Foi enterrado nesta 4ª.feira (22/5), no Cemitério da Consolação, o corpo de Ruy Mesquita, diretor de O Estado de S.Paulo que faleceu na noite de ontem no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Ele estava internado desde 25/4 para tratamento de um câncer detectado em estado avançado na base de sua língua. Dr. Ruy, como o chamavam, era o principal nome da família Mesquita no comando do Grupo Estado desde a morte de seu irmão Júlio de Mesquita Neto, em 1996, e o único representante ainda vivo e na ativa da terceira geração dos Mesquita. Com 60 anos de atuação no Grupo Estado, seu primeiro trabalho no jornal O Estado de S.Paulo deu-se na editoria de Internacional, ao lado de Giannino Carta (pai de Mino Carta), nos anos 1950. Nessa época, durante a revolução cubana, foi o único jornalista brasileiro a entrevistar Fidel Castro, por quem chegou a ser homenageado no ano seguinte e de quem mais tarde se tornaria um crítico contumaz, por discordar dos caminhos trilhados pela revolução do “comandante”. Um dos momentos mais fulgurantes de sua carreira foi a criação do Jornal da Tarde, em 1966, com Mino e companhia, que acabou marcando a história do jornalismo brasileiro pela ousadia da proposta editorial, combinando pautas brilhantes, visual refinado e um aprimorado e requintado texto, muitas vezes fazendo fronteira com a literatura. Enquanto teve forças, conseguiu manter o JT como um dos mais importantes jornais brasileiros, mas com os prejuízos financeiros se acumulando e as mudanças ocorridas na gestão da empresa, viu seu projeto perder espaço, desfigurar-se e se esvair progressiva e continuamente, até fechar em definitivo, de forma melancólica, no final do ano passado. As informações de que ele havia sido submetido a uma delicada cirurgia de garganta, para a retirada do tumor, correram discretamente o mercado desde sua internação. Pela idade avançada, já se anteviam as dificuldades de sobrevida. Segundo informa o próprio Estadão, Dr Ruy manteve até a véspera de sua internação uma rotina constante de trabalho no jornal, reunindo-se diariamente com os editorialistas para traçar as linhas gerais dos artigos do dia seguinte. Sua biografia, a consagrada história de vida que construiu por quase nove décadas, nunca foi registrada em livro. Não por falta de oportunidades, mas por decisão dele próprio, que sempre se mostrou avesso às incursões a respeito. Em 2007, Eduardo Ribeiro, diretor deste Portal dos Jornalistas, num encontro com ele, em que esteve na companhia de Audálio Dantas, Dr. Ruy agradeceu o interesse da Mega Brasil em fazer um livro com a sua biografia, descartou a hipótese por não cogitar que isso acontecesse em vida e adiantou que, se um dia cedesse, daria esse privilégio ao Carmo Chagas, ex-profissional da casa com quem há anos já havia se comprometido. Nem a família o demovia dessa decisão, como revelou o filho Ruyzito também num encontro com Eduardo. “Tenho aqui em casa pilhas de documentos sobre o meu pai e sua história de vida. E cederei com a maior alegria para um livro com a sua biografia. O problema é que ele não quer e não há o que o demova dessa decisão. Se vocês conseguirem, terão o meu apoio”, disse então. Com a morte do Dr. Ruy, os olhares dos colaboradores e do mercado voltam-se para os próximos passos da família Mesquita, que, dividida e com dezenas de herdeiros, tem em mãos uma empresa que enfrenta um momento difícil e delicado e que, pela revolução em curso na atividade jornalística, também tem pela frente um futuro repleto de complexos desafios e muitas incertezas. Casado com Laura Maria Sampaio Lara Mesquita, Dr. Ruy deixa os filhos