Miriam Leitão é a mais nova imortal da ABL
Por Cristina Vaz de Carvalho, editora de J&Cia no Rio
Miriam Leitão foi eleita nesta quarta-feira (30/4) para a cadeira 7 da Academia Brasileira de Letras, sucedendo ao cineasta Cacá Diegues, morto em fevereiro. A data da posse ainda será definida.
Mineira de Caratinga, tem 72 anos de idade e 53 de carreira. Começou a trabalhar na imprensa do Espírito Santo, mudou-se depois para Brasília e São Paulo até se radicar no Rio, em 1986. Esteve na Gazeta Mercantil, no Jornal do Brasil e chegou ao Grupo Globo em 1991.
Colunista de O Globo, comentarista na rádio CBN e no programa Bom dia Brasil da TV Globo, apresenta um programa de entrevistas na GloboNews e mantém um blog. Profissional multiplataforma, no jornalismo descreve o País em termos econômicos, políticos e ambientais. Mais do que números, analisa pessoas que representem os fatos, e traduz temas complexos em linguagem acessível. São dessa vivência livros como A democracia na armadilha: crônicas do desgoverno, de 2022, e Amazônia na encruzilhada: o poder da destruição e o tempo das possibilidades, de 2024.
Tem 16 livros publicados, em gêneros tão diferentes como crônica, romance, literatura infantil e não ficção. Dentre seus títulos mais conhecidos, destaque para Saga brasileira, sobre os desafios econômicos do país – Prêmio Jabuti de Não Ficção em 2012 – e o romance Tempos extremos, no cenário de dois períodos marcantes da História, a escravidão e a ditadura militar. Recebeu, entre outras honrarias, o internacional Maria Moors Cabot.
Vale lembrar que ela foi muitas vezes apontada a +Admirada da Imprensa de Economia, Negócios e Finanças, eleição anual promovida pelo Jornalistas&Cia, e que também recebeu o Prêmio Personalidade da Comunicação, da Mega Brasil.
Presa e torturada na juventude, destacou-se na defesa da democracia e da liberdade de expressão, o que lhe rendeu, no ano passado, o Troféu Juca Pato, concedido pela União Brasileira de Escritores ao intelectual do ano. Por sua atuação na imprensa, recebe críticas da esquerda e da direita, aparece com frequência nas redes sociais e já foi alvo de fake news.
Agitada e incansável, a autora não se contenta com os assuntos profissionais. Escreveu para a terceira geração da família obras contendo algumas de suas preocupações ambientais, e encontrou-se também com o público infanto-juvenil. O próximo livro, Lulli, a gata aventureira, será publicado este ano.
Miriam Leitão comenta o ingresso na Academia: “Ainda estou impactada com a eleição, é uma honra gigante ingressar em uma instituição que defende a literatura, o Brasil e a língua portuguesa. Eu queria fazer parte desse momento da casa, que é de muita abertura para o Brasil, para novos temas, novas ideias, e sempre mantendo a tradição e a memória institucional”.
- Leia também: ABI reelege diretoria
ABI reelege diretoria
A ABI realizou na última sexta-feira (25/4) eleição para sua diretoria, no mandato de 2025 a 2028. Venceu a Chapa 1 – Rui Xavier – ABI Luta Pela Democracia, encabeçada por Octávio Costa e Regina Pimenta, reeleitos. A chapa obteve 282 votos, com 24 votos brancos e nulos.
Durante Assembleia Geral Ordinária, na quinta-feira (24/4), véspera da eleição, a Chapa 2 – Sem Anistia para Golpistas, liderada pelo professor Ivan Cavalcanti Proença e por Osvaldo Maneschy, retirou-se do processo eleitoral. Isso depois de divulgar um manifesto expondo suas razões para se opor à chapa concorrente.
Votaram 306 associados (64%) dos 479 que estavam aptos, sendo 56 presencialmente e 250 pelo sistema eletrônico. A abstenção foi de 36%.
