Por Luciana Gurgel

Luciana Gurgel

A união entre Charles III e Camilla Parker-Bowles é vista por simpatizantes da monarquia como a vitória do amor sobre as convenções sociais − e pelos adversários como uma traição a Diana, a “Queen of Hearts”.

Esse sentimento aflorou na semana anterior à da coroação com uma inusitada campanha no Twitter.

Aqueles que não esquecem que Diana sofreu nas mãos do marido infiel iniciaram um movimento para trocar as fotos de perfil na rede social por imagens da princesa.

É uma amostra do carisma de uma das figuras mais impressionantes da história contemporânea, que segue adorada mais de 25 anos depois da morte.

Usuários do Twitter aceitaram o chamado e adotaram fotos da princesa Diana em seus perfis. Deve ter sido uma decepção para a equipe de comunicação do Palácio de Buckingham, que faz o possível para emplacar Camilla como uma rainha querida.

Mas talvez tenha faltado à realeza um pouco de habilidade. Uma das controvérsias em torno da cerimônia de coroação de Charles e Camilla foi o convite coassinado por “Queen Camilla”.

Quando o casal oficializou a união, em 2005, a Clarence House emitiu uma nota dizendo que ela usaria o título de rainha consorte quando o marido subisse ao trono, para evitar confrontos.

Na mensagem enviada ao povo ao completar 70 anos no trono, a rainha Elizabeth também se referiu a Camilla da mesma forma. Mas isso parece ter sido esquecido por Charles III.

Pode ser um ato de amor, mas como movimento de relações públicas foi infeliz. E ajudou a desencadear uma onda negativa que a realeza britânica não precisa neste momento, com sua existência questionada por grupos republicanos.

A princesa Diana morreu de forma trágica e midiática, em um acidente de automóvel em Paris. Estava no auge da popularidade, linda, elegante e engajada em causas sociais.

O acidente provocou uma onda de teorias conspiratórias, incluindo a de que ela teria sido assassinada pela família real para que Charles pudesse casar com Camilla.

Nem o resultado das investigações apontando que o motorista do carro perseguido por paparazzi havia consumido álcool serviu para colocar fim às conspirações.

Uma pesquisa feita pelo Instituto YouGov em 2022, quando a morte completou 25 anos, mostrou que ela ainda era mais popular do que Charles e do que a realeza como instituição.

O instituto mede regularmente a popularidade e a admiração de figuras públicas, incluindo os membros da realeza.

Quando ela voltou à pauta da imprensa por causa da nova temporada da serie The Crown, o YouGov resolveu incluir o nome da princesa na pesquisa regular.

O resultado foi que 72% dos entrevistados disseram ter uma visão positiva dela, contra 52% da rival que agora vai virar rainha.

Diana e Camilla (Crédito: Wikimedia Commons)

A onda de homenagens à princesa Diana no Twitter deixa lições sobre como ganhar simpatia e manter a admiração do público que não são válidas apenas para personalidades.

Diana foi sempre verdadeira. Não deve ter contado tudo, mas revelou sentimentos e inseguranças em entrevistas, como a famosa conversa no programa Panorama, da BBC, em 1995.

Sutil, ela disse que “havia gente demais” no casamento. E a “pessoa demais” era justamente a que agora vai ser a nova rainha.

Ela mostrou seu lado humano diversas vezes, como ao encarar de forma enérgica os fotógrafos que registravam seus momentos de lazer esquiando com os filhos para pedir privacidade.

Em favor de Diana há a sua aparência física e o fato de ter morrido jovem. Já Camilla chega ao “estrelato” mais madura, sem muito interesse em exibir uma face mais moderna, embora abrace causas contemporâneas, como violência contra a mulher e incentivo à leitura.

A cerimônia de coroação grandiosa não era necessária, e nem acontece mais nas monarquias europeias. Ela é meramente um ato de relações públicas − ou de vaidade, como acham alguns.

Mas a despeito da eficiência em administrar sua imagem, a “firma” está cometendo erros. Um deles, que gerou revolta, foi o convite à população para que jure lealdade ao rei no dia da coroação, papel reservado aos lordes. Era para ser inclusivo, mas serviu para provocar os que aderiram ao #NotMyKing.

Cutucar a memória de Diana com vara curta, denominando Camilla rainha sem o “consorte”, foi outro. A campanha para trocar fotos de perfil no Twitter por imagens de Diana é um dos efeitos colaterais dessa decisão.


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