A influência do movimento liderado por Donald Trump desde o seu primeiro mandato para desacreditar o jornalismo nos EUA está cobrando seu preço: menos de três em cada dez americanos (28%) disseram ter confiança em jornais, televisão e rádio para se informar ‘de maneira completa, justa e precisa’.
A constatação foi feita pelo Instituto Gallup, que acaba de divulgar uma pesquisa revelando que apenas 28% dos entrevistados confiam “razoavelmente” ou “muito” na mídia tradicional. Houve queda de 31% e de 40%, respectivamente, em relação a 2024.
Segundo o Gallup, é a primeira vez que a confiança caiu para menos de 30% desde que o acompanhamento começou a ser feito, há quase cinco décadas.
Perda de confiança no jornalismo é global, mas no Brasil é menor
A falta de confiança nas notícias é um problema global, mas não acontece com a mesma intensidade em todos os mercados.
No Digital News Report, pesquisa anual do Instituto Reuters para Estudos do Jornalismo, o Brasil apresenta um nível de confiança geral no noticiário 12 pontos percentuais mais alto que os EUA. Na classificação geral entre 48 mercados, o primeiro está em 20º lugar e o segundo, em 39º.
Ainda que no Brasil, assim como em outros países, governantes tenham usado suas plataformas para vociferar contra jornalistas, os EUA vivem um momento sombrio, com uma campanha que vai além de palavras para também amedrontar profissionais e organizações de imprensa com processos e represálias regulatórias.
Nesse campo de batalha, o público deixa de acreditar, como mostra o Gallup. Quando o instituto começou a medir a confiança no jornalismo, na década de 1970, cerca de 70% dos americanos diziam confiar nas notícias que recebiam.
Então, em quem eles acreditam agora? Não é na IA. Outra pesquisa divulgada na semana passada, do Pew Research Center, apontou que menos de 10% dos entrevistados buscam notícias nos chatbots como ChatGPT. E metade deles diz que ter encontrado notícias que acham imprecisas.
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Patricia Blanco, presidente do Instituto Palavra Aberta Crédito: Valter Campanato/Agência Brasil)
A Associação Nacional de Jornais (ANJ) entregará o Prêmio ANJ de Liberdade de Imprensa 2025 para o Instituto Palavra Aberta, em celebração e reconhecimento aos 15 anos de atuação da entidade em educação midiática e na defesa das liberdades de expressão e de imprensa, do acesso à informação e do combate à desinformação. A entrega ocorrerá em 4 de dezembro, das 10h às 12h30, no auditório da ESPM-TECH, em São Paulo.
“Ao longo de seus 15 anos, o Palavra Aberta se tornou uma das principais instituições em defesa da liberdade de expressão e de imprensa no Brasil.”, destacou Marcelo Rech, presidente-executivo da ANJ. “E foi além, atuando também de forma estrutural contra a desinformação, ao estender sua abrangência para a cada vez mais necessária educação midiática. Desde sua criação, o Palavra Aberta tem tido o apoio da ANJ, mas faltava ainda o reconhecimento formal sobre o extraordinário trabalho em defesa da liberdade liderado pela Patricia Blanco com sua equipe”.
O Instituto Palavra Aberta foi fundado em fevereiro de 2010 por quatro associações: Associação Nacional de Editores de Revistas (Aner), Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), Espaço de Articulação Coletiva do Ecossistema Publicitário (Abap, além da própria ANJ. O instituto tornou-se referência na promoção do acesso à informação e em educação midiática.
Em 2019, o Palavra Aberta criou o EducaMídia, um dos principais programas de educação midiática do País, que capacita professores das redes de ensino em diversos estados a identificar informações falsas, valorizar fontes confiáveis e utilizar os meios digitais de forma segura e responsável. O projeto também realiza trabalhos voltados ao uso consciente da internet e à inclusão de pessoas com mais de 60 anos.
