Quando as máquinas começam a pensar
Por Renato Cruz e Anaís Motta (*)
Já imaginou ser substituído por uma máquina?
Esse cenário foi muito comum para trabalhadores das linhas de produção na segunda metade do século passado, quando a automação tomou conta das fábricas, no que foi chamado de terceira revolução industrial. Com a chegada da inteligência artificial, as máquinas começam a substituir outros tipos de profissionais. Tarefas intelectuais que implicam muita repetição e análise de uma base grande de informações passam a ser desempenhados por sistemas especialistas.
Em 2015, o empresário Elon Musk, o físico Stephen Hawking e dezenas de especialistas divulgaram uma carta aberta sobre inteligência artificial, alertando sobre os perigos potenciais trazidos por essa tecnologia. Um dos temores representados na carta é de que a humanidade perca o controle sobre a tecnologia e que, se algo der errado, não seja capaz de consertar.
O cenário lembra um pouco o que aconteceu com o computador HAL 9000, que se rebela contra a tripulação da nave Discovery One no filme 2001 – Uma odisseia no espaço. Ou com a Skynet, sistema de inteligência artificial da série Exterminador do futuro, que chega à conclusão de que a melhor forma de proteger a Terra é acabar com a raça humana.
Sistemas especialistas
Mas a tecnologia atual ainda está longe desse cenário. Ainda não existe uma inteligência artificial de uso geral, que chegue perto do que uma pessoa possa fazer. Os sistemas atuais são especialistas, e muitos deles precisam ser treinados, em vez de programados, além de aprenderem com a própria experiência, no que os especialistas chamam de aprendizado de máquina.
O principal desafio, hoje, principalmente quando olhamos o mercado de trabalho, é aprender a trabalhar com essas máquinas inteligentes, e a treiná-las. A consultoria McKinsey analisou o impacto da automação e concluiu que somente 5% das profissões que existem atualmente podem ser exercidas completamente por robôs, levando-se em conta as tecnologias já disponíveis comercialmente.
No entanto, ao analisar as diferentes atividades exercidas pelos profissionais, chegou à conclusão de que 50% delas podem ser executadas por máquinas. Ou seja, o cenário mais provável é que todos nós tenhamos que trabalhar, num futuro próximo, ao lado de robôs. E esses robôs não precisam existir fisicamente. Podem ser somente algum software a rodar num servidor.
Por causa disso, a McKinsey estima que, até 2030, entre 400 milhões e 800 milhões de trabalhadores serão substituídos por robôs em todo o mundo, e precisarão encontrar novos empregos. O problema será preparar esses profissionais para trabalharem nesse novo cenário. Corremos o risco de viver num mundo de desemprego crescente, com vagas que não são ocupadas por falta de profissionais qualificados.
Mas existem previsões mais otimistas. O Gartner estima que em 2020 a inteligência artificial vai gerar 2,3 milhões de empregos, mais do que as 1,8 milhão de vagas que eliminará. A consultoria também prevê que em 2021 a tecnologia vai gerar US$ 2,9 trilhões em valor de negócios e recuperar 6,2 bilhões de horas em produtividade de trabalhadores.
Momento de transição
Um dos temas mais discutidos, quando o assunto é a inteligência artificial, são os carros autônomos. Vivemos um momento de transição, que já fez vítimas. Em março, um veículo experimental do Uber atropelou e matou um pedestre na cidade de Tempe, nos Estados Unidos. Foi a primeira morte causada por carro desse tipo.
O sistema autônomo é formado por três módulos. O primeiro pega informações de câmeras e sensores. O segundo tenta prever o comportamento dos objetos identificados pelo primeiro. E o terceiro determina como o veículo deve se comportar, a partir da previsão.
A investigação do Conselho Nacional de Segurança no Transporte (NTSB, na sigla em inglês), uma agência do governo norte-americano, mostrou que o veículo identificou, seis segundos antes do acidente, a vítima em sua bicicleta ao cruzar a estrada. Mas o sistema de percepção se confundiu, classificando-a primeiro como objeto desconhecido, depois como automóvel e, por último, como bicicleta. Ele também não conseguiu prever o comportamento da ciclista. O sistema de freios de emergência estava desabilitado, e o motorista humano, que deveria frear, estava olhando a tela do sistema autônomo e não conseguiu brecar a tempo.
O caso levanta uma série de questões sobre quem é responsável por erros cometidos por sistemas de inteligência artificial. Apesar de o primeiro acidente com vítima de um carro autônomo ter sido resultado de uma sucessão de erros, a conclusão foi de que o atropelamento deve-se a um erro sistêmico. Se o sistema de percepção fica confuso, o carro autônomo deveria frear. Mas brecadas bruscas de veículos autônomos já fizeram com que automóveis dirigidos por humanos batessem na traseira deles. O motorista de segurança, que deveria ter freado, só seria efetivo se ficasse o tempo todo prestando atenção no trânsito.
Robôs jornalistas
Ainda que timidamente, a inteligência artificial começa a chegar às redações. O caso mais famoso é o da agência de notícias AP, que adotou a tecnologia para produzir textos automáticos sobre resultados de empresas de capital aberto. Com um sistema desenvolvido pela Automated Insights, a AP passou a publicar 12 vezes mais notícias sobre resultados, ao mesmo tempo em que liberou cerca de 20% do tempo da equipe dessa área.
A primeira versão das notícias sobre balanços é gerada automaticamente pelo sistema. Os jornalistas humanos são responsáveis pelas versões posteriores, enriquecidas por entrevistas, que os robôs ainda não são capazes de fazer.
Recentemente, a revista britânica The Economist destacou a importância de se abrir a caixa preta dos sistemas baseados em aprendizado de máquina. Como esse tipo de inteligência artificial aprende com a própria experiência, fica difícil saber quais são os critérios levados em conta para tomar determinadas decisões.
As empresas começam a se preocupar com isso. A EDP Brasil, por exemplo, criou um Centro de Excelência em Robotização, que tem entre seus objetivos desenhar um quadro de melhores práticas nas relações entre seres humanos e tecnologia. Com o aprendizado de máquina, as companhias precisam ter maneiras de certificarem-se de que a inteligência artificial não acabe por reproduzir algum viés e que atue de acordo com as regras de governança.
Este especial discute a aplicação da inteligência artificial nos mais diversos setores econômicos, como mineração, agricultura, automóveis, telecomunicações, serviços financeiros, saúde e educação. Também discute o impacto dessa tecnologia nas nossas vidas.
Um estudo da Unisys, que ouviu mais de mil trabalhadores no Brasil, apontou que 47% acreditam que a inteligência artificial (IA) vai beneficiar seu ambiente de trabalho nos próximos cinco anos. Apesar disso, apenas 22% deles disseram que entendem bem como essa inovação funciona.
“É importante ressaltar que essa falta de entendimento influencia fortemente na visão negativa de que a IA deverá roubar o papel dos funcionários – o que não é verdade. Do nosso ponto de vista, a inteligência artificial irá aprimorar os colaboradores, mas não os substituirá”, explica Eduardo Almeida, presidente da Unisys para a América Latina.
(*) Renato Cruz é editor do inova.jor, site de notícias sobre tecnologia e inovação, e professor do Centro Universitário Senac. Publicou os livros O desafio da inovação: A revolução do conhecimento nas empresas brasileiras (Senac São Paulo), TV digital no Brasil: Tecnologia versus política (Senac São Paulo) e O que as empresas podem fazer pela inclusão digital (Ethos/CDI). Foi repórter e colunista do jornal O Estado de S. Paulo, empresa onde é comentarista no programa Start Eldorado, da Rádio Eldorado FM. Tem graduação em jornalismo e mestrado e doutorado em ciências da comunicação pela Universidade de São Paulo (USP).