João Mendes assina coluna semanal na revista RodaRio
A revista RodaRio, publicação carioca semanal de temas automotivos, anunciou a coluna Espaço Motor Rio, na qual João Mendes escreverá sobre as principais novidades das empresas locais do setor. Ele também atuará como representante da revista junto aos mercados carioca e fluminense. A publicação, disponibilizada gratuitamente todas as semanas, está disponível no site www.rodario.com.br.
Com mais de 48 anos de carreira no jornalismo automotivo, João Mendes foi pioneiro na televisão brasileira com programas semanais de motociclismo, kart e off-road. Foi produtor do programa Espaço Motor na CNT e fez parte da primeira equipe do SporTV focada em automobilismo. Além do trabalho na RodaRio, Mendes segue produzindo conteúdo para o site Memória Motor, e para Jornal de Hoje (da Baixada Fluminense) e Jornal Cidade da Barra. É também apresentador do programa Espaço Motor, ao lado de Sergio Pitta, na Rádio Positividade FM 104.5 RJ.
Notícia Preta lança primeiro telejornal ao vivo da mídia negra
O Notícia Preta lançou nesta quarta-feira (30/4) o NP Notícias, telejornal ao vivo apresentado por Thais Bernardes, fundadora do veículo e idealizadora do projeto. Na estreia, o programa recebeu Silvio Almeida, jurista, professor e ex-ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, para uma conversa sobre os desafios estruturais do Brasil e o papel das instituições na promoção de direitos e justiça social.
Com edições semanais, sempre às quartas-feiras, às 12h, o NP Notícias vai ao ar pelo canal do Notícia Preta no YouTube. O programa adota um formato dinâmico, com participação do público em tempo real pelo chat, entrevistas exclusivas, análises da cientista política Luciana Barros e os principais destaques da semana no Brasil e no mundo.
Para Thais Bernardes, que também é fundadora da Escola de Comunicação Antirracista, o projeto representa uma aposta no potencial do audiovisual como ferramenta para aproximar a informação das pessoas:
“Os convidados confirmados mostram o respeito que o Notícia Preta construiu. Essa aposta não é um tiro no escuro. É uma escolha baseada em visão estratégica: os videocasts são o formato de maior crescimento no mundo, e o público quer informação com agilidade, clareza e conexão”.
Definidos os finalistas dos +Admirados da Imprensa do Agronegócio 2025
Jornalistas&Cia divulgou em edição especial os jornalistas e veículos classificados para o segundo turno do Prêmio +Admirados da Imprensa do Agronegócio 2025, que reconhece os profissionais e veículos preferidos da cobertura do Agro pela avaliação dos demais colegas de profissão. Classificaram-se para o segundo turno um total de 106 jornalistas e 86 veículos.
A grande novidade desta quinta edição do prêmio é a ampliação no número de jornalistas homenageados. Neste ano, em vez de TOP 30, serão eleitos os TOP 50 +Admirados Jornalistas do Brasil. Entre os 226 indicados, 106 profissionais estão classificados para o segundo turno de votação. Destaque para o Canal Rural, que elegeu entre os finalistas 16 profissionais. Na sequência, aparece o Globo Rural, com nove jornalistas classificados. Em seguida, Notícias Agrícolas e Terraviva, que têm, cada um, sete profissionais na lista dos finalistas.
“Renovação” é a palavra que define a relação dos jornalistas finalistas. Dos 106 classificados, mais da metade (63 nomes) ainda não haviam figurado na lista de +Admirados nos anos anteriores. Assim, certamente teremos rostos novos entre os TOP 50 em 2025.
Destaque também para os que integraram a lista dos +Admirados Jornalistas do Agronegócio em todas as edições do prêmio, e que novamente estão entre os classificados em 2025: Alexsander Horta (Notícias Agrícolas), Lilian Munhoz e Sidnei Maschio (Terraviva) e Virgínia Alves (EPTV).
Entre os veículos, 86 disputarão o TOP 3 nas categorias Agência de Notícias, Áudio, Canal de Vídeo, Periódico Especializado, Programa de TV Especializada, Programa de TV Geral, Site/Portal e Veículo Geral.