A entrega do Prêmio ANJ de Liberdade de Imprensa 2025 ocorrerá em 4 de dezembro, das 10h às 12h30, no auditório da ESPM-TECH, em São Paulo. Após a cerimônia, haverá um debate sobre Inteligência Artificial e o futuro do jornalismo. Participarão Patricia Blanco, presidente do Palavra Aberta; Sérgio Dávila, diretor de Redação da Folha de S.Paulo; Eurípedes Alcântara, diretor de Jornalismo do Estadão; e Alan Gripp, diretor de Redação do jornal O Globo. A coordenação será de Marta Gleich, diretora-executiva de Jornalismo e Esporte do Grupo RBS.
Chris Flores (Crédito: Renato Pizzutto/Band/Instagram)
A TV Bandeirantes sofreu ao menos três importantes baixas em sua equipe nos últimos dias com as saídas dos apresentadores Joana Treptow e Rodrigo Alvarez, e do produtor e diretor de externa Gabriel Alves. Eles estão confirmados entre os primeiros reforços do canal TMC, novo projeto com foco em jornalismo e esportes que substituirá em breve a rádio Transamérica. Enquanto Joana e Rodrigo seguirão como apresentadores do novo canal, Gabriel chega para atuar como chefe de Redação.
A boa novidade na Band, porém, ficou por conta da contratação de Chris Flores. Ela chega para dividir a apresentação do Melhor da Tarde, ao lado de JP Vergueiro, após um hiato de dois anos longe das telinhas, quando deixou o comando do Fofocalizando, do SBT. Desde então vinha se dedicando à família e aos estudos, tendo cursado nesse período um mestrado em História Social.
Miséria e fome colocam em risco a saúde de crianças na Ilha de Marajó, no Pará (Foto: Lalo de Almeida/Folha de S.Paulo)
A série de reportagens Marajó profundo, produzida pelo correspondente da Folha de S.Paulo na Amazônia Vinicius Sassine e pelo repórter fotográfico Lalo de Almeida, foi a vencedora da categoria Jornalismo Escrito do Prêmio Roche de Jornalismo em Saúde 2025. O anúncio foi feito na noite desta quarta-feira (8/10), na Cidade do México, quando também foram conhecidos os vencedores das categorias Audiovisual e Cobertura, conquistadas por publicações do Peru e México, respectivamente.
“Esta série de reportagens aborda com profundidade o abandono estatal existente na região do Marajó. Os diferentes textos denotam o exercício de reportagem e trabalho de campo por trás da investigação, ao adentrar comunidades e mostrar os depoimentos das pessoas afetadas, fazendo contraste com as fontes oficiais e autoridades”, destacou o júri na avaliação do trabalho.
“Marajó profundo”: Miséria e fome colocam em risco a saúde de crianças na Ilha de Marajó, no Pará (Foto: Lalo de Almeida/Folha de S.Paulo)
Este é o segundo prêmio que a dupla conquista em conjunto neste ano. Com a sérieMudanças climáticas na Amazônia, eles já haviam faturado em setembro a categoria Divulgação Científica do 8º Prêmio IMPA de Jornalismo. Lalo de Almeida, vale lembrar, terminou 2024 como o +Premiado Jornalista do Ano no Brasil, de acordo com o Ranking +Premiados da Imprensa Brasileira.
Em sua 13ª edição, o Prêmio Roche contou com a participação de 669 trabalhos, de 21 países da América Latina, que abordaram temas relacionados à saúde e à ciência. Com 156 inscrições, o Brasil foi o principal participante desta edição do concurso promovido em parceria com a Fundação Gabo.
Na categoria Audiovisual o primeiro lugar ficou com a reportagem Corrupción enlatada, publicada pelo Latina Notícias. Produzido por Hernán P. Floríndez, Jefferson Luyo Salvador, Renzo Bambarén, Ana Briceño e Christopher Acosta, o trabalho envolveu uma investigação complexa e rigorosa que, a partir de um vazamento de informações, que conseguiu evidenciar uma trama de corrupção na distribuição de alimentos escolares em áreas vulneráveis do Peru.
E em Cobertura, o prêmio principal foi para o N+ Focus, do México, com a reportagem Los olvidados de Hidalgo, que retratou o abandono e discutiu o conceito de saúde pública em uma comunidade mexicana. O trabalho foi produzido por Carlos Carabaña, Paul Ramírez, Omar Torres Bobadilla, Enrique de la Mora, Raymundo Mondragón, Cecilia Guadarrama, Alberto Filio, Íñigo Arredondo Vera e Omar Sánchez de Tagle.
