Passadas mais de 48 horas do desaparecimento do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista brasileiro Bruno Pereira, poucos esforços federais foram registrados no intuito de encontrar os profissionais, que viajavam pelo Vale do Javari, região remota no estado do Amazonas.

Apesar das pressões de familiares, jornalistas brasileiros e estrangeiros, entidades de apoio ao jornalismo e veículos internacionais de imprensa, até o final dessa segunda-feira (6/6) apenas o Ministério da Defesa havia emitido uma nota em resposta ao caso, afirmando que “está em condições de cumprir missão humanitária de busca e salvamento, como tem feito ao longo de sua história, contudo as ações serão iniciadas mediante acionamento por parte do Escalão Superior”. O problema é que o tal acionamento ainda não havia acontecido até a manhã desta terça-feira.

Segundo reportagem de Fábio Pontes e Elaíze Farias, para o site Amazônia Real, após pressão da Embaixada da Inglaterra, a Marinha do Brasil e a Polícia Federal chegaram a iniciar na tarde de segunda uma busca pelos profissionais, mas sem nenhum apoio aéreo e que foi interrompida ao anoitecer, dificultando assim o sucesso da missão.

 

“Autoridades brasileiras, nossas famílias estão desesperadas. Por favor, respondam à urgência do momento com ações urgentes. Governo do Brasil, onde estão Dom Phillips e Bruno Pereira?”, clamou Alessandra Sampaio, esposa se Dom.

Com o aumento das pressões internacionais, na manhã desta terça-feira o Comando Militar da Amazônia, órgão ligado ao Ministério da Defesa, informou que “desencadeou uma busca na região do município de Atalaia do Norte (AM), empregando uma equipe de militares combatentes de selva, utilizando a embarcação Lancha Guardian”.

Ainda assim o esforço é considerado muito pequeno, dado o tamanho da área e a complexidade de efetuar buscas no local. “É tão absurdo e ao mesmo tempo cruel saber que as autoridades brasileiras negaram ontem um helicóptero para fazer as buscas de duas pessoas desaparecidas numa região de 8,5 milhões de hectares”, alertou Eliane Brum, +Premiada Jornalista da História do Brasil, que desde 2017 vive em Altamira, no Pará.

 

Sobre o caso

Dom Phillips (Arquivo Pessoal)

Radicado no Brasil desde 2007, Dom Phillips é repórter freelance para o jornal inglês The Guardian e já colaborou com reportagens para Washington Post, New York Times e Financial Times. Ao lado de Bruno pereira, participava de expedições pela Amazônia desde 2018, com o objetivo de relatar problemas relacionados aos indígenas na região para o The Guardian.

Nesta nova incursão, viajou à região do Vale do Javari para realizar entrevistas para um livro sobre meio ambiente que está produzindo com o apoio da Fundação Alicia Patterson.

“Quero dizer a vocês que Dom Phillips, meu marido, ama o Brasil e ama a Amazônia. Ele poderia viver em qualquer lugar do mundo, mas escolheu viver aqui. Quinze anos atrás, Dom deixou seu país, a Inglaterra, para viver no Brasil”, completou Alessandra.

Segundo a União das Organizações Indígenas dos Povos do Javarari (Univaja), a equipe vinha recebendo ameaças antes do desaparecimento. “A ameaça não foi a primeira, outras já vinham sendo feitas a demais membros da equipe técnica da Univaja, além de outros relatos já oficializados para a Polícia Federal, ao Ministério Público Federal em Tabatinga, ao Conselho Nacional de Direitos Humanos e ao Indigenous Peoples Rights International”, informou a entidade em nota.

A Univaja informou ainda que eles foram vistos pela última vez por volta das 6h da manhã de domingo (5/6), na comunidade Ribeirinha São Rafael. Eles se reuniriam com uma liderança local, mas após não encontrarem a pessoa no destino, optaram por seguir viajem até Atalaia do Norte, há aproximadamente duas horas dali. Esta foi a última notícia que se teve de ambos.

Jonathan Watts, editor de meio-ambiente do The Guardian, publicou mensagem no Twitter pedindo ajuda das autoridades brasileiras para encontrar a equipe: “Dom Phillips, um excelente jornalista, colaborador regular do Guardian e um grande amigo, está desaparecido no Vale do Javari na Amazônia depois de ameaças de morte ao indigenista e companheiro de viagem Bruno Pereira, que também está desaparecido. Ligando para as autoridades brasileiras para lançar imediatamente uma operação de busca”.

Às 14h, saiu de Atalaia do Norte uma primeira equipe de busca da Univaja, formada por indígenas extremamente conhecedores da região. A equipe cobriu o mesmo trecho que Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips supostamente teriam percorrido, inclusive, os “furos” do rio Itaquaí, mas nenhum vestígio foi encontrado.

A última informação de avistamento deles é da comunidade São Gabriel – que fica abaixo da São Rafael –, com relatos de que avistaram o barco passando em direção a Atalaia do Norte. Às 16h, outra equipe de busca saiu de Tabatinga, em uma embarcação maior, retornando ao mesmo local, mas novamente nenhum vestígio foi localizado.

Edital

O Amazon Rainforest Journalism Fund (Amazon RJF) abriu até 8/6 um edital emergencial para a cobertura das violações à floresta amazônica no Vale do Javari, no estado do Amazonas, e para acompanhar as buscas pelo jornalista e pelo indigenista, caso eles não sejam localizados nesse período. Os projetos devem ser enviados até meia-noite desta quarta-feira, e serão avaliados no mesmo dia, para que os selecionados possam viajar imediatamente. As inscrições podem ser feitas neste link.

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