Aos 86 anos, Helle Alves viveu na noite desta 5ª.feira (18/4) um dos momentos mais emocionantes de sua vida, com o lançamento de Eu vi – Quando mataram Che Guevara e outros momentos da História, na Livraria do Espaço. Estimulado por Chico Lelis, editor do Diário do Comércio, e Ivani Cardoso, amigos de longa data dela e conhecedores de sua impressionante saga, Jornalistas&Cia somou-se a eles numa homenagem mais do que merecida, com uma edição especial em que aproveita para contar um pouco da vida de Helle e para convidar a todos os seus leitores para esta noite mais do que especial de lançamento de Eu vi. Desafiada por J&Cia, Ivani em dois dias produziu o texto para o especial edição, que conta um pouco da história de Helle Alves, pioneira no jornalismo, assim como foi sua irmã, Vida Alves, na televisão brasileira. Confira aqui.
Eleição na ABI, marcada para 26/4, está na alçada da Justiça
Segue o impasse diante da eleição na ABI. Nesta 3ª.feira (16/4), a juíza Maria da Glória Bandeira de Mello, titular da 8ª Vara Cível do Rio de Janeiro, negou o pedido da chapa de oposição Vladimir Herzog para suspender o processo eleitoral e determinou que a eleição ocorra em caráter condicional (sub judice), até que a ABI responda às alegações contidas no processo. Caso sejam acatadas as reivindicações, será realizada nova eleição. Caso contrário, permanece a administração vencedora até uma eventual decisão em contrário. Mauricio Azêdo, presidente da ABI e candidato à reeleição na chapa Prudente de Morais, repete a indignação que já expressou na mídia: “A ABI está sendo alvo de uma campanha de mentiras, e responde aos ataques com os argumentos de que dispõe. Lideram a pretensa chapa, que não consegue se registrar, diretores que não renunciaram aos cargos e se uniram a pessoas que nem jornalistas são”. Seu desabafo se complementa com uma agressão verbal ao opositor Domingos Meirelles: “Temos confiança de que vamos derrubar as pretensões de Domingos Meirelles, moleque e oportunista”. A advogada Maria Arueira Chaves, do escritório Siqueira Castro Advogados, que representa a ABI, não conseguiu obter, em cartório, uma cópia do processo antes que a juíza – que ela considera muito cautelosa – desse o despacho. Depois que tomou conhecimento da ação pelo site do Tribunal de Justiça, e viu que a juíza pretende reapreciar a decisão após a ABI apresentar sua resposta, a advogada prepara sua defesa, mas aguarda que a entidade seja citada, o que ainda não ocorreu. A chapa de oposição entrou com processo pleiteando o adiamento da eleição por não conseguir seu registro a tempo. Também nesta 3ª.feira (16/4), representantes da chapa participaram de uma reunião extraordinária do Conselho da ABI para apresentar o que consideram as muitas irregularidades cometidas – sobre a escolha da comissão eleitoral e os prazos estabelecidos, entre outros aspectos –, “sempre contrariando o estatuto da entidade”. Em seguida, encontraram-se com seus advogados para decidir se devem entrar com um agravo ou o recurso contra uma decisão não definitiva. No despacho mencionado, a juíza considera que, por enquanto, a ação não tem provas suficientes. Paulo Jerônimo de Souza, o Pajê, protesta: “Quer mais prova que apresentar o estatuto e mostrar que não foi obedecido?”. Um dos entraves que a oposição encontrou foi a exigência de os candidatos estarem em dia com o pagamento das mensalidades, ao mesmo tempo em que a ABI não recebe esses pagamentos, por ter dado férias ao funcionário responsável, e se recusar a emitir boletos de cobrança. Para comprovar a diferença de tratamento dispensado às duas chapas, a oposição teve acesso à cópia do cheque pessoal de Mauricio Azêdo, nominal à ABI, destinado ao pagamento de mensalidades de fevereiro de 2013 de 17 associados em atraso, quase todos candidatos da situação. Uma curiosidade é que, na listagem desses associados, aparece o nome de Arcanjo Antonino Lopes do Nascimento, o Tim Lopes, morto tragicamente em 2002. Parece ter sido apenas uma confusão, já que o irmão dele, Miro Lopes, é candidato na chapa Prudente de Morais, da situação. Marcada para 26/4, com chapa única, esta eleição não parece reservar surpresas. Mas seu desenrolar, talvez. J&Cia reproduz