O Anuário Informática Hoje, publicação especializada em tecnologia da informação que analisa o desempenho anual do mercado brasileiro, comemora neste mês de novembro 40 anos de circulação. Além de analisar as empresas do setor, o anuário premia os melhores desempenhos em suas respectivas áreas de atuação. A publicação também ranqueia as 200 maiores empresas de TI do País, com dados analisados por uma equipe especializada no segmento, sob a supervisão de professores da Fundação Getulio Vargas de São Paulo.
O Portal dos Jornalistas conversou com Wilson Moherdaui, publisher da Fórum Editorial, responsável pelo anuário. Ele falou sobre a importância de uma publicação especializada em tecnologia chegar a 40 anos de circulação, os desafios e obstáculos da cobertura do setor, a necessidade de se adaptar constantemente e a ameaça da inteligência artificial. Leia a entrevista na íntegra:
Portal dos Jornalistas – Qual a importância de uma publicação especializada em tecnologia chegar a 40 anos? O que representa esse marco?

Wilson Moherdaui – Se eu me deixasse levar só pela emoção, certamente poderia resumir minha resposta a uma única frase: é um tremendo orgulho lançar a edição especial de 40 anos do Anuário Informática Hoje. Afinal, não é trivial que uma publicação jornalística brasileira complete 40 anos. Ainda mais quando se trata de uma publicação especializada em tecnologia.
Mas não seria coerente com a trajetória do Anuário deixar de destacar o papel dele como fonte de informações e análises fiéis e independentes do mercado brasileiro de tecnologia da informação. Acredito sinceramente que esta edição, como as 39 anteriores, cumpre o compromisso de fazer uma radiografia apurada e isenta do desempenho econômico-financeiro e das estratégias das empresas que atuam no setor brasileiro de TI.
Portal – Fale um pouco sobre a história do anuário. Como surgiu a ideia da publicação?
Wilson – Em abril de 1985, enquanto o Brasil vivia os angustiantes dias da agonia do presidente eleito Tancredo Neves, lançamos o Informática Hoje, uma publicação semanal, em formato tabloide, impressa em papel jornal, em quatro cores (algo inédito na época), especializada em tecnologia. Meses depois, como um desdobramento natural do IH, surgiu o Anuário Informática Hoje, com a proposta de analisar o desempenho econômico-financeiro do mercado brasileiro do que hoje chamamos de tecnologia da informação. Era uma espécie de Melhores e Maiores (NdaR.: edição especial anual da revista Exame, da Editoria Abril), numa versão focada nas empresas de informática.
Além de analisar os balanços das empresas do setor, o Anuário passou a premiar as empresas com o melhor desempenho em seus respectivos segmentos de atuação (como hardware, software, serviços, distribuição e revendas, por exemplo). Como deve fazer toda publicação jornalística que ousa atribuir prêmios, o Anuário sempre adotou critérios claros e objetivos, que são explicitados logo nas primeiras páginas de cada edição. Com isso, em pouco tempo o Anuário tornou-se referência para o mercado brasileiro. Ao ponto de várias empresas terem sido compradas ou incorporadas por outras ou por grupos de investidores justamente pelo fato de terem sido premiadas.
J&Cia – Como um profissional que cobre o setor da tecnologia da informação há anos, fale sobre as peculiaridades do setor, os desafios e obstáculos encontrados durante essa cobertura e a necessidade de se adaptar constantemente, pensando nas novas tendências que surgem a todo o momento.
Wilson – Acho que o maior desafio dos jornalistas que, como eu, cobrem um setor tão dinâmico quanto o de tecnologia é se manterem atualizados sobre o processo acelerado de inovação das empresas, dos centros de pesquisa e dos profissionais envolvidos. Não seria exagero dizer que esses jornalistas especializados são os que mais sofrem de uma síndrome que costumo chamar de “ansiedade da informação”. Só para ilustrar essa afirmação de uma forma prosaica: a capacidade de processamento de um mainframe (nome que se dá aos grandes computadores, que nos anos 1980 ocupavam salas inteiras) é infinitamente menor do que a de um smartphone dos dias de hoje. Imagine o que isso significa no dia a dia de quem se propõe a cobrir esse tema. A velocidade da inovação é diretamente proporcional à ansiedade de quem se propõe a descrevê-la para o seu público – sejam leitores, ouvintes ou espectadores, nos veículos tradicionais ou nas implacáveis mídias sociais.

