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sexta-feira, março 29, 2024

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Memórias da redação ? A hierarquia da sacanagem

A história desta semana é de um estreante neste espaço: Fernando Albrecht (editor do Começo de Conversa do Jornal do Comércio, de Porto Alegre, integrante do Jornal Gente da Band-RS AM e que há mais de oito anos mantém o site www.fernandoalbrecht.com.br, em que, como afirma, “abordo o trivial variado. O forte do site é a seção A vida como ela foi, na qual conto causos verídicos e outros nem tanto”. A hierarquia da sacanagem             Os chamados segredos da profissão – de jornalista – não são como os dos mágicos, com um Mister M estragando os negócios dos colegas contando como funcionam as mágicas, mas há um denominador comum, que é coisa simples e não tem mistério. São meros macetes, só que fora do contexto da redação por si sós eles não são explicáveis.             É o caso. Na época que eu escrevia o Informe Especial do jornal Zero Hora, de Porto Alegre, antes do computador, até meados dos anos 1980, as notas para o Informe eram escritas em máquina de escrever em laudas separadas. A página 3 do Zero Hora tinha espaço para dez ou 12 notas, dependendo do tamanho e da quantidade de anúncios. Em resumo, cada nota, uma lauda em separado. A importância das notas para a diagramação era dada pela numeração das laudas, em ordem decrescente.             O conjunto da obra então ia para o editor-chefe e/ou chefe de Redação – o Informe era estratégico para o jornal. Eu não seria louco de arrostar a casa, mas tomem nota de uma coisa: sem sacanagem a coisa não tem graça. Jornalista que não é sacana e não fala mal dos outros não é jornalista, é um escrevente. E se você não está se divertindo em pelo menos 30% do tempo de trabalho algo está muito errado             Funcionava assim: digamos que eu tivesse uma informação quente, mas passível de ser cortada por implicações políticas, editoriais ou comerciais. Então eu a colocava entre as últimas laudas; entre as primeiras, teoricamente as mais importantes, botava uma sacanagem explícita, monstruosa, berrando, não dava para não perceber. Então eu era chamado pelo chefão.             – Pensando que ia me enganar, hein? Essa nota não passa. Quando é que tu vais aprender?             A nota virava uma bolinha de papel e ia direto para o cesto do lixo como se bola de basquete fosse. Errava sempre. As demais informações eram teoricamente livres de sacanagem. Isso é coisa das pisicologias, como dizia a tia Zilda lá do Alegrete, pouca atenção se dava a elas além de um mero passar de olhos, porque afrouxavam a vigilância no resto do material. Então o contrabando entrava legalmente na oficina. A bronca vinha no dia seguinte, mas era administrável. Meu Catão, o censor, o senhor leu a página antes, não leu?             Ô seu Lauro Schirmer, desculpa pelo que aprontei naqueles anos. Sei que no Dia do Juízo Final vou pagar por elas. Mas depois que vi as artimanhas jurídicas do mensalão e da lava-jato, já preparei agravos de instrumento e outros que tais. Que vão estar na última lauda do meu processo.

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