Como adiantamos nesta 2a.feira (18/8), conseguimos fazer contado com Renan Antunes de Oliveira, um dos editores do Jornal Já, de Porto Alegre, que publicou na edição de 19/7 do jornal a reportagem Tráfico: empresário leva 25 anos para provar inocência, um verdadeiro libelo contra o assassinato de reputações, história que ele acompanha há 15 anos. Hoje, poucos são os repórteres com essa dedicação e consideramos importante mostrar, principalmente aos mais jovens, como é o processo de trabalho de Renan. Repórter independente em Florianópolis, 64 anos, ele já rodou o Brasil – e até alguns lugares do mundo – atrás de pautas, muitas delas com características de aventura. Em suas andanças, passou por RBS, Estadão, JB, Veja, IstoÉ, TV Cultura SP, TV Gazeta, Rádio SBS da Austrália, rádio do Partido Comunista Chinês e frila do UOL, entre outros. Renan foi questionado sobre seu processo de escolha de pautas, como se organiza para pesquisar assuntos, como se aproxima das fontes sobretudo nesses temas mais polêmicos, quais pontos considera fundamentais num trabalho de investigação, quais os principais riscos (físicos e profissionais) desse tipo de trabalho. Em resumo, quais seriam os seus “dez mandamentos” de repórter investigativo. Na entrevista que concedeu por escrito, abriu o coração e foi corajoso em algumas revelações: Sou freelancer. Como trabalhei décadas assim, não me sinto capaz de dar exemplo para os mais jovens. O pessoal de hoje gosta de uma coisa estável e glamourosa, daquelas que dão crachá no peito. Além disso, eles não precisam de dicas. Conheço dúzias de editores na casa dos 20. A maioria já tuita sobre eleições, seca no Nordeste ou casamento gay com o mesmo desembaraço. Eu é que tenho que aprender a simplificar: ainda vejo esses temas banais com 120 tons de cinza. Dos mandamentos do repórter mal posso falar, porque só conheço um: “Atravessar paredes”! Enfim, poderia sugerir pro pessoal alguns truques da rua, que é onde me garanto mais ou menos. Um tema do qual posso falar e gosto muito é o das pautas não realizadas Eu procuro pelas pautas como Bocelli pela música. Trabalho para comer, movido pela velha máxima nule dia sine linea: nulo é o dia em que não se escreve uma linha. Sem linhas, sem bufunfa. Para falar um pouco da matéria do Germano, preciso dizer que entrei nela por acaso. Uma vez na história, ouvi o piu piu da injustiça. Aí, liguei o piloto automático e continuei por década e meia, movido apenas pela indignação. Como já li que um jornalista deve ter a capacidade de se indignar, mantenho a minha em dia. Exemplo atual: semanas atrás, vi uma morena nua e sangrando pelas ruas de Manaus. Eu viajava com vários coleguinhas locais e um paulista. Pedi para parar o carro, o motora levou preciosos minutos a mais – ele não tem culpa de não ser reportero, como dizem na Bolívia. A mulher ia de queixo erguido, seios caídos, bumbum firme, descalça, passos lentos e olhar perdido para o público de uma parada de busão. Clamei por um fotógrafo. Havia cinco na rodinha. Pedi a foto. Nenhum levantou a câmera. As respostas variaram: “É louca”. “Não seria ético”. Outro disse: “Ela tá sempre por aqui”. Todos se engajaram no debate, sem olhar pra ela. O paulista disse ter tido medo da reação da doida. Eu argumentei que ela poderia ser recolhida por alguma igreja evangélica, já que de prefeituras nunca espero tanta preocupação com cidadãos pelados. Mais: como estava sangrando, que tal ser medicada? No mínimo, vestida. Aí justificaram a nudez por ser índia. Eu respondi que nem entre os ianomâmis as vi totalmente nuas, sem sequer um adereço. Nada os comoveu. Nem meu último argumento de que há milhares de índios em Manaus, todos escandalosamente vestidos. A minha peladona exigiria um repórter com indignação tipo saudável, compaixão, olhar humano, aquelas coisas que nos separam dos bichos. Quando consegui descer do carro já era tarde. Eu a perdi na multidão, entre funcionárias uniformizadas da Vivo e os passageiros do bus do bairro Compensa. Dava matéria, com certeza. Minhas pautas eu pego ao azar Uma coisa pinta na minha frente, o faro diz que vale matéria, vou atrás. Sempre fiz assim. Durante décadas cumpri poucas pautas pautadas por pauteiros. Só pude fazer isso sendo frila. Quando era correspondente no estrangeiro, também decidia sozinho. O