por meio dela que conseguimos extrair insights verdadeiramente aplicáveis à estratégia. No ambiente digital,  diversos tipos de dados podem ser observados, como as interações nas redes sociais, as buscas em plataformas como Google e TikTok, e as menções de influenciadores a determinadas marcas. O grande diferencial está em saber ponderar estatisticamente essas variáveis para gerar insights precisos. Foi essa necessidade que levou a Datrix a desenvolver um algoritmo para medir a estratégia digital das empresas. O nosso REV (Ranking de Eficiência do Varejo), por exemplo, usa essa metodologia e já teve grande na repercussão imprensa e aceitação pelo mercado.

Portal Qual o papel do jornalismo profissional nesse cenário de dados e influência digital?

JPC – O jornalismo continua sendo um ator fundamental. É um erro pensar que a mídia tradicional perdeu sua relevância na formação de opinião pública. Além disso, não faz sentido separar o jornalismo do digital – hoje, tudo é digital. Observamos como os jornalistas podem tanto influenciar quanto ser influenciados pelas discussões nas redes. As notícias alimentam debates digitais, e o que acontece nas redes muitas vezes pauta a imprensa tradicional. Analisar essa interdependência é crucial para compreender o ecossistema digital.

Portal Como lidar com crises de reputação no ambiente digital?

JPC – O ambiente digital nos permite navegar em mares revoltos de forma muito mais precisa, pois conseguimos medir o que está acontecendo. Antigamente, tudo ficava na opinião, se determinado colunista podia mexer na reputação de uma multinacional ou se uma denúncia podia atrapalhar a reeleição de um governante, por exemplo. Hoje, temos os dados. Nós podemos medir a saúde basal da marca, ou seja, o colchão reputacional que ela consegue construir com relações públicas e publicidade. E em momentos de crise podemos medir o quanto este nível foi alterado. Outro ponto importante que o digital nos traz é poder metrificar o que chamo de aderência, ou seja, o quanto do termo crítico realmente está associado à marca pelos consumidores.

Portal – Qual será o futuro da comunicação guiada por dados?

JPC – Já começamos a construir o futuro, quando nós estrategistas desenvolvemos modelos que fazem análises preditivas do comportamento. Hoje, conseguimos prever o comportamento de consumidores, das ondas de crises nas redes e, até mesmo, dos congressistas, em votações fundamentais para nossos clientes. Portanto, mais do que pensar o futuro, é importante entender como estar na frente com a tecnologia que temos disponível hoje, tendo em vista dois pilares fundamenteis: a modelagem de dados e a análise preditiva.


Felipe Machado lança livro em homenagem ao Dia de Los Muertos

Felipe Machado lança livro em homenagem ao Dia de Los Muertos

Editor executivo e de Cultura da revista IstoÉ, Felipe Machado está lançando La Fiesta de Los Vivos (Afluente), livro que traz retratos de pessoas clicadas nas ruas da Cidade do México durante o tradicional desfile do Dia de Los Muertos, celebrado em 2 de novembro.

“Já passei o Dia dos Mortos no México algumas vezes e essa festa sempre me fascinou”, explica Machado, também autor de Palavra de Homem (2019), Um Lugar Chamado Aqui (2016), Bacana Bacana – Aventuras pela Copa do Mundo da África do Sul (2010), Ping Pong – Aventuras pela China Olímpica (2008), O Martelo dos Deuses (2007) e Olhos Cor de Chuva (2002). “É muito curioso ver como os mexicanos encaram a morte com alegria, ao contrário da tristeza que ela inspira na maioria dos povos. Os mexicanos celebram seus mortos valorizando a vida e acho que foi esse paradoxo que me atraiu na hora de registrar as expressões faciais desse povo maravilhoso durante essa festa colorida e popular”.

Para a produção da obra, Felipe selecionou 50 imagens registradas em 2017 e que dois anos mais tarde também foram exibidas em exposição homônima no Memorial da América Latina. Além das imagens, o livro traz textos em português, espanhol e inglês, que contaram com apoio da jornalista mexicana Brenda Estefan, colunista do jornal Reforma. Ela complementa: “É uma tradição que reflete a alma mexicana, um eco de nossas crenças, nossos desejos e nossos medos mais profundos. Nela, encontramos a esperança de que, embora o tempo desgaste nossos corpos, o espírito perdura para sempre”.

Para celebrar o lançamento, e a data, o autor, participará neste sábado (2/11), às 16h, do Festival Maquinaria, na Casa70Rio − Instituto Brando Barbosa (rua Lopes Quintas, 497), no Rio de Janeiro.

Memórias da Redação: Wilson Palhares, o inquieto

Wilson Palhares

Por Luiz Antônio Maciel (*)

Na madrugada um pouco fria e chuvosa de São Paulo, tradicionalmente conhecida (mais antigamente do que hoje) como a cidade da garoa, 1h30min da segunda-feira, 28 de outubro. Depois de um dia difícil e extenuante, Eunice Palhares dormia na cama de acompanhante do quarto 1602 do Hospital Sancta Maggiore da Rua Maestro Cardim quando sentiu um toque no ombro. A enfermeira, que fazia o atendimento daquela ala, lhe comunicou, em voz baixa: “Ele faleceu!”. Wilson Palhares, o marido de Eunice, nascido e criado na Mooca, há 86 anos e sete meses, havia dado o último suspiro, indicavam os monitores dos aparelhos médicos que o acompanharam nos últimos dias.

Wilson Palhares, jornalista e cidadão do mundo por convicção e por seu legado profissional e pessoal, considerava-se um filho dileto da Mooca, onde viveu a infância e parte da juventude. Ali estavam suas raízes, de origem italiana e portuguesa, e o povo simples e humilde que aprendeu a entender e amar ao jogar futebol e participar de brincadeiras nas ruas de terra, pelas quais raramente passava algum veículo. Nos últimos anos, frequentemente, costumava ir até o bairro, para ver a rua onde morou, acompanhar desolado a derrubada das casas e comércios antigos para a construção de torres de concreto, tentar identificar um bar ou um pequeno armazém de secos e molhados onde fazia as compras a pedido da mãe. Eram essas voltas ao passado que o ajudavam a manter o ânimo pela vida, apesar de lamentar as mudanças na paisagem urbana de seus primeiros anos.

Cultivou alguns amigos daquela época durante muitos anos, enquanto eram vivos; outros ainda se mantiveram próximos até os últimos momentos. Lamentava não poder localizar, apesar de todos os recursos da internet e das redes sociais, um ou outro colega de bairro ou dos bancos escolares para ter o prazer de rever e reviver histórias antigas.

Orgulhava-se de ter sido office-boy (ou estafeta ou contínuo externo, na linguagem daquela época), o que lhe permitiu conhecer boa parte da cidade, principalmente o centro, que percorria a pé, de bonde ou de ônibus. Quando já se encaminhava para definir uma carreira, fazendo o cursinho pré-vestibular de Salim Abeid Neto para a Faculdade de Jornalismo Cásper Libero, passou a vender livros e Enciclopédia Barsa e, posteriormente, discos (long playings) de porta em porta, junto com o recém-amigo de cursinho Ari de Toledo Schneider. Ambos costumavam lembrar com humor o dia em que demonstravam a um freguês as qualidades dos discos, considerados inquebráveis. De tanto dobrar e torcer o exemplar de demonstração, uma hora o disco quebrou. Decepção, cliente perdido e fim de carreira para dois ex-promissores vendedores.

No cursinho preparatório para o vestibular, conheceu Eunice Terezinha Fruet, recém-chegada de Itu, que, depois, durante o curso, viria a ser sua namorada e com quem se casou anos mais tarde e teve dois filhos, Flávio e Marcos.