Ruyzito, Fernão, Rodrigo e João, 12 netos e um bisneto. Ironia do destino, no mesmo Hospital Sírio Libanês, onde Ruy Mesquita esteve internado por quase um mês, outro ilustre paciente da imprensa brasileira, capitão da mídia como ele, está sob cuidados médicos há semanas: Roberto Civita, presidente executivo do Grupo Abril, por coincidência um fã declarado dos editoriais do Estadão, como declarou a Jornalistas&Cia, em 2007, numa extensa entrevista para a série Protagonistas da Imprensa Brasileira (www.jornalistasecia.com.br/protagonista09.htm). Civita sofreu um aneurisma abdominal e foi internado para uma cirurgia de implantação de stent na veia aorta. Uma hemorragia de graves proporções, no entanto, tornou o quadro de saúde dele grave, prolongando por prazo indeterminado sua internação e os cuidados médicos a que vem sendo submetido. Isso levou a empresa, inclusive, a comunicar ao mercado seu afastamento temporário e a nomeação interina de seu filho Giancarlo Civita, o Gianca, para a Presidência Executiva do Grupo. Influentes formadores de opinião e dirigentes de dois dos mais importantes grupos de comunicação do País, Civita e Mesquita são personagens relevantes da imprensa brasileira desde a segunda metade do Século XX. Com a ausência de Ruy, perde a imprensa brasileira um dos mais notáveis protagonistas de sua história, herdeiro das tradições de seus antepassados. Homenageado pela Mega Brasil em abril de 2004 com o Prêmio Personalidade da Comunicação, em concorrida solenidade no Centro de Convenções Rebouças, em São Paulo, Ruy Mesquita fez um dos mais duros discursos contra o que chamou de murdochização da mídia, em alusão ao megaempresário Rupert Murdoch, então acusado de adotar uma postura mercantilista e negocial nas empresas jornalísticas que adquiriu e que comandava. No ano seguinte, o mesmo prêmio foi concedido a Roberto Civita. Confira na edição de Jornalistas&Cia que circulou no final da tarde desta 4ª.feira (22/5) a íntegra desse discurso e mais detalhes da morte do Dr. Ruy.
Banco de dados de Zero Hora mostra radiografia do Legislativo Brasileiro
O jornal Zero Hora acaba de lançar em seu site uma radiografia do Poder Legislativo Brasileiro, onde é possível comparar e avaliar o grau de transparência, dados funcionais e financeiros das 26 assembleias dos estados brasileiros e da Câmara Legislativa do Distrito Federal.
Dentre os itens avaliados pelo serviço, que está disponível em http://bit.ly/14JZUh2, estão informações como valor do orçamento, número de servidores ativos e inativos, cargos de confiança e concursados, gasto anual com pessoal, diárias e publicidade, subsídios, benefícios e verba de gabinete.
Segundo Juliana Bublitz, repórter da editoria de Política de ZH responsável pela captação do material, as informações foram solicitadas às assembleias estaduais com base na Lei de Acesso à Informação, mas o retorno nem sempre foi como esperado. “Foram mais de 40 ligações e 95 e-mails enviados nesses dois meses de elaboração, mas ainda assim onze dessas assembleias não responderam. Com isso fomos buscar nos sites, mas muitos deles são ruins e ainda deixam a desejar em termos de transparência, mas a agente vai seguir em busca dessas informações”, explica.
Além da base de dados e do serviço para os leitores o levantamento vem gerando, desde sua publicação, uma série de reportagens e artigos para o jornal sobre os custos do Poder Legislativo no país. A partir dos dados levantados, é possível cruzar informações e ver, por exemplo, que no Distrito Federal cada parlamentar custa em média R$ 16,5 milhões aos cofres públicos enquanto em São Paulo o valor cai para R$ 8,9 milhões.
