O presidente Jair Bolsonaro anunciou nessa quinta-feira (31/10) que ordenou o cancelamento das assinaturas da Folha de S.Paulo em todos os órgãos do governo federal. Em entrevista ao programa Brasil Urgente, da TV Bandeirantes, o mandatário sentenciou: “Nenhum órgão aqui do meu governo vai receber o jornal Folha de S.Paulo aqui em Brasília. Está determinado”.
Perguntado pelo apresentador José Datena se a decisão não poderia ser considerada um ato de censura, o presidente respondeu: “Não é uma forma de censura, nada. Quem quiser comprar a Folha de S.Paulo, compra. Ninguém vai ser punido por isso. Manda o assessor dele, vai lá na banca e compra a Folha de S.Paulo, e se divirta”.
Além disso, Bolsonaro ameaçou os anunciantes da Folha de S.Paulo: “E quem anuncia na Folha de S.Paulo presta atenção, está certo?”.
O caso ocorreu no mesmo dia em que a Folha fez uma reportagem em que revelou que o Ministério Público do Rio de Janeiro ignorou uma possível alteração na gravação da portaria do condomínio em que moram Jair Bolsonaro e Ronnie Lessa, acusado de ser um dos assassinos da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.
Em nota, a Folha escreveu que “lamenta mais uma atitude abertamente discriminatória do presidente da República contra o jornal e vai continuar fazendo, em relação a seu governo, jornalismo crítico e apartidário que a caracteriza e que praticou em relação a todos os outros governos”.
A atitude de Bolsonaro assemelha-se à tomada por Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, que pediu aos órgãos federais que cancelassem a assinatura dos jornais The New York Times e The Washington Post, pelas críticas a seu governo.
Marcelo Rech, presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ), repudiou a atitude de Bolsonaro: “A ANJ lamenta que, assim como agiu o presidente Donald Trump há poucos dias, o presidente Jair Bolsonaro escolha caminho idêntico, o que significará menos pluralidade e informação profissional para o serviço federal”.
Rech também enfatizou a importância da liberdade de imprensa para a democracia e a sociedade como um todo: “Mesmo que as assinaturas para governos representem uma receita ínfima para jornais, a livre circulação de notícias e ideias ajuda a construir políticas públicas, a corrigir rumos e aperfeiçoar caminhos na administração pública”.