mesmo vale se estou numa cidade fora do eixo, como Floripa, ou na estrada, onde tudo que rola pode valer. Meus temas preferidos? Crimes pequenos. Caço injustiças. Cenas engraçadas. Farejo causas fora do eixo. Índias peladas nas ruas. Escrevi sobre o papa, presidentes, governadores, pobres, negros, albinos, drogados (cada vez mais), prostitutas, gays, ladrões, presidiários, assassinos e vítimas da violência policial. Soja e bichos. Duas matérias de que lembrei agora como entre as favoritas foram a do menino queimado pela PM e a da menina recolhida de um bordel pelo Conselho Tutelar, ambas em Curitiba, meu cemitério de elefantes – é o melhor lugar do mundo para amarrar o burro do jornalismo na sombra. Se as turminhas do salário mínimo, cesta básica e bolsa família fornecem bons personagens, o outro lado da moeda também rende. Já dedilhei sobre os vestidos da princesa Diana, dos sapatinhos da mulher do Donald Trump, de um pé do ACM, da fuga do Pizolatto pra Itália, sobre o boquete da Monica no Bill – com esta matéria perdi a boca de frilas da BBC, mas isto é papo pro capítulo das demissões. Outras pautas eu pego lendo jornais, quando vejo pontas soltas na matéria Uma assim me aconteceu no Paraná. Chego lá desempregado, 2001. Vejo manchetes dadas por policiais para repórteres sonolentos: padre eleito prefeito mata o vice dias antes da posse. Veja: “Batina suja de sangue”. Globo: “o assassino” estaria “foragido”. Vários jornais deram a mesma coisa, mas tudo de orelhada. Nenhum repórter na cena. Nem na cidadezinha, nem nas calçadas, sequer na porta da igreja-prefeitura. Farejei o ar. Snif… Nunca vi um padre prefeito matar alguém. Snif… Aqui tem sacanagem da polícia. Padre prefeito existe, padre assassino idem, prefeito assassino idem idem. Mas, a combinação padre-prefeito-assassino me cheirou improvável. E, matar antes da posse? Talvez se fosse o vice matando o prefeito, jamais o contrário, né? Definitivamente, tinha alguma coisa errada na versão oficial. Eu queria um emprego no jornal. Aí me ofereci pra ir lá investigar, faria reportagem tipo degustação em supermercado. O pauteiro não quis nem de graça: “Envolve viagem aos grotões”, foi o pífio argumento do preguiçoso. Falei com o dono, que aceitou a parada. Fui, no carro da mana. Achei o padre e o verdadeiro assassino antes da polícia. Mas, falemos só do padre. Onde ele tava? Raciocinei: se inocente, vai pedir ajuda ao bispo. Batata. Ao amanhecer bem cedinho fui na diocese. O bispo tomava um café digno do papa. Devorei rosquinhas frescas servidas por uma freira alemã. E perguntei: “Aquele padre prefeito é bandido ou foi armação”? O santo homem cravou “inocente”, ainda de boca cheia. Arrisquei: eu prometo que se o senhor me deixar entrevistá-lo, ele terá sua versão e não o entregarei pra polícia. O bispo me olhou alguns segundos, enquanto limpava os farelos da batina. Aí, talvez confiando no poder divino da mídia, mandou a freirinha trazer o padre. Ele estava escondido atrás do confessionário. Gol certo. Fui com ele até o Ministério Público, onde o homem se entregou, mais medo da polícia do que de Deus. Existe vida sem pauteiro Eu disse acima que escolho as minhas histórias sem pauteiro. Motivo: eles são pessoas muito ocupadas pra ter tempo de bolar pautas. Primeiro, o pauteiro cuida da mulher. Depois, dos filhos. Aí temos a casa, o carro, a vacina do cachorro, as prestações, as baladas, os achaques, as idiossincrasias do cara. Com o que sobra de energia mental, turbinada pelo Bom Dia Brasil, ele vai te dar uma pauta pras ruas. Melhor deixar pra lá, né? Escolhida a pauta é que começa a vida dura de um freelancer Pra nós, só a pauta não basta. A gente primeiro precisará levantar a matéria, pra depois tentar vendê-la. É assim porque se você disser prum editor “tenho tchã tchã tchã”, ele vai querer saber tudo antes de comprá-la. Vendida a história, oremos para que o financeiro concorde em pagá-la. Tudo pronto ? Neca. Você pode cair num copidesque burro. Ultrapassado este platô chegamos ao pico do Everest: o pagamento. Poucos chegam lá. Seja porque o financeiro não tinha concordado com o valor, ou porque o editor não mandou o boleto do mês, ou porque os frilas foram cortados: “Ainda estamos pagando os do primeiro semestre do ano passado”. Resumo da ópera: minha matéria vencedora do Esso