A Artigo 19, organização que atua por direito ao acesso à informação, liberdade de expressão e manifestação lançou, neste mês de abril, a publicação Amiga, chegou? Cuidado e segurança de mulheres em protestos na América Latina. Escrito pela professora e antropóloga Rosana Pinheiro Machado, o documento traz resultados de uma pesquisa feita para identificar os principais desafios, riscos e vulnerabilidades que diferentes tipos de mulheres possuem em contextos de protestos. Aponta, também, as estratégias de cuidado que as ativistas têm desenvolvido para diminuir esses riscos.

A pesquisa qualitativa contou com a participação de várias organizações e foi realizada entre 20/8 de 2020 e 20/1 de 2021. Na primeira etapa, foi realizado um workshop com especialistas para e identificar os desafios enfrentados por mulheres em protestos. Logo depois, uma revisão bibliográfica com palavras-chave relacionadas ao tema central e, por último, entrevistas.

Foram entrevistadas ativistas argentinas, brasileiras e chilenas para que pudessem apresentar suas principais questões relacionadas à segurança no ato de se manifestar.

Uma das entrevistadas, a brasileira Amanda, 24 anos, militante autonomista, relatou que homens se sentem autorizados a bater nas mulheres que estão dentro da manifestação, principalmente nos atos feministas e pró-aborto. A brasileira diz já ter presenciado uma tentativa de atropelamento das meninas que se manifestavam, e que ela própria foi agredida e chamada de “vagabunda” por homens que tentavam tomar sua faixa.

O risco não está apenas nas ruas. O ato de chegar em casa não significa necessariamente estar segura. Muitas entrevistadas relataram desafios enfrentados dentro de casa, com familiares e, além disso, violências sofridas também dentro do ambiente virtual.

“Quando falamos de segurança das mulheres que protestam é preciso pensar para além dos atos de ir, atravessar e voltar de uma marcha, mas também refletir sobre todas as consequências – e punições sociais – que essa mulher poderá sofrer por exercer o seu direito à manifestação”, afirma o estudo. “Esse processo de retaliação, que muitas vezes corrói a subjetividade, o empoderamento e a autoestima proporcionada pelo coletivo de mulheres, ocorre simultaneamente online e off-line”.

O documento apontou ainda que a segurança das mulheres precisa ser pensada de forma holística, refletindo sobre os cuidados que envolvem o antes, o momento da manifestação, a volta pra casa e as violências que ainda seguem pós-protestos; precisa ser pensada de forma interseccional: mulheres singulares possuem demandas singulares e, por isso, a transversalidade das lutas é fundamental para que se possa tratar do tema de forma interseccional; e que a violência sexista é estrutural e as lutas também: a mais eficiente medida protetiva para mulheres que protagonizam protestos são os próprios protestos, pois é neles que, em última instância, se luta para acabar com a lógica autoritária, sexista, racista e heteronormativa.

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