Anaís Motta é formada em Jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP. Como estagiária, passou pelas revistas Autoesporte, Época Negócios e Época, da Editora Globo, e Quatro Rodas, da Editora Abril, além de ter trabalhado com comunicação corporativa na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP. Morou por um semestre em Milão, na Itália, onde cursou as disciplinas de Ética e Economia, Web Design e Psicologia da Comunicação na IULM. Atualmente, trabalha como repórter de Economia e Tecnologia no portal iG.
Rumo à Indústria 4.0
A quarta revolução industrial acrescenta conectividade e inteligência à automação, principal característica da revolução anterior. O nome Indústria 4.0 foi criado na Alemanha, sendo adotado fora do Brasil para os mais variados setores econômicos, não se restringindo exclusivamente à indústria de manufatura.
Júlio Gama, diretor de Comunicação da Vale, conversou com J&Cia sobre a adoção da inteligência artificial pela empresa, na caminhada para a Indústria 4.0. A seguir, os principais trechos da entrevista.
Jornalistas&Cia – Como a Vale tem adotado a inteligência artificial em suas operações?
Júlio Gama – O uso da Inteligência Artificial na Vale insere-se num plano para avançar na Indústria 4.0, o que tem permitido à empresa promover a integração entre as áreas de negócio pelo mundo, reduzir custos, simplificar processos, aumentar a produtividade e a eficiência operacional, e alcançar os melhores índices de saúde e segurança. O programa baseia-se em quatro pilares: análise avançada de dados, integração de sistemas e cadeias, robotização e equipamentos autônomos (como caminhões, escavadeiras e perfuratrizes, entre outros). Além da inteligência artificial (análise avançada de dados, aprendizado de máquina e computação cognitiva), a empresa está utilizando internet das coisas, aplicativos móveis, automação robótica de processos (RPA, na sigla em inglês), entre outras inovações tecnológicas. O programa já rendeu uma economia de US$ 51 milhões em 2017 e são esperados mais US$ 49 milhões este ano.
J&Cia – Qual é o processo que a empresa utiliza para decidir quais tecnologias vai adotar?
Gama – A definição sobre as tecnologias que serão utilizadas depende de cada caso. É fundamental entender o desafio de negócio a ser tratado e utilizar de metodologias ágeis como o design thinking para a identificação correta do problema. No geral, as soluções mais disruptivas surgem com o uso conjunto de diversas tecnologias. Por exemplo, as empresas de aplicativos de transporte de passageiros combinam geolocalização, inteligência artificial e dispositivos móveis. Abordagem similar é utilizada em caminhões fora de estrada na Vale. Pelo uso combinado de sensores e inteligência artificial, conseguimos prever falhas nos equipamentos, reduzindo significativamente os custos de manutenção e aumentando a vida útil dos ativos.
J&Cia – Como preparar a força de trabalho para essas mudanças?
Gama – A inteligência artificial tem potencial de gerar benefícios para várias áreas de negócio da empresa, desde as operacionais até as corporativas. A área de comunicação tem um papel fundamental na disseminação do conhecimento dessa e outras tecnologias da Indústria 4.0. Está em execução um plano para informar aos empregados o que é Indústria 4.0, qual é sua importância para o negócio e como ela pode mudar o futuro da mineração. Começamos neste ano, com o apoio do RH da empresa, a promover eventos periódicos chamados Digital Shift, que trazem para os empregados da área – e de áreas afins – o que há de mais atual em tecnologia do nosso setor. O evento já passou pelos escritórios da Vale em Espírito Santo, Minas Gerais, Pará e Maranhão e Rio de Janeiro. Só este último contou com a participação de mais de 850 pessoas, entre as que estiveram presencialmente e as que assistiram pela Internet.
J&Cia – Qual é o papel da área de Comunicação nesse processo?
Gama – Na Comunicação, dedicamo-nos a colaborar para a disseminação de novas tecnologias tanto nas operações como nos escritórios. Usamos todos os canais da nossa plataforma de comunicação interna para isso. Na nossa intranet, por exemplo, há uma página inteiramente dedicada à transformação digital, reunindo algumas das principais tecnologias adotadas pela empresa, com infográficos, fotos e seção de perguntas e respostas. O público externo, clientes e investidores também têm acesso a essas informações por meio de matérias que sugerimos à imprensa, na nossa página na internet, em eventos etc. Temos buscado cada vez mais falar sobre tecnologia. Essa pauta é prioridade para nós tanto interna quanto externamente, pois evidencia como a Vale está em constante evolução, consolidando operações cada vez mais sustentáveis.
J&Cia – Qual é a sua opinião sobre a cobertura da imprensa sobre essa área?
Gama – A imprensa vem dedicando um bom espaço às iniciativas da Indústria 4.0, porém tem focado em poucos setores, como automotivo, de saúde e de varejo, e tem sido tímida na cobertura dos benefícios para a mineração. Mas esse é um dos setores com o maior potencial de obter ganhos com a Indústria 4.0. Segundo estudos, a transformação digital pode gerar valor na ordem de US$ 190 bilhões na indústria mineral em dez anos, além de reduzir as emissões de CO2 em 610 milhões de toneladas.
J&Cia – Quais foram os resultados da adoção da inteligência artificial pela Vale até agora?
Gama – Temos um case de uso de inteligência artificial na Vale que resultou no aumento de 30% da vida útil dos pneus de caminhões fora de estrada na mina de cobre do Salobo, no Pará, representando uma economia de US$ 5 milhões em um ano. Em 2015, identificamos que a mina vinha apresentando uma quantidade anormal de caminhões fora de estrada parados para manutenção por causa do desgaste muito rápido de seus pneus. Esses caminhões são imensos, podem chegar à altura de um prédio de dois andares, e alguns têm capacidade de carregar até 380 toneladas de minério de ferro. Nossa equipe de TI, aliada à da área operacional, fez uma série de levantamentos de dados, como estrutura física da mina e as práticas de manutenção. Sensores foram instalados na área operacional e nos pneus. Com a ajuda de sistemas de inteligência artificial, geramos uma infinidade de dados, que nos ajudaram na tomada de decisões, que tecnicamente chamamos de análise avançada de dados (advanced analytics).
J&Cia – O que vocês descobriram a partir desses dados?
Gama – Por exemplo, um dos problemas que identificamos estava na manutenção preventiva. Essa manutenção pressupõe um rodízio, no qual o pneu novo é colocado na dianteira do caminhão e, depois de certo tempo, ele vai para traseira. Quanto maior o tempo de permanência do pneu na dianteira, maior será a vida útil dele. O que percebemos foi que, no Salobo, os pneus novos estavam indo para traseira do caminhão antes do tempo. Ou seja, as análises estatísticas mostraram que tínhamos um espaço de ganho na produtividade desses pneus. Em maio de 2015, quando iniciamos o trabalho, o pneu durava em torno de 1,5 mil horas. Em julho de 2017, depois do trabalho concluído, a vida útil do pneu aumentou para 4,5 mil horas. É como se ele rodasse três meses do ano sem parar.
