Assis Ângelo ficou cego há oito anos. Teve descolamento na retina nos dois olhos e nada houve na medicina capaz de salvar-lhe a visão. Desde então, vive o desafio de seguir, como cego, a vida que por 61 anos enxergara na plenitude.

Ao longo da carreira, passou pelos mais importantes veículos e cargos do jornalismo. Teve programa de rádio sobre cultura popular, líder de audiência nas noites de sábado. Frequentou e foi frequentado por dezenas de artistas do Brasil. E sua paixão pelo tema levou-o a formar aquele que talvez seja o maior arquivo de cultura popular do País nas mãos de um particular. São mais de 200 mil itens, entre discos (bolachões, LPs, compactos, CDs), partituras, quadros, cordéis, livros, jornais, revistas, esculturas, artesanatos, tudo armazenado no apartamento de pouco mais de 100 m2 em que mora, no bairro dos Campos Elíseos, em São Paulo.

Com mente privilegiada e memória inacreditável, Assis tem produzido textos diários para seu blog e conteúdos semanais para a coluna que produz para este Jornalistas&Cia, mostrando preciosidades de seu acervo (e já há uns seis, sete anos, sem nunca falhar). Isso quando não lhe damos algum desafio extra, muitas vezes provocado por ele mesmo, como foi a magistral entrevista fictícia que fez com João do Rio, cujo centenário de morte foi celebrado em junho passado, e que, graças à insistência dele, foi o tema do especial de J&Cia sobre o Dia da Imprensa. É também dele o brilhante texto sobre a história dos negros e da Imprensa Negra no Brasil para outro especial que produzimos, com o Perfil Racial da Imprensa Brasileira, publicado na Semana da Consciência Negra, em novembro passado.

Forte pela capacidade e pela intensidade de produção, de conhecimento e experiência, e frágil pela crueldade da cegueira, ele de trabalho não reclama, não foge, não tergiversa. Tudo o que a ele é proposto e que esteja ao seu alcance, não refuga. Faz.

Só que Assis ficou invisível para o mercado, após a cegueira. Poucos dele se lembram. Poucos o procuram para dar trabalho. Quase ninguém, das centenas de amigos que frequentaram regularmente sua casa e seus projetos, hoje o visitam. E é dessa invisibilidade que ele reclama, pois tem cabedal, saúde e energia para conduzir programas de rádio sobre cultura popular, programas de televisão sobre deficiência física, colunas em jornais, revistas ou sites sobre atualidades ou cultura. Mas, qual o quê, quem dele se lembra? Pois J&Cia avisa: Assis está aí, no pedaço, pronto para o que der e vier, louco para trabalhar, com a experiência de quem já foi repórter de polícia, chefe de reportagem, assessor de imprensa, curador de dezenas de projetos culturais e com a capacidade de quem continua a ser poeta, escritor, contador de causos, palestrante, autor de cordéis, entrevistador (e dos bons), entre outras façanhas.

Uma delas − anotem aí, pois ele busca quem o apoie − foi adaptar para cordel e teatro Os Lusíadas, de Camões, que em 2022 completará 450 anos de lançamento. Está prontinho. É só enfornar.

Pois bem, a mais recente loucura que propusemos a ele foi conceber um encontro e uma conversa surrealista entre Deus e Marx, para ver até onde poderia chegar sua imaginação, com base em todo o conhecimento que tem da Bíblia, da Antiguidade, do Cristianismo e de Marx. Seria um desdobramento da inusitada entrevista com João do Rio.

Pois foi esse o desafio que ele topou enfrentar, criando este Inacreditável Encontro de Deus com Marx, que teve ainda a participação de Jesus Cristo, combinando filosofia, ficção, humor e informação histórica (as ilustrações são do cartunista Fausto Bergocce). Um desafio que tem tudo, agora, para virar peça de teatro, quem sabe história em quadrinhos e outros filhotes que o talento de Assis poderá ajudar a concretizar.

Esse é o melhor presente de Natal que o Jornalistas&Cia e o Portal dos Jornalistas podem dar a essa espetacular audiência que há 26 anos nos acompanha. Leiam, compartilhem, comentem, pensem em como usar ainda melhor o talento de Assis Ângelo.

Leia o especial na íntegra aqui.

Crédito: Fausto Bergocce
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