O Reino da Noruega é reconhecido pelo Brasil como terra do bacalhau, dos vikings e da banda pop A-ha. Mas, em 22 de julho de 2011, o pacato país escandinavo foi alvo de triste referência ao tornar-se palco de dois insólitos atos terroristas, que até hoje descrevem o capítulo mais violento de sua história. Correu o mundo a notícia de que o nacionalista de direita Anders Behring Breivik desferiu solitariamente dois ataques, na capital Oslo e, duas horas depois, na Ilha de Utøya, matando ao todo 77 e ferindo outros 51. 

A civilizada nação nórdica ficou chocada. As manchetes dos jornais locais, quase sempre amenas – como o rumor sobre gravidez de uma princesa, por exemplo –, foram sequestradas por um cruel atirador. Diante desse novo e angustiante contexto, o governo norueguês alterou bruscamente o roteiro de viagem pré-agendada com grupo de seis jornalistas brasileiros, convidados a visitar sítios turísticos e empresas inovadoras e a conhecer in loco o modo de viver de um povo que goza de indicadores sociais invejáveis. 

Por uma semana, a press trip passou por Bergen, Ålesund, Trondheim e outras cidades. A estadia em Oslo, alvo do primeiro assalto de Breivik, foi encurtada e deixada apenas para o fim. Pousamos em Bergen em 14 de agosto e percorremos o interior norueguês nos dias seguintes. Só chegamos à capital na noite de véspera de regressar ao lar. Com voo marcado para a madrugada do dia seguinte, um domingo, não desistimos da pauta quente, apesar do drible que os nossos atenciosos anfitriões tentaram nos aplicar. 

Eu (Correio Braziliense), Janaina Lage (O Globo) e Bruna Siqueira Campos (Diário de Pernambuco) tomamos o metrô para o centro, rumo ao ground zero, com nossos planos de reportagem exclusiva. Chegando lá, apontei para a imagem que motivaria o lead comum de nossas matérias. O relógio na fronte do prédio avariado por bomba, ao lado do Ministério do Petróleo, parou em 15h50, hora da explosão. Nossos textos seguiram pouco depois e saíram nos jornais em 22 de agosto, um mês após o duplo atentado.

A despeito do isolado episódio de terrorismo, descobri na Noruega um lugar em que autoridades servem ao público, educação e saúde são para todos e bem-estar alia-se à satisfação profissional. Sem burocratas ou serviçais, o país líder em qualidade de vida nos dá lições. Lá, donos do capital e operários almoçam lado a lado, lavam pratos e dirigem o carro ou pedalam na volta para casa após jornada que acaba por volta de 16h. A distância de eleito e eleitor é mínima e até a família real é vista sem pompa em público.


Sílvio Ribas

A história desta semana é novamente uma colaboração de Sílvio Ribas, assessor parlamentar do senador Lasier Martins (Podemos-RS). 

Tem alguma história de redação interessante para contar? Mande para [email protected].

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