Atendimento personalizado, com privacidade
O Grupo Telefônica criou uma plataforma de inteligência artificial, chamada Aura, para gerenciar o relacionamento dos consumidores com a companhia. No Brasil, a tecnologia foi integrada ao aplicativo Meu Vivo.
“Fomos a primeira operadora do mundo a lançar um canal com inteligência artificial para o consumidor”, destacou Fernando Moulin, diretor de Experiência Digital da Telefônica Vivo. “Basicamente, procuramos usar inteligência artificial para oferecer ao cliente informações sobre produtos e serviços de maneira individualizada e absolutamente privada”.
O sistema de inteligência artificial foi classificado pela Telefônica como sua quarta plataforma. A primeira são a rede e os ativos fixos da operadora. A segunda são seus sistemas unificados de tecnologia da informação. A terceira são os produtos e serviços que oferece aos clientes. O objetivo da Aura é interpretar o fluxo ininterrupto de dados gerados pelas outras três plataformas a fim de informar os clientes e selecionar as melhores ofertas de produtos e serviços para eles.
Na apresentação da Aura, José María Álvarez-Pallete, presidente mundial da Telefônica, afirmou: “A inteligência cognitiva nos permitirá entender melhor nossos consumidores, para que eles possam se relacionar conosco de forma mais natural e fácil, e gerar um novo relacionamento de confiança com eles, baseado em transparência e controle de seus próprios dados. Somos pioneiros nesse modelo de relacionamento. Nunca os usuários de serviços de telecomunicações puderam conversar com as redes em tempo real”.
Entre outras aplicações, os clientes podem perguntar à Aura sobre produtos e serviços que eles usam; podem fazer uma reclamação e acompanhá-la; e podem ser avisados que seu consumo de dados está acima do normal. A experiência pode ser personalizada a partir das informações geradas por seu perfil de uso, o que inclui recomendações sobre produtos e serviços que se adaptem melhor às suas necessidades.
A adoção da inteligência artificial acontece no âmbito do processo de transformação digital da Telefônica. “Transformar-se digitalmente significa alterar radicalmente a forma como nos relacionamos com o consumidor”, explica Moulin. “A sociedade já é digital. Estamos desenvolvendo iniciativas relacionadas ao Meu Vivo, aplicativo que é nosso principal canal de autoatendimento e relacionamento com o cliente. Trabalhamos muito forte para ele seja o canal que de fato vai ficar na palma da mão, para que haja engajamento do cliente com a marca e, paralelamente, trabalhamos de fora para dentro de casa, revitalizando todo o nosso processo de trabalho, toda a nossa organização, a maneira como hoje concebemos serviços, os lançamos ao público e, a partir disso, nos comunicamos”.
Impacto no mercado de trabalho
Recentemente, a Unisys divulgou o estudo The New Digital Workplace Divide (A nova divisão digital do ambiente de trabalho), em que ouviu trabalhadores digitais (que usam computador ou smartphone) em 12 países, incluindo o Brasil.
Entre mais de mil entrevistados no Brasil, 47% acreditam que a inteligência artificial beneficiará seu ambiente de trabalho nos próximos cinco anos. Apesar disso, apenas 22% deles disseram que entendem bem como essa inovação funciona.
“É importante ressaltar que essa falta de entendimento influencia fortemente na visão negativa de que a IA deverá roubar o papel dos funcionários – o que não é verdade”, explica Eduardo Almeida, presidente da Unisys para a América Latina. “A tecnologia permitirá capacitar melhor os colaboradores, livrando-os de funções repetitivas, para que possam focar no que é relevante para o negócio. Do nosso ponto de vista, a inteligência artificial irá aprimorar os colaboradores, mas não os substituirá”.
A seguir, os principais trechos da entrevista do executivo a J&Cia:
Jornalista&Cia – Quais recursos de IA são utilizados pela Unisys no dia a dia?
Eduardo Almeida – A Unisys é líder nos setores financeiro, varejo, transporte aéreo e governo, com soluções próprias que endereçam as necessidades desses setores. A utilização de inteligência artificial embarcada nessas soluções é parte da estratégia da Unisys para garantir que seus clientes terão resultados de negócios concretos por meio do uso da tecnologia, e ainda evitar a armadilha de utilização das soluções apenas pelo modismo do momento. Mais especificamente, a Unisys utiliza algoritmos de análise preditiva para definição de possibilidade de padrões futuros e machine learning para identificação de padrões baseados no cruzamento de grandes massas de dados.
J&Cia – Como decidir quais tecnologias utilizar?
Almeida – A evolução da tecnologia é constante, principalmente na área de Inteligência Artificial. Vimos nos últimos anos a sucessão de linguagens de algoritmos que passarão a ser padrão dos mercados, do mesmo modo como tecnologias de big data. Desse modo, a avaliação é constante, sendo levados em consideração fatores como a disponibilidade de profissionais no mercado com conhecimento nas plataformas, o ganho de produtividade no desenvolvimento das soluções, a capacidade de evolução das soluções e até a visão do mercado sobre a robustez das mesmas.
J&Cia – Como preparar os públicos interno e externo para as mudanças trazidas pela inteligência artificial?
Almeida – A Unisys tem uma rede global para incluir seus funcionários no uso de novas tecnologias. Em diversos países, temos categorias de funcionários home based e home office. Portanto, o uso de inovações faz-se indispensável em nossas ferramentas do dia a dia. Fazemos o mesmo com a comunicação externa com públicos de interesse, como jornalistas, analistas de mercado, governo, parceiros e outras entidades representativas para nosso setor. Acabamos de lançar uma plataforma de comunicação digital chamada UniversoUnisys, que traz uma comunicação bem integrada sobre os novos atributos e inovações incorporados em nossa marca, renovada às mudanças do mercado, com o objetivo de comunicar em nossas redes e plataformas digitais o novo momento de mercado da Unisys.
J&Cia – Qual é o papel da imprensa nesse cenário?
Almeida – A Unisys tem uma relação muito próxima com a imprensa, principalmente com a mídia especializada em tecnologia da informação e negócios. Como fornecedora de soluções e serviços que auxiliam na implementação de IA, mantemos uma comunicação ativa sobre as novas soluções que oferecemos ao mercado e até mesmo análises comportamentais de interesse geral. Recentemente, lançamos a primeira edição do estudo The New Digital Workplace Divide – transformação digital no ambiente de trabalho, que traz um cenário sobre uso de tecnologia nas empresas, qual o impacto disso na produtividade dos funcionários e na retenção de talentos e quais tecnologias emergentes devem revolucionar o local de trabalho nos próximos anos. A imprensa tem papel de desmistificar essas novas tecnologias, mostrando que benefícios elas podem trazer para o negócio das organizações e de que forma elas devem impactar o futuro do trabalho. Já temos visto bastante conteúdo relevante sobre o tema, principalmente em veículos especializados, com material sobre pesquisas, artigos de opinião e tendências, mas ainda há espaço para o assunto ser mais bem explorado na mídia nacional.
J&Cia – Como fazer para ter bons resultados com a inteligência artificial?
Almeida – Muitas empresas investiram recursos significativos e frustraram-se com os resultados dos projetos de big data e Inteligência Artificial. Isso ocorreu devido a uma preocupação maior em ter as tecnologias do momento do que em analisar os problemas de negócio que seriam resolvidos e o planejamento dos resultados esperados. A tecnologia é um meio para atingir os objetivos da empresa e não o fim, e infelizmente isso ainda é a maior causa de insucesso dos projetos de tecnologias disruptivas.
