Luciano Hang
Luciano Hang, dono da Havan, moveu 36 ações contra jornalistas, veículos e críticos, mostra levantamento da Abraji

Alvo de operação da Polícia Federal em inquérito contra fake news e na mira da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) por possíveis práticas como agiotagem, lavagem de dinheiro, contrabando, evasão de divisas e sonegação, o empresário Luciano Hang, dono da rede varejista Havan, moveu ao menos 36 processos judiciais contra a imprensa, críticos e opositores, entre 2013 e 2021.

Segundo levantamento da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), os principais afetados são jornalistas e veículos de comunicação, totalizando 23 ações. Somados, os processos por danos morais pedem um total de R$ 6,2 milhões em indenizações. Dentre as ações mapeadas, há também pedidos de remoção de conteúdo. Além disso, em nove processos, a Havan aparece como autora ao lado de Hang.

Parte das informações foi levantada pela defesa do jornalista Denis Burgierman, editor-chefe do programa Greg News, de Gregório Duvivier, e um dos alvos de Hang, e elas tiveram como objetivo demonstrar que o empresário tem um comportamento sistemático de tentar silenciar vozes críticas.

Repórter especial e colunista da Folha de S.Paulo, Patricia Campos Mello também é um dos alvos do empresário. O motivo foi a reportagem publicada em 18 de outubro de 2018 que revelou que empresas teriam comprado pacotes de disparos em massa de mensagens no WhatsApp, durante as eleições daquele ano.

As mensagens tinham conteúdo contrário ao PT, partido que disputou o segundo turno das eleições com Bolsonaro, e a Havan estaria entre as compradoras dos pacotes que previam centenas de milhões de disparos de mensagens. A denúncia chegou, em 2020, à CPMI das Fake News, o que levou a jornalista da Folha a também ser atacada pelo presidente Jair Bolsonaro e seu filho, o deputado federal Eduaro Bolsonaro.

No processo movido contra a Folha de S.Paulo e Patricia Campos Mello, Hang pede indenização de R$ 2 milhões.

Miriam Leitão e O Globo foram processados devido a reportagens que mostraram a coação, por parte de Hang, para que funcionários da Havan votassem em Jair Bolsonaro para presidente em 2018. Da mesma forma, o portal Brasil 247 e o jornalista Luis Nassif, do jornal GGN, foram processados por Hang por abordarem o assunto nos respectivos portais.

A reportagem do Brasil 247 foi retirada do ar por determinação judicial. No caso de Nassif, a decisão na justiça foi em favor do jornalista. Apesar de a matéria intitulada O que está por trás do terrorismo eleitoral do dono da Havan não contar com a assinatura de Nassif, a ação foi movida contra o responsável pelo site, e pedia que ele pagasse indenização por danos morais.

Para Nassif, trata-se do típico lawfare, ou seja, o uso da lei como instrumento de combate a opositores. “Hang tem dinheiro. Para ele, é peanuts [custo ínfimo] abrir um processo. Por outro lado, quem publica precisa contratar advogado e perder tempo se defendendo”, disse o jornalista à Abraji.

Luciano Hang ganhou projeção nacional durante as eleições presidenciais de 2018, que culminaram na vitória de Jair Bolsonaro (sem partido). O empresário foi um dos maiores apoiadores do então candidato à Presidência pelo Partido Social Liberal (PSL). A grande maioria dos processos foi iniciada justamente a partir de outubro de 2018, mês das eleições. Em comum, o empresário e o presidente da República demonstram intolerância à exposição de questões embaraçosas a eles relacionadas.

(Com informações da Abraji)

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