de Reportagem 2004 foi rejeitada por vários até ser publicada de graça no Jornal Já Porto Alegre. Depois de premiada, foi reproduzida também de graça em n sites e num jornalzinho do Ceará, o único que teve a decência de me pedir por favor. Por ela, paguei todos os custos. Usei o carro da mamãe pra procurar fontes no interior e fiz o resto da apurática caminhando pela cidade, 45 dias… O segredo da fonte Como a gente conquista fontes? Bem, não as conquisto. Apenas procuro por elas pra conversar. Ela será fonte boa dependendo do papo. É um jogo. Será que ela tem alguma coisa pra me dizer? Será verdade? Será que fiz a pergunta certa? Será que fiz o approach certo ? Muitas se melindram. Muitas não gostam de ti e aí não falam p. nenhuma. Umas contam tudo. O pai do FK nunca falou sobre o suicídio do filho, mas a mãe me despejou a dolorida história nos mínimos detalhes, sem derrubar uma lágrima. Existem fontes intransponíveis. O secretário do prefeito de uma cidade do interior de SC cansou de minha insistência, se queixou pra um comprador meu em Sampa e tomei uma chamada. É que às vezes é o dia da fonte e elas te caçam. Meses atrás outra matéria deu xabu. A assessora de uma empresa de TI blindou seu chefe de uma maracutaia também ligando. Recebi o “segundo aviso” pra me comportar, pra não incomodar as fontes. Desisti das duas matérias, meu comprador daquelas encomendas ficou satisfeito. Salvei os dedos. Ser mulher, às vezes ajuda na apurática. O subcomandante Marcos escolheu uma jovem repórter americana pra falar para um pool de jornalistas numa noite na selva mexicana, mandando a beldade de volta com as informações que ansiávamos – ela reapareceu ao amanhecer, de cabelo ainda molhado. Ser homem tem também suas vantagens. A finesse me impede de relatar a história da entrevista com uma ex-primeira-dama no Central Park. Comecei a perguntar “não entendo como é que teu marido foi te trocar por aquela chinelona, deixar uma mulher com tua classe e beleza”. Funcionou: arranquei dela tudo o que precisava pra escrever a história do maridão, um político corrupto, sem molhar o meu cabelo. A arte da entrevista Entrevistei muita gente na vida. Um dos grandes fracassos foi com uma prima, dentro de casa! Sem dúvida, ela é a desconhecida mártir da luta pelos direitos da mulher no interiorzão gaúcho. Cresci ouvindo mamãe criticá-la. Se minha irmã queria sair sozinha, mami poderosa bradava “quer ser uma p… como tua prima”?! Ela tinha sangue de imigrantes russos. Uma foto amassada que eu vi durante um café da tarde em 2000 mostrava uma loira alta, parecida com a Uma Thurman. Muito bonita, com certeza seria uma ET entre os bugres e a peonada das fazendas de Vacaria. O pecado da prima: nos anos 50, ela tentou sair dos grotões pra saber o que é que existia além da porteira. Na primeira tentativa, os irmãos grandões e loirões como ela a encontraram ainda a 30 km de casa, trazendo-a de volta. Na segunda, um motorista passou e ela pediu para ir com o cara. Os irmãos deram uma surra no motora. Um circo passou pela cidade vizinha, ela se escondeu num camarim, na esperança de seguir viagem. Os irmãos perdigueiros a caçaram. E arrebentaram seis dentes do palhaço que a ajudara. Mamãe dizia que “a vagabunda ia atrás de qualquer homem”. A honra da família era salva pelos brothers – eles desmanchavam na porrada os interessados desavisados. A prima fingia se aquietar, mas tentava de novo. Aí os maninhos a botaram na última das prisões: casaram a moça com um amigo de bebedeiras. Vapt vupt o cara fez três filhos nela. Um dia o marido voltava para casa borracho, quando caiu do cavalo e morreu afogado num riacho perto do curral das ovelhas. A prima criou os filhos sozinha, com amor e resignação. Naquele café que tomamos em 2000, o assunto chegou ao marido morto. Sem que eu perguntasse, ela me confidenciou, com um sorriso triste e amargo: “Aquele bosta foi meu único homem”. Com estas seis palavras ela destruiu décadas de preconceito da minha mãe. Atraído pelos detalhes, conversei horas com ela. Me convenci de que a personagem dava uma p… pauta. Liguei pra Trip. Vendi a história “Minha Prima Puta”. Nunca foi publicada. Eu estava me preparando pra escrever quando dois quarentões criados pela prima me procuraram, indignados, ameaçadores. Trouxeram meu irmão como testemunha da