IA em português brasileiro
Criada em 2014, a Stilingue desenvolve seu sistema de inteligência artificial para as particularidades do português brasileiro. A empresa aplica aprendizado de máquina e processamento de linguagem natural a áreas como monitoramento de redes sociais e imprensa digital e serviços de atendimento ao cliente por canais digitais. Rodrigo Helcer, CEO da Stilingue, conversou com o J&Cia sobre os impactos da tecnologia.
Jornalistas&Cia – Qual é o principal desafio do uso de inteligência artificial no Brasil?
Rodrigo Helcer – A inteligência artificial da Stilingue está, nesse mar de novidades, focada em incluir o Brasil no cenário (mais que competitivo) de IA. O desafio é o de fazer o computador ler e interpretar texto e imagens, sendo que para isso ele precisa entender nossa linguagem – gírias, jargões, neologismos, estrutura linguística e símbolos. Por exemplo: basta ir num tradutor online feito para o inglês e pedir para traduzir algo como “Pessu! é nois no jornal e cia!”. Ou ver se o algoritmo mais sofisticado de visão computacional detecta numa foto um objeto como acarajé. Hoje temos orgulho em compartilhar que criamos, made in Ouro Preto, uma inteligência capaz de analisar milhões de posts de redes sociais, notícias, blogs e reviews e ao vivo resumir o que há de riscos, oportunidades e tendências nesse mar de informação. Nossa tecnologia é já utilizada por grandes empresas como BRF, BR Malls, Dasa, Hypera (Hypermarcas), Mercado Livre, Red Bull e outras, pelos times de marketing, atendimento ao cliente e comunicação corporativa. As soluções da Stilingue também são usadas por 90% das 25 maiores agências de relações públicas e 60% das maiores agências de publicidade.
J&Cia – Como foi o processo de desenvolvimento da tecnologia?
Helcer – Ao iniciarmos o negócio, decidimos que investiríamos ao menos seis meses em duas frentes de estudo: uma para entender o mercado e oportunidades de negócio (apelidamos de scan de mercado) e outra para fazer deep dive na engenharia e tecnologia. No scan de mercado, analisamos questões como tamanho das diferentes oportunidades, saturação/concorrência em cada oportunidade, porte dos players atuantes, benchmarks internacionais, tendências etc. No deep dive, analisamos questões como prós e contras das diferentes arquiteturas, linguagens, recursos de infraestrutura e banco de dados e, sine qua non tratando-se de IA, pesquisas acadêmicas.
Depois desses seis meses, começamos a prototipar nossas teses. E a validá-las com clientes. Nosso primeiro protótipo para valer foi há exatos quatro anos, durante as eleições presidenciais de 2014. O protótipo foi ganhando, ao longo de 12 meses, mais musculatura, novas funcionalidades, tecnologias mais eficientes, até virar nossa primeira versão comercial. Nesse processo, somos muito gratos a empresas que confiaram em nosso potencial e adotaram o risco conosco. Retribuímos na sequência com diversas regalias em serviço, preço reduzido e prioridade na opinião de evolução do software. De lá para cá, estamos constantemente reavaliando nosso arsenal tecnológico e fornecedores. Temos um tempo do time dedicado a pesquisar e pilotar essas novidades, antes de decisões que envolvam comprometer um grande orçamento ou mudanças estruturais no software.
J&Cia – Como vocês estruturam sua comunicação interna?
Helcer – Os colaboradores da Stilingue são encorajados a compartilhar novidades e movimentos entre si usando canais oficiais e colaborativos de comunicação (chat, grupos de e-mail, convenções etc.). O departamento de recursos humanos estimula essa troca por ser uma competência valorizada pela empresa. Dois times são tratados com atenção diferenciada: o que cuida do produto (áreas produto e engenharia) e do cliente (vendas, customer success e help desk). O time de produtos e engenharia tem a responsabilidade de ir fundo em questões técnicas, na busca por novidades e em movimentos de mercado. E eles têm a missão de compartilhar, educar a empresa nesses pontos e no que produzem. O time responsável pelos clientes recebe a maior atenção de educação e treinamentos. Seus integrantes, acima de quaisquer outros colaboradores, precisam conhecer bem nossos mercado, produto e tendências. Aqui, o time de produto tem a responsabilidade de preparar muito bem esse pessoal. No que chamamos de sales enablement ou, carinhosamente, de producation (educação de produto).
Helcer – Os primeiros a serem informados são os beta testers e patrocinadores, que disponibilizam tempo e/ou investimento para orientar e testar nossas novidades. Com lançamentos maduros, nossos clientes têm avant-première. E depois abrimos para o terceiro público, de prospects. Nessa comunicação com os três públicos, atuam juntos os times de produto, relacionamento com cliente e agência de relações públicas. Com esses processo e nível de organização, acredito que transpareça já a importância que vemos e damos para a comunicação aos nossos diversos públicos. Entendemos que não adianta nada inovar se não dermos visibilidade ao que construímos. E reforço que é um constante desafio de tempo, atenção e investimento.
J&Cia – Qual é a sua opinião sobre a cobertura do tema inteligência artificial pela imprensa?
Helcer – Os veículos tradicionais, em sua versão original ou já digital, carregam parte importante da credibilidade do nosso mercado, principalmente quando o cliente é corporativo (CMO, CIO, CXO). Como caso positivo, vejo que a imprensa tem coberto bem o assunto fake news na sua intersecção com tecnologia. Tem dado voz a atores sérios, a acadêmicos, em profundidade, como o tema exige. Mas acho que pode melhorar em dois aspectos. Em profundidade em relação à cobertura de IA no geral. Em desmistificar a aura “mágica” da tecnologia com uma visão mais realista e científica do que a tecnologia hoje está de fato apta a entregar, diferenciando o que é promessa versus pesquisa versus protótipo versus solução final de fato. E aliviando o “perigo apocalíptico” desse mercado. Há estudos sérios, por exemplo, no Massachusetts Institute of Technology (MIT), mostrando que muito do que se prega como fim do mundo não confere com a opinião acadêmica que estuda a fundo o assunto.
J&Cia – E qual é o outro aspecto?
Helcer – É o apoio e destaque às iniciativas nacionais. Sou suspeito para dizer isso (obviamente é algo do nosso interesse), mas acho importante reforçar. O Brasil será destaque em IA se começar a destacar as iniciativas nacionais nesse território. E há muito mérito em terras brasileiras, principalmente na academia, que tem feito muito com muito poucos recursos e pouco apoio de governo e iniciativa privada.
J&Cia – Quais aspectos da inteligência artificial têm pouca visibilidade hoje?
Helcer – Muito se fala de machine learning (aprendizado de máquina) e seus feitos. Mas quanto se fala do machine teaching (treinamento dos sistemas de inteligência artificial)? É no teaching que temos no Brasil o maior desafio, é aí que estão as questões éticas e em que deve estar a maior preocupação e dedicação das empresas em aplicar IA. Além disso, tenho visto muito destaque sobre IA e tecnologia em torno do termo customer experience e marketing de influência. Mas pouco destaque para um assunto que engloba tanto consumidor quanto influenciadores: as comunidades. É no entendimento das comunidades que teremos as principais novidades nos próximos anos, desde mudanças nas redes sociais (como já anunciaram nas últimas semanas) até na tecnologia, atendimento ao cliente e IA. Muita informação aqui ainda não é analisada e nem considerada na tomada de decisão.
