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quinta-feira, abril 25, 2024

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A importância da inclusão no Jornalismo

Por Victor Félix Arakaki, de J&Cia

O jornalismo é uma das profissões mais democráticas do mundo, pois visa informar, de forma imparcial, todas as pessoas da sociedade. As informações transmitidas por meio do jornalismo devem ignorar diferenças de todos os tipos, sejam de classe social, raça, gênero, sexo, etnia ou crença. Nesse contexto, o jornalismo pode ser uma ferramenta extremamente importante para dar voz às minorias, às classes menos privilegiadas da sociedade, àqueles que “não têm voz” na grande mídia. Pela imprensa, as minorias deveriam conseguir expor suas lutas e reivindicar seus direitos.

Porém, o jornalismo traz em si uma contradição: ao mesmo tempo em que é uma das profissões mais democráticas do mundo, praticamente não adota uma política de inclusão. Além de temas sobre minorias serem ainda pouco veiculados na grande mídia, os meios utilizados para a transmissão de informações são excludentes para deficientes físicos, por exemplo. A grande maioria das videorreportagens não tem tradução em Libras. E mesmo o acesso às redações muitas vezes é precário, com ausência de rampas, elevadores e banheiros específicos para deficientes físicos. 

Em função dessa realidade, a consultoria Talento Incluir, que há 19 anos atua em programas de adesão nas empresas, está lançando o Guia do Jornalismo Inclusivo, que apresenta questões relevantes sobre o tema da inclusão dos deficientes e o jornalismo como uma importante ferramenta da causa, servindo literalmente como um guia para os jornalistas sobre como abordá-la e inseri-la nos próprios locais de trabalho. 

Carolina Ignarra

Em entrevista para este J&Cia, Carolina Ignarra, sócia-fundadora da agência, fala sobre o guia, a temática da inclusão no jornalismo e na sociedade como um todo, os principais obstáculos para o acesso às grandes redações, enfrentados diariamente pelos deficientes, bem como os caminhos para políticas amplas de inclusão.

Carolina reitera a importância de escolher as palavras certas para falar sobre o tema: “A deficiência era um tabu, algo visto como proibido, tanto que as terminologias foram mudando ao longo do tempo: portador de necessidades especiais, portador de deficiência, e na verdade essas palavras eram usadas para evitar o uso do termo ‘deficiência’. Além de termos, existem questões de imagem, ou seja, qual imagem quero passar quando escrevo uma matéria sobre o assunto”.

A consultora também falou sobre as novas interpretações estabelecidas pela ONU sobre “deficiência”. Agora, é preciso tratá-la como uma condição: “No processo de escrita, a pessoa sempre deve vir antes de sua condição. Primeiro é preciso escrever o nome, a pessoa, e sua condição vem depois. O termo ideal que deve ser utilizado é “pessoa com deficiência”. 

A ausência do tema e de discussões/debates sobre o assunto, segundo Carolina, perpetuam o preconceito e dificultam o processo de conscientização da sociedade: “Há uma cultura de inclusão que ainda não está disseminada, e isso faz com que, constantemente, existam termos como ‘deficientes’ ou ‘portadores de deficiência’ nos textos jornalísticos, que são equivocados. Nesse sentido, o jornalismo é o melhor caminho para disseminar essa cultura da inclusão”.

Sobre a falta de acessibilidade/inclusão em qualquer lugar da sociedade, incluindo as próprias redações, Carolina afirma que o meio não favorece: “A deficiência aumenta quando isso acontece. Quando chego em algum lugar e não há rampa lá, não consigo entrar, me locomover, minha independência acaba. Na ONU, houve um debate sobre essa questão. A condição das limitações está intimamente relacionada ao meio. As sociedades não sabem lidar com essas limitações”.

O guia busca conversar com os jornalistas, mostrar a eles o caminho para abordar a temática da inclusão de deficientes com mais carinho, mais delicadeza, para favorecer a imagem da pessoa com deficiência e não a desfavorecer. “Na realidade, o problema não é o que falar, mas como falar, a forma como você fala do assunto, explica Carolina.  

Além de uma discussão sobre a terminologia, o guia apresenta temas que se relacionam com a figura da pessoa com deficiência e apresenta algumas soluções para aumentar a inclusão nos locais de trabalho e na sociedade como um todo, como o uso de aplicativos especiais, ou fazer com que as próprias redações se adaptem às pessoas com deficiência e não o contrário. 

Segundo a Lei de Cotas para Deficientes e Pessoas com Deficiência (Lei Nº 8.213, de 24 de julho de 1991), empresas devem contratar pessoas com deficiência de acordo com a proporção a seguir: de 100 a 200 empregados, 2%; de 201 a 500, 3%; de 501 a 1000, 4%; mais de 1000, 5%. Porém, segundo a Secretaria do Trabalho do Ministério da Economia, o percentual nunca passou de 1%, o que comprova a urgência e importância do tema.

Carolina se diz otimista, mas admite que ainda existe um longo caminho pela frente: “É uma realidade em evolução. Algumas empresas já estão se adaptando, realizando o processo de inclusão, fornecendo a opção de home office para quem não pode se locomover com facilidade, por exemplo. Existe um avanço em números, mas o que falta mesmo é carreira, é expectativa de crescer no cargo, na profissão, pensar a longo prazo. Muitas empresas se preocupam apenas em cumprir as cotas e não permitem que o funcionário cresça. Temos exemplos muito bons; porém, quando olhamos para o mercado como um todo, percebemos que ainda estamos engatinhando”.

Confira o Guia do Jornalismo Inclusivo na íntegra.

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