lama que eu supostamente iria jogar na família. “Se tu escrever sobre minha mãe eu te mato”, começou um deles. Sem saber, ou talvez sabendo, repetiu o que seus tios russos fizeram com a mamãe. Meu irmão, amigão deles, apoiou os primos filhos da p. Por segundos me senti como ela, só faltou o vestidinho de chita e ser trancado na fazenda. Minha bela e triste prima, oprimida agora pelos filhos, nunca mais atendeu aos meus telefonemas. Fonte é tudo igual, só troca de endereço Quando procuro uma fonte, ainda hoje fico paralisado por segundos, sem saber como começar ou por onde ir. As dúvidas galopam na minha cabeça. Quando as localizo, fico inseguro entre dar bom dia e perguntar se vai chover. Não sei se conto que meu tio Girolamo produzia vinhos na Serra Gaúcha ou se vou direto ao ponto. Depende do feeling. Ano passado, fui diretaço com o assassino da Penha (SC), um pescador que matou toda a família. Encontrei-o numa igreja, antes da polícia. Não dava tempo pra firulas: “E aí ? Dizem que você matou a família…” Ele disse que não. A próxima pergunta poderia ofender mortalmente o matador (eu já tinha apurado que ele era culpado). Mesmo assim, arrisquei: “Se não foi você, quem poderia ter sido”? O assassino me olhou firme. Jurou que “se eu pegar quem fez isso… mato!” Imediatamente mudei a conversa pra amenidades. Perguntei aonde ele iria depois do nosso papo. Me contou que visitaria a namorada, em Goiás. Passamos a falar de motos. Não mencionei mais o crime, temendo ser a próxima vítima. Tentei vender a matéria desse assassino para uma editora da madrugada de um portal. Ela achou o tema “muito tétrico”. Derrotado, escrevi mal pra burro (meu relógio biológico é o matutino). Tentei botar no portal, tipo minuto a minuto da apuração, sempre na frente da polícia, mas não quiseram. Um editor me arrasou: “Teu texto não tinha pé nem cabeça”. O assassino? Horas depois do nosso papo ele confessou ter matado pai, mãe, irmã e um sobrinho. Por sorte, não havia mais ninguém em casa naquela hora… Mandei pro portal o drama e a confissão, mas aí perdeu aquele clima quente da investigação. O editor só deu meu material bem depois da concorrência, numa nota pífia. Mea culpa, pelo texto chinfrim. E aqui vai uma lição: por melhor que seja a história, por mais confiável a fonte, mesmo com uma baita apuração, o texto tem que segurar. Escrever é o nome do jogo. Voltando ao tema das fontes: procurar por elas exige tenacidade É raro que a boa matéria te procure, você tem que procurar por ela. No caso Germano, de tempos em tempos eu ligava pra ele, ou abria o site da Justiça pra procurar o processo. Tipo missão: “Tenho que fazer isso hoje”, mesmo que demore 15 anos. Também exige faro. É uma sensibilidade que os anos trazem. Às vezes, quando faço um “povo fala” pra TV, sou capaz de divisar na multidão quem quer aparecer e quem vai fugir da câmera. Aí eu vejo um cara preso dizendo que é inocente e todo mundo (até eu…) rindo dele. Aí me vi nas mãos dessa polícia (parcialmente) bandida e desse judiciário (parcialmente) vagabundo que temos. Pronto. Não pude mais abandonar a história do Germano. Aos poucos fui percebendo a verdade, atestada pela absolvição dele no STJ. Claro, algum coleguinha poderá questionar o mérito da minha matéria dizendo que, como Germano, Fernando Collor e O.J.Simpson também foram declarados inocentes por tribunais. Com certeza, entre eles estarão alguns dos que queimaram Germano e nunca ouviram a versão dele, como manda o manual. Nem examinaram os processos, como eu fiz. Descobri (mas não publiquei) que o primeiro juiz a mandá-lo pra cadeia foi afastado do cargo a pedido do MP do Rio, acusado de trabalhar pra traficantes, sendo então confortavelmente aposentado. Só isso já daria uma p… pauta. É a pauta dentro da pauta, uma iguaria. Mas, ninguém se interessou por ela, nunca. Muitos repórteres que não se indignaram com a injustiça cometida pelo Estado contra Germano me acham maluco por ficar insistindo tanto num assunto fora do radar – os mais chegados ironizam que “é mais uma daquelas matérias arrastadas do Renan”. Entenderam outra razão pra nunca desistir da matéria? Provar que eu tinha razão… este sentimento mesquinho e tão humano do eu, eu, eu… Minha sorte é que ele foi inocentado depois de 25 anos. Ufa! Já posso jogar o outro sapato no chão.