J&Cia – Como a comunicação pode usar a inteligência artificial?
Helcer – Pensando especificamente no jornalismo, vejo que há oportunidades incríveis para aplicação de IA. Algumas, de início, geram estranhamento – como a redação automática de artigos. Outras oferecem precisão inédita na escolha de pautas, furos e grades. Essas tecnologias podem, no médio prazo, trazer economia de tempo e ganho de produtividade em notícias de estrutura básica para que o jornalista tenha uma pressão minimamente menor de resultados, a fim de reconquistar os velhos tempos de melhores estudos, checagem e dedicação ao conteúdo.
Tutor automático
A Saint Paul Escola de Negócios desenvolveu, em parceria com a Stefanini Scala, o primeiro tutor do mundo baseado em inteligência artificial. O estudante pode esclarecer dúvidas com o tutor virtual Paul a qualquer hora do dia e em qualquer lugar. O sistema é treinado pelos professores para que as respostas tenham como base os conteúdos ensinados.
O projeto começou há pouco mais de um ano. O primeiro curso a contar com o tutor virtual foi Contabilidade, seguido por Inovação e Criatividade. Os próximos da lista são Administração e Demonstrativos financeiros. A meta é que a ferramenta esteja disponível para mais de 20 mil alunos, chegando a mais de 100 cursos em três anos.
A partir da tecnologia Watson, da IBM, a Stefanini Scala desenvolveu o chat pelo qual o aluno interage com o Paul. Além de tirar dúvidas sobre conteúdo, a plataforma permite que o aluno acompanhe sua evolução no curso e compartilhe suas experiências numa rede social exclusiva para estudantes.
Análise e compreensão de dados
Criada em 2010, a Semantix é uma empresa brasileira que fornece plataformas de big data e inteligência artificial, para apoiar a tomada de decisão de seus clientes, com o objetivo de elevar o crescimento, rentabilidade e satisfação do cliente. A empresa recebeu, no ano passado, investimento do Bradesco, por meio do Fundo FIP InovaBra I. A seguir, os principais trechos da entrevista com Leonardo Dias, cofundador da Semantix.
Jornalistas&Cia – Como vocês utilizam a inteligência artificial?
Leonardo Dias – A Semantix nasceu com esse nome porque semântica significa compreensão. Utilizamos algoritmos de inteligência artificial para ir além da simples análise dos dados, para chegar a uma compreensão automatizada deles. Um exemplo que podemos dar é a detecção de fraude em sistemas de cobrança de cartão de crédito. Com o histórico de transações que foram fraude, temos condições de criar algoritmos que aprendem com esses dados. Aí, dada uma nova transação, é possível prever qual a probabilidade de ela ser uma fraude. Compreender os dados não é mais tarefa apenas de analistas. O volume de informações e metadados associados a transações tornaria impossível para um analista afirmar que uma determinada variável, entre centenas, possa apontar uma fraude. Porém, os algoritmos conseguem lidar com grandes volumes de informação, permitindo que o sistema aprenda com mais inteligência e rapidez do que analistas. Por isso falamos em inteligência artificial, que é muito diferente de conhecimento artificial.
J&Cia – Em que sentido?
Dias – É preciso deixar claro que a inteligência só é possível por meio de dados e métricas viáveis, enquanto o conhecimento só é possível com experiência e estudo. Os futuros sistemas de inteligência artificial dependerão cada vez mais do conhecimento humano acumulado. E é o conhecimento humano que vai alimentar sistemas em áreas em que ainda não existe essa inovação. Daí a necessidade constante de aproveitamento do conhecimento acumulado para gerar valor e compreensão real dos dados, além de predições inteligentes.
J&Cia – Como foi o desenvolvimento dos sistemas?
Dias – O estudo e o levantamento que fizemos levaram em consideração o que o mercado estava adotando. A Semantix começou desde cedo a adotar tecnologias inovadoras, como Solr, Lucene, Elastic, Hadoop e Spark. Mas essa adoção não foi por acaso. Vimos, na época, que essas tecnologias já estavam sendo usadas em larga escala, especialmente nas empresas de internet que tinham volumes de dados gigantescos. Além disso, percebemos que as tecnologias mais tradicionais de dados já não conseguiam escalar da mesma maneira que as mais modernas. Então, a decisão foi na direção de adotá-las para poder prestar o melhor serviço possível, no Brasil e na América Latina.
J&Cia – Como fica o fator humano, diante de tantas tecnologias emergentes?
Dias – Novas tecnologias sempre requerem estudo. Então, não adianta apenas informar funcionários. É preciso capacitá-los. A Semantix investe em capacitação dos funcionários em novas tecnologias junto a parceiros tecnológicos, levando muitos de nossos profissionais para estudar no exterior, se for preciso, para adquirir conhecimento. Esse esforço e o gosto pelo conhecimento estão no DNA da empresa, que sempre teve, em seus cofundadores, a ideia de estimular o autodidatismo e o estudo contínuo de novas técnicas e tecnologias por parte de todos. E esse DNA de informação e conhecimento é transmitido para todos os funcionários da empresa, bem como parceiros, colaboradores e clientes.
J&Cia – A imprensa tem acompanhado esse processo?
Dias – A imprensa tradicional vem tentando acompanhar as práticas e inovações que vêm surgindo, porém só o fazem quando há uma adoção maior dessas tecnologias. A imprensa tradicional, no geral, não é early adopter, sobretudo de soluções corporativas. Um tema curioso é o do big data. A Semantix vem trabalhando desde 2010, ou seja, desde a sua fundação, com big data. Porém, só vimos matérias sobre o assunto na grande imprensa brasileira a partir de 2015. Diante disso, o que pode ser melhorado, com certeza, é a postura de buscar as novidades fora do mundo corporativo já tradicional. Há muitas startups apostando em novas técnicas e novas soluções que precisam ser mais bem conhecidas. Além disso, ajudar na validação desses produtos, a divulgação de novidades, gera um frescor extremamente necessário para o sisudo mercado corporativo. É preciso trazer para o Brasil o clima de inovação de outros lugares, como do Vale do Silício. E isso não se faz sem também maior colaboração da mídia no sentido de educar as pessoas sobre big data, internet das coisas, inteligência artificial e processamento de linguagem natural. Há muitas novidades chegando e muitas delas terão manchetes valiosas para o futuro.
Recrutamento e seleção
A inteligência artificial foi destaque no estudo Global Recruiting Trends 2018, do LinkedIn. A pesquisa apontou que dois terços dos entrevistados consideram que a tecnologia terá impacto de pelo menos alguma importância na contratação de pessoas.
Além de tornar mais rápido o trabalho dos recrutadores, a IA deve ajudá-los a perceber coisas que não conseguiriam sozinhos. As principais aplicações identificadas pela pesquisa são descobrir candidatos (58%) e fazer a triagem deles (56%).
Os principais benefícios são economia de tempo (67%), remoção do viés humano (43%), obtenção de candidatos mais adequados às vagas (31%) e economia de dinheiro, reduzindo o número de recrutadores (30%).
Os profissionais não acreditam que serão substituídos pela tecnologia, pois ela só consegue automatizar parte das atividades de recrutamento e seleção. Entre os casos destacados pelo estudo está o da Intuit, que reduziu de 62 para 30 dias o processo de contratação ao adotar um sistema que faz pré-seleção dos candidatos.