Até agora, o prêmio +Admirados da Imprensa do Agronegócio sempre teve um profissional inédito eleito como o +Admirado Jornalista do Ano. Em 2021, na primeira edição do prêmio, o vencedor foi Sidnei Maschio, do Terraviva. No ano seguinte, em 2022, foi Beatriz Gunther, editora-chefe do programa Mercado & Companhia, do Canal Rural. Em 2023, a vencedora foi Renata Maron, âncora e editora-chefe do programa Bem da Terra, também do canal Terraviva. E no ano passado, quem venceu foi a apresentadora e editora da Record News Kelly Godoy.
A eleição dos +Admirados da Imprensa do Agronegócio 2025 tem patrocínio de Cargill, Copersucar, Mosaic e Syngenta; apoio de Bosch, CNA, Elanco, Tereos e Yara; colaboração de Agrel, BRF e John Deere; e apoio institucional de Agrojor. Empresas interessadas em associarem suas marcas à premiação podem obter mais informações com Vinicius Ribeiro (vinicius@jornalistasecia.com.br).
Confira a lista completa dos finalistas aqui!
E clique aqui para votar no 2º turno.
“Jornalismo ambiental não é só sobre Amazônia ou COP30, é sobre a vida”
Jornalistas&Cia e ESPM realizaram nessa segunda-feira (28/4) o segundo encontro do ciclo O presente e o futuro do jornalismo – Insights, cujo tema foi No rastro da COP30: O Jornalismo, o meio ambiente e as catástrofes ambientais – A dura missão de lutar contra o negacionismo e o poder econômico. O evento, no auditório da ESPM Tech, em São Paulo, reuniu jornalistas, estudantes e acadêmicos interessados em jornalismo ambiental e sua importância para o trabalho da imprensa.
A mesa foi composta inteiramente por mulheres, referências na cobertura de pautas climáticas e do meio ambiente: Daniela Chiaretti, do Valor Econômico, Kátia Brasil, da Agência Amazônia Real, e Verónica Goyzueta, correspondente de veículos internacionais no Brasil e professora da ESPM. A moderação foi da professora Maria Elisabete Antonioli, coordenadora do Curso de Jornalismo da ESPM.
“Elas foram escolhidas não por serem mulheres, mas de fato pela relevância e representatividade no tema”, explicou Eduardo Ribeiro, diretor deste J&Cia, na abertura. “É preciso analisar o presente, que dá os caminhos para esse futuro, e nem sempre com muitas alegrias. A mesa debaterá o papel do jornalismo na crise climática, como podemos contribuir para informar e sensibilizar a sociedade frente a esta crise, como combater inverdades e como cobrir catástrofes climáticas de forma consciente e ética”.
Ao longo do debate, foram abordados diversos temas essenciais para o jornalismo ambiental, como a COP 30 (incluindo a preparação para a cobertura do evento, a cobertura em si e o que ocorrerá pós-encontro); a cobertura de catástrofes climáticas; e a importância de não considerar o jornalismo ambiental como uma editoria isolada e separada dos outros assuntos dentro da redação.

Kátia Brasil destacou a importância de relatar o que de fato está acontecendo, valorizando o compromisso do jornalista com a verdade. No começo do evento, ela exibiu um vídeo sobre as consequências de queimadas e secas na Amazônia em 2023.
“Nós, da Amazônia Real, íamos entrevistar ribeirinhos que estavam sem água potável devido à seca. Antes disso, durante a madrugada, eu acordei às 3h da manhã, e havia fumaça por todos os lados. Não dava para enxergar nada. Então, aproveitando que já tínhamos essa cobertura, decidi gravar esse vídeo para mostrar o impacto da fumaça e das queimadas”, explicou Kátia. “Quando o jornalista está contando essas histórias, ele não está sendo ativista, ele está contando a verdade. Pois somos também cidadãos, é preciso contar o que está acontecendo, seguindo nosso compromisso com a democracia. Isso é só um exemplo do que acontece na Amazônia hoje. Daqui a pouco todo mundo esquece tudo isso, mas os sintomas permanecem por muitos e muitos anos, por isso é importante registrar e relatar o que de fato está acontecendo”.