Corte no Terra atingiu cerca de 60 da área editorial
Das cem demissões anunciadas na última semana pelo Terra, cerca 60 foram no núcleo editorial, conforme apurou o Portal dos Jornalistas. De uma equipe de mais de 130 profissionais, o portal conta agora com aproxidamente 75. Porto Alegre, que gerava o noticiário e contava com uma redação completa, ficou com quatro profissionais, pois a empresa optou por transferir a totalidade dessa atividade para São Paulo (o Terra conta ainda com duas pessoas no Rio de Janeiro e outra em Brasília). Também a Fotografia foi sacrificada, diante da necessidade de reduzir a folha de pagamento. A opção foi abrir mão da equipe própria e começar a trabalhar com freelancers. A operação 24 x 7, que busca garantir atualização permanente da capa e do noticiário, não será alterada, embora a partir de agora o portal passe também a se valer da automação e da inteligência artificial, sobretudo com o uso de conteúdos das agências de notícias. Ironia do destino, o anúncio do corte foi feito na mesma manhã da queda do avião que matou o candidato Eduardo Campos e outras seis pessoas que estavam naquele voo. Ou seja, quando eles mais precisavam de uma cobertura intensiva…
Miriam Leitão fala pela primeira vez sobre as torturas que sofreu na ditadura
Com o título A repórter pergunta, o ministro gagueja, Luiz Cláudio Cunha publicou nesta 3ª,feira (19/8) no Observatório da Imprensa uma extensa análise sobre a entrevista que Miriam Leitão fez para seu programa na GloboNews com o ministro da Defesa Celso Amorim em 26/6, nove dias após a entrega à Comissão Nacional da Verdade do documento em que os três comandantes das Forças Armadas negam a ocorrência de abusos e afirmam não ter registrado nenhum “desvio de finalidade” de instalações militares na época da ditadura. “Viu-se então uma aula prática do melhor jornalismo, confrontando a convicção com a dúvida, a energia com a tibieza, o categórico com o evasivo, a verdade com a mentira. A repórter se agigantando num diálogo em que o ministro se apequenava, acuado, hesitante, gaguejante”, diz Luiz Cláudio. Além de transcrever diversos diálogos entre Miriam e Amorim e de contextualizar várias passagens da entrevista, Luiz Cláudio descreve a visita que a repórter fez há três anos ao Forte de Piratininga, onde foi torturada pelo recentemente falecido coronel Paulo Malhães (o dr. Pablo). E no entretítulo “Eu sozinha e nua. Eu e a cobra. Eu e o medo”, reproduz o depoimento em que pela primeira vez Miriam relata em detalhes a sua prisão e as torturas por que passou naquele lugar. Atualmente na assessoria do senador gaúcho Pedro Simon, Luiz Cláudio colabora com Observatório da Imprensa, jornal Já, revista Brasileiros, jornal GGN, Congresso em Foco e, diz ele, “outros que se atrevem a publicar meus textos fluviais, na contramaré desses tempos lacônicos e ilustrados assolados pelo twitter e pelo facebook”.