No Brasil, 38% dos entrevistados afirmaram que a inteligência artificial é uma das principais tendências que vão afetar a atividade de recrutamento e seleção. No mundo, a média é de 35%.
Predições e insights em saúde
Controlador da Amil, Americas Serviços Médicos e Optum, o UnitedHealth Group Brasil tem aplicado a inteligência artificial a várias áreas de suas operações. Leonardo Almeida, CIO da companhia, e Leandro Conti, diretor de Marketing e Comunicação, conversaram sobre o tema com o J&Cia.
Jornalistas&Cia – Como o UnitedHealth Group tem aplicado a inteligência artificial?
Leonardo Almeida – Se pensarmos em inteligência artificial como um ramo da ciência da computação que se propõe a elaborar dispositivos que simulem a capacidade humana de raciocinar, perceber, tomar decisões e resolver problemas, podemos citar algumas iniciativas do UnitedHealth Group Brasil que colaboram nesse sentido. O big data tem sido utilizado pelo grupo para a análise avançada de dados que dão suporte às decisões administrativas e assistenciais. Por meio dele, identificamos os beneficiários com maior potencial de adesão a iniciativas de gestão de saúde; os clientes que mais fazem uso do sistema e as razões que os levam a isso; e o caminho percorrido por um cliente insatisfeito, entre outras informações que nos ajudam na tomada de decisões.
Na área clínica, temos um projeto de processamento de linguagem natural que analisa os dados carregados pelos médicos que usam o sistema da Amil para atualização do prontuário do paciente. A ferramenta faz uma leitura inteligente das anotações, que vão desde observações clínicas a resultados de exames, e interpreta os dados, sinalizando prováveis relações com doenças específicas. Em seguida, essas informações são salvas num grande banco de dados, o Clinical Data Warehouse (CDW), para posterior atuação dos cientistas de dados. O objetivo é gerar insights para a gestão médica.
No campo da gestão de saúde populacional, utilizamos a inteligência artificial para ajudar a prever a progressão de doenças crônicas em determinados pacientes. Esse processo envolve a identificação, a estratificação e a análise de populações de clientes da Amil, além de subsidiar ações estratégicas de cuidados. Vale ressaltar ainda o sistema de gestão inteligente de leitos, por meio do qual é possível otimizar o processo de ocupação pelos pacientes internados, considerando variáveis como agendamento, necessidade dos médicos, tipo de cirurgia, deslocamento do paciente até o hospital e até tempo de higienização e liberação do leito.
J&Cia – Como é a capacitação dos funcionários para o uso desses sistemas?
Almeida – A inteligência artificial trabalha com cognição e tem a proposta de realizar predições e insights. Todos os colaboradores envolvidos nesse trabalho precisaram passar por capacitação sobre os novos conceitos e o uso do sistema. Para isso, uma consultoria foi contratada. Os outros colaboradores também podem participar do processo de inovação, por meio de iniciativas que incentivem o compartilhamento de ideias. Uma dessas ações é o desafio da inovação, realizado anualmente com todos os funcionários do grupo, que podem contribuir com sugestões para aprimorar processos, produtos e serviços da companhia. As ideias passam por uma eleição e os projetos escolhidos são implementados. No último ano, um dos projetos selecionados, que atualmente está em desenvolvimento, sugeriu o uso de inteligência artificial para identificar clientes propensos a pagarem suas faturas com débito automático.
J&Cia – A tecnologia está sendo usada na comunicação?
Leandro Conti – A inteligência artificial está sendo utilizada de forma mais consistente nos processos assistenciais. A área de comunicação tem um papel estratégico na disseminação da mensagem de como essas inovações agregam valor aos nossos diversos stakeholders, desde colaboradores até pacientes e beneficiários. Como multinacional com ações listadas em bolsa, o UnitedHealth Group realiza reuniões periódicas com investidores, em que são reportados os principais investimentos da companhia, incluindo aqueles direcionados para tecnologia e inovação. No Brasil, temos canais de divulgação para diversos públicos. Clientes, pacientes de hospitais, corretores, médicos e outros prestadores de serviços contam com aplicativos e sites específicos e também recebem e-mail marketing e newsletters sobre serviços e dicas de saúde. Os colaboradores também podem acessar as notícias do grupo no The Hub, disponível tanto no formato de intranet quanto nos de aplicativo e TV corporativa.
J&Cia – Em sua opinião, como tem sido a cobertura do tema pela imprensa?
Conti – Para nós, do UnitedHealth Group Brasil, a tecnologia e a inovação contribuem para a missão do grupo de ajudar as pessoas a viverem de forma mais saudável e contribuir para que o sistema de saúde funcione melhor para todos. E a imprensa, de forma geral, é fundamental para ampliar a exposição das tecnologias que estão sendo adotadas pelas empresas. Isso se dá com a produção de conteúdos analíticos, de publicações especializadas e de reportagens mais aprofundadas. Em termos do que pode ser melhorado, acreditamos que é possível explorar mais, a partir de uma perspectiva positiva, cases que ilustram o funcionamento e os benefícios das tecnologias para a população em geral.
Videoaulas com legenda automática
A Microsoft e o Grupo Unip-Objetivo desenvolveram um sistema, baseado em inteligência artificial, que faz buscas no conteúdo de videoaulas e gera legendas automáticas em seis idiomas. A solução tem como base a Cortana Ingelligence Suite, que roda na plataforma de nuvem Azure, da Microsoft.
O sistema indexa automaticamente o conteúdo dos vídeos. Quando o aluno quiser encontrar um trecho específico de vídeo, só precisa buscar por um determinado termo e acessar diretamente o trecho de interesse. Além de dar mais agilidade às pesquisas, o sistema garante a acessibilidade de alunos com deficiência auditiva.
Os vídeos são oferecidos na plataforma de ensino online do Objetivo, chamada Conteúdo Online, disponível para quase um milhão de estudantes.
Menos risco, mais segurança
O PayPal, plataforma de pagamentos digitais, adotou soluções de inteligência artificial em áreas como gerenciamento de risco e atendimento a clientes. “Ao aplicar aprendizado de máquina aos dados, melhoramos o gerenciamento de risco e a segurança de todo o sistema”, explicou Eduardo Linhares, diretor de Produtos do PayPal América Latina. A seguir, os principais trechos da entrevista.
Jornalistas&Cia – Qual é a importância da inteligência artificial para o sistema financeiro?
Eduardo Linhares – O dinheiro, como o conhecemos, está com os dias contados. Assim como sua versão de plástico. É questão de tempo até que todo o sistema de pagamentos e recebimentos torne-se 100% digital – e mais, do que isso, 100% móvel. Por isso, a discussão sobre inteligência artificial e aprendizado de máquina é tão importante. Cada vez mais estaremos imersos em sistemas capazes de antecipar cenários de fraude online, fundamentais para que esse mercado se fortaleça e passe a incluir todos os cidadãos no sistema financeiro. Esta, diga-se, é uma de nossas principais metas em nível global: democratizar os serviços financeiros, facilitando a inclusão dos chamados desbancarizados no mercado global. Trabalhamos todos os dias nesse sentido.
J&Cia – Como o PayPal tem usado essa tecnologia?