a seguir carta encaminhada pelo movimento de oposição Vladimir Herzog e que está circulando na internet: Quando a primeira vítima é a verdade Nos últimos dias, Maurício Azêdo mentiu a todos os jornais que o procuraram para falar sobre a crise política e financeira que abala a ABI, a mais longeva guardiã das liberdades. Mentiu a O Globo, Estadão e Folha de S.Paulo sem nenhum constrangimento. Mentiu à repórter Laura Antunes, de O Globo, ao negar a existência de uma crise financeira, informando que a ABI estava, inclusive, realizando reformas no prédio com recursos próprios. A repórter ignorava que o andaime cenográfico montado na 6ª.feira de carnaval, em volta do edifício-sede, foi instalado apenas para enganar a imprensa e o corpo social. Não se viu até hoje nenhum operário trabalhando na fachada do prédio. Quem tiver alguma dúvida, basta consultar os inquilinos das lojas do andar térreo, os principais prejudicados com o emaranhado de ferragens que dificulta a circulação de pedestres e a entrada e saída de clientes. Se não existisse crise financeira, não teria sentido Azêdo participar pessoalmente das audiências na Justiça do Trabalho, ao lado do advogado da ABI, para pedir que as indenizações devidas aos empregados, todos demitidos pela mulher, fossem parceladas em seis e até doze meses. A alegação para o pagamento parcelado é de que a ABI “não se encontra em boa situação financeira”. Azêdo mentiu ao Estadão ao afirmar que a entidade tem três mil associados. Fornadas de jornalistas abandonam a cada ano a ABI, descontentes com os rumos da atual administração. No seu corpo social existem apenas 600 associados em dia. Nas eleições realizadas anualmente, para a renovação do terço do Conselho Deliberativo, pouco mais de 100 associados aparecem para votar. Azêdo foi grosseiro com os integrantes da Chapa Vladimir Herzog ao qualificá-la como um “bando de oportunistas”. Uma chapa que tem entre seus integrantes Alberto Dines, Ziraldo, Carlos Chagas, Zuenir Ventura, Flávio Tavares, Joseti Marques e Domingos Meirelles, além de outros companheiros com uma trajetória profissional respeitável, merece ser tratada com mais respeito. Azêdo mentiu aos três jornais ao negar a existência de uma crise política. Os desentendimentos com a diretoria não começaram agora, mas em 2005, oito meses depois de ser eleito pela primeira vez (atualmente encontra-se no terceiro mandato e é candidato pela quarta vez). Naquele ano, metade da diretoria demitiu-se oito meses depois da posse por não concordar com métodos autoritários do atual presidente da ABI. A segunda crise ocorreria dois anos depois, em 2007. Um funcionário nomeado com superpoderes por Azêdo, à revelia da Diretoria, agrediu fisicamente a diretora-administrativa. O caso terminou na polícia e o agressor foi condenado na Justiça. Apesar de não ter assistido à cena, Azêdo assumiu a defesa do funcionário. Sustentou que a diretora é que o havia esbofeteado. As comemorações do Centenário da ABI, no Teatro Municipal, em 2008, provocaram a terceira grande crise. Os membros da diretoria foram encaminhados pela mulher de Azêdo para um camarote distante. Do outro lado do salão, Azêdo recebia convidados especiais numa festinha privê, em meio a salgadinhos, canapés, champanhe, uísque e vinho importado. Audálio Dantas, então vice-presidente da ABI, chegou atrasado e, sem saber, dirigiu-se ao salão onde o presidente festejava os 100 anos da instituição ao lado de amigos particulares. Ao tentar entrar, acreditando que a diretoria estava também reunida naquele local, foi barrado pelas recepcionistas porque seu nome não constava da lista de convidados. Audálio demitiu-se da ABI meses depois. A quarta crise ocorreu em 2010. Durante uma assembleia-geral tumultuada, onde foi alvejado com graves ofensa pessoais, o presidente da ABI conseguiu remover o artigo 44 do Estatuto que limitava a reeleição a dois mandatos. Sem o artigo 44, ele poderá reeleger-se ad eternum. A crise de 2013, que levou à formação da Chapa Vladimir Herzog, foi provocada pela grave situação em que se encontra a entidade, com quase todos os seus andares sob penhora como garantia de dívidas previdenciárias e tributárias, que chegam a cerca de R$ 8 milhões.
