
Por Luiz Anversa (anversa86@gmail.com)
Minha única relação com o rabino Henry Sobel durou alguns segundos. Isso foi lá em 2012.
Estava subindo a rua Rego Freitas, do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, para ir ao lançamento do livro de Audálio Dantas sobre a vida de Vladimir Herzog – As duas guerras de Vlado Herzog (Editora Civilização Brasileira), obra que ganhou o Jabuti de Não-Ficção de 2013. O evento aconteceria no auditório do sindicato, que leva o nome do jornalista torturado e morto pela ditadura militar.
Chegando perto do prédio vi Sobel, todo atrapalhado, saindo de um táxi. Daquelas cenas das comédias antigas, gostosas de rever.
Estava fechando a porta do elevador quando ouço uma voz com muito sotaque norte-americano: “Segure a porte, por favor”.
Nesses poucos segundos do térreo até o andar do sindicato, falei apenas uma coisa para o rabino: “Muito obrigado por nos ajudar na época da ditadura”.
Ele ficou com as bochechas ainda mais vermelhas e respondeu: “Não foi nada”.
Já na fila para pegar meu autógrafo com Audálio, troquei algumas palavras com o autor da noite (já o conhecia dos meus tempos de Jornalistas&Cia, de Eduardo Ribeiro e seu grande editor-executivo Wilson Baroncelli) e contente por estar naquele lugar, com aquele personagem que ajudou a mudar a história do Brasil para melhor.
Estava deixando o auditório quando vi Henry Sobel no meio do espaço sem conversar com ninguém. “É agora”, pensei. Me aproximei dele e pedi um autógrafo. Ele ficou meio sem graça, dizendo que o livro era do Audálio. Respondi o que o próprio jornalista me disse quando assinava uma página do livro: “Sem o rabino Henry Sobel esse livro não teria existido”.
Depois da minha explicação, Sobel decidiu autografar. “Em nome de quem?”, perguntou. “Luiz”, respondi. Ele virou e olhou para mim: “Ah, sim, o Luiz do elevador”. Na dedicatória, algo simples, mas marcante: “Luiz, Shalom e Paz. Rabino Henry Sobel”.
Diversos líderes e personalidades, como os ex-presidentes FHC, Lula e Dilma, o governador João Doria, o prefeito Bruno Covas, o apresentador Luciano Huck, entre outros, se manifestaram sobre a morte de um defensor histórico dos Direitos Humanos.
Até o fechamento deste texto, o presidente Jair Bolsonaro não havia feito qualquer comentário. É aquele silêncio que explica tudo.

É de Luiz Anversa (anversa86@gmail.com) o texto desta semana, a propósito da morte do rabino Henry Sobel, que teve papel de destaque nos episódios que se sucederam ao assassinato de Vladimir Herzog, em outubro de 1975. Luiz foi redator deste J&Cia e do portal da RedeTV e hoje integra a equipe de esportes do Yahoo. O artigo foi publicado originalmente no blog Planeta Política, que ele criou há mais de uma década.
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