Por Assis Ângelo
Ali mais pra frente do que pra trás de Grande Sertão: Veredas, Guimarães Rosa põe no livro o seu Riobaldo convencendo o cego bom Borromeu e o seu guia menino Guirigó a irem com ele para o bando que comanda. E lá vão eles.
Outros cegos aparecem nas histórias do escritor.
No conto A Benfazeja, inserido no livro Primeiras Estórias (1962), Rosa cria uma mulher, Mula-Marmela, como guia de um cego chamado Retrupé.
O cego Retrupé tem cara de mau, de matador de gente. Por essa razão é evitado o tempo todo por quem cruza o seu caminho. A sua guia também tem cara de gente que não gosta de gente. Há quem diga que ela é assassina.
A Benfazeja é um conto quase fora de rota de Guimarães Rosa. Claro, tem o seu lado fantástico.
Sei não, mas acho que Rosa trouxe de leituras antigas o personagem refeito que representava para os gregos Tirésias.
Não só Tirésias, mas na Antiguidade os cegos eram tidos como figuras especiais, capazes de prever o futuro. Foi nesse contexto que Rosa pôs Borromeu no caminho do jagunço Riobaldo.
Riobaldo via nos cegos algo como um bom amuleto.
Entre os grandes personagens criados por Rosa se acha Miguilim, um garoto muito sabido de apenas oito anos. Sofria com as agressões que o pai, Bernardo, desferia na mãe.
Miguilim tinha vários irmãos e um tio de nome Terez que vivia esticando os olhos em direção à mulher de Bernardo. Mas isso o pai de Miguilim estava longe de desconfiar. Desconfiou de um amigo, Luisaltino.
Enciumado, o suposto candidato a corno matou aquele que considerava rival. Após matar o amigo, o assassino pendurou-se num cipó e morreu.
Tragédia por tragédia, ainda adianto que um irmão de Miguilim, Dito, de quem ele muito gostava, cortou-se num caco de vidro que o levou à morte.
Miguilim tinha os olhos avariados desde nascença. Sua visão era curtíssima. Tudo que viam os seus olhos eram figuras embaçadas, irreconhecíveis. Até que um dia, bateu à porta da casa onde morava um doutor, que lhe emprestou um par de óculos. Foi uma festa. O menino saiu às carreiras feliz da vida.

A tragédia grega que tanta gente inspirou − e continua inspirando − levou o alagoano Graciliano Ramos a criar o guia de cego Paulo Honório, personagem do livro São Bernardo.
João Guimarães Rosa nasceu no dia 27 de junho de 1908. Foi cônsul e tudo mais. Falava bem um monte de línguas, umas 15.
À boca miúda, dizia que morreria logo depois de assumir a cadeira n° 2 da Academia Brasileira de Letras, ABL, por isso prorrogou enquanto pôde a sua posse.
O escritor famoso de Minas trocou de andar no dia 19 de novembro de 1967, três dias após assumir a tal cadeira.
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