Bienal do Livro de São Paulo começa nesta 6ª.feira (22/8)
São Paulo recebe de 22 a 31/8 a 23ª Bienal Internacional do Livro, que este ano traz o conceito Diversão, cultura e interatividade: tudo junto e misturado, com espaços que mesclam apresentações musicais, teatro, circo, gastronomia, dança e muito mais, tudo com o livro como protagonista. Serão oito grandes espaços: Arena Cultural, Escola do Livro, Cozinhando com Palavras, Salão de Ideias, Espaço Imaginário, Anfiteatro, BiblioSesc e Estande Edições Sesc. Dezenas de jornalistas participarão em palestras, mesas e apresentações. Estão confirmados os nomes de Flávia Gasi, Heitor Pitombo, Pam Gonçalves, Tatiana Feltrin, Daniel Pelizzari, Veronica Stigger, Clara Averbuck, Edson Rossato, Edson Cruz, Joca Reiners Terron, Heloisa Seixas, Ruy Castro, Rogério Pereira, Maria José Silveira, Cunha Júnior, Bruno Paes Manso, Noemi Jaffe, Raquel Cozer, Antônio Prata, Gregório Duvivier, Xico Sá, Carlos Nejar, Angélica Freitas, Socorro Acioli, Valmir Santos, Luciana Hidalgo, Felipe Lindoso, Juca Kfouri, Zuza Homem de Mello, Sidney Gusman, Abílio Guerra, Flávio Moura, Pablo De Santi, Carlos Heitor Cony, Diogo Bercito, Paulo Markun, Paulo Vinicius Coelho, Humberto Werneck, André Conti, Sidney Gusman, Cassiano Elek Machado, Ubiratan Brasil, Miriam Leitão, Djinani Lima e Agê. Profissionais de imprensa interessados em cobrir o evento podem solicitar credenciamento no próprio site da Bienal até o último dia da mostra. SERVIÇO 23ª Bienal Internacional do Livro Data: de 22 a 31 de agosto Local: Pavilhão de Exposições do Anhembi (av. Olavo Fontoura, 1.209 – São Paulo/SP) Mais informações em www.bienaldolivrosp.com.br
Festival Internacional de TV de São Paulo abre inscrições
Estão abertas as inscrições para o primeiro TELAS – Festival Internacional de TV de São Paulo. Até 12 de setembro, produtores podem enviar seus programas para as seleções das mostras Brasil, Internacional e ComKids. O objetivo do festival – que será de 7 a 14/11 – é gerar visibilidade global à produção audiovisual brasileira e trazer ao País o melhor da produção mundial inédita de tevê. O evento também pretende promover encontros entre produtoras e canais nacionais e internacionais para a realização de negócios e colaborar na formação profissional dos produtores audiovisuais. Centro Cultural SP, Cinemateca, MIS, Sesc Consolação, Praça das Artes e Cine Olido serão os pontos de exibição dos programas em São Paulo. O público, além de ter acesso às produções, poderá participar de debates. Inscreva-se!
Ana Naddaf e Fátima Sudário, o protagonismo feminino em O Povo
Escolhida para comandar os 124 profissionais que compõem a Redação de O Povo, de Fortaleza, um dos mais importantes e premiados jornais do Nordeste, Ana Naddaf (à direita na foto) é a nova diretora de Redação do jornal. Até 1º/8 editora do núcleo de Conteúdo e Negócios do jornal, Ana chega para ocupar o lugar deixado a pedido por Fátima Sudário. Duas mulheres que apontam para a ideia do jornal de favorecer o protagonismo feminino. Paulistana de nascimento, Ana optou por viver em Fortaleza em 1997, após formar-se na Universidade São Judas Tadeu. Na época, teve sua primeira passagem por O Povo, no qual permaneceu por seis anos. Morou em Barcelona e Nova York, cidades em que incrementou seu currículo com especializações em Estudos da Cultura Visual e Publishing: Digital and Print Media. Fátima Sudário está em O Povo há mais de 20 anos, desde 2006 como diretora de Redação. Após período de férias, ela volta ao jornal para assumir o grupo de reportagens especiais. Em entrevista ao Portal dos Jornalistas, elas comentam sobre os desafios das novas funções, a relevante participação feminina em postos altos do jornal e as mudanças que o jornalismo vem vivenciando com as novas plataformas de publicação de notícias: Portal dos Jornalistas – Fátima, o que a levou a pedir para sair da Chefia de Redação após tantos anos? Fátima Sudário – Estou em O Povo há cerca de 21 anos. A partir de 2001, passei a fazer parte da Chefia da Redação, primeiro como editora-assistente, e depois editora-chefe. Fui a primeira mulher a exercer o cargo e, desde 2006, assumi a Diretoria Executiva da Redação, inicialmente dividindo o cargo com Carlos Ely Abreu e Marcos Tardin. Em janeiro de 2007 fiquei como única titular e exerci a função por oito anos e sete meses. Um projeto pessoal passou a me exigir mais tempo e não tive mais como compatibilizar. Obviamente lamento ter saído. Dirigir uma Redação, que já não é mais só o impresso, é, no mínimo, uma paixão que se renova a cada cobertura, mas considero importantes esses movimentos. Afinal, estamos em uma atividade criativa, num mercado de incertezas. Então, as reinvenções são necessárias, seja do ponto de vista pessoal, seja do ponto de vista da empresa. O melhor é que não precisei deixar o jornal. Quando solicitei um tempo aos meus diretores, Arlen Medina e Luciana Dummar, eles me convidaram a permanecer e coordenar o Núcleo de Especiais do jornal, que hoje conta uma das equipes mais premiadas do País. Bom também é que Ana Naddaf, que assume a Direção Executiva da Redação no meu lugar, é uma profissional experiente. Vem do mercado de revistas, no qual se especializou, mas já passou pela redação de O Povo como