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terça-feira, abril 23, 2024

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A capa da discórdia

As manifestações ocorridas no Rio no Dia dos Professores (15/10), seguidas de depredações por um grupo que se juntou ao protesto, terminaram com a prisão em massa daqueles que permaneceram no local, tivessem ou não ligação com o quebra-quebra. No dia seguinte, O Globo estampou na primeira página a manchete: “Lei mais dura leva 70 vândalos para presídios”. Como nos meses anteriores – já que a situação não é nova – muito se discutiu por que chamar de vândalos àqueles que, em notícias sobre outros países onde havia conflitos, eram nomeados como rebeldes, manifestantes e termos semelhantes. Desta vez, O Globo caiu na armadilha gramatical. E o troco veio em seguida. Ivson Alves, em seu blog Coleguinhas, uni-vos – espaço que tem como subtítulo Na rede desde 1996 –, devassou no domingo seguinte (20/10) a repercussão interna, na redação, e externa, entre os leitores. No primeiro caso, o jornal bloqueou as mensagens de repúdio à decisão editorial, e vários profissionais contestaram essa medida. A professora da UFF Sylvia Moretzsohn, em artigo no Observatório da Imprensa, analisou, nesta 3ª feira (22/10), com rigor, tanto a capa da discórdia como o mal-estar causado em parte da redação e sua repercussão na internet. E concluiu sugerindo que “o comportamento crítico de jornalistas nesse episódio que transbordou para as redes sociais” altere “a dinâmica da Redação”. Quando Rodolfo Fernandes era o diretor de Redação de O Globo, reagia indignado, por escrito, se Ivson falasse mal do jornal no Coleguinhas – o que deixava este lisonjeado pela seleta audiência. Da mesma forma que Rodolfo telefonava para Alberto Dines, na tevê, com o Observatório da Imprensa no ar, contestando algum convidado que atacasse o jornal. O estilo relativamente personalista de Rodolfo desapareceu do jornal com sua morte. Hoje a gestão do jornal tem o foco muito mais em resultados, como exige o mercado, ainda aposta na cobertura crítica e investigativa, como requer a sobrevivência do papel. E como promete a durabilidade do jornalismo, baseada na profundidade em qualquer plataforma. Assim como O Globo não hesita em bater quando vê alguma coisa errada, sabe que pode apanhar quando a situação se inverte.

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