Foram divulgados, em edição especial de J&Cia veiculada em 7/10, os finalistas da décima edição do prêmio +Admirados da Imprensa de Economia, Negócios e Finanças. Nessa segunda fase, que segue até 17/10, os eleitores poderão selecionar, do 1º ao 5º colocado, seus favoritos em cada categoria. Cada posição renderá uma pontuação, seguindo a ordem de 100 pontos para o 1º colocado, 80 para o 2º, 65 para o 3º, 55 para o 4º e 50 para o 5º. A participação é simples: basta acessar o link da votação, preencher um breve cadastro e registrar as indicações.
O resultado final será obtido pela soma dessas pontuações e definirá, além dos TOP 50 +Admirados Jornalistas do Ano, os TOP 3 nas categorias Agência de Notícias, Áudio, Canal de Vídeo, Jornal, Programa de TV, Revista e Site/Portal. Também servirá como base para apontar os TOP 10 +Admirados Jornalistas e os vencedores das categorias temáticas, que serão anunciados na cerimônia de premiação, marcada para 24 de novembro, em São Paulo.
Neste ano comemorativo, o Prêmio +Admirados da Imprensa de Economia, Negócios e Finanças conta com patrocínio de APqC, BTG Pactual, CNseg, Deloitte, Febraban e Grupo Nexcom; apoio de Honda, Press Manager e Portal dos Jornalistas; além do apoio institucional do IBRI e apoio de divulgação da 2Live.
Até pouco tempo atrás, a cidade de Pedreiras, no interior do Maranhão, Nordeste do Brasil, não tinha jornal, emissora de rádio ou site de notícias local.
Conhecida como a terra natal do saudoso sambista João do Vale, Pedreiras também era um “deserto de notícias” — um lugar sem a presença do jornalismo local.
Isso mudou em 2020, quando quatro jornalistas locais criaram o site de notícias O Pedreirense, que publica reportagens investigativas, colunas de opinião e entrevistas em vídeo. Eles são um dos veículos digitais no Brasil que estão transformando suas regiões de desertos de notícias em oásis de informação.
“Nós tentamos dar maior destaque às populações locais em nossas reportagens”, disse Joaquim Cantanhêde, editor-executivo de O Pedreirense, à LatAm Journalism Review (LJR).
Nordeste é a região do país com o maior número de desertos de notícias, segundo o censo do jornalismo Atlas da Notícia, divulgado em julho. Nove a cada 20 municípios são desertos de notícias, o que significa que quase 21 milhões de pessoas no Brasil não têm acesso a informações sobre sua região que tenham sido verificadas jornalisticamente.
A maioria dos veículos que estão enfrentando essa realidade são pequenos e exclusivamente online. O Pedreirense opera com apenas três profissionais que se sustentam por meio de bolsas e contratos de prestação de serviços, segundo Cantanhêde.
“Quando começamos, queríamos fazer uma produção mais baseada em fatos, o que exige um volume alto de trabalho”, afirmou. “Hoje, decidimos o que vamos cobrir de forma mais estratégica.”
Os desafios do jornalismo em cidades pequenas
A cidade de Angicos, no estado nordestino do Rio Grande do Norte, ficou conhecida em todo o Brasil em 1963, quando o educador Paulo Freire realizou um experimento ensinando 300 pessoas a ler em apenas 40 horas. Mas Angicos, com seus 12 mil habitantes, era considerado um deserto de notícias até este ano.
Leonardo Ribeiro, que coordena o portal Angicos Notícias, explica que conseguiu ampliar a distribuição de conteúdo por meio de parcerias com redes de rádio locais. “Começamos pequenos e nos consolidamos como a maior iniciativa de notícias na região central do estado, que abrange 11 municípios,” disse. Hoje, a equipe conta com oito funcionários, incluindo cinco colunistas.
Além de encontrar maneiras de alcançar o público potencial, o jornalismo local precisa de um bom conteúdo para se tornar relevante. E boas histórias podem ser encontradas em qualquer lugar, segundo Ribeiro.