repórter e editora. É jovem, competente e muito respeitada. J&Cia – Como funciona hoje o grupo de reportagens especiais que você passa a coordenar? Há mudanças já previstas com a sua chegada? Fátima – O grupo conta com quatro profissionais experientes: Ana Mary C. Cavalcante, Cláudio Ribeiro, Demitri Túlio e Emerson Maranhão. São perfis diversificados, textos muito bons e um bocado de prêmios nos currículos. Eles trabalham os cadernos e reportagens especiais e se inserem no cotidiano da Redação sempre que a cobertura factual demanda. Reforçam as editorias em ocasiões especiais, a exemplo da Copa do Mundo, e em momentos como as eleições. O futuro está sendo desenhado. Sem deixar de contemplar essas vertentes, o Núcleo deve funcionar mais ainda como um farol na produção de conteúdo que possa diferenciar o jornal e, consequentemente, o portal. Isso passa pela ampliação do leque de linguagens que possa manter e atrair interesse. Passa pela forma como se trabalha a relação da produção de conteúdo impresso-web. Dentro de um ano, a gente pode voltar a conversar sobre essa experiência. Vai ser bem bacana. Portal dos Jornalistas – Ana, qual o principal desafio de assumir uma redação como a de O Povo? Ana Naddaf – Entre as minhas expectativas estão as de todo jornalista: continuar a tarefa de contar histórias, de falar da cidade e para a cidade e de falar com o leitor seja em qual meio ele esteja agora. Por isso, o desafio não é só de assumir a Redação de O Povo, mas o de conciliar o impresso com o online e também com todas as plataformas do Grupo de Comunicação O Povo [TV O Povo, Rádio O Povo CBN e Rádio Calypso]. O desafio de fazer jus a todos os outros diretores que já passaram por esta redação. E, principalmente, o de saber enxergar o efêmero e o perene. O efêmero do cotidiano, do novo, mas também a história e o legado dos 86 anos de O Povo. Portal dos Jornalistas – Sobre a escolha da profissão, o que a motivou a optar pelo jornalismo? Ana – Gosto muito do que Alberto Dines fala sobre os jornalistas: que somos uma categoria de doidos e que somos, antes de tudo, operários da história. E que jornalismo não é apenas profissão, é estado de espírito. Não há descrição melhor para o que fazemos. E acho que nesta descrição de Dines está a essência do que me motivou para escolher essa profissão. É a maluquice de querer mudar o mundo e o estado de espírito que mescla curiosidade e paixão. Portal dos Jornalistas – Quais enxerga serem os principais desafios hoje da profissão? Ana – Além dos de sempre – o da excelência jornalística e o de cativar o leitor –, é pensar que o jornalismo está sempre em construção. Principalmente porque mudaram a forma de pensar a informação, o mercado, as plataformas e até mesmo as publicações em si. E essas mudanças, que ocorreram na última década (do suporte ao anunciante, passando pelo avanço das mídias sociais), são o mote do que está sendo definido como realidade do mercado de jornal hoje e do que será no futuro. Aliás, do jornalismo como um todo. Uma boa forma de entender isso é que escrevemos agora também em tempo real. Ou seja, com as novas plataformas, o impresso foi parar no virtual. Estamos pensando novas formas de atender a esse leitor virtual, do online, sem deixar de atender ao leitor do impresso, do offline. Para o jornalismo ser sustentável e para as grandes empresas de comunicação tornarem-se sustentáveis é preciso repensar esses produtos, o fazer jornalismo nas redações e como atender às necessidades do mercado. E, principalmente, entender que o leitor está cada vez mais presente. E é isso que o Grupo de Comunicação O Povo vem fazendo nestes 86 anos. Portal dos Jornalistas – Como vocês enxergam o protagonismo feminino nessa mudança da direção de Jornalismo do jornal? Fátima – Bom, não sei se dá para falar em “protagonismo feminino” nesse caso. É fato que passei a fazer parte da Chefia da Redação quando Ana Márcia Diógenes saiu. E que, agora, Ana Naddaf assume no meu lugar. A Redação tem pelo menos uma dezena de editoras. Pode-se dizer que a presença feminina em cargos de direção é marcante. Está bem equilibrada com a presença masculina, digamos assim. Também é verdade que o Grupo de Comunicação O Povo é presidido por uma mulher, Luciana Dummar, uma apaixonada pelo universo da comunicação. OK, certamente não dá para negar que a presidente do jornal sabe contemplar seus talentos, o que inclui o reconhecimento profundo ao feminino e ao masculino, mas não é exatamente uma questão sexista. Até porque a história do jornal, ao longo desses 86 anos, registra inúmeros casos de mulheres gestoras. Ana – Acredito que não seja apenas no jornalismo. Esse protagonismo tem sido recorrente dentro do mundo corporativo. Mulheres têm conquistado voz dentro das empresas. E sem falar de feminismo. Mas estamos sabendo dialogar e isso é uma conquista cultural. É um protagonismo da mulher como criadora, como produtora, como pesquisadora e, principalmente, como líder. Lembro da jornalista Ana Paula Padrão falando desse poder de liderança que a mulher tem. E, no Grupo de Comunicação O Povo, isso é presente em várias frentes. Talvez seja a força do encontrar vigor e delicadeza, do agregar e do poder de concisão, do “orar e vigiar”. Mas, claro, sem perder a essência do diálogo.
