Luiz Carlos Secco foi homenageado em dezembro passado por sua contribuição à imprensa automotiva
Faleceu nesta quinta-feira (30/1), aos 90 anos, Luiz Carlos Secco. Um dos mais admirados e queridos profissionais da imprensa automotiva, com mais de 60 anos de atuação entre redações e assessorias de imprensa do segmento, Seccão, como era carinhosamente conhecido, sofreu uma queda e bateu a cabeça na noite de ontem (29/1). Internado na UTI com danos cerebrais gravíssimos, ele teve morte cerebral anunciada no final desta tarde.
Nascido em São Paulo, em 13 de agosto de 1934, Secco começou sua carreira em uma repartição pública em 1958, aos 23 anos, depois de tentar ser ciclista profissional por algum tempo. Mas foi só em 1961, por insistência de um amigo que queria vê-lo trabalhando no Estadão, que chegou ao jornalismo.
Primeiro foi noticiarista de esportes, principalmente amadores, e chegou a pedir afastamento da cobertura de futebol por considerar chato demais o modelo de jogo do Brasil e do Santos: de “jogar a bola no Pelé”. Foi quando assumiu na cobertura automotiva a vaga de seu colega de redação Vladimir Bernick, que havia deixado o jornal para concluir o curso de Medicina, onde mais tarde se tornou um renomado médico na área de Psiquiatria.
Ainda na década de 1960, trabalhou com Mino Carta na Edição de Esporte do próprio Estadão, e na sequência foi cobrir carros no Jornal da Tarde.
Mas foi na equipe de comunicação da Ford, onde começou em 1974, que ganhou notoriedade e a grande identificação não só com a marca mas com o próprio segmento automotivo. Nos anos seguintes trabalhou também na Autolatina, joint venture formada entre a Ford e a Volkswagen nos mercados brasileiro e argentino, nos anos 1980 e 90.
Após sua aposentadoria na Ford, em 1997, montou ao lado do filho José Carlos a Secco Consultoria, agência que segue na ativa atendendo clientes como Marcopolo, Agrale, Artecola, MVC e Honeywell, entre outros.
Casado com Maria Stella, teve cinco filhos, três deles jornalistas. Além de José Carlos, também seguiram os passos do pai na profissão Raquel e Luiz Fernando, o Kiko. Ele também era pai do engenheiro Luís Roberto e da médica Fernanda.
O velório de Luiz Carlos Secco será neste sábado (1º/2), a partir das 9h, no Cemitério Morumby (Rua Deputado Lacerda Corte, 468), em São Paulo. O cortejo está marcado para às 13h.
Exemplo de admiração
Um dos mais admirados e queridos profissionais do setor automotivo, Luiz Calor Secco era quase que uma unanimidade entre jornalistas e executivos do setor. Ao longo de mais de seis décadas de carreira, acumulou prêmios e homenagens, entre elas o prêmio especial de Contribuição à Imprensa Automotiva, concedido por este Portal dos Jornalistas, durante a cerimônia de premiação dos +Admirados da Imprensa Automotiva 2024. Foi nesta iniciativa, inclusive, que Secco foi eleito em 2015 o segundo +Admirado Assessor de Imprensa do segmento.
Luiz Carlos Secco foi homenageado em dezembro passado por sua contribuição à imprensa automotiva
Em uma de suas últimas aparições em público, em dezembro do ano passado, esteve presente na cerimônia de entrega do Selo Maior Valor de Revenda Autos, da Autoinforme, onde também foi surpreendido com a entrega de uma placa em reconhecimento à sua carreira.
Entrevista histórica
Em abril de 2013, na edição que marcou os quatro anos da newsletter Jornalistas&Cia Imprensa Automotiva, Secco foi destaque de uma entrevista especial produzida pela equipe da publicação. O conteúdo completo você pode conferir no link.
A desinformação deixou definitivamente de de ser uma preocupação de jornalistas e comunicadores e agora faz parte da agenda de todos os setores da sociedade, incluindo o mundo do dinheiro.
Mais uma evidência disso é o Relatório de Riscos Globais do Fórum Econômico Mundial, divulgado na semana passada em Davos.
O documento descreve um cenário mundial cada vez mais fragmentado, com desafios geopolíticos, ambientais, sociais e tecnológicos que ameaçam a estabilidade e o progresso.
Notícias falsas e desinformação se destacam em primeiro lugar entre mais de 30 ameaças de curto prazo (dois anos), superando questões dramáticas como a crise climática e os conflitos armados.
Em quarto lugar aparece a polarização da sociedade, um problema relacionado à desinformação e às fake news, muitas vezes disseminadas propositalmente com o intuito de angariar apoio político ou mobilizar para crimes e terrorismo.
O relatório divulgado em Davos é resultado da Pesquisa de Percepção de Riscos Globais, que captura insights de mais de 900 especialistas em todo o mundo.
A inteligência artificial faz parte das preocupações. Os resultados adversos das tecnologias de IA são um dos itens que mais subiram no ranking de risco de dez anos em comparação com o ranking de risco de dois anos.
O documento do Fórum Econômico Mundial refere-se ao papel da IA generativa na produção de conteúdo falso ou enganoso em larga escala e como isso se relaciona com a polarização social.
RSF quer que anunciantes “assumam suas responsabilidades”
Aproveitando o relatório, a Repórteres Sem Fronteiras (RSF) divulgou um comunicado convocando os anunciantes a assumirem a responsabilidade pelas ameaças que as principais plataformas online “− especialmente aquelas que incorporam os valores de Elon Musk e Mark Zuckerberg −“ representam para o acesso a informações confiáveis e jornalismo de qualidade.
A organização afirma que “as plataformas online não são nada sem os orçamentos dos anunciantes − foi o dinheiro deles que permitiu que se tornassem tão poderosas”.
Para a RSF, os riscos tanto para o direito à informação quanto para a reputação das empresas estão crescendo. Daí o apelo aos anunciantes para que “assumam a responsabilidade e pressionem essas plataformas para proteger o acesso do público à informação e a conteúdo jornalístico”.
Outro ponto abordado é o dos influenciadores que não produzem informações confiáveis de interesse público, que na visão da entidade de liberdade de imprensa devem ser diferenciados dos jornalistas − uma tarefa cada vez mais difícil.
A fim de combater a desinformação, a RSF sugere que o conteúdo deve ser claramente categorizado de acordo com a origem e os influenciadores devem aderir a um código de conduta, garantindo transparência e responsabilização pelo que veiculam.
Não é impossível, se as plataformas quiserem. Mas, pela direção dos ventos na nova era Trump, não parece nada provável.
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A repórter Nathália Freitas, da TV Globo e Rádio CBN, deixou uma coletiva de imprensa com o presidente do Atlético-GO, Adson Batista, ao receber uma resposta machista. O episódio ocorreu nesta quarta-feira (29/1), após o empate entre Atlético-GO e Goianésia pelo Campeonato Goiano.
Durante a coletiva, Nathália questionou a possível saída do jogador Shaylon, mas, em vez de responder diretamente, Adson desviou a conversa e perguntou se outro atleta havia tido um bom desempenho na partida. Após a repórter mencionar Alê, o dirigente discordou e insinuou que sua resposta poderia ter sido influenciada pelo fato de achar o jogador “bonitinho”.
Imediatamente, a jornalista demonstrou incômodo e destacou que o comentário tinha relação com seu gênero e afetava seu trabalho. Em seguida, Adson se desculpou, mas acrescentou um “sem barraco” e a acusou de se vitimizar, levando Nathália a deixar o local.
Na rede social X, após receber diversas mensagens de apoio, a repórter agradeceu o carinho e afirmou que se pronunciaria posteriormente sobre o caso. Já Adson Batista publicou um comunicado pedindo desculpas: “Nathália, gostaria de expressar minhas desculpas pelo comentário feito durante a entrevista de hoje. […] Quero que saiba que a intenção nunca foi causar qualquer tipo de constrangimento, mesmo porque minha postura não foi de te ofender ou diminuir. Repito que jamais tive a intenção de afetar sua reputação”.
Caco Barcellos (esq.), Mônica Waldvogel, Maju Coutinho, Sabina Simonato e Marcelo Pereira (Crédito: Bob Paulinho/Globo)
A Globo anunciou nesta semana novidades no jornalismo para 2025, ano em que a emissora completa 60 anos de existência. Entre as novidades estão novos quadros no Fantástico, a estreia do Bom Dia Sábado, uma nova temporada do Profissão Repórter e novos programas.
No próximo sábado (1/2), estreia o Bom Dia Sábado, novo telejornal matinal comandado por Sabina Simonato e Marcelo Pereira, que vai ao ar das 6h50 às 7h50.
O Fantástico já terá novidades no próximo domingo (2/2). O quadro Deu Petch será comandado por Xuxa Meneghel, que retorna à emissora após 11 anos. O espaço falará sobre resgate e adoção de animais abandonados, destacando o trabalho de ONGs e voluntários. Outra novidade é o quadro Devolve Aí, com o humorista Paulo Vieira, que vai reunir pessoas que pegaram algo emprestado (e nunca devolveram) com os donos dos objetos.
Ainda no Fantástico, Renata Ceribelli vai comandar o quadro Prazer Renata, que falará sobre longevidade, abordando a vida de pessoas com 60 anos ou mais. E até abril, Sônia Bridi estará de volta com o quadro Jornada da Vida. A jornalista falará sobre a cultura e biodiversidade de países como Tailândia, Laos, Camboja e Vietnã.
O Globo Repórter trará às sextas-feiras o Globo Repórter Celebridades, que conta a história de artistas, atletas e outras personalidades. A estreia, que será em 7 de março, abordará a trajetória da atriz Fernanda Torres, que venceu recentemente o Globo de Ouro na categoria Melhor Atriz pelo filme Ainda Estou Aqui.
A nova temporada do Profissão Repórter vai apresentar o projeto Mochilão do Profissão, no qual os repórteres, em duplas, viajarão com apenas uma mochila nas costas para “chegar aonde avião, carro, trem não chegam”. Na estreia, Caco Barcellos e sua equipe mostrarão como é a jornada do peão de boiadeiro.
Novidades também na GloboNews. Em março, estreia o Liderança S/A, com Mônica Waldvogel, que entrevista CEOs, empresários e executivos sobre suas carreiras e experiências corporativas, com o objetivo de dar dicas sobre como ser um líder. O projeto, fruto de uma parceria com o jornal Valor Econômico, vai ao ar aos sábados, às 17h30.
Além disso, nos próximos meses, o canal vai exibir duas séries: A série documental Fiéis: Além dos Muros, sobre o crescimento das denominações evangélicas no país; e posteriormente, em três episódios, Leilane Neubarth falará sobre descobertas científicas e hábitos capazes de melhorar a qualidade de vida conforme as pessoas envelhecem.
E na Academia do Jornalismo, projeto interno da Globo de capacitação e treinamento, haverá uma iniciativa, feita em parceria com o Movimento Luz na Educação (LED), na qual universitários serão convidados a apresentar ideias sobre um tema pré-definido, e os melhores projetos poderão ser exibidos nas plataformas da Globo.
Uma pesquisa divulgada nesta semana pela Marco, agência global de comunicação independente com sede em Madri e escritórios próprios em outros 13 países, em parceria com a empresa de pesquisa Cint, mostrou que veículos tradicionais como tevês, rádios e jornais impressos são considerados fontes mais confiáveis e capazes de combater informações falsas, em meio ao consumo digital massivo.
Segundo o levantamento, 84% dos participantes da pesquisa consideram o jornalismo fundamental para combater fake news. No Brasil, esse percentual é ainda maior, chegando a 89% dos entrevistados.
Mesmo com essa percepção, o levantamento aponta que os brasileiros consideram o LinkedIn como a fonte mais confiável para se informar, com 25% dos entrevistados atribuindo à rede social a nota 10 (extremamente confiável). Os meios de comunicação tradicionais aparecem em seguida com a TV e os jornais impressos, ambos com 19%. Já o rádio vem logo na sequência, com 16%. Considerando a média ponderada dos 11 países envolvidos no estudo, a TV tem a maior pontuação entre as fontes de informação mais confiáveis.
Ainda de acordo com a pesquisa, as redes sociais (como X, Facebook, Instagram, Threads, TikTok, Twitch e Snapchat) e os aplicativos de mensagens, como o WhatsApp, são considerados menos confiáveis como fontes informativas pelos brasileiros. Os percentuais variam apenas entre 6% e 8% dentre aqueles que atribuíram nota 10 (extremamente confiável) para esses canais.
Considerando a média ponderada dos 11 países envolvidos no estudo, a TV tem a maior pontuação entre as fontes de informação mais confiáveis (fonte: Global MARCO New Consumer Report 2024)
Informação é poder
Quando questionados sobre a credibilidade de jornalistas e influenciadores como fontes de informação, 72% dos brasileiros responderam que é mais provável acreditar em um jornalista. No entanto, cerca de 20% indicaram acreditar igualmente tanto em jornalistas quanto em influenciadores. A preferência pela imprensa tradicional se manteve entre todos os países pesquisados, com Portugal (83%), Espanha (73%) e Brasil (72%) se destacando por priorizarem jornalistas em relação a outras fontes.
Seguindo essa tendência, 89% dos brasileiros (acima da média global) acreditam que as fake news são combatidas por meio do jornalismo. Essa convicção é novamente observada em diferentes localidades, sendo que 87% dos entrevistados nas Américas defendem essa percepção, acima dos 82% na Europa e dos 79% na África.
Juan Manuel Dortez, diretor Multimercado da Marco
“Apesar do crescimento explosivo das redes sociais, o jornalismo tradicional continua sendo um pilar na busca por informações confiáveis”, afirma Juan Manuel Dortez, diretor Multimercado da MARCO. “Para marcas e organizações que buscam prosperar, construir uma presença estratégica no mercado por meio do relacionamento com a imprensa não é apenas uma opção – mas sim algo essencial para sobreviver em um ambiente tão dinâmico. Investir em atividades de RP não se trata apenas de gerar visibilidade para a marca, mas também de alinhar-se a canais de mídia que reforçam sua credibilidade e confiança”.
O poder persuasivo de um influenciador
Em relação ao poder que um influenciador pode ter na jornada do consumidor, 58% dos entrevistados no Brasil confirmam já terem feito compras seguindo a recomendação de um criador de conteúdo na internet. Ao analisar os diferentes continentes, os consumidores que vivem na África (56%) e nas Américas (53%) são os mais propensos a serem induzidos a comprar por recomendação de um influenciador, bem acima dos que moram na Europa (37%).
Marrocos e Brasil (58%), África do Sul (53%), México e Estados Unidos (51%) e Espanha (45%) são os países mais propensos a comprar algo com base na recomendação de um influenciador. Na Europa, a Espanha (45%) é o país mais propenso a fazer isso. Por outro lado, os países pesquisados que mostraram menos disposição para tomar uma decisão de compra sob a influência de um criador de conteúdo são França (32%), Alemanha (32%) e Reino Unido (35%).
Metodologia
A pesquisa teve como objetivo explorar e analisar as atitudes e a conscientização dos consumidores em 11 mercados-chave. O período de pesquisa abrangeu de dezembro de 2023 a janeiro de 2024, proporcionando uma visão abrangente das opiniões contemporâneas sobre tópicos globais.
Foram mais de 7.300 participantes, representando países com diversidades culturais, econômicas e tecnológicas. Os mercados pesquisados incluíram Brasil, França, Alemanha, Itália, México, Marrocos, Portugal, África do Sul, Espanha, Reino Unido e Estados Unidos. Essa seleção diversificada teve como objetivo capturar uma compreensão holística do comportamento global do consumidor.
A terceira edição do Global Marco New Consumer Report também se aprofundou nas atitudes em relação à flexibilidade na rotina profissional, ao equilíbrio entre vida pessoal e profissional e às preferências por diferentes configurações de trabalho, tornando as descobertas uma exploração pioneira sobre os sentimentos em evolução a respeito da cultura do trabalho.
Um questionário estruturado foi projetado para abranger diversos aspectos do consumo de mídia, compromisso com as marcas, aplicações de IA, sustentabilidade e cultura de trabalho. Os participantes foram convidados a responder a perguntas fechadas e abertas, permitindo análises quantitativas e qualitativas.
O relatório completo do estudo, realizado pelo departamento de pesquisa da MARCO em colaboração com a CINT, pode ser consultado em http://themarcosurvey.com/.
Reconhecida duas semanas atrás pela revista Prospect, uma das publicações mais importantes da imprensa britânica, como uma das 25 pensadoras e pensadores mais influentes do mundo em 2024, Eliane Brum, a +Premiada Jornalista da História do Brasil segundo o Ranking +Premiados da Imprensa, foi eleita a Pensadora do Ano para 2025. Ela estava entre os escolhidos pela publicação e agora, após votação popular, ficou em primeiro lugar.
Eliane, que é também fundadora da Sumaúma, plataforma de jornalismo trilíngue feita sobre e a partir da Floresta Amazônica, tem 37 anos de carreira no jornalismo, sendo 27 deles cobrindo pautas socioambientais e a Amazônia. Em 2016, durante um trabalho em Altamira, no Pará, percebeu que precisava se mudar para aquela região, um “epicentro de tudo o que precisamos mudar”.
A jornalista era a única representante brasileira na lista que incluía importantes pensadores especializados em temas como clima, economia, liberdade, geopolítica e tecnologia. No site da Sumaúma Eliane comentou sobre o reconhecimento:
“Eu defendo a recentralização do mundo. Não apenas a centralidade da Amazônia, mas de todos os biomas e dos oceanos. Defendo o deslocamento do que é centro e do que é periferia. E isso não é nem pode ser apenas retórica. A recentralização do mundo é urgente. Esse reconhecimento da Prospect me dá muita alegria, porque esse deslocamento de centralidades parece estar presente nessa escolha, ao colocar no centro outros valores e outras ideias.”
Eliane faz parte da lista dos jornalistas +Premiados no exterior, com importantes reconhecimentos, como o Maria Moors Cabot e o Prêmio SIP em duas oportunidades. Venceu também prêmios como Esso, Vladimir Herzog, Mulher Imprensa eJabuti de Melhor Livro Reportagem.
O jornal digital Poder360, fundado e desde então dirigido por Fernando Rodrigues, está em contagem regressiva para os seus 25 anos de vida, a se completarem em 18 de abril. Embora tenha sido batizado com o atual nome apenas em novembro de 2016, a operação editorial teve início em 2000 com o antigo Blog do Fernando Rodrigues, à época hospedado no UOL.
Fernando Rodrigues
Em janeiro de 2017, iniciou a fase solo, independente e definitiva. O último post no UOL havia sido publicado em 31 de dezembro de 2016. O Drive, newsletter única no mercado e exclusiva para assinantes, também celebra data redonda, dez anos, que serão completados em 25 de maio.
Segundo lembra Rodrigues, “o Poder360 é a operação editorial mais antiga da mídia brasileira dedicada exclusivamente aos assuntos do poder, lato sensu. Faz a cobertura ampla de notícias sobre os Três Poderes, mas também sobre economia, negócios, agências reguladoras e diversas indústrias relevantes, como as dos setores de energia, agropecuária, saúde, esportes, tecnologia, mídia e assuntos internacionais”.
Ele lembra ainda que muitos veículos digitais nasceram e morreram nesses 25 anos. “Tudo parece ser muito fugaz na internet”, destaca, garantindo: “Sobreviver um quarto de século no meio digital talvez seja o equivalente a durar 50 ou 100 anos na mídia impressa. Estar operando de maneira cada vez mais consolidada e ampliando a influência e credibilidade do Poder360 é um sinal de que a produção jornalística tem sido útil para o público que se informa por aqui. Sem o aval do leitor não seria possível existir tanto tempo”.
Marina Colasanti morreu nessa terça-feira (28/1), aos 87 anos. A causa da morte não foi divulgada, mas a TV Globo informou que ela sofria de Mal de Parkinson e teve pneumonia. Deixa viúvo, o jornalista e escritor Affonso Romano de Sant’Anna, e duas filhas. O velório será nesta quarta-feira (29/1), no Parque Lage, Zona Sul do Rio de Janeiro. O local marcou a história de Marina, que chegou a morar lá.
Marina nasceu em Asmara, capital da Eritreia, na época uma colônia italiana. Veio para o Brasil aos 11 anos e teve formação como artista plástica. Apesar disso, começou a trabalhar, em 1962, como jornalista e cronista do Jornal do Brasil. Escreveu para revistas da Editora Abril, apresentou programas culturais na televisão e traduziu para o português autores estrangeiros renomados.
Foi autora de mais de 70 obras, para crianças e adultos, entre poesia, contos, crônicas, ensaios, romances e literatura infanto-juvenil, neste caso ilustrando as próprias obras. Recebeu o Prêmio Machado de Assis em 2023, concedido pela Academia Brasileira de Letras. Em 2024, foi escolhida como personalidade literária do ano pelo Prêmio Jabuti, após ganhar a estatueta nove vezes ao longo dos anos, na categoria de Melhor Livro Infantil.
É considerada uma das grandes personalidades da cultura brasileira, e teve uma carreira marcada pela sensibilidade e pelo talento.
Repórter fotográfico da Folha garantiu primeira colocação no ano passado com as conquistas dos prêmios Maria Moors Cabot, CICV, Direitos Humanos e Folha de Jornalismo
Depois de meses de apuração, com 200 premiações jornalísticas analisadas neste período, Jornalistas&Cia e Portal dos Jornalistas divulgaram nesta terça-feira (28/1) uma edição especial com os resultados do Ranking +Premiados da Imprensa Brasileira 2024.
Em sua 14ª edição, a iniciativa apontou Lalo de Almeida, repórter fotográfico da Folha de S.Paulo, como o +Premiado Jornalista do Ano. Com 162,5 pontos, o jornalista alcançou a primeira posição do Ranking com a conquista de importantes prêmios, entre eles o Maria Moors Cabot, uma das mais antigas e relevantes premiações de jornalismo do mundo, por seus mais de 30 anos de carreira e dedicação em retratar ameaças ao meio ambiente e crises migratórias.
Lalo também integrou as equipes que conquistaram em 2024 os prêmios CICV, na categoria Cobertura Humanitária Internacional; Direitos Humanos de Jornalismo, em Multimídia; e Folha de Jornalismo, na categoria Reportagem. Essas premiações também fizeram Lalo subir 20 posições no Ranking dos +Premiados Jornalistas da História, pulando da 46ª para a 26ª posição.
Lalo durante a cobertura das queimadas no Pantanal em 2020
Este é o segundo ano consecutivo e a terceira vez na história do Ranking que um repórter fotográfico é o +Premiado Jornalista do Ano. Em 2023 tal feito coube a Marcia Foletto, de O Globo, e em 2015, Dida Sampaio (Estadão) e Domingos Peixoto (O Globo) dividiram o primeiro lugar.
Curiosamente, o segundo colocado desta edição também foi um repórter fotográfico: Paulo Pinto, da Agência Brasil. Fabiana Moraes, professora de Jornalismo da Universidade Federal de Pernambuco e colaboradora do The Intercept Brasil, completou o pódio na terceira posição.
Entre os veículos, destaque para TV Globo, Folha de S.Paulo e Metrópoles, que ocuparam as primeiras posições entre os +Premiados Veículos do Ano, e para o Grupo Globo, que mais uma vez foi o +Premiado Grupo de Comunicação do Ano.
A edição especial traz ainda quais são os jornalistas, veículos e grupos de comunicação +Premiados da História, além de recortes regionais e por plataforma de atuação, no caso dos veículos.
Lalo de Almeida, da Folha de S.Paulo, é o +Premiado Jornalista de 2024. Com 162,5 pontos, o repórter fotográfico alcançou a primeira posição do Ranking com a conquista de importantes prêmios, entre eles o Maria Moors Cabot, uma das mais antigas e relevantes premiações de jornalismo do mundo, por seus mais de 30 anos de carreira e dedicação em retratar ameaças ao meio ambiente e crises migratórias.
Lalo também integrou as equipes que conquistaram em 2024 os prêmios CICV, na categoria Cobertura Humanitária Internacional; Direitos Humanos de Jornalismo, em Multimídia; e Folha de Jornalismo, na categoria Reportagem. Essas premiações também fizeram Lalo subir 20 posições no Ranking dos +Premiados Jornalistas da História, pulando da 46ª para a 26ª posição.
Este é o segundo ano consecutivo e a terceira vez na história do Ranking que um repórter fotográfico é o +Premiado Jornalista do Ano. Em 2023 tal feito coube a Marcia Foletto, de O Globo, e em 2015, Dida Sampaio (Estadão) e Domingos Peixoto (O Globo) dividiram o primeiro lugar. Curiosamente, o segundo colocado desta edição também foi um repórter fotográfico: Paulo Pinto, da Agência Brasil.
Especializado em pautas socioambientais, Lalo de Almeida fez ao longo de sua carreira parte de importantes projetos audiovisuais que evidenciam temas como desmatamento, mudanças climáticas, incêndios devastadores, impactos da ação humana na natureza e as diversas (e muito complexas) relações entre o homem e o ambiente. Através de suas fotografias, mostra aquilo que muitos querem manter “por trás das cortinas”.
Nascido em 1970, tem mais de três décadas de carreira no fotojornalismo. Diz que sempre teve interesse por fotografia e “aventuras”. Desde a juventude, fazia registros de suas viagens, passeios, escaladas e trilhas, chegando inclusive a vender algumas de suas fotos para revistas.
Estudou fotografia no Instituto Europeo di Design, em Milão, Itália. Na época, chegou a trabalhar cobrindo pautas policiais. Ao retornar ao Brasil, teve breve passagens por Estadão e revista Veja, até chegar à Folha de S.Paulo, onde trabalha há mais de 30 anos. Colaborou também em diversos projetos para o jornal americano The New York Times, além de outras publicações brasileiras, como Globo Rural e revista Crescer.
É autor de diversas séries de fotografias premiadas internacionalmente, como Distopia Amazônica (projeto ao qual se dedicou por 12 anos), ABatalha do Belo Monte (2013), Um Mundo de Muros (2017), Pantanal em Chamas (2020) e Darién, a Selva da Morte (2024).
O Ranking +Premiados da Imprensa conversou com Lalo de Almeida sobre sua carreira e trajetória no fotojornalismo. Ele falou sobre as motivações que o levaram a seguir na profissão, como se interessou e especializou em pautas socioambientais, os riscos desse tipo de cobertura e bastidores de premiados trabalhos que fez.
Confira a seguir a entrevista na íntegra:
Ranking 2024 – O que significa para você ser o +Premiado Jornalista de 2024?
Lalo de Almeida – É um reconhecimento por essa dedicação que tive ao longo da carreira. Sempre brinco que não me considero um cara talentoso, e sim um cara muito esforçado. Então, acho que ser o +Premiado reconhece esse esforço, essa dedicação de tantos anos trabalhando sempre no mesmo ritmo, na mesma toada, tentando ser coerente, vejo como um reconhecimento pela carreira.
Lalo fotografando uma área queimada do Pantanal em 2020, na região da Serra do Amolar (MS).
É importante ressaltar que nada disso teria acontecido se eu não tivesse trabalhado com alguns dos melhores jornalistas do Brasil. Na verdade, esse reconhecimento aconteceu porque tive o privilégio de trabalhar com essas feras, se não, eu não teria ganhado todos esses prêmios. Estou sendo premiado e reconhecido, mas na verdade é um reconhecimento meu e de todos os jornalistas com quem trabalhei, estou recebendo de forma individual, mas enxergo muito como algo coletivo.
E são parcerias longas com esses jornalistas e não esporádicas, parcerias de anos e anos de trabalho. Então, tive a sorte de trabalhar com os melhores. A fotografia é um processo meio solitário e individual, onde você está lá sozinho para fazer o clique. Mas até chegar esse momento da foto ocorre um processo muito coletivo, desde a elaboração da pauta, do projeto, viagens, apuração, até finalmente a hora da fotografia. Então, nada disso teria acontecido sem o apoio dos meus colegas nesses trabalhos premiados.
Ranking 2024 – Como surgiu seu interesse em trabalhar com fotojornalismo?
Lalo – A fotografia sempre esteve presente na minha vida como uma forma de registrar minhas viagens. Quando eu era mais jovem, na adolescência, queria fazer fotografia de natureza. Fazia muitas caminhadas, escaladas, e fotografava essas viagens. Cheguei até a publicar minhas fotos em algumas revistas. Mas nessa época eu estava perdidão, não sabia que curso fazer, que profissão seguir, acabei indo cursar Geologia, mas não era para mim.
E nesse meio tempo eu continuava fotografando minhas viagens, explorava cavernas e registrava esses momentos. Uma vez, fiz uma viagem de bicicleta pela Patagônia, e publiquei as fotos em vários lugares, revistas, jornais. E foi aí que percebi que talvez esse negócio tinha jeito, decidi ser fotógrafo, decidi fazer isso da minha vida. Fui estudar fotografia, mas na época não havia graduação, uma formação específica no Brasil. Então, lembrei do meu irmão que morava em Milão, na Itália, eu também já falava italiano, e foi assim que decidi ir para lá, para estudar fotografia no Instituto Europeo di Design.
Lalo durante a cobertura das queimadas no Pantanal em 2020.
Nessa época, para me sustentar, trabalhei em uma pequena agência de fotojornalismo que cobria apenas cronaca nera − em italiano, assuntos policiais. Eu pegava minha motinho, ficava escutando a frequência de rádio da polícia e dos bombeiros, e quando acontecia algo, saía dirigindo para lá e fotografava o ocorrido. Depois, revelava as fotos (era ainda a época do preto e branco), editava, ampliava e logo em seguida pegava a motinho de novo e ia nas redações dos jornais para vendê-las. Foi uma experiência fantástica, pois eu fazia o ciclo inteiro da notícia, do trabalho, desde entender o que era a pauta, sair para fotografar, editar, revelar, ampliar, até conseguir vender o peixe para o editor. Cheguei a cobrir a Guerra da Bósnia, no começo dos anos 1990, por uma outra agência, cobertura essa que também foi uma grande escola de aprendizado para mim.
Aí chegou um ponto em que achei que era a hora de voltar ao Brasil, um país muito rico, com muitas histórias para contar. Mas quando cheguei, não conhecia ninguém. Trabalhei alguns meses no Estadão e na revista Veja, mas as coisas não estavam fluindo. Foi então que um editor da Folha de S.Paulo me ligou e me convidou para trabalhar lá. Fui pensando que não ia durar muito, com a ideia de ficar no máximo um ano, e olhe lá. E o que era para ser apenas um ano acabou virando 30. Estou perto de completar 31 anos de Folha. E não me arrependo. É um lugar incrível, que tem um ambiente que exala vontade de criar, de contar histórias. Foi justamente na Folha que fiz alguns dos melhores projetos da minha carreira. Acredito que o jornal me possibilitou fazer trabalhos que em poucos lugares do mundo eu conseguiria.
Ranking 2024 – O seu interesse em cobrir questões socioambientais surgiu por causa de suas viagens ou algum outro fator te deu aquele “estalo”?
Lalo – Acho que um pouco dos dois. Sinto que tive um retorno às minhas raízes no sentido de que gosto muito de fotografar no meio da natureza, prefiro fotografar em ambientes afastados, rurais, estar no meio desses lugares remotos. Sinto que consegui juntar no meu trabalho hoje aquele desejo de estar fotografando no meio da natureza, e ao mesmo tempo colocando o jornalismo nisso tudo, contando as histórias, as ameaças que rondam esses biomas.
Mas creio que teve um momento muito importante na minha carreira, que considero uma virada de chave em vários sentidos, que foi o trabalho sobre Belo Monte. Esse trabalho me fez entender essa ocupação predatória na Amazônia, e foi a partir dele que comecei a fazer muitos projetos especiais multimídia para a Folha.
Em 2009, me mandaram para Altamira, para cobrir as primeiras audiências públicas para a população sobre o que seria o projeto Belo Monte. Fomos para ver o que a população achava, os indígenas e ribeirinhos. E quando comecei a ouvir o que seria o projeto, pensei “nossa, isso aqui vai ser um estrago, vai ter um impacto gigantesco nas populações”. Despertei um interesse em acompanhar o projeto Belo Monte do começo ao fim. Pedi para a Folha para que, sempre que tivesse alguma pauta em Altamira, me escalassem para eu continuar acompanhando a história de perto. Mas eu acabava indo apenas uma vez por ano, não ia ser suficiente para cobrir totalmente o assunto.
Foto de capa do projeto A Batalha de Belo Monte, publicada no final de 2013.
Foi então que consegui uma bolsa do Ministério da Cultura chamada Marc Ferrez, um prêmio para fotografia, e usei o dinheiro para documentar os impactos socioambientais da obra de Belo Monte. Passei quatro meses em 2013 morando em Altamira, fotografando as obras, que estavam a todo vapor. E aí, no segundo semestre de 2013, a Folha resolveu começar a fazer grandes projetos multimídia, um deles sobre Belo Monte. E como eu já estava por perto, a Folha mandou mais cinco jornalistas para me ajudar lá. Produzimos o especial em 15 dias.
Então, esse trabalho de Belo Monte foi uma virada de chave para mim por dois motivos. O primeiro porque entendi o que era esse processo de ocupação predatória da Amazônia, que não leva em conta as questões ambientais nem as populações locais. Percebi o quão nocivos são esses projetos, e me interessei demais por tudo isso, quis continuar registrando, fotografando, procurando outros assuntos dentro desse tema, outras histórias. E ao mesmo tempo, quando fiz esse especial, o jornal começou a me chamar para fazer praticamente todos os especiais multimídia. Todo ano eu fazia algum projeto que durava de quatro a seis meses. Então, foi virada de chave também nesse sentido, pois a partir de Belo Monte comecei a fazer vários outros projetos especiais.
Ranking 2024 – Sobre o projeto Um Mundo de Muros, como foi vivenciar e cobrir essas divisões entre as populações de países e regiões tão distintos?
Lalo – Foi um projeto fantástico. Trabalhei ao lado de Patrícia Campos Mello, uma das melhores jornalistas do Brasil [N. da R.: Patrícia também foi a +Premiada Jornalista do Ano nas edições 2019 e 2020 do Ranking]. Nós pensamos nesse projeto numa época em que vários “muros” e divisões estavam sendo erguidos pelo mundo, o assunto era bem pertinente. Foram viagens incríveis, todas foram únicas. Visitamos zonas de conflito, com muita tensão. Visitamos os muros entre Estados Unidos e México, Quênia e Somália, Sérvia e Hungria, além de muros internos no Peru e Brasil. Passamos então por África, Europa, América e Oriente Médio.
Muro entre México e Estados Unidos, destacando parte do dele dentro d’água, da série Um Mundo de Muros (2017).
Creio que a mais difícil em termos de acesso foi a do muro entre Quênia e Somália. É região tensa, com muito terrorismo. Os terroristas saem da Somália, entram no Quênia e fazem os atentados. E a gente teve que pedir autorizações para vários órgãos do governo do Quênia para conseguir acessar esse local. