Reportagem da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) denuncia atitudes do Ministério da Saúde que dificultam a cobertura de ações e coletivas do órgão sobre o combate à pandemia de Covid-19. Em pelo menos quatro situações, desde dezembro de 2021 os avisos de coletivas de imprensa sobre assuntos de interesse público foram feitos em cima da hora.

A Abraji destaca, por exemplo, o dia do anúncio da inclusão da Coronavac no Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra Covid-19 para o público de 6 a 17 anos de idade. Os repórteres que estavam no saguão do Ministério da Saúde foram chamados para uma coletiva às 18h30. Eles então avisaram outros colegas que não estavam no local e que não tinham como saber do evento até então.

Além disso, a pasta não havia informado se o pronunciamento seria transmitido nas redes sociais. Apenas às 18h54, em um grupo fechado no Telegram e dois minutos após o início da transmissão no Facebook, o aviso foi feito.

Em meio a acontecimentos importantes, como o alastramento da variante ômicron, o debate sobre a vacinação infantil e o apagão de dados sobre a pandemia, seis repórteres denunciaram à Abraji dificuldades por parte do Ministério da Saúde para cobrir o combate à Covid-19.

Outro problema detectado é a limitação de presença a apenas cinegrafistas e repórteres cinematográficos em alguns eventos, sob a justificativa de prevenção contra a pandemia. “Mesmo nas ocasiões em que a participação de jornalistas é permitida, não é possível fazer perguntas ao ministro Marcelo Queiroga”, conclui a Abraji.

E, ao fim das coletivas, durante a saída de Queiroga da bancada, os jornalistas contaram que são impedidos de fazer perguntas pelos seguranças da pasta.

Para a pesquisadora Sabine Righetti, da Agência Bori, de divulgação científica para jornalistas, “a menos que o Governo seja acionado para anunciar algo extremamente emergencial, coletivas de imprensa podem ser planejadas”, e o esperado era que, em uma situação pandêmica, o ministro da Saúde mantivesse conversas periódicas e sistemáticas com a imprensa em dias e horários fixos na semana.

Righetti destacou também que, se o Governo entende que as coletivas estão causando aglomeração, poderia, em dois anos de pandemia, ter pensado em soluções, como entrevistas em locais abertos, minicoletivas com grupos menores de jornalistas, acesso remoto dos profissionais, entre outros.

“É preciso sempre lembrar que a intervenção do jornalista é a intervenção da sociedade. Um governo que faz declarações sem ser questionado pela imprensa não está dialogando com a sociedade”, refletiu a pesquisadora.

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