Editora Globo e Edições Globo Condé Nast abrem estágio
Estão abertas até 31/10 as inscrições para o Programa de Estágio Editora Globo e Edições Globo Condé Nast 2015. São vagas para estudantes universitários com formação prevista entre dezembro de 2015 e dezembro de 2016 nos cursos de Jornalismo, Design Gráfico, Design Digital, Design Multimeios, Design de Interiores, Comunicação Visual, Desenho Industrial, Tecnologia da Informação, Análise de Sistemas, Ciências da Computação, Administração, Economia, Contabilidade, Produção Editorial, Letras, Marketing, Publicidade e Propaganda e Direito. A seleção será dividida entre testes online (português, inglês e raciocínio lógico), entrevistas coletivas, dinâmicas de grupo com gestores, avaliação de texto, avaliação de portfólio online (estudantes de arte) e entrevista final. Os candidatos podem acompanhar o andamento do processo, receber dicas para melhorar o desempenho durante a seleção e saber sobre os bastidores pela página do Programa no Facebook. O novo grupo de estagiários iniciará as atividades em janeiro próximo. No programa, recebem avaliação e acompanhamento constante de seu desempenho, além de treinamentos, oficinas, workshops e palestras com profissionais da casa e do mercado. Os aprovados atuarão por no máximo dois anos em sistema de rodízio entre as redações e a produção de um projeto no fim de cada ano orientado por tutores (profissionais da casa de diversas áreas). Em 2010, uma proposta desses estagiários resultou na rede social infantil Mundo do Sítio.
Agência Pública divulga reportagem com ex-detenta que deu à luz algemada
A Agência Pública está veiculando a reportagem Maternidade Condenada, em que aborda o processo que condenou o Estado de São Paulo a pagar indenização a uma ex-detenta obrigada a dar à luz algemada pelos pés e pelas mãos, em setembro de 2011. Em entrevista à agência, a ex-detenta e sua mãe, autora de uma carta de 40 páginas denunciando as violações de direitos da filha, e que deu origem ao processo judicial, preferem usar nomes fictícios, e contam em primeira mão detalhes do caso.
Associação Brasileira de Psiquiatria realiza 1º Prêmio ABP de Jornalismo
A Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), entidade científica sem fins lucrativos, anuncia a realização do 1º Prêmio ABP de Jornalismo, iniciativa que tem como objetivo premiar e reconhecer reportagens produzidas no Brasil relacionadas à especialidade e seus pacientes. Podem concorrer trabalhos jornalísticos de autoria de um ou mais profissionais publicados no período de 1º/1/2011 a 30/6/2014. O vencedor de cada uma das quatro categorias (jornal/revista, mídia eletrônica, TV e rádio) receberá R$ 5.000 e será convidado para receber o prêmio no dia 15 de outubro, durante a abertura do XXXII Congresso Brasileiro de Psiquiatria, em Brasília. Todas as despesas com passagem aérea e hospedagem serão custeadas pela organização do prêmio. A data limite para a inscrição é 25 de setembro.
R7 lança página de notícias inspirada em jornais populares
O R7 lançou em 13/8 o Hora 7, um tabloide de notícias inspirado em jornais populares mas com foco na geração que cresceu com a internet, pois foi pensado para acesso em qualquer tela. Em linguagem informal, a página, com duas edições diárias (às 7h e às 19h), aborda notícias que fogem da normalidade, como o homem que vive com uma antena na cabeça ou o cirurgião que fez uma vasectomia por engano. O Hora 7 tem equipe própria de redação, formada por André Forastieri (editor executivo), Marco Antonio Lopes (editor), Fernando Tucori (editor), Julia Arbex (estagiária) e Carla Clara (estagiária).