As discrepâncias também aparecem quando o assunto é a média de funcionários por parlamentar, com 86 no Ceará, 39 em São Paulo, e 27 no Rio Grande do Sul. Implantado em 2012 em Zero Hora, o projeto de jornalismo de dados da publicação já possui hoje diversos números e análises sobre variados temas locais e nacionais, como o acompanhamento da situação dos suspeitos de ligação com a tragédia na boate Kiss, o mapa de furto e roubo de veículos em Porto Alegre, e as características urbanas das cidades gaúchas.
Esses e outros estudos também estão disponíveis na página de Zero Hora, em http://zerohora.clicrbs.com.br.
Defensoria Pública do RS divulga vencedores de seu Prêmio de Jornalismo
A Associação dos Defensores Públicos do Estado do Rio Grande do Sul divulgou na última semana os vencedores da segunda edição de seu Prêmio Adpergs de Jornalismo. Distribuída em cinco categorias, a premiação reconheceu os trabalhos que se destacaram sobre os temas Defensoria Pública, Acesso à Justiça e Sistema Prisional. Na categoria TV, Roberta Salinet, da RBS TV/RS, foi a vencedora com a reportagem O Pior lugar do mundo; em Rádio, o primeiro lugar ficou com Wendell Rodrigues da Silva, da Jovem Pan/PB, com Anjos sem asas; na categoria Impresso, Nathalia Ziemkiewicz de Carvalho, da IstoÉ, foi a vencedora com o trabalho Histórias que assustam a ONU; em Fotojornalismo o primeiro colocado foi Mateus Bruxel, do Diário Gaúcho, com Preso por engano: A luta de uma mãe para libertar o filho; e em Novas Mídias, Paola Bello do Diário Catarinense Online, foi agraciada pelo trabalho Um mês sem Defensoria.
Procuram-se fotos antigas…
Barnabé Medeiros Filho, que está escrevendo 1964 – O golpe que marcou a ferro uma geração (Nova Alexandria), e a editora nVersos, que está produzindo Coisas que vivi, biografia da atriz Norma Bengell, estão à procura de imagens antigas para ilustrar essas obras. No caso da biografia da artista, célebre por gravar o primeiro nu frontal da televisão brasileira, a editora está em busca de fotografias tiradas por profissionais durante a carreira dela. Além de aumentar o número de imagens publicadas, a iniciativa visa a reconhecer e dar crédito a muitas outras que serão utilizadas mas que atualmente não têm identificação do autor. Interessados podem entrar em contato com Camila Caldas pelo [email protected]. Já a obra de Medeiros, que foi militante trotskista e preso político durante a ditadura, e passou pelas redações de Folha de S.Paulo, Editora Abril e O Globo, traz um retrato da geração que cresceu e se tornou adulta no período que vai de 1961 (renúncia de Jânio Quadros) a 1981 (atentado do Riocentro). “É um livro ‘com’ memórias, mas não é um livro ‘de’ memórias e sim um grande painel de época, que fala de política, economia, música, moda, televisão, cinema, teatro”, explica o autor. “Estou à cata de fotos que possam ajudar na ilustração do meu livro, que tenham a ver com aquele período”. Interessados podem entrar em contato com Medeiros pelo [email protected].
Saem os vencedores do Top Etanol
O 4º Prêmio Top Etanol divulga os vencedores desta edição. Patrocinado pelo Projeto Agora, formado por empresas e entidades do agronegócio, o concurso tem cinco categorias de trabalhos jornalísticos e cada uma recebe R$ 10 mil. A comissão responsável pela análise e julgamento desses trabalhos, formada por Geraldo Magella, Márcio Polidoro, Moisés Rabinovici, Niels Andreas e Silvia Yokoyama, elegeu: Jornal – Marcela Ulhoa, do Correio Braziliense, com o trabalho Terra ruim para alimentos, mas boa para etanol; Revista – Clivonei Roberto, da revista Canamix, com Cana leva progresso e esperança ao Centro-Oeste; Veículos eletrônicos – Anderson Viegas, do portal Cananews, de Campo Grande (MS), com As mil faces da cana; Radiojornalismo – Carolina Rodrigues, da CBN Campinas, com O sobe e desce do etanol no Brasil; e Telejornalismo – Richeli Bezerra e Cristina Cavaleiro, da TV Tambaú, afiliada SBT na Paraíba, com A energia da cana. A cerimônia de premiação será em 27/6, no Grand Hyatt Hotel, em São Paulo, durante o Ethanol Summit, um dos principais eventos do mundo sobre energias renováveis, particularmente o etanol e os produtos derivados da cana-de-açúcar.
Carta a Ari Cipola, onde quer que esteja
Por um justo motivo, esta semana tomamos a liberdade de furar a pequena fila de colaborações que temos para este espaço. A propósito do julgamento dos ex-seguranças de PC Farias na semana passada, pedimos a Mário Magalhães ([email protected]), autor de Marighella – O guerrilheiro que incendiou o mundo, autorização para reproduzir um texto que ele publicou em seu blog no último dia 11 de maio.
Ele próprio contextualiza: “Em 1999, Ari Cipola, Paulo Peixoto e eu, então repórteres da Folha de S.Paulo e da Agência Folha, cobrimos a reabertura das investigações sobre as mortes de Paulo César Farias e Suzana Marcolino, ocorridas em 1996. A rigor, publicamos as informações que impediram o arquivamento do processo e fizemos a cobertura do ‘novo’ inquérito policial. Nosso trabalho foi reconhecido com alguns prêmios jornalísticos. Na semana passada, quatro ex-seguranças de PC foram julgados por causa dos homicídios. No meu blog no UOL (http://blogdomariomagalhaes.blogosfera.uol.com.br), escrevi sobre o julgamento. Ao conhecer o veredicto, comentei-o veiculando uma carta para Ari, morto de causas naturais aos 42 anos, em 2004. Ari foi um tremendo repórter e um grande sujeito. Quando Jornalistas&Cia pediu para republicar a carta, fiquei feliz: conhecer a história do Ari só há de fazer bem às novas gerações de repórteres.”
Carta a Ari Cipola (1962-2004)
Onde quer que esteja Salve, Ari, quanta saudade. Já são nove anos, desde aquele fim de manhã, começo de tarde, quando nos despedimos de ti no cemitério em Maceió, depois de o teu coração te pregar uma peça. Não faço ideia de se onde estás as notícias chegam rápido, por isso trato de contar as novidades. Terminou ontem à noite o julgamento relativo às mortes de Paulo César Farias e Suzana Marcolino. Sim, demoraram 17 anos para julgar, e os meus tímpanos tremem só de pensar no teu vozeirão: “Dezessete anos? Para com isso, Marião!”.
Está aí uma coisa que eu nunca entendi: com o dobro do meu tamanho verticalmente e o triplo na horizontal, és tu que me chamas de Marião, e eu jamais te trato por Arizão. Um dia a gente conversa, e tu me explicas isso melhor. Os jurados decidiram que não houve o tal crime passional alardeado pela polícia em 1996, com o endosso de uma turma de peritos que bancou a versão de que Suzana teria assassinado PC e depois se suicidado. O júri popular concluiu que houve duplo homicídio, mas não puniu os quatro réus, aqueles policiais militares e seguranças do PC que tu conheceste.
Achei que gostarias de saber que não foi em vão o teu esforço, farejando pistas e revelando informações que contradiziam a versão oficial de 1996 sobre o crime. É isso mesmo: de acordo com a Justiça, o PC e a Suzana foram assassinados. Ela não deu um só tiro na madrugada ou na manhã de 23 de junho de 1996. Minha opinião sobre a absolvição? Acabei de escrever um artigo sobre isso. O juiz falou em “clemência”. É difícil acreditar que os PMs não tenham ouvido os disparos, mas, se condenados, haveria um incômodo: a punição de peixes pequenos, sem a identificação do mandante. Embora o júri tenha visto o óbvio, as provas ululantes de duplo homicídio, o julgamento consagrou a impunidade: a Suzana e o chapa do Collor foram mesmo eliminados, mas ninguém pagará por isso.