A cofundadora da Amazônia Real também falou sobre a segurança dos jornalistas durante coberturas ambientais e a importância de denunciar ameaças e ataques: “Muitos empresários e grandes empresas acabam processando jornalistas e veículos que cobrem a Amazônia e a crise climática, pois não gostam do que é divulgado. A imprensa tradicional sofre também, mas eles têm departamento jurídico para cuidar do caso, diferentemente da maioria dos veículos de jornalismo independente. É importante relatar ameaças aos jornalistas. A maior parte da imprensa só divulga quando são jornalistas da casa, mas é importante que a mídia dê visibilidade a toda e qualquer ameaça e ataque a jornalistas, ao jornalismo. O Brasil é um dos países que mais ameaça e ataca jornalistas no mundo”, refletiu Kátia.
Verónica Goyzueta falou sobre a importância de apoiar os veículos jornalísticos, principalmente a mídia independente, que faz reportagens de fôlego muitas vezes sem qualquer apoio jurídico ou plano de segurança para seus repórteres: “O jornalismo investigativo, feito em campo, precisa de dinheiro. A imprensa independente, principalmente, está precisando recorrer a instituições para conseguir aportes financeiros, mas se as pessoas doassem mais, esses veículos não teriam tantas dificuldades. O dinheiro também ajuda a pensar em planos de segurança, para garantir a integridade física de nossos repórteres, pois eles cobrem temas delicados, que mexem em assuntos que denunciam corrupção, desmatamento, exploração, e com grandes empresas, com ricos, com poderosos”.
A professora da ESPM também refletiu sobre a forma equivocada como as pessoas (e até a própria imprensa) enxergam o jornalismo ambiental, como se fosse algo focado apenas na Amazônia, catástrofes e cobertura de grandes encontros: “Jornalismo ambiental é muito mais do que isso. É sobre vida, sobre natureza, sobre ciência. A cobertura do clima não pode ser isolada de outros assuntos, pois é algo transversal, que percorre todas as editorias, de saúde, política, economia, entre outros. E isso é fundamental que as direções das redações tenham em mente. Às vezes sinto que muitos veículos colocam notícias sobre meio ambiente só para ter mesmo, cumprir tabela, como uma simples burocracia e não uma necessidade. É preciso mudar a mentalidade da grande mídia”.

Verónica falou também sobre a cobertura de catástrofes. Ela chamou a atenção para uma espécie de “profundidade seletiva”, na qual a imprensa foca e dá mais atenção a determinadas catástrofes, em detrimento de outras: “As enchentes no Rio Grande do Sul, por exemplo. É uma catástrofe avassaladora e foi fundamental ter a cobertura que teve. Mas inúmeras catástrofes também acontecem a todo momento, todo o ano, em diversos lugares do País. Temos problemas muito sérios que ocorrem em todo o Brasil frequentemente. Na grande imprensa, tenho a impressão de que certas crises são mais importantes que outras. Todas essas catástrofes, crises, devem ter a mesma profundidade de cobertura”.
Daniela Chiaretti destacou o compromisso do jornalista que cobre pautas ambientais: mostrar o que de fato está acontecendo, com profundidade, fontes confiáveis e ética, mas, acima de tudo, mostrar para o público as soluções, as alternativas para os problemas relatados.
“O jornalismo deve mostrar os caminhos para a mudança. Outras catástrofes virão, isso é inevitável. Então, como podemos combater esse sentimento pessimista de que tudo vai acabar, o mundo vai acabar?”, questionou ela. “É preciso enfrentar os problemas. Simplesmente tem que mudar. A rota em que estamos é uma rota de desastre. Quando ouvimos cientistas e pesquisadores renomados dizendo que estão apavorados é porque a situação está feia mesmo. Estamos frente a um desafio civilizatório. E não vamos fazer nada? Precisamos mudar. É preciso discutir como quebrar, descobrir outras maneiras, quais são as outras maneiras. Existem muitas respostas por aí. Então, acho que o papel do jornalista, em especial o que cobre meio ambiente, é seguir tentando encontrar soluções e mostrar essas soluções para o público, mostrar que há esperança”.
