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sexta-feira, março 29, 2024

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Morreu Fernando Pedreira, aquele que, no Estadão, publicava os sonetos de Camões

Fernando Pedreira, em foto nos anos 1980. Crédito: Jorge William/Agência Globo

Fernando Pedreira morreu em 21/4 enquanto fazia a sesta em sua casa no Vale das Videiras, em Itaipava, distrito de Petrópolis, no Estado do Rio, aos 94 anos. Era casado com Monique há 48 anos, o casal não teve filhos e se retirou para Petrópolis para cumprir o isolamento exigido por Covid-19.

Carioca, era formado em Direito, mas não seguiu a carreira jurídica. Aos 30 anos, mudou-se para São Paulo e começou no Diário de S.Paulo. Teve breve participação na UNE (União Nacional dos Estudantes) e no Partido Comunista, dos quais se afastou. Trabalhou ainda na Última Hora. Transferiu-se então para O Estado de S. Paulo e foi o primeiro chefe da sucursal em Brasília, nos anos 1960. Depois do golpe militar, passou uma temporada nos Estados Unidos, como visiting scholar na Universidade de Columbia.

Voltou ao Brasil em 1971 como diretor do Estadão, de 1971 a 1977. O jornal estava sob censura, e Pedreira passou a publicar trechos de Os Lusíadas, de Camões, no lugar das reportagens proibidas, numa decisão que se tornou clássica. Quando o jornal preparou um caderno para celebrar seu centenário, Pedreira foi informado de que mesmo esse especial seria submetido à censura. Preferiu, então, cancelar a publicação e deixar o material para ser avaliado pela História. Surpreendentemente, um telefonema do então presidente Geisel avisou que estava suspensa a censura prévia a todo o jornal, no que Pedreira, com ironia, considerou “a contribuição governamental às comemorações da efeméride”. Depois disso, foi ainda sob seu comando que o Estadão venceu o Esso de Jornalismo de 1976, com uma série sobre os abusos de alguns servidores com o dinheiro público, um marco no jornalismo investigativo e que cunhou a expressão “mordomia”.

Voltou para o Rio no ano seguinte, deixou o cargo de diretor de Redação, mas continuou colaborando com o Estadão como articulista político. Trabalhou ainda no Jornal do Brasil, como editorialista e comentarista político, e na coluna Ponto de vista da revista Veja. Amigo do presidente Fernando Henrique, no governo deste foi nomeado embaixador do Brasil junto à Unesco, em 1995, em Paris. Em 2016, publicou o livro de memórias Entre a Lagoa e o mar – Reminiscências.

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