Wilson e Eunice passaram no vestibular que classificou, em primeiro lugar, um dos mais jovens inscritos, Gabriel Manzano Filho, que ainda hoje trabalha na redação de O Estado de S. Paulo. Aprovado no exame, Palhares ingressou na faculdade em 1963. Com o golpe civil-militar de 1964, tornou-se na faculdade uma das lideranças nas lutas de oposição à ditadura. Paralelamente ao curso, conseguiu uma vaga de repórter na Folha de S.Paulo, onde fazia cobertura de geral, em especial do movimento estudantil, em ascensão na época. Depois, especializou-se no movimento sindical, com abertura para as novas lideranças de esquerda, enquanto velhos setoristas, como Adriano Campagnole (ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo), faziam uma cobertura meio chapa-branca dos dirigentes sindicais na época, de viés conservador.

Em 1965, às vésperas do lançamento do Jornal da Tarde, que cooptou grande parte da equipe da Sucursal do Jornal do Brasil em São Paulo (Laerte Fernandes, Guilherme [Bill] Duncan de Miranda, Miguel Jorge, Carlos Brinkmann, Rolf Kuntz), o diretor da sucursal Eurilo Duarte pediu a mim, Luiz Antonio Maciel, noticiarista da Rádio JB, recém-contratado em agosto, no último ano da Cásper Libero, que indicasse alguns colegas que já evidenciassem ser bons profissionais, para preencher algumas vagas. Assim, Wilson Palhares, Ari Schneider e Josué Rodrigues Silva Machado passaram a integrar a equipe do JB, comandada, com a saída de Laerte Fernandes, por Ebrahim Ali Ramadan. Eurilo Duarte trouxe do Rio de Janeiro outros reforços de peso: Mário Escobar de Andrade (futuro editor de Quatro Rodas e diretor da Playboy), Fernando Guimarães e Alfredo Lobo.

Na sucursal do JB, Wilson Palhares passou a cobrir Política em São Paulo, sempre com uma visão crítica da ditadura militar. Por conta desse envolvimento profissional com os meios políticos paulistas oficiais e não oficiais, em 5 de setembro de 1969 foi procurado na sucursal de São Paulo por uma equipe de busca da recém-criada Operação Bandeirantes, que viria a se transformar no Doi-Codi. Como não estava na redação naquele momento, o então diretor da sucursal Walter Fontoura comprometeu-se a levá-lo posteriormente ao quartel do RecMec, sede da Operação Bandeirantes, na Rua Manuel da Nóbrega, no Ibirapuera. Foi o que se sucedeu.

Apesar da promessa do oficial do Exército de plantão ao jornalista Walter Fontoura de que Wilson Palhares seria bem tratado, as sessões de tortura começaram pouco depois, sob acusação de que o detido pertencia à Ala Vermelha, uma dissidência do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) envolvida em guerrilha urbana contra o regime. Três conhecidos de Palhares já estavam presos e submetidos a intensas torturas naquele quartel do Exército: Alípio Raimundo Viana Freire, ex-colega da Cásper Libero; Renato Tapajós, cineasta e estudante de Ciências Sociais da Universidade de São Paulo; e Laís Nascimento Furtado (cuja irmã, Aurora Nascimento Furtado, foi morta no Rio de Janeiro sob tortura, com aplicação de garrote vil, que lhe provocou fraturas no crânio), também ex-aluna da Cásper Libero, companheira de Renato e que assumiu o sobrenome Tapajós.