Daniela afirmou que uma das formas de se conseguir isso é ficarmos atentos à COP30 e seus desdobramentos, focando em temas discutidos no evento que devem ocupar o debate público por muitos e muitos anos: “Será muito importante se o jornalismo conseguir pegar um tema da COP que gerará anos de discussão, algo essencial para nossas vidas e gerações futuras. Um desses temas pode ser o petróleo, por exemplo, e outras alternativas de combustível aqui no Brasil. Nós, como jornalistas, precisamos trazer esses temas para os leitores, principalmente para aqueles que não querem ler mais, pois só leem catástrofes”.
A repórter do Valor Econômico destacou também a importância de maior transversalidade do jornalismo ambiental nas redações e como é preciso que o repórter climático esteja sempre atualizado no que se refere a termos e conceitos científicos que usará em seus textos.
“Nós, jornalistas que cobrimos clima, estamos sempre aprendendo, com cientistas, pesquisadores, referências na área. Precisamos nos atualizar com termos científicos, assuntos, pesquisas, sempre para buscar a verdade nas informações”, explicou Daniela. “Afinal de contas, clima é algo que entra em todas as esferas da nossa vida. No esporte, vemos atletas que perdem performance devido a altas temperaturas, isso afeta Copas do mundo, grandes eventos etc. Na educação, esses temas entram na grade curricular com muita força. Na tecnologia, discute-se a energia solar para abastecer maquinários, e assim por diante.
Próximo encontro debaterá fake news e desinformação
Está marcado para 26 de maio (uma segunda-feira) o terceiro encontro do ciclo O presente e o futuro do jornalismo – Insights, cujo tema será O Jornalismo sob o impacto da desinformação – Qual o tamanho dessa batalha e os riscos para a democracia?. Farão parte da mesa Eurípedes Alcântara, diretor de Redação do Estadão; Ana Dubeux, diretora de Redação do Correio Braziliense; e Marília Assef, diretora de Jornalismo da TV Cultura. As inscrições serão abertas na próxima semana.
Mariah Morais lança livro sobre vida e trajetória de Cafu
Mariah Morais, jornalista e escritora que foi a primeira mulher a comentar partidas de futebol na televisão brasileira, lançou o livro A Saga Cafu: O Grande Sonho (Trend Editora), que conta a trajetória do ex-jogador e capitão da Seleção Brasileira Marcos Evangelista, o Cafu, passando pelas dificuldades como as reprovações em peneiras, desafios para treinar na juventude, falta de recursos para se manter como jogador, até seu auge como capitão da seleção pentacampeã mundial.
O livro, que marca a estreia de Mariah como biógrafa, contém relatos do próprio Cafu, além de depoimentos de familiares, amigos e jogadores que atuaram com o craque. Os relatos são acompanhados de QR codes que levam para as versões em vídeo dos depoimentos, com o objetivo de “aproximar ainda mais os fãs do ícone do esporte brasileiro”, diz a autora, que cobriu duas Copas do Mundo e 11 Libertadores da América.
Preciosidades do acervo Assis Ângelo: O cego na História (parte 3)
Por Assis Ângelo
Machado de Assis foi um gigante da literatura brasileira. A sua obra corre mundo até os dias de hoje. E creio não ser exagero meu dizer que a sua obra inspira e direciona caminhos de poetas, contistas e romancistas de todos os naipes, desde que partiu, na manhã de 29 de setembro do já distante ano de 1908.
Tão grande como Machado foi o português José Saramago.

O “bruxo” do Cosme Velho, como era à boca miúda chamado Machado, começou a publicar seus escritos quando ali alcançava os 15 anos de idade. A primeira publicação foi um soneto dedicado a uma mulher que até hoje ninguém sabe quem.
Saramago (1922-2010) começou a publicar quando já respirava do alto dos seus sessentinha. Era bruxo como Machado, no campo da literatura.
Machado virou bruxo, segundo a lenda, por ter o hábito de queimar num tacho, no quintal da casa onde morava, coisas de que não gostava.
Lenda é lenda.
Saramago bruxo?
A pecha de bruxo a Saramago deve-se ao fato de que tirava da imaginação histórias do arco da velha. Com modificações, com começos e fins inimagináveis por seres ou leitores quaisquer. Parecia ser ele um ser de outro mundo.
Há grandes coisas e momentos em comum entre esses dois craques da literatura clássica.