“Cabe ao jornalista ter um instinto aguçado para identificar oportunidades de pauta,” afirmou. “É preciso ter vontade de descobrir. Em toda cidade há furos de reportagem, seja por conta de obras públicas importantes, ações ruins do governo ou a ausência de ações que prejudicam a população.”
Embora os grandes conglomerados de mídia brasileiros estejam localizados nas capitais do Sudeste, essa região tem a maior proporção de desertos de notícias em relação ao número de municípios (49,76%), segundo o Atlas da Notícia. No estado de São Paulo, o jornalista Eduardo Fálico administra o Portal da Cidade, na cidade de Bady Bassit, que também saiu da lista de desertos de notícias este ano.
Quando chegou à cidade, há quase dois anos, os cerca de 27 mil habitantes não tinham um veículo de notícias local há quase uma década. Hoje, a equipe do site — três pessoas, incluindo Fálico, um estagiário e um vendedor — trabalha duro para oferecer cobertura diária sobre política, saúde e serviços públicos.
“O maior desafio é existir como veículo de notícias em um lugar onde as pessoas e as autoridades não estão acostumadas com a presença do jornalismo,” disse Fálico.
“Conhecer seu público é fundamental”
Produzir jornalismo não é suficiente para manter um veículo de notícias vivo. É necessário encontrar fontes de financiamento que permitam manter as operações e também crescer.
Uma pesquisa do projeto Mais pelo Jornalismo revelou em março de 2025 que mais de 2.000 veículos de notícias fecharam no Brasil desde 2014. O censo do Atlas da Notícia também mostrou que, embora a mídia digital esteja crescendo, ela não está imune à crise que afeta o jornalismo globalmente. Pelo menos 651 veículos online registrados no estudo já fecharam, incluindo 334 entre 2023 e 2025.
“Fazemos um trabalho útil para a comunidade. O principal desafio é a monetização,” disse Fálico, do Portal da Cidade. “Tivemos que fazer um grande trabalho de educação junto aos anunciantes locais sobre a importância do jornalismo para conseguir apoio. Claro, o sonho de todo jornalista é não depender de dinheiro público, mas acaba sendo um caminho para a estabilidade.”
Cantanhêde afirmou que foi necessário oferecer serviços de consultoria, como assessoria de imprensa, como forma de garantir a sustentabilidade financeira do veículo. “Sempre fazemos isso com o maior cuidado para que isso não interfira na independência editorial do nosso jornalismo,” disse.
Em termos de distribuição de conteúdo, as redes sociais ajudam a engajar o público, mas Cantanhêde, de O Pedreirense, acredita que é importante ir além dos algoritmos.“Para fazer jornalismo local, você precisa conhecer muito bem seu público”, explicou. “É um público ávido e dinâmico. É necessário manter um envolvimento real com a comunidade e participar dos eventos e programas da sua cidade.”
O SBT News, novo canal de notícias do Grupo Silvio Santos que estreará ainda em 2025, anunciou a contratação de Basília Rodrigues. Além de ser uma das principais analistas políticas do time do novo canal, ela fará participações no SBT Brasil, do SBT, terá uma coluna de informações no site SBT News. Sua estreia está marcada já para a próxima semana, quando participará do programa Poder Expresso, exibido pelo canal da plataforma no YouTube.
“Minha carreira se baseia em fazer jornalismo de maneira acessível para a população”, explica Basília. “Não é apenas sobre falar sobre política, mas entender do que está falando. Recebo com entusiasmo o convite para fazer parte de uma grande TV aberta e, ao mesmo tempo, uma das TVs com maior número de seguidores no YouTube. E é uma honra participar de um novo projeto de canal de notícias desta que é conhecida como a TV mais querida do Brasil”.
Recentemente eleita a +Admirada Jornalista do Centro-Oeste e a oitava colocada em todo o Brasil, em eleição promovida por Jornalistas&Cia, Basília trabalhou por 12 anos na rádio CBN e por cinco anos na CNN Brasil, onde ancorou o programa O Grande Debate o quadro CNN Dois Lados. Ela também está na lista dos profissionais negros mais admirados.
“Temos certeza de que a chegada de Basília Rodrigues, com toda sua experiência e credibilidade, dá uma demonstração do que pretendemos com o novo canal de notícias: ser um dos veículos de maior relevância do Brasil”, afirma Leandro Cipoloni, Diretor Nacional de Jornalismo do SBT.
