Naief, Flavia e Rodrigo (Crédito: Adriano Vizoni/Folhapress)
Foi lançado A Palavra e o Poder– Uma Travessia Crítica por 40 Anos de Democracia Brasileira (Civilização Brasileira), livro que propõe uma discussão aprofundada sobre a democracia no Brasil a partir de textos publicados pela Folha de S.Paulo ao longo destas quatro décadas e selecionados entre mais de 150 mil artigos.
Organizada por Rodrigo Tavares, Flavia Lima e Naief Haddad, a obra foi concebida para trazer um diálogo entre tempos e gerações em que pares de textos compõem um panorama para quem quer compreender os desafios brasileiros.
No total, são 81 artigos, sendo 40 originais assinados por figuras centrais da vida política, cultural e intelectual brasileira nas últimas quatro décadas, como Alexandre de Moraes, Caetano Veloso, Darcy Ribeiro, Demétrio Magnoli, Drauzio Varella, Fernanda Torres, Oscar Niemeyer e Sueli Carneiro, além dos oito presidentes que o País teve nesse período; outros 40 textos inéditos, que dialogam com os artigos do passado, produzidos por nomes relevantes da atualidade, entre eles Djamila Ribeiro, Elena Landau, Luiza Trajano, Thiago Amparo e Txai Suruí; e um texto hors concours de Ulysses Guimarães, publicado em 1984.
Em cada dupla de textos de A Palavra e o Poder há uma introdução que explica o contexto de produção do artigo original e propõe caminhos de leitura para o diálogo que se segue.
Parque da Cidade, em Belém, onde será realizada a COP30 (Crédito: Raphael Luz / Ag. Pará)
Diretamente de Belém, sede da Conferência das Nações Unidas, a Globo cobre a COP30. De 6/11, início da Cúpula dos Líderes, até o encerramento do evento, 40 jornalistas estarão voltados para acompanhar as discussões sobre meio ambiente e emergência climática. O encontro, que reunirá líderes mundiais, cientistas, ONGs, empresas e representantes da sociedade civil, vai provocar ainda grande alteração no ritmo da cidade. Tudo isso está programado para aparecer nos telejornais e programas da TV Globo e GloboNews, além do g1.
TV Globo tem séries sobre os temas centrais
Logo no início de novembro, o Hora 1 veiculará reportagens sobre novas tecnologias desenvolvidas em universidades brasileiras e internacionais para combater a poluição, o aquecimento global e o descarte de resíduos. Thaís Luquesi, apresentadora da seção Mapa Tempo, usará recursos de realidade aumentada para detalhar temas debatidos, como os países que mais poluem e os que mais investem em energia limpa.
Mais próximo ao evento, Hélter Duarte apresentará uma série especial sobre a gestão da água no Bom dia, Brasil, discutindo como equilibrar escassez e abundância, apresentando desafios e soluções. O Jornal Hoje terá, no início de novembro, uma série de reportagens em cinco episódios, sobre iniciativas empresariais voltadas à sustentabilidade, como restauração florestal, transição energética e adaptação no campo. Jacqueline Brazil, nos primeiros dias da conferência, vai comandar o Mapa Tempo COP30, com imagens no telão do jornal para explicar o papel do Brasil na luta contra o aquecimento global.
No Jornal Nacional, já na próxima segunda-feira (27/10), Pedro Bassan iniciará uma série especial com reportagens sobre iniciativas de recuperação dos biomas brasileiros. Em 3/11, o correspondente Felipe Santana trará outra série, de cinco episódios, que percorrerá diferentes países e contextos sobre decisões políticas, interesses econômicos e avanços tecnológicos que estão moldando o futuro do planeta. No início de outubro, o JN exibiu uma série especial com o repórter Tiago Eltz sobre os impactos das mudanças climáticas no agronegócio brasileiro e como o setor tem se adaptado a esse novo cenário.
O Jornal da Globo, a partir do início de novembro, terá uma sequência de reportagens sobre os temas mais urgentes da crise climática e soluções inovadoras, como a redução das emissões de metano com uma nova ração para o gado, tema central da COP30, entre outros.