Depois de transferido para a sede do Doi-Codi na delegacia de polícia civil da Rua Tutóia, no Paraíso, onde permaneceu por alguns dias, Palhares foi enviado com outros presos da Ala Vermelha para o Departamento de Ordem Política e Social (Deops), onde permaneceu cerca de dois meses, na última cela (fundão) e, por pouco tempo, na cela 1, no subsolo. Com a morte de Carlos Marighella (comemorada até com tiros dentro do Deops por um delegado da equipe de Sérgio Fleury) no início de novembro e a prisão de grande número de membros da Aliança Libertadora Nacional (ALN), entre eles os frades dominicanos e alguns jornalistas, como Rose Nogueira e seu então marido Luiz Roberto Clauset, entre outros, o Deops apressou a tomada de depoimentos de presos que ocupavam as celas, para enviá-los ao Presídio Tiradentes (posteriormente demolido). Ali, um prédio destinado ao setor administrativo e ao almoxarifado do presídio foi esvaziado para receber essa leva de presos políticos, separados da ala dos presos comuns. Ali seria a “residência” de Wilson Palhares até fevereiro de 1970.

A cela ficava no último pavimento da edificação. Uma área grande, de cerca de oito metros de largura por 40 de comprimento, sem obstáculos, com dois ou três banheiros com chuveiros, pias e uma bancada onde parte dos presos preparava suas próprias refeições. Havia até um “chef”, um preso francês à espera de deportação, que comandava a cozinha. Sua especialidade era um minestrone de ótima qualidade. Era ajudado por um outro francês, Jacques, então companheiro da fotógrafa Nair Benedicto, ambos presos no processo da ALN. Camas tipo “patente” e beliches ocupavam a maior parte do espaço, para acomodar os presos políticos. Numa dessas camas, permaneceu por meses, engessado e imobilizado, Carlos Lichtsztejn, integrante de um Grupo Tático Armado (GTA) da ALN, que caíra de uma altura de vários metros ao tentar fugir de um cerco de agentes da repressão.

Só havia dois locais por onde entrava a luz natural do dia: a entrada da cela com grades e uma fileira de pequenos basculantes de vidro no alto da parede ao fundo. O acesso à cela era por uma porta com grades de ferro de cerca de um metro de largura, ao fim de uma escada de alvenaria que ligava esse pavimento ao inferior, onde havia celas individuais (chamada a ala dos “nobres”), que abrigavam na época um velho dirigente sindical do Partido Comunista Brasileiro e o ex-deputado Hélio Navarro, cassado pelo AI-5 de 30 de dezembro de 1968.

Libertado no dia 4 de fevereiro de 1970, após audiência na Segunda Auditoria de Guerra da Segunda Região Militar, na Av. Brigadeiro Luís Antonio, e posteriormente absolvido pelo chamado Conselho de Guerra (júri composto de militares e um juiz togado civil), Palhares reassumiu o cargo de repórter na sucursal de São Paulo do Jornal do Brasil. Por decisão de seu diretor Walter Fontoura, com apoio do editor-chefe do JB Alberto Dines e da direção da empresa, recebeu todos os salários do período em que esteve preso. Seu filho mais novo, Marcos, nasceu nove meses depois.

Ao deixar a sucursal do JB, Palhares foi para a Editora Abril, trabalhar como editor na seção de Internacional, onde varava as madrugadas das quintas e sextas-feiras e, às vezes sábados, acompanhando e editando matérias sobre política mundial. O desafio profissional seguinte foi trabalhar na revista Playboy, como editor especial encarregado de reportagens e das famosas entrevistas com personalidades, o ponto forte da revista. Depois de cerca de dois anos, a convite de José Roberto Nassar e Rui Falcão, editores da Exame, foi trabalhar na revista. Foi o autor da matéria de capa da edição 327, de 29 de maio de 1985, China – A longa marcha do consumo (arte de Gilberto Midaiara, com edição gráfica do saudoso Hélio de Almeida, editor de arte da revista), depois de uma viagem pioneira de dez dias à República Popular da China, visitando Beijing, Xangai e Nanquim. Retratou as transformações pelas quais o Império do Meio estava passando sob o comando de Deng Xiao-ping. Começavam a ser permitidas atividades capitalistas sob controle do Estado, e até o consumo de Coca-Cola, antigo símbolo do imperialismo norte-americano, que passou a ser tão comum nas cidades como o consumo de chá verde. Era o começo da nova China que hoje rivaliza com os Estados Unidos como uma das maiores economias do mundo.