Foram anunciados nesta quarta-feira (8/10), em São Paulo, os vencedores do 18º Prêmio SAE Brasil de Jornalismo. A iniciativa tem como objetivo reconhecer reportagens sobre os avanços tecnológicos que abordem mobilidade urbana, veículos autônomos, sustentabilidade, soluções energéticas, mineração e aplicações no agronegócio.
Na categoria Mídia Impressa, o primeiro lugar ficou com Nubya Oliveira, do jornal O Tempo, de Belo Horizonte, com a matéria Lítio: o novo ouro de Minas. Nessa mesma categoria receberam Menções Honrosas Júlia Maria Toledo e André Paixão, da revista Autoesporte, com a matéria Como será o carro daqui a 60 anos?, e Domingos Zaparolli, da revista Pesquisa Fapesp, com Para capturar o CO2.
Em Internet, o prêmio principal foi para Fernando Miragaya, da Automotive Business, com a série de reportagem Os desafios das engenharias das montadoras com o Proconve L8. Já as Menções Honrosas foram para Sergio Quintanilha, do Guia do Carro, com Viagem de carro elétrico: BMW i5 M60 tem alcance real de 420 km, mas só a 120, e Júlia Maria Toledo, dessa vez para o site da Autoesporte, pela matéria Influencer PCD dirige picape só com os pés sem precisar de adaptação.
E na categoria Vídeo, Fábio Trindade, do Motor1.com, foi o vencedor com a matéria O consumo real de 10 carros elétricos em ciclo urbano e rodoviário – O maior teste do Brasil. Receberam Menção Honrosa nessa categoria Jason Vogel, também do Morot1, com a matéria Ferrari 499P: tecnologia híbrida usou “etanol de vinho” para vencer 24 Horas de Le Mans, e Alexandre Carneiro, por Carros elétricos têm maior risco de incêndio que os modelos a combustão?.
Julia Lopes de Almeida (Biblioteca Nacional/Reprodução)
Por Assis Ângelo
Voltando, voltando, devo dizer que essa história de reis é pra lá de curiosa. Tem lá a sua importância, mas nem tanto.
Rei disso, rei daquilo…
Édipo tinha dois olhos e os furou desesperadamente ao descobrir que cometera um erro, um crime imperdoável: matou o pai e desposou a mãe. Antes, tinha dois olhos vivos…
E o que tem a ver D. Manuel I com Édipo?
Manuel I tinha dois olhos sadios como os tinha Édipo.
E o que tinha a ver tudo isso com Lampião, o rei brasileiro do Cangaço?
Lampião e Pontaria diziam que não precisavam de dois olhos para acertar o alvo.
Manuel I não usava pistola e não sei que lá de outras armas de fogo. No entanto, em tudo que mirava acertava.
Em 1498, um ano e meio antes de Pedro Álvares Cabral desembarcar na Bahia, o navegador e cosmógrafo Duarte Pacheco Pereira pôs os pés no norte do Brasil.
Enquanto Duarte Pacheco punha os pés no Brasil, ali na divisa de Maranhão e Pará, Vasco da Gama naquele mesmo ano de 1498 desembarcava com força nas terras da Índia.
Manuel I era certeiro nos alvos que escolhia.
Foi esse mesmo D. Manuel que apostou e patrocinou a esquadra que chegou ao Brasil em 1500.
Muita coisa aconteceu desde então.
E aqui não vou falar daquele cara chamado Pinzón, espanhol, que passou dando adeus sem saber a Pernambuco três meses antes de Cabral desembarcar na Costa baiana.
Vocês devem, a essa altura, pensar o que estou querendo dizer com isso.
Sim, não estou fugindo da temática cego, cegueira.
Rei é uma coisa, imperador é outra.
Já falamos de reis disso e daquilo.
Os nossos primeiros e grandes intelectuais desabrocharam com obras marcantes e inesquecíveis como Teixeira e Sousa.
O tempo foi passando e outros autores da literatura brasileira foram surgindo.