Nos programas semanais, Sonia Bridi estreou no Fantástico de 12/10 a série Terra: ainda temos tempo, programada para seis domingos. Com o repórter cinematográfico Paulo Zero, Bridi volta aos lugares do mundo em que estiveram 15 anos atrás para comparar os efeitos da aceleração do aquecimento global. O Globo Repórter começa nesta semana (24/10) a apresentar, com a repórter Lilia Teles, quatro episódios sobre os principais temas da COP30.
Parque da Cidade, em Belém, onde será realizada a COP30 (Crédito: Raphael Luz / Ag. Pará)
GloboNews aposta na ancoragem local
Para a GloboNews, André Trigueiro, Míriam Leitão, Fernando Gabeira, Andreia Sadi, Julia Duailibi, Marcelo Cosme e Aline Midlej farão ancoragens e análises diretamente da capital paraense. A programação especial incluirá edições ao vivo dos programas Cidades e Soluções, GloboNews Miriam Leitão e o GloboNews Internacional. Dia 5/11, estreia a série Amazônidas, em que a produção retorna à região para revisitar, em dez episódios, dilemas registrados em 2019.
g1 cobrirá o encontro e os impactos no cotidiano da cidade
O g1 terá duas repórteres acompanhando de perto as negociações internacionais e as transformações no cotidiano da cidade. Cem dias antes da conferência, o portal começou a publicar diariamente, até o início do evento, uma série de vídeos curtos com explicações sobre os principais temas em debate. Esse conteúdo pode ser acessado.
O bilionário Elon Musk, que há três anos comprou o Twitter e tem 227 milhões de seguidores na plataforma que rebatizou de X, fez 1.017 ataques contra a imprensa em sua conta entre setembro de 2024 e setembro de 2025 — a média de quase três por dia.
A contagem foi feita pela organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) em uma análise sobre as narrativas de Musk para desacreditar o jornalismo, alinhadas ao discurso do presidente dos EUA, Donald Trump.
Segundo a RSF, seja em suas próprias postagens, comentários, reportagens ou republicação de citações de terceiros, Elon Musk acusa repetidamente a imprensa de propagar “desinformação” ou de ser vítima de um “virus woke”, ou ainda de ser “a ala de propaganda do Partido Democrata”.
Mais de um terço das postagens analisadas pela RSF sugerem que a mídia desinforma o público. Em resposta, o empresário apresenta X, sua própria rede social, como um “antídoto”, salienta a RSF.
O levantamento da RSF destaca exemplos da retórica de Elon Musk, como “O New York Times é pura propaganda”, ou “a sigla AP (da agência de notícias Associated Press) quer dizer ‘Propaganda Associada'”.
“Os ataques de Elon Musk muitas vezes assumem a forma de slogans que facilmente ficam na mente das pessoas, viralizam e equivalem a campanhas de difamação”, aponta a organização.
“Esses bordões curtos, constantemente repetidos e apresentados como verdades universais, servem como lemas, reforçando a ideia de que a mídia tradicional é fundamentalmente desonesta ou atende a interesses.”
Para receber as notícias de MediaTalks em sua caixa postal ou se deixou de receber nossos comunicados, envie-nos um e-mailpara incluir ou reativar seu endereço.
Esta semana em MediaTalks
ChatGPT-5 dá mais respostas estimulando comportamentos perigosos do que versão anterior, revela pesquisa. Leia mais
Itália: jornalista investigativo da RAI ganha proteção policial em nível máximo após bomba explodir em seu carro em Roma. Leia mais
Programa britânico sobre empregos ameaçados por IA termina com revelação surpreendente: a repórter era uma IA. Leia mais
Instagram exibe mais conteúdo de transtornos alimentares a jovens já infelizes com o corpo, revela estudo interno. Leia mais
O ativista extremista Bruno Silva foi detido no começo da semana em Vila Nova, na região Metropolitana de Porto, no norte de Portugal, após direcionar ameaças de morte à jornalista brasileira Stefani Costa, correspondente do Opera Mundi no País. Após passar pela primeira audiência, o criminoso, que é um cidadão luso-brasileiro, teve sua prisão preventiva decretada nesta quinta-feira (23/10).