Capa de Exame com a reportagem de Palhares

A reportagem se encerra com uma conclusão profética: “(…) na extremidade de um canudo numa garrafa de Coca-Cola continuará existindo um chinês dirigido pelo Partido Comunista. Em outras palavras, o atual momento vivido pela China não é apenas uma pausa que refresca” (antigo slogan da marca).

Cansado das madrugadas de fechamentos da mídia comercial, Palhares decidiu enveredar por uma seara própria, como empreendedor. Criou há mais de 30 anos a empresa Bloco de Comunicação, para dar assessoria e fazer projetos de mídia para empresas. Lançou e foi editor do Jornal Nova Embalagem, patrocinado pela Associação Técnica das Indústrias Automáticas de Vidro (Abividro). Foi quando começou a se interessar e se aprofundar no estudo do mercado mundial de embalagens. Em 1999, criou a revista EmbalagemMarca, especializada nesse mercado. Ainda hoje é o veículo mais completo do setor no Brasil. Lançou o cobiçado Prêmio EmbalagemMarca, para distinguir as soluções mais importantes do mercado nesse setor.

Espírito inquieto e sempre ávido de conhecimentos, era dono de ampla cultura e leitor repetitivo de D. Quixote. Aventurou-se na poesia nos tempos idos da Faculdade Cásper Libero, onde presidiu a Academia dos 13, de cunho literário e artístico. Entretanto, ao iniciar o trabalho profissional como jornalista, trocou a poesia pela dureza da realidade, mas sempre com um toque poético e muitas vezes sutilmente irônico e sarcástico. Sua língua ferina era conhecida nas rodas de conversas com amigos, o que lhe valeu, já nos tempos de faculdade, o apelido de Nicodemo, criado por Josué Machado. Seu sarcasmo não o abandonou mesmo na véspera da morte. Seu filho Marcos relata que dois dias antes, quando ainda estava razoavelmente lúcido, perguntou: “Pai, como você está?” E Palhares, com alguma dificuldade de movimentos, apontou o polegar para baixo e emitiu a sentença definitiva: “Estou fodido!”

PS: Wilson Palhares faleceu em decorrência de complicações de um câncer de bexiga descoberto no início do ano e atribuído pelos médicos, provavelmente, ao fato de ele ter fumado durante muitos anos.


Luiz Antônio Maciel

(*) Luiz Antônio Maciel, 81 anos, jornalista profissional formado pela Faculdade de Jornalismo Cásper Líbero, em 1965. Começou a carreira como noticiarista da Rádio Jornal do Brasil, em São Paulo, em 1965. Depois, já na redação da sucursal de São Paulo do Jornal do Brasil, foi repórter, pauteiro, chefe de reportagem e secretário de Redação. Em 1974, começou como redator de Internacional do Jornal da Tarde, e subeditor, passando depois para a Editoria de Economia, onde foi subeditor e editor. Em 1896, transferiu-se para a revista Playboy, como editor especial encarregado de reportagens e das entrevistas mensais. A partir de 1989 trabalhou como editor e redator da revista Guia Rural, da Editora Abril, depois exerceu as mesmas funções na revista Globo Rural, da Editora Globo, foi editor especial da Revista Imprensa e por duas vezes trabalhou na Gazeta Mercantil, como redator de revistas e depois como subeditor de Informática. Participou da experiência pioneira de criação de um dos primeiros sites jornalísticos sem vínculo com a mídia tradicional, o Panorama Brasil, que posteriormente se fundiu com o Diário do Comércio e Indústria (DCI). Encerrou a carreira no Diário do Comércio, da Associação Comercial de São Paulo, onde trabalhou por dez anos, como editor de Economia e pauteiro da Editoria de Política.

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