Linhares – Esse é um tema que, definitivamente, tomou conta das nossas vidas. E, para fazer o melhor com toda a informação que temos ao nosso redor, sempre analisamos como podemos mecanizar os insights a partir desses dados. Por isso usamos aprendizado de máquina e inteligência artificial para aumentar a escala desses insights. Ao aplicar aprendizado de máquina aos dados, melhoramos o gerenciamento de risco e a segurança de todo o sistema. Um exemplo prático: desenvolvemos um bate-papo de atendimento ao cliente no qual ele interage com um aplicativo de mensagens e pode obter reembolsos ou resolver disputas com vendedores (tudo com total privacidade). O sistema é inteligente o suficiente para ajudar a resolver essas questões sem que o cliente precise esperar por uma ligação de nossa central de atendimento. Não há substituto para o contato humano, claro, mas isso nos ajuda a ser mais eficientes e a resolver problemas mais rapidamente.
J&Cia – Como essa tecnologia se aplica ao gerenciamento de riscos?
Linhares – Temos um dos melhores sistemas antifraude do mundo, no qual cada transação é segura para todas as partes envolvidas. Ele leva em conta diversos fatores de dados – onde a compra está acontecendo, o contexto da transação, a reputação do vendedor e do comprador, por exemplo – e, em seguida, determina se aquela transação é segura ou não. Se parece fraudulenta, o sistema a impede. No nosso setor, ataques contra a segurança são um fator crítico. Por isso investimos em algoritmos de aprendizado de máquina, cuja missão é examinar todos os aspectos da infraestrutura e da transação, para detectar possíveis problemas o mais rápido possível e até mesmo antes que eles aconteçam, antecipando certos cenários. No passado, ataques cibernéticos eram coisa de hackers amadores. Agora é trabalho de profissionais, altamente complexo. Somente com investimento em inteligência artificial é possível lidar com esse tipo de ameaça.
Análise de poços de petróleo
O laboratório brasileiro da IBM Research e a Petrogal Brasil, subsidiária da portuguesa Galp, aplicaram inteligência artificial à identificação e avaliação de poços exploratórios de petróleo e à interpretação de imagens sísmicas. No mundo, o consumo energético deve aumentar 50% nos próximos 25 anos.
O protótipo faz análise de imagens, numa aplicação similar à área médica. Segundo a IBM, profissionais que trabalham com exploração de petróleo e gás dedicam pelo menos 50% de seu tempo à análise de imagens.
O objetivo do protótipo é ajudar os profissionais a desenvolverem modelos geológicos aprimorados; avaliarem riscos de forma mais rápida e eficiente para novos poços de exploração; e otimizarem a construção de novos poços de petróleo.
Baseado em aprendizado de máquina, o sistema aprende com a inserção de dados novos e com a interação dos usuários. Ele consegue examinar um grande conjunto de dados sísmicos tridimensionais e identificar estruturas geológicas que possam suportar petróleo e gás. O protótipo está em fase de testes em bacias brasileiras.
Veículos autônomos no campo
A inteligência artificial vem ocupando lugar de destaque no mercado de equipamentos agrícolas. Para manter a produtividade e a competitividade mundial, a agricultura brasileira adota intensivamente novas tecnologias. Sérgio Soares, diretor de desenvolvimento de produto e engenharia agrícola da CNH Industrial para a América Latina, conversou com J&Cia sobre como a inteligência artificial apoia a previsão de demanda e o controle de processos e qualidade.
Jornalistas&Cia – Qual é a importância da inteligência artificial para a CNH Industrial?
Sérgio Soares – Trabalhamos com a inteligência artificial em diferentes iniciativas e de várias formas, que vão de melhorias dos processos internos até o desenvolvimento de novos produtos ou aplicativos. Dentro dos conceitos de Manufatura 4.0, a inteligência artificial é empregada para melhorar a previsão de demanda, o controle de processos e a qualidade. Já nos produtos, a tecnologia é utilizada para automatização dos equipamentos. Isso se inicia pela configuração automática dos parâmetros das máquinas, que dependem das condições de velocidade, terreno e meio ambiente, e vai até o desenvolvimento de uma máquina autônoma, capaz de tomar decisões frente às condições e aos obstáculos que encontra.
J&Cia – Quais são os benefícios da adoção da tecnologia?
Soares – Esses recursos têm impacto direto no desempenho operacional da empresa, com redução do risco de acidentes, erros, retrabalhos e fadiga humana, entre outros. E, mais importante que tudo isso: têm reflexo no desempenho da operação dos nossos clientes, com ganhos de produtividade e melhoria da sustentabilidade. Nosso foco e desafios como empresa de bens de capital é diminuir as perdas e com isso aumentar a lucratividade dos nossos clientes. Nesse cenário, as tecnologias de inteligência artificial são ferramentas essenciais para o futuro das operações, pois garantem a competitividade não só da CNH Industrial, mas também de toda a cadeia (clientes, fornecedores e parceiros).
J&Cia – O trator autônomo já é realidade?
Soares – O processo para tornar os equipamentos mais autônomos envolve cinco etapas. A primeira, já superada, é a da direção, fazendo a máquina ir sozinha de um ponto a outro. A quinta seria a automatização total: um equipamento que se movimenta sozinho e gerencia o trabalho no campo sem supervisão externa. O trator autônomo lançado pela CNH Industrial, por meio da sua marca Case IH, está no quarto estágio: faz as tarefas automaticamente, mas ainda depende de um controlador humano monitorando as operações pré-programadas, mesmo de longe. Os caminhos percorridos e parâmetros utilizados podem ser supervisionados e ajustados de forma remota a qualquer momento. O conceito de autonomia em máquinas agrícolas não é projeto de um futuro distante. O modelo deve estar disponível em 2021, nos Estados Unidos, na safra de verão americana.
J&Cia – Como é o processo de desenvolvimento desse tipo de produto?
Soares – Existem várias formas de integrar os conceitos de inteligência artificial. A chave é definir o que pode ser desenvolvido internamente e o que deve ser desenvolvido com parceiros estratégicos que dominam tecnologias compatíveis e que podem se adaptar aos nossos produtos ou processos. Um bom exemplo é o projeto de veículos autônomos. Existem inúmeras tecnologias e empresas trabalhando em autonomia de veículos, portanto, o caminho correto foi buscar o desenvolvimento conjunto no que chamamos de inovação aberta. Essa forma colaborativa soma muito, pois une parceiros e a CNH Industrial. Somos especialistas na área agronômica, de construção, transporte e energia, e dominamos o entendimento de como maximizar a produtividade e lucratividade dos nossos clientes dentro dessa expertise. Essas são tecnologias e algoritmos que desenvolvemos internamente, usando nosso time multidisciplinar e antenado às novas tecnologias existentes no mercado.
J&Cia – Como é o trabalho de vocês com inovação aberta?
Soares – Buscamos e somos abertos a novas ideias. Compartilhamos informações, trocamos experiências com profissionais, instituições, empresas e organizações. Dessa forma, aumentamos a nossa eficiência e capacidade inovar. Com a Climate Corporation, da Monsanto, buscamos oferecer mais conectividade nas máquinas agrícolas para melhorar a produtividade, eficiência e rentabilidade dos nossos clientes. Com a Microsoft, vamos redefinir o mundo das máquinas e dos veículos conectados com uma nova plataforma de serviços, para aumentar a eficiência, facilitar a manutenção preventiva e aprimorar a produtividade. Com o Senai, desenvolvemos tecnologias inéditas para equipamentos de construção: reavaliação da função do chicote elétrico para desenvolvimento de tecnologia sem fio (sendo tudo gerenciado por um tablet) para melhorar a manutenção e o pós-venda, além da biometria integrada ao controle de acesso e acionamento do motor para segurança e soluções personalizadas.