Stefani comemorou a decisão em suas redes sociais. A jornalista explicou que é a primeira vez na história de Portugal que alguém indiciado por ameaças e discurso de ódio recebe essa medida de prisão preventiva. Desde 2023 como correspondente do Opera Mundi em Portugal, Stefani trabalhou também em reportagens especiais no Líbano, na Ucrânia e no México. Cobriu eventos importantes como as cúpulas do BRICS de 2024 e 2025. Trabalhou também como correspondente em outras publicações como revista O Sabiá, Brasil Já e Jacobin Magazine. No Brasil, atuou na Bandeirantes e no Brasil de Fato.
Em suas redes sociais, Bruno Silva fazia postagens de apologia ao nazismo e à xenofobia. Em um dos posts, ele escreveu que forneceria um apartamento no centro de Lisboa para quem matasse pelo menos 100 brasileiros em Portugal, além de um adicional de 100 mil euros para quem matasse Stefani Costa. O ativista vai responder por discurso de ódio e incitamento à violência.
Vale lembrar que, em maio do ano passado, Bruno já havia sido denunciado por Amanda Lima, outra jornalista brasileira que trabalha em Portugal, no jornal Diário de Notícias, justamente por postagens de ódio contra ela, incluindo ameaças de morte e comentários xenófobos e racistas. O ativista chegou a retratar Amanda como macaca em mais de uma postagem, escrevendo coisas como “volta para a tua terra” e “as tuas raízes no Brasil não se apagam”.
Levantamento feito pela Casa do Brasil de Lisboa, divulgado recentemente pela agência de notícias Deutsche Welle, mostrou que o discurso de ódio contra brasileiros vem crescendo em Portugal. A Comissão Europeia pediu que o país adote medidas mais firmes contra o discurso de ódio e violência online.
O empresário e ex-primeiro-ministro de Portugal Francisco Pinto Balsemão morreu em Lisboa em 21/10, aos 88 anos, devido a um câncer.
Nascido em Lisboa, começou a trabalhar desde cedo na imprensa, assumindo o cargo de secretário de redação do Diário Popular em 1963. Dez anos depois, em 1973, fundou o semanário Expresso, um dos principais jornais da mídia de Portugal, que ganhou destaque durante a redemocratização do país. Ele também criou o canal SIC, o primeiro privado do país.
Após a Revolução dos Cravos, em 1974, fundou o Partido Popular Democrata, atual Partido Social Democrata (PSD). Tornou-se primeiro-ministro em 1981, preparando o país para ingressar na Comunidade Europeia e foi sucedido por Mário Soares. Em 1992, de volta à iniciativa privada, fundou a SIC (Sociedade Independente de Comunicação). Seu canal jornalístico, SIC Notícias, começou a operar em 2001.
O presidente de Portugal Marcelo Rebelo de Sousa decretou luto oficial de dois dias.
(*) Colaboração de Lena Miessva, jornalista e profissional de comunicação, de Portugal
A Folha de S.Paulo informou que Lívia Marra, editora-adjunta de Home, assumiu interinamente em 21/10 o cargo de secretária de Redação da publicação. Ela entra na vaga de Roberto Dias, que pediu desligamento do jornal, onde estava desde 1997, tendo nesse período exercido diversas funções. “Como integrante do comando da Redação, com rigor e ânimo incansável, ajudou o jornal a fazer sua transição digital. A Folha deseja boa sorte a ele em sua nova etapa profissional”, destacou o comunicado assinado pelo diretor de Redação Sérgio Dávila.
Roberto Dias (Crédito: LinkedIn)
Em um novo momento de sua carreira, Roberto deixa o dia-a-dia das redações e segue para a área corporativa, onde a partir da próxima segunda-feira (27/10) passará a atuar como diretor executivo da FSB em São Paulo, reportando-se ao diretor-geral Marcelo Montenegro.