Julia Lopes de Almeida (Biblioteca Nacional/Reprodução)
Em 1886, Júlia Lopes de Almeida publicou o primeiro livro de literatura infantil, junto com a irmã Adelina Lopes Vieira.
Até então, vivíamos o segundo Império, com D. Pedro II.
Julia Lopes de Almeida começou a marcar de modo mais visível a sua vida literária depois da proclamação da República, em 1889.
Estamos aqui falando do tempo da Belle Époque.
Foi nesse período que Júlia Lopes escreveu belos textos que com o tempo enriqueceram a literatura brasileira. Foi ela, por exemplo, a primeira escritora a gerar textos abordando a condição em que viviam as mulheres de seu tempo.
Bom, Júlia Lopes de Almeida foi a primeira intelectual brasileira a escrever contos sobre mulheres que sofreram terrivelmente pelo fato de serem cegas. E sem sombra de dúvida foi ela também a primeira mulher a criar personagens cegas. Exemplos: A Caolha, A Pobre Cega, A Morte da Velha e O Último Raio de Luz.
Muitos e muitos anos depois foi publicado mundo afora o romance intitulado Toda Luz que Não Podemos Ver, obra-prima do norte-americano Anthony Doerr. Virou filme. Trata de uma garota de seis anos, órfã de mãe e criada com todas as atenções pelo pai. Claro, ela é cega e a história se passa no correr da II Guerra Mundial.
No estúdio, a luz vermelha não mente: o programa está no ar. Mas, numa tarde recente, a voz que encheu a faixa FM não saiu de uma garganta − veio de um modelo sintético treinado para soar como ela. Na BandNews FM, durante a licença médica de Reinaldo Azevedo, a emissora optou por converter textos do comentarista em áudio com um clone de voz, autorizado por escrito, produzido em parceria com o braço digital do Grupo Bandeirantes (Vibra) e tecnologias como a ElevenLabs. Houve protocolo, transparência e teste − e também reação do público: aprovação, curiosidade e um reparo recorrente, o “faltou o tom de indignação” que só o original sustenta. A notícia, primeiro apurada pelo Estadão, virou um pequeno rito de passagem do rádio brasileiro rumo a uma convivência prática entre ética editorial e IA.
Quase em paralelo, o mercado sinalizou que o “próximo passo” já está aqui. Em poucas semanas, duas plataformas lançaram geradores de novas vozes por prompt: a ElevenLabs, com o Voice Design v3, e a Wondercraft, com um recurso semelhante − não para clonar timbres conhecidos, mas para descrever timbres que não existem e obtê-los em segundos, com controles de idade, sotaque, intenção e até “som de rádio antigo”. O objetivo declarado: acelerar produção, ampliar possibilidades criativas e permitir a marcas e criadores desenvolverem identidades sonoras originais, multilíngues e ajustáveis ao contexto.
Entre um caso e outro, abre-se a fenda que interessa: se a clonagem autorizada resolveu um problema factual (um jornalista sem voz entregar sua análise, sem enganar a audiência), o design de vozes por prompt reescreve a gramática do quem fala − e, por consequência, do quem responde. O rádio sempre foi uma arte de presença, timbre e trajetória. A IA traz uma estética de disponibilidade infinita, moldável. O benefício é objetivo (continuidade, escala, acessibilidade, personalização); o risco, também (confusão identitária, banalização do timbre, erosão do traço humano que ancora a credibilidade).
No episódio da BandNews, a emissora explicitou o uso da tecnologia, fez governança e preservou a autoria intelectual do comentário − não houve “fantasma”: houve uma ponte entre um texto e um público, com o consentimento do dono da voz. É um modelo de uso responsável e, por ora, raro. A audiência percebeu diferença? Sim. O “quase igual” não basta quando a assinatura emocional do comunicador é parte do valor entregue; ainda assim, o experimento conseguiu manter o contrato de confiança que sustenta o rádio de opinião.
Já os geradores por prompt contam a outra metade da história: vozes que nunca existiram, mas agora existem − e podem representar marcas, personagens, narradores. É o sonho do diretor de criação (brief preciso, entrega imediata) e o pesadelo do regulador (como demarcar o que é sintético? quem responde por danos? como evitar a “aproximação indevida” de um timbre real?). As próprias empresas destacam que o objetivo não é imitar celebridades, e sim criar identidades originais; na prática, a riqueza de controle (emoção, ritmo, sorriso na voz) aproxima o resultado de zonas cinzentas de confusão perceptiva.