Acordo no TRT fixa corte no Estadão em 31 vagas em São Paulo
Em reunião no TRT-SP na tarde desta 2ª.feira (15/4), a direção do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, representantes do Grupo Estado e membros da Comissão de Negociação dos jornalistas da empresa fecharam acordo de conciliação sobre as demissões no Estadão que reduz em parte a dramaticidade da decisão da empresa, ao mesmo tempo em que garante benefícios extras aos que saem. O acordo prevê o pagamento de dois salários nominais aos profissionais a título de rescisão e a extensão por mais seis meses do plano de saúde. Essas condições estarão garantidas adicionalmente para qualquer profissional que venha a ser cortado pela empresa nos próximos 60 dias. Com o acordo, foi cancelada a liminar que suspendeu as demissões. O jornal, por seu lado, confirmou oficialmente serem 31 em São Paulo. A audiência foi conduzida pelo desembargador Davi Furtado Meirelles e pela juíza Patrícia Therezinha de Toledo. Pelo Sindicato, participaram o secretário-geral André Freire, o diretor Jurídico Paulo Zocchi e o advogado coordenador do Departamento Jurídico Raphael Maia. Também acompanharam a reunião Domingos Fontan, diretor do Sindicato dos Empregados da Administração das Empresas Proprietárias de Jornais e Revistas de São Paulo, e o vice-presidente do Sindicato dos Jornalistas do DF Wanderlei Pozzembom (este, como convidado, para poder fazer o mesmo acordo valer para os cinco demitidos da Capital Federal). Segundo J&Cia apurou, a empresa ficou de depositar as verbas rescisórias na conta dos demitidos já nesta 3ª.feira (16/4). O Sindicato marcou para esta 4ª (17/4), às 15h, nova assembleia na porta da empresa para fazer uma avaliação final da mobilização, debater seu encaminhamento e resultados e discutir como prosseguir com a organização dos jornalistas.
Luís Nassif prepara projeto de jornalismo colaborativo
Luís Nassif lança na próxima semana o piloto do GGN, projeto jornalístico que pretende trabalhar temas relevantes pouco abordados pela mídia, como gestão, inovação, direitos sociais, justiça de transição etc., além da cobertura comentada das notícias do dia. Segundo ele, “estamos juntando um conjunto de organizações, instituições, especialistas e grupos de discussão que tratam desses temas para tentar construir e aprofundar o chamado modelo de jornalismo colaborativo. E também para fugir da dicotomia esquerda-direita que tem caracterizado o jornalismo online. Vamos começar em marcha lenta até pegar a embocadura”. Nassif diz que será uma iniciativa independente da sua Agência Dinheiro Vivo, para permitir, futuramente, atrair investidores, e que está contratando a equipe inicial, bastante enxuta, que terá coordenação de sua irmã Maria Inês, que para assumir o novo desafio está se desligando do Instituto Lula: “No início, sobreviverá de publicidade e patrocínios. Os patrocínios estarão amarrados a salas temáticas, que serão abertas à medida que os consigamos. A médio prazo, a ideia será desenvolver ferramentas de gestão do conhecimento que possam ser utilizadas por nós e fornecidas a terceiros”.