Lívia Marra (Crédito: LinkedIn)
“A chegada do Roberto reforça o compromisso da FSB Holding em combinar talentos internos e novas experiências — uma mistura essencial para sustentar o crescimento acelerado da empresa”, destacou Alexandre Loures, sócio-controlador e líder da área privada na FSB Holding. “Trazer profissionais com vivências diversas amplia nosso olhar, gera aprendizado para todos e fortalece ainda mais a nossa capacidade de inovar”.
A Federação Internacional de Jornalistas Agrícolas (IFAJ, na sigla em inglês) anunciou em 18/10, durante o congresso da entidade realizado este ano em Nairóbi, no Quênia, os vencedores do IFAJ Star Prize 2025. Entre os trabalhos destacados pela iniciativa, uma das mais importantes dedicadas à cobertura do agronegócio no mundo, estão dois brasileiros, ambos contemplados com medalha de prata em suas categorias.
Com a reportagem Crédito de carbono chega à pecuária, publicada na edição de julho de 2024 pela revista DBO, Ariosto Mesquita ficou com a segunda colocação na categoria Impresso. Já em Cultura Rural, o prêmio foi para Leandro Fidelis, da revista Conexão Safra, pela reportagem Uma revolução verde capixaba, publicada em junho de 2024.
Ambos os profissionais são filiados à Rede Agrojor, que integra a lista de associações ligadas à IFAJ. “A conquista de Ariosto Mesquita e Leandro Fidelis no Star Prize 2025 mostra que o talento e a qualidade do jornalismo agro brasileiro já são reconhecidos lá fora”, destacou Vera Ondei, presidente da Rede Agrojor. “Agora é hora de ampliarmos essa presença, inscrevermos nossos trabalhos, participarmos dos congressos e mostrarmos ao mundo a força da nossa produção”.
O sexto encontro do ciclo O presente e o futuro do Jornalismo – Insights, que J&Cia realiza em comemoração aos seus 30 anos, em parceria com a ESPM-SP e que fechará a série, debaterá o tema Democracia sob espreita. A proposta é trazer reflexões sobre Os desafios da imprensa diante da ascensão e do protagonismo da extrema direita. Onde estamos errando e onde estamos acertando?
O debate, em 27 de outubro, das 9h30 às 12h30, na ESPM Tech (Rua Joaquim Távora, 1240, Vila Mariana, São Paulo), terá a participação de Carla Jimenez (UOL), Leão Serva (consultor e escritor) e Ricardo Gandour (ESPM/R.Gandour Estratégia e Comunicação), com moderação de Verónica Goyzueta (ESPM, Vocentro e Porvir). Inscrições gratuitas aqui, mas com vagas limitadas.
Os convidados
Carla Jimenez
Jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero, com extensão em Finanças (FIA-USP), Carla Jimenez é colunista do UOL, onde também ocupou o cargo de editora-chefe de Política entre dezembro de 2023 e agosto de 2025. Foi diretora e editora-chefe do jornal El País no Brasil (2013-2021) e cofundadora do portal Sumaúma Jornalismo (2022). Foi colunista de política na CartaCapital e no The Intercept Brasil (2022). Especializou-se na cobertura de macroeconomia e negócios em veículos como O Estado de S. Paulo, Agência Estado, IstoÉ Dinheiro, CanalRh, PEGN e revista Época. Apaixonada pelo Brasil, onde vive desde criança, nasceu em Santiago do Chile.
Leão Serva
Jornalista e escritor, ex-diretor de Jornalismo e correspondente da TV Cultura em Londres (2019-25), Leão Serva foi secretário de Redação e diretor de Marketing da Folha de S.Paulo e participou da equipe de criação do iG (Internet Grátis) e do jornal eletrônico Último Segundo. Teve passagens pelos jornais O Estado de S.Paulo, Lance e Diário de S.Paulo e pela revista Placar. Mestre e doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, fez pesquisa doutoral no Warburg Institute (School of Advanced Studies, Unversity of London). Atualmente realiza pesquisa em pós-doutorado no Departamento de Antropologia da USP. Colaborou com o projeto Amazônia, do fotógrafo Sebastião Salgado. É autor de diversos livros, como Jornalismo e Desinformação (Ed. Senac), A Fórmula da Emoção na Fotografia de Guerra (Ed. Sesc) e Um Tipógrafo na Colônia (Casa Matinas). Professor de Ética Jornalística na ESPM-SP, acaba de ser eleito como um dos 100 +Admirados Jornalistas Brasileiros (Jornalistas&Cia).
Ricardo Gandour
Engenheiro civil pela USP-São Carlos, jornalista pela Cásper Líbero, mestre em Ciências da Comunicação pela ECA-USP e Visiting Scholar na Columbia Journalism School, Ricardo Gandour foi editor e diretor de publicações na Folha, diretor de publicações na Editora Globo, diretor executivo no Diário de S.Paulo, diretor de conteúdo do Grupo Estado e diretor de jornalismo da Rede CBN. É membro dos conselhos de Instituto Palavra Aberta, Instituto TornaVoz e do Columbia Global Center Brazil. É professor de jornalismo na ESPM e diretor fundador da RGandour Estratégia e Comunicação, que presta consultoria a entidades e instituições. Escreveu Jornalismo em retração, poder em expansão – A Segunda Morte da Opinião Pública (Summus Editorial).
Verónica Goyzueta
Peruana de nascimento, Verónica Goyzueta trabalha há quase 30 anos como correspondente internacional no Brasil, escrevendo sobre política, economia, cultura, Amazônia e meio ambiente para diversos veículos, como dos grupos Dow Jones, Financial Times e Vocento (Espanha). Foi editora no Brasil da revista AméricaEconomia, coordenadora do Amazon Rainforest Journalism Fund no Pulitzer Center e presidente da Associação dos Correspondentes de São Paulo (ACE) ao longo de uma década. Organizou os livros Guerra e Imprensa e O Brasil dos Correspondentes. É professora de jornalismo da ESPM, correspondente do ABC da Espanha e foi cofundadora do portal Sumaúma.
O grande poeta chileno Pablo Neruda (1904-1973) deixou uma obra enorme, em todos os sentidos.
Ainda na adolescência costumava escrever dois a cinco poemas diariamente.
Com a idade de 15 ou 16 anos, Neruda publicava seus escritos em periódicos da sua terra, em capítulos.
Em 1923, o mestre chileno das letras estreava no mundo da poesia com o livro Crepusculário. Nesse livro se acha o soneto Velho Cego, Choravas. Ei-lo:
Pablo Neruda (Crédito: Elfikurten)
“Velho Cego, choravas quando a tua vida
era boa, quando possuías nos teus olhos o sol:
mas se o silêncio já chegou, o que é que esperas,
o que é que esperas, cego, desta maior dor?
Em teu rincão pareces menino nascido
sem pés para a terra e sem olhos de mar
e como os animais dentro da noite cega
– sem dia e sem crepúsculo — cansas de esperar.
Porque se conheces o caminho que leva
em dois ou três minutos para a vida nova,
velho cego, o que esperas, que podes esperar?
E se pela amargura mais dura e destino,
animal velho e cego em caminho e tino,
eu que tenho dois olhos saberei te ensinar”.
Neruda andou por nossas plagas entre 1945 e 1954, ciceroneado pelo bom baiano Jorge Amado. E não custa dizer que, ao contrário do argentino Jorge Luis Borges (1899-1986), detestava poderosos de direita. E ao contrário de Neruda, que era declaradamente comunista, Borges que tinha especial admiração por poderosos fardados, desenvolveu toda a sua literatura sem a visão dos olhos. É dele o poema Um Cego. É muito bonito:
Jorge Luis Borges (Crédito: Elfikurten)
“Não sei qual é a face que me fita
Quando observo a face de algum espelho;
No seu reflexo espreita-me esse velho
Com ira muda, fatigada, aflita.
Lento na sombra, com as mãos exploro
Meus invisíveis traços. O mais belo
Fulgor me atinge. Vi o teu cabelo
Que é já de cinza ou é ainda de ouro.
