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sexta-feira, abril 19, 2024

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Memórias da redação ? Cuba lembra o quê?

A história desta semana é novamente uma colaboração de Flávio Tiné, ex-Abril, Estadão e Diário do Grande ABC, assessor de imprensa do Hospital das Clínicas de São Paulo durante 21 anos, que hoje atua como escritor e cronista de Jornal do Commercio do Recife e revista Medicina Social de São Paulo. Ela foi publicada originalmente na edição do JC de 3/12/2014. Cuba lembra o quê?             Embora persistam embargos econômicos, o reatamento das relações diplomáticas entre os Estados Unidos e Cuba é o começo de nova Era, pondo fim a uma injustiça que perdurou 53 anos. No momento em que Cuba volta às manchetes não custa relembrar o papel que esse pequeno país do Caribe exerceu sobre a juventude quando Fidel Castro derrubou a ditadura e implantou um novo regime político, inspirado na revolução socialista da União Soviética. Com erros e acertos, a verdade é que a maioria do povo cubano ainda hoje apoia o Governo, talvez porque não tinha alternativas, submetendo-se na época a uma escravidão pior do que a submissão dos negros no Brasil-Colônia. As mulheres se rendiam ao turismo sexual dos Estados Unidos e os homens viravam gigolôs para sobreviver ou permaneciam na eterna miséria dos canaviais. Tudo isso está na literatura da época.             A juventude brasileira ansiava por algo inovador. Ia às ruas para defender as liberdades, condenar o capitalismo desumano e as injustiças sociais, bem como para defender a Petrobras sob o lema de que o petróleo é nosso. Comícios políticos, eleições, passeatas, em qualquer evento social ou político surgia Cuba como a salvação da lavoura, digo, como exemplo de um país que se rebelou contra a exploração capitalista e todos os seus ingredientes, onde a prostituição era apenas um detalhe, naquele mar de lama sem limites. Mansões e carrões norte-americanos faziam da ilha o mais luxuoso bordel do Caribe.             Logo depois da vitória de Fidel o governo cubano costumava organizar caravanas de latino-americanos para conhecer de perto suas maravilhas. No Recife, os convidados para a viagem era selecionados por Francisco Julião, criador das Ligas Camponesas. Numa dessas viagens fui encaixado como representante do Sindicato dos Bancários, onde era editor de um jornal dirigido por Gastão de Holanda, escritor e funcionário do Banco do Brasil.             Após visitar a ilha de uma ponta a outra, por 30 dias, decidi ficar e tentar a Universidade de Havana, mas não obtive êxito na empreitada porque cursava o segundo ano colegial, não estando, portanto, habilitado para ingressar no curso superior. Dois fatores me atraíam: não havia Vestibular e o estudo e a estadia eram gratuitos.             Fiz então a maior loucura da vida: faltei deliberadamente ao embarque de volta ao Brasil, na esperança de reverter situação e concluir o colegial. Não consegui. Dias depois, as autoridades me arranjaram outro voo para o Rio de Janeiro, onde tive de mendigar passagem para Recife, cedida pela embaixada cubana, por interferência de meu companheiro de viagem Arthur Lima Cavalcanti.             Dois anos depois Cuba me reservaria novas emoções. Morava num pequeno apartamento do edifício Holiday, fartamente decorado com motivos cubanos: fotos, cartazes, recortes de jornais, livros e apetrechos os mais diversos, recordações da inesquecível viagem. A partir de 1º de abril de 1964 um grupo de policiais civis permanece na portaria, prendendo um a um assessores dos governos estadual e municipal – Arraes e Pelópidas. Eu era assessor de imprensa de Pelópidas.             Fiz então arriscada operação de retirada. Combinei com amigos da PA – Polícia da Aeronáutica para me retirar do prédio como preso político da FAB, na condição de ex-cabo da instituição. Levaria todo material, que em seguida seria devidamente enterrado num quintal, livrando-me de prova material importante em eventual prisão. De fato, quando preso, neguei qualquer vínculo com a subversão, sustentando que a viagem tivera apensas motivos jornalísticos. Leia mais + Movimentação na sucursal do SBT-DF + Fabíola Salani acerta com o Metro-SP + Armando Antenore e Tatiana Bandeira começam na Bella Editora

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