Contratações irregulares agitam semana em órgãos públicos no DF
Denúncias de acúmulo de funções, contratações irregulares e a necessidade de realização de concurso público para jornalistas em órgãos da esfera pública marcaram a semana no Distrito Federal. Segundo o Sindicato dos Jornalistas, repórteres cinematográficos da TV Brasil estariam acumulando, há mais de um ano, as funções de técnicos e editores em viagens pela empresa. Além disso, queixam-se de trabalhar em condições insalubres e de carregar equipamentos de muito peso. A situação já foi apresentada à direção da empresa em duas reuniões de avaliação da implantação do Acordo Coletivo. Segundo a assessoria de imprensa da EBC, a Diretoria de Administração e Finanças receberá os diretores sindicais para tratar sobre o Acordo Coletivo, ocasião em que também poderá abordar o assunto. O Sindicato dos Jornalistas também acusa o Ministério do Meio Ambiente de contratar 15 profissionais de Comunicação por meio de empresa de limpeza – desse total, dez são jornalistas e dois são repórteres fotográficos. Há informação de que somente três profissionais da área tenham sido admitidos por concurso, e que os demais são terceirizados – neste caso, por empresa que não tem a ver com a área de atuação dos profissionais. Já no STF, houve uma reunião com o Sindicato, em 10/4, para discutir a necessidade de realização de concurso público para jornalistas. Há informações de que a assessoria da instituição também trabalha com profissionais terceirizados, por meio de contrato com uma empresa de serviços gerais da Bahia. Na TV Justiça, os profissionais são contratados pela Fundação Renato Azeredo; e na Rádio Justiça, pela Agência Radioweb. De acordo com Jonas Valente, secretário-geral do Sindicato, o Judiciário está atrasado em relação a outros poderes, como o Legislativo e o Executivo: “A Câmara e o Senado contam com um grande número de jornalistas no quadro de servidores. Mesmo no Executivo, a perspectiva da EBC é substituir pessoas de fora por profissionais concursados. Mas no Judiciário a realidade é totalmente diferente”. Wellington Geraldo Silva, secretário de Comunicação do STF, comentou que a disposição do órgão é de reverter esse quadro e incluir no próximo concurso algumas vagas para jornalistas. Ele defendeu a importância de profissionais da Casa estarem à frente dos veículos coordenados pelo Supremo, mas adiantou que este será um processo gradual. Representantes do Sindicato propuseram que, enquanto isso, as licitações do órgão comportem mecanismos para assegurar o respeito aos direitos trabalhistas. Ramon Santos, coordenador-adjunto e responsável pela Rádio e TV Justiça, informou que já há uma discussão para incluir garantias na licitação que será realizada para o novo contrato da Rádio Justiça. Ao final, STF e Sindicato decidiram que irão estabelecer uma agenda conjunta com o objetivo de melhorar as condições de trabalho dos jornalistas do órgão.
Especial Dia do Jornalista: Repórter de alma interiorana
Ele já fez de tudo no jornalismo, de reportagem policial a cobertura de massacre de trabalhadores na zona rural e Copa do Mundo da França Direitos humanos e sociais estão no seu DNA, destacando-se no currículo profissional, no qual despontam também fatos curiosos. Nas viagens pelo sertão do Brasil, chegou a ficar cara a cara com uma onça. Tremeu de medo, bastava um pulo do “gato” para ter virado uma refeição. Certa vez mentiu para aliviar a pressão numa batida policial, que abordou de forma pouco gentil a equipe de reportagem no meio da floresta, repleta de conflitos agrários. O temível episódio, no entanto, virou piada, como veremos mais adiante. Por fatos como estes, e centenas de outros, é que Marcelo Pasqualoto Canellas, um dos mais premiados jornalistas do Brasil, tem um sonho, que pretende realizar em breve: escrever um livro. “São 25 anos de estrada. Revendo as coberturas que fiz, as coisas que vi, percebi que é tudo ligado ao interior; meu sonho é escrever um livro com a alma interiorana”, afirmou Canellas numa rápida entrevista no saguão do aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Nos dias seguintes, seria quase impossível encaixar um tempo para bate-papo por causa da programação de uma reportagem que faria na capital paulista para o Fantástico, da Rede Globo, onde integra o núcleo de reportagem especial de Brasília. Embora possa ser encontrado num dia no Rio Grande do Sul, no outro no Pará, ou no chaco matogrossense, é em Brasília que está com a vida estruturada. Divorciado, dispensa prioridade aos dois filhos – Pedro, 11, e Gabriel, 7 –, de cuja companhia procura desfrutar em todos os momentos possíveis. O sentimento interiorano, no entanto, fala forte, mesmo envolvido pela urbanidade da Capital Federal. A compensação foi a compra de quatro hectares de terra, na região de Sobradinho, cidade-satélite da capital. No terreno tem pequenas plantações de feijão, milho, mandioca. “Pego os guris e vamos pra lá”, disse. Essa relação com a terra acompanha Canellas desde criança. Seu pai e um irmão são agrônomos e a mãe, professora de História. Ele próprio iniciou faculdade na área de Agronomia, mas logo percebeu que gostava de relatar acontecimentos em geral, e tinha muita curiosidade, especialmente por casos policiais. Não titubeou, direcionando os estudos para Jornalismo. Nasceu em Passo Fundo, no Rio Grande do Sul. Pouco depois a família se mudou, fincando raízes em Santa Maria, local da tragédia que ceifou mais de duas centenas de vidas de jovens no início deste ano: “Sempre me imaginei fazendo uma grande matéria sobre a cidade, uma coisa diferente, nunca uma catástrofe. Pedi para ficar fora da cobertura. Relutei, mas acabei indo, só que com muita tristeza. Foi estranho”. Para se ter um idéia da paixão dele por Santa Maria, o pequeno sítio de Sobradinho é nominado Boca do Monte, homenagem ao “sobrenome” popular pelo qual a cidade gaúcha é conhecida. Canellas guarda inúmeras recordações de Santa Maria, como as das atividades no movimento estudantil em meados da década de 1980, com a ditadura dando seus últimos suspiros. Foi presidente do centro acadêmico da faculdade e do DCE da Universidade Federal, e integrou a executiva nacional da UNE: “Era muita agitação, manifestação pra tudo, da educação a protesto contra aumento de passagem de ônibus”. Gostava das reuniões, e não perdia festa, sempre na agenda. O futebol idem. Perguntado se era bom de bola, só deu um sorriso, e explicou que atuava de volante, completando, “avançado”: “Eu adorava o Falcão”. Com 1,75 m e 78 kg, ainda hoje gostaria de bater uma bola, mas, aos 47 anos, é difícil arrumar turma nessa faixa etária. Então, resta a emoção dos jogos do Internacional, time do coração, do qual ele tem na ponta da língua todas as principais formações da década de 1970. E, no momento, está esperançoso com Dunga na direção da equipe: “Parece estar dando um jeito no time”. Semanalmente, o vínculo com o Sul é realçado pela crônica que escreve no Diário de Santa Maria. Foi nesta cidade que deu o pontapé inicial da atividade na tevê, na RBS, afiliada da Globo. Na época, os recursos limitados da emissora local, com equipe reduzida, levavam os jornalistas a fazerem um pouco de tudo, condição que o conduziu ao aprendizado de variadas funções na profissão. A coluna também tem espaço no jornal A Cidade, de Ribeirão Preto, interior paulista, o segundo centro onde trabalhou, durante cerca de três anos, e que praticamente abriu o sonhado espaço da grande reportagem, com a qual passou a mostrar sua competência na emissora. “Viajo demais, estou na Globo desde 1990”, afirmou, sem tom de reclamação. Ao contrário, gosta muito, bem como aprecia os “causos” com que topa nas suas andanças pelo País. O encontro com a onça, por exemplo, não foi exatamente uma surpresa. Sempre viaja em parceria com experientes repórteres cinematográficos, sendo os preferidos Luiz Quilião e Lúcio Alves. Já noite, chegou ao alojamento e estranhou Quilião empunhando um facão. “Tem onça rondando”, ouviu o alerta. Acordou bem cedinho e riu ao ver o companheiro ainda abraçado ao facão e bradando: “Morro, mas morro peleando!”. Canellas afastou-se para esvaziar a bexiga no mato e quando se deu conta, a poucos metros, a onça, uma parda, o encarava. As pernas bambearam, um medo terrível atingiu a espinha como raio, só deu tempo de dar um berro, de susto. Foi a onça correndo para um lado e ele para o outro. Sorte que a bexiga já estava vazia. Hoje ele conta rindo. O caso da abordagem policial aconteceu numa estrada de fim de mundo, na região de São Félix do Araguaia, entre Tocantins e Mato Grosso, em 2007. Foi uma interceptação truculenta. O veículo em que a equipe viajava não portava nenhum logotipo para reconhecimento. Sem dar ouvidos às identificações verbais, os policiais foram logo mexendo na aparelhagem, filmadoras, baterias. Assustado, Canellas decidiu apelar. Disse que os equipamentos eram monitorados por satélite. Portanto, em Brasília a emissora sabia onde eles estavam. Imediatamente, a postura dos policiais mudou e a equipe foi liberada. O satélite era um blefe. “Seu” Carlos, o sertanejo de cerca de 80 anos, contratado como guia para a reportagem, ainda muito assustado, e já distante dos policiais, aliviado, desabafou: “Deus seja louvado e abençoe esse tal de satélite”. A equipe caiu na gargalhada. Essas são curiosidades da vitoriosa carreira de Marcelo Canellas. Entretanto, não se pode deixar em branco, sem quaisquer citações, passagens de grandeza do desempenho de Canellas na reportagem, repleta de premiações. Foi assim nas coberturas do impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello, da chacina da Candelária, do massacre dos sem-terra em Eldorado dos Carajás, na série sobre a fome no Brasil, agraciada com a medalha ao mérito da ONU, entre outros prêmios. Neste Brasil de rincões inexplorados, e praticamente desconhecidos, produziu a série Vaqueiros e Peões, a série Terra do Meio, mostrando os conflitos agrários no sul do Pará (foi nessa reportagem que ocorreu a abordagem policial, contada por ele de forma descontraída, mas que mostrou como era a tensão e a truculência na região, exigindo coragem na cobertura jornalística). Currículo invejável, que gera expectativa por futuras reportagens, e pelo novo e sonhado desafio, o livro.
Gisele Loeblein estreia nova coluna sobre agronegócios em ZH
O Zero Hora estreou nesta 2ª.feira (15/4) a nova coluna de agronegócios Informe Rural. Assinada pela editora do caderno Campo e Lavoura Gisele Loeblein, o espaço substitui o que antes era ocupado pela coluna Olhar do Campo, que por três anos foi assinada por Irineu Guarnier Filho. Os textos serão publicados de 2ª a 6ª.feira e trarão assuntos relacionados a agricultura, pecuária, cooperativas rurais, eventos, remates e cotações do mercado. O jornal também lançou recentemente um site específico para assuntos do campo, que pode ser acessado pelo www.zerohora.com.br/campo.
Grupo lança candidatura de Amaury Ribeiro Jr. à ABL
Um grupo de jornalistas, intelectuais e professores universitários progressistas lançou em 8/4 uma campanha para defender o nome de Amaury Ribeiro Jr. para ocupar a cadeira de número 36 da Academia Brasileira de Letras (ABL), que está vaga desde a morte de João de Scantimburgo, em 22 de março. Integrante do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos e um dos fundadores da Abraji, hoje atuando na TV Record, Amaury é autor de A privataria tucana, livro-reportagem em que denuncia irregularidades na venda de empresas estatais durante o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, e sua candidatura está sendo proposta justamente para se contrapor à de FHC, inscrito para disputar a mesma cadeira. As inscrições de candidaturas na ABL podem ser feitas até 26 de abril. Depois desse prazo, a entidade marca em até 60 dias a eleição, em que o indicado deve receber a metade mais um dos votos dos atuais imortais para ser eleito. O manifesto de lançamento do nome de Amaury está no http://migre.me/e2ZVq, onde também se pode aderir à campanha.
Especial Dia do Jornalista: Com o Barcelona, onde o Barcelona estiver
Clóvis Rossi orgulha-se de nunca em sua carreira na Folha de S.Paulo (e lá se vão 33 anos) ter pedido aos chefes na redação para tirar uma folga além dos fins de semana e das férias. Toda vez que circulavam as tradicionais escalas de descanso das equipes que haviam trabalhado nos plantões de Ano Novo, Carnaval ou Natal, ele ignorava. Mas depois de cobrir mais uma vez o Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, no último mês de janeiro, decidiu pela primeira vez quebrar essa tradição em nome de uma boa causa: passar 15 dias com a esposa passeando pela Itália antes de entrar de cabeça na cobertura das eleições naquele País: “Eu tinha férias para tirar e emendei com a folga de Carnaval. De Davos fui direto para a Itália, onde alugamos um apartamento em Milão”. Depois de visitar Bologna e Verona, o casal decidiu passar o Carnaval em Veneza. A lua de mel fora de época estava indo muito bem, obrigado, até que o celular de Clóvis tocou freneticamente durante uma travessia no tradicional vaporetto, a embarcação que serve de táxi para os venezianos e turistas. O visor do aparelho indicava que era alguém da redação. Deu aquele frio na barriga. “Você pode falar com a Vera (chefe de especiais do jornal) sobre a renúncia do Papa?”, perguntou a voz do outro lado. “Na hora achei que se tratava de um trote. Isso nunca aconteceu em 600 anos na Igreja. Mas era verdade”. Depois de voltar correndo para Milão para pegar as malas e cancelar as reservas da etapa seguinte da viagem, em Florença, Clóvis e a esposa desembarcaram em Roma. “Eu viajo menos do que gostaria e mais do que o orçamento do jornal permite. Desta vez passei quase 50 dias fora, mas tive que encurtar as férias”. Uma vez na terra do Papa, repetiu o mesmo ritual de todas as coberturas que fez ao longo da carreira. Passou em uma