J&Cia – Em sua opinião, qual é o grande desafio para o avanço da inteligência artificial?
Soares – Um ponto crítico da utilização da inteligência artificial, principalmente em ambientes externos e menos controlados, é a necessidade de regulação específica para dar segurança jurídica aos processos decisórios feitos pelo equipamento e não pelo homem. Como deve ser tratada a responsabilização em caso de falha? Quais os limites de responsabilidade de quem cria, quem adota e quem opera a tecnologia? Essas questões são importantes, pois para várias aplicações podemos ter as tecnologias prontas para implementação, mas sem a devida regulamentação elas se tornam inviáveis juridicamente, mesmo depois de serem viáveis economicamente. Para isso, precisamos de um esforço integrado entre criadores das tecnologias, entidades governamentais, especialistas dos setores e mesmo da sociedade para quebrarmos essas barreiras e podermos tirar vantagem da incrível evolução tecnológica que estamos passando.
J&Cia – Qual é o impacto de novas tecnologias, como a inteligência artificial, nos processos internos da companhia?
Soares – A adaptação é sempre um desafio em todas as organizações e setores, mas na CNH Industrial temos a vantagem da empresa ser diversa, extremamente horizontal e integrada não só em nível regional, mas também em nível global. Esse é o grande ganho de uma empresa amparada por um forte grupo mundial, há muita troca de conhecimento, experiências e boas práticas, que geram resultados muito positivos. Além disso, na América Latina, temos um ponto positivo que é o grande número de millennials, pessoas com uma capacidade enorme de adaptação a novas tecnologias.
J&Cia – Como disseminar a cultura de inovação na empresa?
Soares – A inovação faz parte da nossa cultura e dos nossos valores. Buscamos incentivar a participação dos colaboradores de todas as áreas e promovemos diferentes programas de incentivo a novas ideias, com premiação das melhores sugestões. Nessa linha, estimulamos também os fornecedores a apresentarem propostas, soluções diferentes e formas eficientes de entregas e de redução de custos. Todo esse trabalho foi reconhecido pelo prêmio Valor Inovação Brasil 2018, em que a CNH Industrial foi eleita a mais inovadora do no setor Automotivo e de Veículos de Grande Porte. A empresa faz grandes e importantes investimentos em pesquisa e desenvolvimento dessas tecnologias de inteligência artificial, principalmente nas áreas de desenvolvimento de produto, engenharia, manufatura e tecnologia de informação. Todos os sistemas exigem integração e envolvimento da organização como um todo, em especial aquelas que terão ligação direta com os clientes e usuários das novas tecnologias.
J&Cia – Qual é a sua visão sobre a maneira como o tema inteligência artificial é abordado pela imprensa?
Soares – Os veículos de comunicação têm o papel fundamental de levar as informações sobre como as empresas têm aproveitado e utilizado a inteligência artificial, além de outros fatos inovadores. Os recursos visuais muitas vezes conseguem traduzir esses dados de forma didática, além de possibilitarem que um maior número de pessoas tenha acesso e entendimento sobre o assunto. O grande desafio é que os jornalistas não sucumbam ao alto número de informações que esses assuntos, como a inteligência artificial, podem gerar, resultando na apuração inadequada de uma pauta. Também consideramos que esses temas são bastante novos para toda a sociedade e que estamos aprendendo a lidar com eles, ao mesmo tempo que a imprensa. É uma longa caminhada e precisamos nos ajudar mutuamente pelo bem comum de traduzir todas essas inovações para o maior número possível de pessoas, em todos os extratos sociais, com mensagens adequadas em forma e conteúdo.
Automóvel com manual cognitivo
A Volkswagen lançou, no começo deste ano, o Virtus, primeiro carro no Brasil a adotar a inteligência artificial para ajudar os motoristas. O aplicativo Meu Volkswagen abrange todo o conteúdo do manual do veículo e responde a questões sobre o automóvel, em português e espanhol. Ele também consegue responder às perguntas mais frequentes feitas à Central de Relacionamento com o Cliente (CRC) da Volkswagen Brasil, mesmo quando as informações não estão disponíveis no manual.
Com tecnologia do Watson, da IBM, o “manual cognitivo” entende linguagem natural e aprende a partir das interações com o motorista. As consultas podem ser escritas, faladas ou por fotografia. O usuário pode perguntar, por exemplo, como conectar o smartphone ao sistema de entretenimento ou como instalar cadeirinha para transporte de crianças.
O usuário precisa baixar o aplicativo, em versão iOS (Apple) ou Android (Google), e registrar uma identificação Volkswagen. Segundo a fabricante, o sistema reconhece sotaques, aprendendo com as interações, além de entender abreviações como “qd” (quando) e “vc” (você).
Quando o assistente não encontra a resposta, ele encaminha a questão para a Central de Relacionamento com o Cliente. Mesmo com o aplicativo, o manual impresso continua a ser oferecido.
Grupo Dasa faz parceria com Harvard por medicina diagóstica
Saída dos filmes de ficção científica, a inteligência artificial adentra a realidade da medicina diagnóstica por meio de uma parceria internacional entre o Grupo Dasa e a Universidade de Harvard. O acordo propõe o uso de recursos computacionais e conhecimento de inteligência artificial para desenvolver algoritmos que serão capazes de analisar ressonâncias magnéticas para determinar, em tempo real, a existência e o nível de gravidade de determinadas doenças. O Grupo Dasa é o único brasileiro a integrar o programa.
No piloto, que está em andamento desde o final de 2016, estão sendo gerados algoritmos a partir da análise de ressonâncias magnéticas de cérebro e próstata. Para as de cérebro, a parceria aposta no conceito de machine learning para desenvolver algoritmos que devem determinar, em tempo real, o potencial risco e gravidade de determinada doença cerebral. O objetivo é garantir que exames que requeiram análise por profissional especializado, o neurorradiologista, sejam efetivamente encaminhados para que esse profissional emita laudos ainda mais assertivos, otimizando o tempo do médico e do paciente.
Concomitantemente, os pesquisadores estão trabalhando no desenvolvimento de algoritmos para fundir imagens de exames de ultrassonografia e de ressonância magnética de próstata para gerar imagens tridimensionais. O objetivo é aumentar a especificidade das estratégias de rastreamento. O câncer de próstata é o tumor mais prevalente em homens brasileiros, com 68 mil novos casos esperados para 2018, segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca).
Pela parceria, a Dasa adotará o Preferred Healthcare System (PHS), um dos principais sistemas de saúde da América do Norte e ferramenta pioneira em inteligência artificial médica, por meio do Center for Clinical Data Science (CCDS), grupo multicêntrico que reúne médicos, cientistas e pesquisadores. Dentre as instituições parceiras do CCDS despontam também Brigham and Women’s Hospital e Massachusetts General Hospital.
Como um dos principais atores da indústria da saúde e de soluções de diagnóstico na América Latina, a Dasa prevê nessa parceria uma oportunidade para impulsionar ainda mais sua visão e prática em inovação médica. Ao todo, os laboratórios do Grupo realizam mais de 200 milhões de exames por ano, incluindo patologia clínica, radiologia, patologia molecular e genômica. Esse grande volume de exames permitirá ampliar o cruzamento de informações e a solidez da inteligência artificial em torno dos projetos da empresa. Os resultados da parceria ficarão à disposição dos profissionais de saúde da Dasa em toda a América do Sul.
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