A culpa não é do júri, mas de uma “investigação”, assim, com aspas, em que, no calor do fato, antes de apurar, algumas autoridades já bradavam a tese de crime passional. Ok, sei que sabes disso tudo muito mais que eu. O laudo da equipe do Badan Palhares? O júri popular rejeitou-o, adotando o parecer da equipe do Daniel Muñoz, o legista, e do Domingos Tochetto, aquele gaúcho de sotaque italiano, especialista em balística forense. Imagino que devas estar recordando o perrengue que foi ficar, tu e a tua família, protegido pela Polícia Federal e a Polícia Militar por tanto tempo, depois das intimidações à época da reviravolta no caso, em 1999. Mas eu queria dizer, reitero, que valeu a pena tu não bajulares peritos, não te submeteres às primeiras versões oficiais, preferindo buscar dados novos, exercendo o trabalho do magnífico repórter que és.
A propósito, Ari, tem uma rapaziada de talento despontando na reportagem, mas tu fazes muita falta. Sei que poucos anos depois do Caso PC resolveste largar o jornalismo. Lamentei, mas respeitei a decisão. De todo o modo, tomara que cada vez mais jovens jornalistas conheçam os trabalhos que fizeste. Não haverá melhor inspiração. O Paulo Peixoto, nosso companheiro naquelas investigações de 1999, manda um abraço. Estivemos juntos outro dia, em BH. Continua igualzinho, o tempo tem sido generoso com ele. O Paulo escreveu na Folha uma análise sobre o episódio, talvez tenhas lido. Vou me despedindo, para ficar com a criançada. Depois do Caso PC, como sabes, ganhei uma segunda filha, tão adorável quanto a primeira. Quem não conheces é o caçula, que chegou depois daquela nossa despedida em Maceió. Ontem à noite eu falei de ti para ele, que começou a conhecer a tua história. É isso aí, Ari: enquanto houver quem se lembre da gente depois da partida, nunca morreremos. Abração do velho amigo que não te esquece, Mário
O adeus a Alberto Tamer
Alberto Tamer, um dos grandes nomes do jornalismo de Economia no Brasil, com mais de 50 anos de atuação no Estadão, faleceu neste domingo (19/5), aos 81 anos, vítima de insuficiência cardíaca. Ele estava internado desde fevereiro, quando realizou uma cirurgia no hospital Albert Einstein, e havia um mês foi transferido para o Incor, onde acabou falecendo. Filho de libaneses, nascido em Santos, em 17 de janeiro de 1932, Tamer começou no jornalismo em 1952, pela rádio Excelsior e jornal O Tempo, ambos de São Paulo, cobrindo a área de Política. Quando O Tempo fechou, passou a trabalhar no Correio Paulistano, onde chegou a titular da coluna Janela Aberta. Ainda na cobertura política, passou pela Folha da Noite. Em janeiro de 1958, em plena lua-de-mel, foi despedido do jornal apenas por ter sido o último repórter admitido pela editoria e a empresa sempre cortava os recém-contratados quando havia aumento de salário obtido por intermédio do sindicato. Desorientado, conseguiu uma vaga em O Estado de S.Paulo por dois meses, na área de Economia. Para garantir a permanência no emprego – ao lado de César Costa, Robert Appy e Frederico Heller –, dedicou-se com afinco a aprender tudo o que podia sobre o setor. Desde então, nunca mais deixou de escrever para o jornal. Com Heller, aprendeu a fazê-lo sem usar palavras difíceis: “Uma vez ele implicou com uma palavra que usei, me mandou buscar o dicionário, viu que estava bem aplicada, mas quando eu já ia saindo, todo orgulhoso de ter dado ‘uma volta’ no chefe, perguntou com aquele sotaque carregado (Heller era austríaco): ‘Senhorrr Tamerrr! O senhorrr dirrria esta palavrrra à sua namorrrada?’. Perplexo, eu disse que não. E ele retrucou: ‘Enton, non use no texto!’ Nunca mais esqueci”, disse ele em depoimento a Jornalistas&Cia quando completou 50 anos de Estadão. Não deixou de escrever para o jornal nem mesmo nas duas vezes em que foi adido cultural de imprensa na embaixada brasileira em Londres, entre 1975 e 1977 e entre 1980 e 1983, convidado pelo então embaixador Roberto Campos (1917-2001). Para evitar problemas com o governo militar, passou a assinar com o pseudônimo de Altino Tavares. Pediu demissão quando soube da morte de Vladimir Herzog (1937-1975), mas, atendendo aos pedidos dos correspondentes brasileiros em Londres, permaneceu no cargo até o ano seguinte, quando da visita do ex-presidente Ernesto Geisel (1907-1996) à Inglaterra. Foi, também, comentarista e apresentador nas rádios Jovem Pan e Eldorado e nas tevês Bandeirantes e SBT, em São Paulo, e Manchete, no Rio de Janeiro. Em 1994, mudou-se para Paris, de onde enviou matérias especiais para O Estado, sem deixar de escrever sua coluna. Com seu filho, Luís Sérgio Tamer, criou um site sobre mercado financeiro e imposto de renda que chegou a receber mais de 500 consultas diárias, mas acabou sendo desativado no final dos anos 90. Foi convidado para participar da criação do primeiro Curso de Jornalismo Econômico na Faculdade Cásper Líbero, na década de 60, mesmo não tendo diploma, nem de Jornalismo, nem de Economia. Deu palestras em faculdades durante muitos anos, muitas vezes com professores e alunos de Economia na plateia. É autor dos livros O mesmo Nordeste (Herder, 1968), Nordeste até quando? (Apec, 1968), Transamazônica, solução para 2001 (Apec, 1970), Nordeste, os mesmos caminhos – Reforma agrária, afinal (Apec, 1972), Petróleo, o preço da dependência (Nova Fronteira, 1980), Os caminhos do dinheiro (Ática, 1988), e Os novos caminhos do mercado financeiro (Saraiva, 1991). Sua coluna já foi reproduzida em mais de 40 jornais pelo País, mas passou a ser exclusiva do Grupo Estado. Orgulhava-se de ter incentivado a contratação de Dinaura Landini – a primeira mulher a trabalhar na redação de O Estado de S.Paulo –,de ter sido o primeiro repórter do jornal a ir para a Amazônia e de ser reconhecido pela qualidade e simplicidade do seu texto. Seu corpo foi cremado ainda na tarde deste domingo, no crematório de Itapecerica da Serra. Deixa a esposa Linda Tamer, com quem teve três filhos, que lhe deixaram cinco netos.
Gustavo Henrique Ruffo deixa Car and Driver
Dois anos depois de seu retorno à Car and Driver, o editor Gustavo Henrique Ruffo despede-se da publicação e se une a Marcelo de Queiroz para cuidar do conteúdo do site Autopolis, atualmente integrado editorialmente ao Portal RAC, da Rede Anhanguera de Comunicação, do interior de São Paulo. “Será inicialmente uma parceria, mas se tudo correr bem mais à frente faremos uma sociedade”, explica Queiroz, fundador do site. “A mudança no expediente não será a única novidade que o Autopolis prepara para o mercado. Eu e o Gustavo já conversamos sobre uma série de ideias e teremos boas novidades para as próximas semanas”. Com passagens por Folha de S.Paulo, Gazeta Mercantil, Oficina Mecânica e Ford, Ruffo começou na Car and Driver em 2010, como colaborador e mais tarde editor de testes, saiu e após uma rápida passagem por Quatro Rodas retornou à publicação em maio de 2011. Antes, ainda em 2010, fundou ao lado de Mercedes Cumaru a Agência Motor. “Quando recebi a proposta do Marcelo, ainda estava na revista e vi com muito bons olhos ajudar um site com tanto potencial a crescer”, explica. “Dá mais gosto fazer parte da história do que já pegar pronto. Acabamos fechando um acordo antes do que eu esperava”. Os novos contatos dele são 11-99601-4357 e [email protected].