banca de jornais e comprou tudo o que viu pela frente. Depois, cercou-se de livros sobre conclaves, perfis de papas e afins. E submergiu naquele mundo: “Sou muito inseguro e sempre me sinto como se fosse a primeira cobertura. Me cerco de toneladas de informação. Faço um arquivo monstruoso, mas acabo não usando nada. Minha obsessão é fazer dossiê. Compro livro, revista, jornal, tudo. Só consigo escrever quando acho que entendi o foco do assunto”. Apesar de ter acompanhado outros conclaves, Clóvis diz que esse é o tipo de cobertura mais difícil de se fazer: “É ruim porque não tem fonte. Eu conhecia dom Geraldo Magela [arcebispo-emérito da Arquidiocese de Salvador, na Bahia]. Fiz uma entrevista com ele por telefone. Eu em Roma e ele ainda em Salvador. Os cardeais do conclave não falam e quando falam dizem só platitudes do tipo: ‘Será feita a vontade do Espírito Santo’”. Nos dias que antecederam a fumaça branca que anunciou Francisco, Clóvis e todos os demais colegas foram reféns das informações do porta-voz do Vaticano e dos pitacos dos vaticanistas. “Esses erram mais do que colunista. Todos erraram. Ninguém acertou. Nem sei se é verdade que o Papa foi segundo com mais votos no conclave anterior. Ninguém viola o sigilo”. De volta ao Brasil, o colunista da Folha retomou a sua rotina. Desde 1987, quando assumiu a coluna na página 2, ele não fica mais redação do 4° andar do prédio do jornal, na rua Barão de Limeira. Subiu para uma salinha no 9° andar mas não dá expediente regular: “Nós últimos anos tenho trabalhado em casa. Parto do principio de que vivo de notícia. E a notícia não está aqui, ela está na rua”. Nos últimos tempos, Clóvis tem viajado menos. Mas isso não o incomoda. ”Nasci em redação e a rotina dentro dela nunca me incomodou. O que me incomoda é o trânsito. É perder uma hora para chegar ao jornal e outra para voltar. São duas horas da vida jogadas fora por dia. Isso quando não chove. É um crime”, diz, emendando uma pergunta em seguida. “O que você faz dentro de um carro além de ouvir rádio? Nada. Essa mudança me desestressou de maneira fantástica”. Como mora a dez quilômetros da Folha, perto do aeroporto de Congonhas, ele concentra sua agenda de compromissos na Folha de S.Paulo sempre no mesmo dia e fora do horário de pico. Esta entrevista aconteceu em uma 3ª.feira ao meio-dia. Com dois de seus três netos crescidos e na faculdade, seu xodó atualmente é a pequena Alice, de quatro anos, que é muito agarrada com o avô. Clóvis conta que gasta o restante de seu tempo basicamente assistindo futebol. E faz uma confissão: “Tenho um projeto que nunca vai se realizar: ser setorista da Champions League. Eu pagaria para ver 99% dos jogos. Se alguém me pagasse o que eu pagaria para ver, não existiria melhor profissão do mundo”. Se um gênio da lâmpada surgisse do nada e realizasse o pedido, as pautas já estariam todas na ponta da língua. “Tem jogador brasileiro em pencas na Europa. São 66 ao todo na Champions. Daria para montar seis times. E mais: como vive, por exemplo, o Wagner Love em Moscou? Deve ser uma pauta fantástica. O cara sai de Bangu e vai parar na Rússia. Como ele se comunica com o treinador? Como organiza pagode? Como aguenta o frio? Que negócios giram em torno disso além do jogo em si? E ainda por cima trabalharia seis meses por ano, que seria outra grande vantagem”, brinca. Apesar de ser oficialmente palmeirense, o colunista se diz hoje um torcedor fanático do Barcelona: “Fiz uma coluna dizendo isso, coluna que rendeu muito xingamento. Disseram que eu tinha traído o Palmeiras e trocado o time pelo Barcelona”. Clóvis não se abalou e seguiu dando preferência ao