J&Cia – Nos dias atuais, é impossível falar em tecnologia e não pensar em inteligência artificial. Como você enxerga a evolução da IA, seus benefícios e ameaças ao setor?
Wilson – Nos anos recentes, surgiram muitas expressões no mundo da tecnologia das quais a gente nunca mais ouviu falar – como metaverso, por exemplo. Agora, chegou a vez da inteligência artificial. Só que essa veio para ficar e transformar radicalmente o mundo em que a gente vive. Para o bem e para o mal.
Considerando que a IA é a capacidade que soluções tecnológicas têm de simular a inteligência humana, realizando determinadas atividades de maneira autônoma e aprendendo por si mesmas – graças ao processamento de um grande volume de dados que recebem de seus usuários –, não dá para imaginar até onde ela pode chegar. Mas o objetivo final dos desenvolvedores dos sistemas de IA é chegar o mais próximo possível da capacidade do cérebro humano. A dúvida não é se, mas quando isso vai acontecer. O que talvez possa nos tranquilizar é que, mesmo em velocidade difícil de acompanhar, isso virá gradualmente, não de uma hora para outra.
De qualquer forma, a IA vai estar em todos os processos corporativos, na educação, na medicina, na indústria, no urbanismo, no processo eleitoral – enfim, nenhuma área de atividade humana vai escapar.
O jornalismo como a gente conhece também nunca mais vai ser o mesmo: o jornalista não será substituído por uma IA, mas o profissional que não souber usar a IA com certeza será menos completo do que um que souber. E o grande segredo, aqui, não só para nós, jornalistas, é aprender a fazer as perguntas corretas (o que no jargão a tecnológico chamam de prompt) para extrair o melhor conteúdo da IA.
Se eu precisasse apontar minha maior preocupação com o uso da IA sem dúvida seria a segurança da informação. É aí que mora o perigo. Notícias falsas, vídeos adulterados, imagens fraudulentas já fazem parte da nossa rotina. Contra tudo isso costumo dizer que é preciso dispor de ferramentas de proteção, produzidas justamente… pelos sistemas de IA.
Mas, voltando ao Anuário, não é por acaso que a expressão mais frequente nas reportagens e entrevistas que publicamos é, sem dúvida, inteligência artificial. Quer como parte da estratégia de negócios, quer como solução oferecida aos clientes, ou ainda como ferramenta de gestão dos próprios fornecedores de tecnologia.

J&Cia – Como você descreveria o panorama do setor da tecnologia da informação nos últimos anos? E quais são as expectativas e previsões para os próximos? É possível afirmar se o saldo é mais positivo ou mais negativo?
Wilson – Sem dúvida, por tudo o que a gente falou aqui, com todas as ressalvas necessárias – especialmente em relação à segurança das pessoas e à preservação da democracia –, o saldo é positivo.
O exemplo mais claro dos últimos anos foi a revolução provocada pela introdução do 5G, a quinta geração da telefonia celular, que permitiu transformações incríveis em setores como a Internet das Coisas, a automação industrial, os carros conectados, as cidades inteligentes, o agronegócio, a logística, a saúde.
Um último comentário: é muito significativo que esta edição especial do Anuário seja lançada exatamente quando se celebram os 40 anos da redemocratização do Brasil – marco histórico de civilidade e símbolo da esperança de que o País se desenvolva com soberania, educação, maturidade tecnológica, mas, acima de tudo, com o respeito indelegável aos princípios de justiça social para o seu povo.

