Correio Braziliense volta no tempo para lembrar Abolição da Escravatura
O Correio Braziliense publicou de 11 a 14/5 (sábado a 3ª.feira) uma série de reportagens especiais propondo uma viagem no tempo para noticiar os 125 anos da Abolição da Escravatura no Brasil, datada de 1888. Nesses quatro dias, as repórteres Grasielle Castro e Renata Mariz pesquisaram e entrevistaram historiadores, trazendo a cada dia um tema contemporâneo abordando a questão racial no Brasil. Na 2ª (13/5), o site do jornal também embarcou na proposta, e fez um “siga ao vivo” da sessão em que a Princesa Isabel sancionou a lei que extinguiu o trabalho escravo no País. Nesse dia, entre 14h e 15h, o jornal simulou notícias em tempo real dos momentos decisivos da sessão do Senado daquele domingo de 13/5/1888, que instituiu a Lei Áurea (veja em http://migre.me/eybuN). A ideia do jornal era reproduzir o acontecimento histórico no Parlamento, assim como o clima da época, misturando ao tempo real fictício notícias sobre a questão racial nos dias de hoje. Fred Bottrel, do portal do Correio, complementou o trabalho de Giselle e Renata. Ele ficou responsável pela inserção das informações no site, que, a propósito, esclareceu ao final da tela: “Os registros históricos consultados e especialistas entrevistados na apuração da série de reportagens apontam imprecisão para horários da sessão decisiva. Nossa cobertura simula o ‘ao vivo’ com liberdade poética neste quesito”. Ivan Iunes, coordenador de Política/Brasil, conta que o ponto de partida para a cobertura da data histórica se deu quando teve acesso ao material editado pela gráfica do Senado – basicamente os discursos da época. E pensou como poderia utilizá-lo de forma diferenciada nesse dia especial. A ideia, segundo ele, era esclarecer melhor o episódio histórico e entender questões como o jogo de poderes e o lobby político utilizados na época. “O que merece destaque nesse trabalho é a percepção sobre como a questão racial é até hoje mal resolvida no País, e como as discussões daquela época, embora mais rebuscadas, se assemelham às do Parlamento de hoje sobre o tema”, compara, referindo-se ao debate dos parlamentares sobre as cotas raciais. “As dificuldades no tratamento da questão racial estão presentes até hoje, 125 depois”, conclui.
Abril Coleções está sem jornalistas
A Abril Coleções, área responsável pelo lançamento das coleções da Abril Mídia, encerrou no mês passado sua operação editorial, o que provocou a saída dos editores Gerson Sintoni ([email protected] e 11-99687-9074), Denise Bobadilha ([email protected] e 11-99960-6356) e Beth Klock ([email protected]). Como a diretora Editorial Cristina Zahar havia deixado a empresa em março, a área segue, em princípio, sem jornalistas em seu quadro. Gerson estava no projeto desde o início, há pouco mais de cinco anos, e antes passou pelo programa Vitrine, da TV Cultura, e pelas revistas Imprensa e Veja SP. Denise estava havia dois anos e meio na Abril Coleções, e antes foi editora e correspondente em Londres da Próxima Viagem. Beth foi por dez anos da Editora Globo, onde editou diversas publicações de moda e comportamento, como Querida e Criativa, e antes da Abril cuidava de edições especiais da Duetto na área de conhecimento.