time catalão. “Assisti a alguns jogos do Palmeiras nessas últimas semanas. Não dá, não dá… Aquilo não é futebol. É muito ruim. Não sou masoquista. Sou de uma época que o Palmeiras disputava o título, sempre. Meu sentimento todo hoje está com o Barcelona”. Falou e disse, sem medo de enfrentar a ira da Mancha Verde, temida torcida uniformizada do time – como, aliás, são todas as demais. Pudera. Ser alvo faz parte da rotina desde sempre. Seja nos tempos da ditadura, de FHC ou na era Lula, ele recebeu bombardeio de todos os lados: “Se eu fosse levar a sério os indigentes mentais dos dois lados (PSDB e PT) já teria desistido da profissão há muito tempo. Os tucanos me rotularam como petista e os petistas como tucano”. Clóvis conta que até na cobertura da renúncia e sucessão do Papa sua caixa de e-mail foi tomada de petardos. “Eu critiquei a omissão (do Papa Francisco) na época da ditadura argentina, o que considero uma coisa imperdoável. Me chamaram de ateu, anticlerical e disseram que não gosto do Papa por ser argentino. Que bobagem! Eu vivi na Argentina, onde fui correspondente. Adoro aquele país e os portenhos”. A propósito, sua atual leitura é justamente Os Argentinos, de Ariel Palacios. Antes, leu Outro Israel, de Uri Avnery. A lista de autores favoritos é extensa e ecumênica, de Shakespeare a Machado de Assis, passando por livros de jornalismo: “Todos ajudaram na minha formação”. Antes de encerrar a entrevista, insisto em saber o que ele seria caso não fosse jornalista. A primeira resposta é diplomata, carreira que só não seguiu porque não tinha idade para prestar o vestibular do Rio Branco e acabou indo mesmo de Jornalismo, na Cásper Líbero. A outra opção era jogador de basquete, esporte que praticava até há pouco tempo com os veteranos da ACM de Pinheiros: “Fui campeão sul-americano jogando pelo Sírio juvenil. Quando estava indo para a equipe principal, arrumei emprego em jornal e tive que escolher”. Escolheu o jornalismo por uma razão banal: o basquete conseguia pagar menos do que a redação. Deu no que deu.
De volta ao Brasil, Laurentino Gomes faz ajustes finais em 1889
Laurentino Gomes está de volta ao Brasil depois de um ano nos Estados Unidos fazendo pesquisas para seu próximo livro, 1889, sobre a Proclamação da República, com lançamento previsto para o final de agosto, pela Editora Globo, durante a Bienal do Livro do Rio de Janeiro. Vem com tiragem inicial de 200 mil exemplares, 25 vezes superior à primeira edição de 1808 (Planeta, 2007), sobre a vinda da família real portuguesa para o Brasil, que chegou às livrarias com oito mil exemplares e, segundo ele, vendeu até agora mais de um milhão de cópias. O novo livro, que terá um total de 24 capítulos e cerca de 400 páginas, está em fase de edição, o que inclui checagem das informações, revisões técnica e de texto e projeto gráfico. “É um trabalho bastante intenso”, garante. “Por isso, tenho ficado bastante recluso em Itu, onde moro. Aceitei alguns convites. Um deles para proferir a palestra de abertura do 25º Fórum Brasil, promovido pelo ex-ministro João Paulo dos Reis Velloso, no próximo dia 13 de maio, no Rio de Janeiro. O tema será Duzentos anos de Independência do Brasil – uma interpretação. Falarei sobre a construção do País no século 19, entre a chegada da corte de D. João, em 1808, e a República, em 1889, com uma avaliação final das conquistas e dos problemas que ainda desafiam os brasileiros desde então”. Antes, porém, em 18/4, ele participará em São Paulo do projeto Sempre um papo, de Afonso Borges, onde falará sobre A Literatura enquanto História, no Sesc Vila Mariana, às 20h, com entrada gratuita.