(Crédito: Voicefy)
Há, portanto, três linhas de cuidado que o setor não pode terceirizar aos algoritmos:
Transparência editorial: avisar o ouvinte quando um conteúdo usar voz sintética; documentar consentimentos; registrar cadeia de produção. O caso da BandNews indica um caminho: autorização expressa, protocolos internos e comunicação pública do experimento.
Governança de identidade sonora: marcas e veículos que criarem “vozes de marca” por IA precisam de guias de uso, watermarking quando possível e trilhas de auditoria. As plataformas, por sua vez, já oferecem controles finos e modos distintos (realista vs. personagem), o que ajuda a separar jornalismo de entretenimento − mas exige política clara de cada emissora.
Curadoria humana: a síntese pode ler, mas quem assina a intenção continua sendo gente. No rádio opinativo, o timbre carrega ethos; no jornalismo, credibilidade é inseparável da responsabilidade. O uso mais promissor da IA é o que não substitui o jornalista − apenas dá continuidade, acessibilidade e escala ao trabalho dele.
Se a primeira crônica foi sobre uma voz conhecida “voltando” de licença com ajuda de silício, a segunda é sobre milhões de vozes inéditas nascendo de frases bem escritas. Entre elas, o rádio reencontra sua vocação: ser presença. A tecnologia resolve o gargalo da produção; a editoria resolve o da confiança. O desafio não é técnico − é de projeto. Sem projeto, a IA vira truque; com projeto, vira linguagem.
No fim das contas, o teste decisivo segue no ar: não é “se parece”, é “se convence”. Porque o ouvinte − este velho especialista em timbre, silêncio e subtexto − continua sendo, apesar de tudo, o nosso melhor algoritmo.
Fontes:
ZYDIGITAL − “Inteligência artificial dá voz a Reinaldo Azevedo durante licença médica na BandNews FM” (28 set. 2025), com detalhes sobre autorização, protocolos internos, uso da ElevenLabs/Vibra e reações de audiência. zydigital.com.br
ZYDIGITAL − “Plataformas de IA lançam recursos para criar novas vozes através de prompts” (14 set. 2025), com especificações do ElevenLabs Voice Design v3, modos Realistic e Character, e lançamento do recurso equivalente na Wondercraft. zydigital.com.br
ElevenLabs Introduces Voice Design − A ElevenLabs lançou o recurso Voice Design, permitindo gerar vozes únicas a partir de prompts textuais (idade, sotaque, tom, etc.). MarkTechPost
ElevenLabs now lets you create a custom voice from a text prompt − Reportagem no Tom’s Guide sobre a funcionalidade de criar vozes customizadas textualmente. Tom’s Guide
Friend or Faux: The Ethics of AI Voice Training and Why It Matters − Análise sobre consentimento e os dilemas éticos da clonagem de voz. Kits AI
Ethics in AI: Making Voice Cloning Safe − Aborda práticas recomendadas como consentimento explícito, compensação e controle ético. respeecher.com
Why Broadcasters Are Freaking Out About AI Voice Cloning − Radiodifusores comentam os cuidados éticos e técnicos ao usar clonagem de voz. Podcraftr
People are poorly equipped to detect AI-powered voice clones − Estudo que demonstra a dificuldade das pessoas em distinguir vozes reais de vozes geradas por IA; 80% das vezes atribuem a voz clonada à pessoa original. arXiv
Álvaro Bufarah
Você pode ler e ouvir este e outros conteúdos na íntegra no RadioFrequencia, um blog que teve início como uma coluna semanal na newsletter Jornalistas&Cia para tratar sobre temas da rádio e mídia sonora. As entrevistas também podem ser ouvidas em formato de podcast neste link.
(*) Jornalista e professor da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) e do Mackenzie, pesquisador do tema, integra um grupo criado pela Intercom com outros cem professores de várias universidades e regiões do País. Ao longo da carreira, dedicou quase duas décadas ao rádio, em emissoras como CBN, EBC e Globo.