Machado nasceu em berço paupérrimo. Seu avô era escravo e o pai nascido livre. A mãe morreu muito cedo e no seu lugar o pai pôs outra mulher. Essa foi de extrema importância na vida do nosso bruxo. Foi ela, uma doceira, que o alfabetizou.
Saramago também nasceu de pais pobres, no interior de Portugal. Estudou até os 12, 13 anos de idade. A grana da família não dava para bancar seus estudos. Virou serralheiro, desenhista e funcionário público antes de tornar-se quem se tornou.
Machado, como muita gente deve saber, era jornalista e funcionário público. Aliás, foi como jornalista que Saramago começou a ser conhecido no seu país.
Joaquim Maria Machado de Assis teve problemas seriíssimos com os olhos. Saramago também, só que sem gravidade.
Em 1995, José de Souza Saramago publicou Ensaio sobre a Cegueira. Saiu e continua saindo em várias línguas mundo afora. No Brasil, foram à praça cerca de 500 mil exemplares. Virou filme dirigido por Fernando Meirelles.

É livro que prende o leitor do começo ao fim. Começa com um motorista que se vê obrigado a parar diante de um farol vermelho. Ao virar verde, o farol se abre para os veículos. Um desses veículos continua parado e o motorista, em desespero, não sabe o que fazer. Esfrega os olhos e diz simplesmente: “Estou cego!”.
Machado nasceu pobre, Saramago nasceu pobre e aquele que se tornaria o Papa Francisco também nasceu pobre. Estudou, encheu a cabeça e boca de línguas virando professor de literatura. Falava latim, francês, espanhol, português, italiano e alemão. Inglês falava pouco, de modo reticente. Dá até para juntar sílabas e distribuí-las em linhas ou pés como versos são assim também chamados:
Originais do Brasil
Portugal e Argentina
Os três nasceram livres
Pra cuidar da própria sina
Pensando e discutindo
Nossa vida severina
Em 1991, Saramago publicou O Evangelho Segundo Jesus Cristo, romance que deixou a Igreja de cabelo em pé. Um tanto nervoso, Saramago chamou o papa de plantão, Bento XVI, de cínico. E palavras de baixo calão não usou para classificar Bento porque, diga-se de passagem, era moço de boa família e bem educado.
O fato é que esse livro de Saramago provocou a fúria dos católicos mais retrógados.
A fúria aumentou quando o escritor falou numa entrevista que “Bíblia é manual de maus costumes”. Disse, em seguida, que “o pecado foi inventado pela Igreja”.
Quando morreu nas Canárias, Espanha, Saramago foi alvo de pesadas críticas no L’Osservatore Romano.
Dez anos depois disso, o mesmo jornal tece loas sobre o escritor. Título: Saramago e a Miopia do Mal.
O último texto publicado sobre Saramago no L’Osservatore Romano teve caráter de paz entre o escritor e a Igreja.
Guerra da Igreja com autores ao longo do tempo não teve passo para trás, pelo menos até 1966. Nesse ano, o Índex foi oficialmente suspenso. Mas autores como Shakespeare, Maquiavel, Galileu, Descartes, Voltaire, Sartre e Vitor Hugo continuam com obras indesejáveis à visão da Igreja.
O mundo todo o viu
Tranquilamente rezar
Pedindo mais tempo a Deus
Para entre nós ficar
Seu desejo era fazer
À Terra a paz voltar
O Francisco papa foi chamado de o melhor representante da Igreja Católica. Era popular, estava sempre ao lado do povo. Pra ele, todos éramos iguais: preto, branco, gordo, magro, alto, baixo, careca e cabeludo… Masculino, feminino e gêneros outros que formam a nossa sociedade desde sempre.
Em junho de 2016, em audiência pública no Vaticano, o Papa aqui dito lembrou a história do cego de Jericó. Uma história fantástica. Nessa história, o personagem é Bartimeu, nascido cego. Cristo o curou.
O cego, como o sertão de Guimarães Rosa, está em toda parte.
Contatos pelos assisangelo@uol.com.br, http://assisangelo.blogspot.com, 11-3661-4561 e 11-98549-0333
- Leia também: