Evento promovido por Jornalistas&Cia e ESPM teve como tema central o jornalismo digital e contou com exposições de diretores de UOL, Metrópoles e Poder 360
Por Arilton Batista, especial para J&Cia
O Jornalistas&Cia e a ESPM promoveram em 30/6 o quarto de sete encontros do ciclo O presente e o futuro do Jornalismo − Insights, que faz parte das iniciativas em comemoração ao 30º aniversário de J&Cia, em setembro. O tema central foi Nativos Digitais – Experiências Digitais que estão transformando e Revitalizando o Jornalismo Brasileiro. Realizado no auditório da ESPM Tech, em São Paulo, o evento reuniu diferentes gerações, com um público diverso, formado por jornalistas, professores de comunicação, estudantes e pessoas interessadas em jornalismo digital.
Moderado por Maia Fortes, diretora executiva da Associação de Jornalismo Digital (Ajor), o encontro teve exposições de Fábio Leite, diretor da sucursal de São Paulo do portal Metrópoles (que representou a diretora de Redação Lilian Tahan, impossibilitada de comparecer devido a um imprevisto); Mateus Netzel, diretor executivo do jornal digital Poder360; e Murilo Garavello, diretor de Conteúdo do portal UOL. “A gente procurou trazer aqui as experiências mais bem-sucedidas do andar de cima do jornalismo digital, onde as coisas estão acontecendo”, comentou Eduardo Ribeiro, diretor do J&Cia, ao abrir o evento.
O debate abordou subtemas importantes no universo do jornalismo digital, como o uso de inteligência artificial e seu impacto na propagação de notícias falsas, formas de levar notícias para públicos de diferentes gerações, convergência e linguagem digitais, entre outros pontos.
Fábio Leite falou sobre a importância da adaptação do conteúdo para alcançar diferentes tipos de públicos em diferentes plataformas, além dos esforços para essa adaptabilidade no dia a dia da redação no portal Metrópoles: “Nosso desafio é manter a qualidade da produção jornalística, com os conceitos básicos com que todo veículo trabalha, mas precisando entregar isso de formas diferentes, porque a linguagem em cada uma das plataformas é diferente. É pegar uma reportagem bem apurada e transformá-la em um vídeo de um minuto, ou em um short, porque é lá no YouTube ou no TikTok que essas pessoas vão saber sobre a fraude no INSS, por exemplo, e não clicando no site”.
Ele também destacou a importância de conteúdos mais leves e curtos, que geram engajamento e monetização, permitindo assim que materiais mais robustos sejam preparados: “Eu brinco que a gente precisa falar dos procedimentos estéticos da Andressa Urach, que vai gerar zilhões de cliques e dará tranquilidade para o repórter ficar nove meses levantando boletins de ocorrência sobre violência policial, para contar quantas balas foram disparadas para matar 270 pessoas; perfilar as vítimas, entender e contar algo que só o jornalista é capaz. Essas duas produções são feitas pela mesma equipe, esse é o equilíbrio diário que a gente busca”.
Mateus Netzel, elencou cinco principais desafios do jornalismo digital e pontos importantes para uma empresa ter sucesso nesse ecossistema: modelo de negócio resiliente; audiência própria; inovar em formatos e produtos que sejam funcionais; incorporar e se adaptar às novas tecnologias; e credibilidade e relevância. “É importante não cair na modinha e querer fazer grandes investimentos em coisas que atendam mais ao nosso próprio desejo de inovar do que o que o leitor precisa, do que ele vai querer consumir”, comentou.
Explicou também como o Poder360 vem utilizando a inteligência artificial em sua rotina. Segundo ele, as ferramentas de IA servem como um facilitador no processo de produção: “A gente tem usado como a maior parte das redações tem feito, que é para encurtar e otimizar os processos. Óbvio que não faremos a notícia final usando inteligência artificial, mas sim para liberar os jornalistas para fazerem as apurações, ligar e falar com fontes, pesquisar documentos, ter as ideias para produzir pautas. A gente tenta usar as novas tecnologias para liberar os jornalistas das tarefas que podem ser substituídas, como transcrição, tradução, padronização, revisão gramatical e otimização de SEO, por exemplo”.
Murilo Garavello ressaltou a necessidade e a importância de cada vez mais haver na produção jornalística formatos e conteúdos de interesses específicos, em vez de o mesmo conteúdo para todos: “Há assuntos que todo mundo vai ficar sabendo. A gente não vai parar de cobrir o presidente do Brasil, mas pode ser no formato que você gosta: a gente tem vídeo, tem áudio, texto, texto menor, tem opinião. São muitos formatos e queremos cada vez mais conseguir sermos o mais certeiros possível para engajar as pessoas”.
Garavello contou ainda sobre os mais de 190 canais que o UOL tem no WhatsApp: “Não são canais do UOL, são canais de assuntos. Por exemplo, são 5 milhões de seguidores do Flamengo. Criamos fandoms (comunidades de fãs). Então, temos mais de 300 mil seguidores da Ana Castelo, um monte do Jão, Billy Idol, Ariana Grande. Enfim, criamos comunidades para os fãs desses artistas e encontramos nichos. Os canais são um repositório de pessoas vinculadas a interesses que a gente pode ativar quando for interessante”.
O jornalista Messias Stabile, de 22 anos, que acompanhou o evento do auditório, destacou entre as explanações o tema da inteligência artificial, que está cada vez mais em evidência. Para ele, unir jornalismo com tecnologia é essencial: “Falar sobre esse universo não é fácil, porque você pode falar muito, mas ainda pode faltar alguma coisa. Mas acho que falaram muito bem, principalmente sobre inteligência artificial. A gente vê muitos veículos tratando de forma negativa sobre o assunto, mas dá para usar de maneira positiva, como o UOL e o Poder360 estão fazendo. É alinhar tecnologia com jornalismo, algo que algumas empresas demoraram para fazer”.
Maia Fortes reforçou que as mudanças no jornalismo vêm acontecendo de forma gradual e destacou a importância da reciclagem dos aprendizados nesse processo: “Essa mentalidade de experimentação em todas as frentes, que é algo interessante e único do jornalismo digital, ao mesmo tempo que foi um processo de aprendizagem dos últimos 30 anos, não é algo que chegou de uma hora para a outra. Afinal, a maioria dos jornalistas que trabalham hoje em veículos digitais vieram de um contexto do impresso. Os três trouxeram aqui hoje um pouco dessa perspectiva de como a gente tem que estar o tempo todo se transformando no contexto em que nos encontramos”.
Assista a íntegra do debate.