Por Luciana Gurgel

Na segunda-feira, 14 de julho, a BBC enfrentou um dos dias mais difíceis de seus mais de 100 anos de história, aprofundando uma crise que ameaça seu futuro − ou ao menos sua existência no formato atual.

Luciana Gurgel

Dois relatórios devastadores para a reputação da emissora vieram a público simultaneamente, escancarando fragilidades editoriais e institucionais da rede pública britânica.

Em um deles, a BBC admitiu ter cometido uma grave falha ao exibir um documentário sobre a guerra em Gaza narrado por um adolescente que é filho de um integrante do Hamas.

No outro, um relatório independente confirmou denúncias de comportamento abusivo do apresentador Gregg Wallace nos bastidores do MasterChef, levando a BBC a anunciar que não voltará a trabalhar com ele.

Como se não bastasse, no dia seguinte a emissora voltou às manchetes com outra polêmica envolvendo o programa: o também apresentador John Torode foi acusado de ter usado linguagem racista em circunstâncias não totalmente esclarecidas.

Um episódio que provavelmente passaria despercebido, não fosse a ligação com a BBC, ilustrando a extensão de sua crise de imagem. Ele acabou demitido. Os reflexos dessa crise aparecem no relatório anual publicado no mesmo dia.

Apesar de distintos, os casos de Gaza e do MasterChef expõem uma mesma fragilidade: a dificuldade da BBC em equilibrar seu papel como emissora pública financiada por contribuintes com a obrigação de manter credibilidade editorial e tolerância zero a abusos internos.

As pressões sobre sua imparcialidade, independência editorial e padrões de conduta se intensificaram nos últimos anos, alimentadas por críticas de diferentes setores políticos e da sociedade civil.

Desde o governo de Boris Johnson, o modelo de financiamento da BBC − baseado em uma taxa de licença obrigatória, inclusive para quem assiste pela internet − tem sido alvo de questionamentos, com ameaças de reformulação que poderiam comprometer sua sobrevivência.

A emissora tem buscado alternativas para se reposicionar, como cortes de pessoal, paywall nos EUA, adoção da IA, terceirização de produção e investimentos em streaming.

Mas casos como os mais recentes só agravam o desgaste da marca, em um cenário cada vez mais adverso.

O relatório de 2025 informa que 300 mil residências deixaram de pagar a taxa em um ano. O baque financeiro, de £50 milhões, parece grande. Mas é pequeno perto do baque institucional.

Leia o artigo completo em MediaTalks.


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