Repito que perdi unicamente
A superfície sempre vã das coisas.
O consolo é de Milton e é valente,
Mas eu penso nas letras e nas rosas,
Penso que se pudesse ver a cara
Saberia quem sou na terra rara”.
O mestre argentino tinha entre seus leitores o conterrâneo que virou papa: Francisco.
Outro grande poeta que findou seus dias cego foi o inglês John Milton (1608-1674).
John Milton (Crédito: gravura de Jacob Houbraken, 1741)
John Milton escreveu muita coisa bonita em línguas diversas: latim, italiano, inglês, francês, alemão etc. Entre seus escritos poéticos se acha Paraíso Perdido, de 1667, no qual há um embate entre Deus e o diabo.
Ainda não foi dito, creio, que o nosso Machado de Assis se inspirou em Milton para escrever o conto A Igreja do Diabo, de 1884. Tanto numa como na outra obra, o diabo acaba onde sempre deveria ou deverá estar: no Inferno.
É em Paraíso Perdido, poema desenvolvido em 10.565 versos brancos, que se lê a famosa frase: “É melhor reinar no inferno do que servir no Céu”.
Atenção, meus amigos e amigas, alerto: o Milton a quem nos referimos é o Milton nascido e crescido na Inglaterra. Enfim, lá na terra dele chegou a ser preso político por criticar a monarquia. Detestava esse tipo de governo. E, por defender o que defendia politicamente, pagou caro: seus direitos foram cassados, inclusive o da profissão que exercia como professor.
O mais importante épico poético na língua inglesa de Shakespeare foi feito por John Milton e nasceu de modo ditado quando já estava completamente cego.
Quem diria que a velha pergunta “você ouviu o episódio?” ganharia uma continuação tão natural quanto estranha: “ou… assistiu?”. O movimento, que começou discreto, virou correnteza. Em 2025, podcasts de duas, três, cinco horas ocupam telas de TVs e celulares como se sempre tivessem sido feitos para isso. A questão, como provocou o Castnews ao ecoar uma reportagem do New York Times, é menos “por que tanto vídeo?” e mais “quem está vendo tudo isso — e como está vendo?”
A resposta, por enquanto, é híbrida. Em abril de 2025, um estudo da Cumulus Media com a Signal Hill Insights mostrou que quase três quartos dos consumidores de podcast reproduzem vídeos de podcasts (muito frequentemente minimizados ou em segundo plano), contra cerca de um quarto que fica só no áudio. Aproximadamente 30% admitem deixar o vídeo rodando enquanto trabalham e apenas “dão olhadelas” quando algo prende a atenção — uma escuta visual por osmose. A preferência, portanto, não é binária; é situacional. E vale para várias idades, não apenas para a Geração Z. Em números, o áudio ainda é o modo principal de consumo, mesmo com o avanço do vídeo. Ou seja: assistimos… ouvindo.
Do lado das plataformas, a virada é oficial. Em fevereiro, o YouTube celebrou 1 bilhão de pessoas/mês consumindo podcasts por lá — um marco que reposiciona a plataforma como o “canal de TV” da podosfera, especialmente porque o consumo migrou para a sala de estar: mais de 1 bilhão de horas por dia na TV e centenas de milhões de horas de podcasts assistidas nos televisores por mês. O resultado: patrocínios e formatos passam a exigir componente de vídeo com mais frequência, e o feed se comporta como grade — com recomendação, clipes, cortes e “programas de entrevistas” que lembram a TV a cabo de outrora.
No Spotify, a trilha é semelhante. Em meados de 2024, já havia 250 mil podcasts em vídeo, com 170 milhões de usuários tendo visto pelo menos um; quase 70% dos que consomem vídeo por lá o fazem “em primeiro plano”. Em 2025, a plataforma reforçou a remuneração de vídeos de criadores, sinalizando aposta de longo prazo no formato e acirrando a disputa com o YouTube. Se antes o podcast vivia no bolso e no fone, agora ele ocupa a TV da sala — e disputa a mesma atenção de séries e jogos.
O retrato não é só de crescimento; é de mudança de gramática. A narrativa longa, de estúdio simples, contraria o culto do clipe de 15 segundos — e, ainda assim, encontra público. Parte assiste de verdade; parte “ouve com a tela ligada”. É por isso que a estatística engana quando não esclarece o que conta como visualização (30 segundos? Metade do programa? Clipes recortados?). O próprio levantamento mencionado pelo Castnews alerta: há um abismo entre acompanhar quatro horas de Lex Fridman e ver dezenas de cortes no TikTok e no Shorts. A mesma etiqueta (“view”) guarda comportamentos muito diferentes.
(Crédito: ageimagem)
Nessa crônica audiovisual, três peças estão se encaixando:
Descoberta e alcance: o YouTube empurra podcasts como empurra músicas e vídeos; o algoritmo sugere, a audiência responde, e os cortes virais “reabastecem” o funil. Daí a sensação de que podcasts viraram televisão de baixo custo: cenários simples, conversas longas, carisma no centro. A Wondery (Amazon) não esconde a previsão: mais programas sobre comida e viagens — categorias queridas de anunciantes — ganham tração justamente porque o vídeo “mostra” o que o áudio apenas evoca.
Hábito de consumo: o multitasking manda. O mesmo ouvinte ora assiste ativo, ora minimiza a janela e volta ao puro áudio. Na média, 58% ainda tratam podcast como áudio (mesmo em players de vídeo), e a maioria usa além do YouTube uma segunda plataforma favorita (Spotify ou Apple). A onipresença em telas não matou a intimidade do fone; apenas a colocou sob luz.
Economia e produção: vídeo profissional encarece a barreira de entrada e pressiona criadores menores — um dos temores relatados por produtoras que fizeram escola no formato narrativo em áudio. Ao mesmo tempo, para quem já tem público, o vídeo abre novas janelas (literalmente) e diversifica receita. A sala de estar voltou ao jogo — e com ela os CPMs de “tela grande”.
E a crítica? Ela passa por clareza de métricas e pluralidade de formatos. Se tudo passa a ser contabilizado como “view”, corremos o risco de julgar o ecossistema por uma régua que ignora o valor do escutar sem ver. A força do podcast sempre esteve em permitir que a vida siga — trânsito, cozinha, treino, trabalho — enquanto histórias nos acompanham. Ira Glass, guardião de uma estética que o vídeo não substitui, lembra o óbvio que esquecemos: “Há poder em não ver”. O audiovisual amplia; não precisa substituir.
Ao fim, o podcast virou televisão… sem deixar de ser rádio. O público escolhe quando precisa de companhia na tela e quando só quer uma voz no ouvido. Para quem produz, a lição é dupla: explorar o vídeo onde ele soma (descoberta, distribuição, patrocínio) e proteger o coração sonoro do formato (roteiro, edição, ritmo, proximidade). Para quem mede, o desafio é separar clipe de capítulo, play de atenção, tela acesa de ouvido presente. Sem isso, confundiremos barulho com escuta — e audiência com ausência.
Fontes
Castnews — “Do áudio ao vídeo: quem está assistindo a todos esses podcasts?” (21 jul. 2025), com base em reportagem do The New York Times e dados de Cumulus/Signal Hill. CASTNEWS
Cumulus Media & Signal Hill Insights — Podcast Download: Spring 2025 (relatório e release). Confirma que áudio segue modo principal de consumo e detalha hábitos de “assistir ouvindo”. Cumulus Media +1
YouTube (Tim Katz) — “Drop the Mic: 1 Billion Monthly Podcast Users on YouTube” (26 fev. 2025). Marco de audiência e posicionamento da plataforma para podcasts. blog.youtube
Bloomberg — “A Billion People Are Watching Podcasts on YouTube Every Month” (26 fev. 2025). Cobertura do marco e contexto competitivo. Bloomberg
The Verge — cobertura de living room e TV: “YouTube is now even bigger on TVs than phones” (2025) e “400 million hours of podcasts watched on TVs monthly” (2024).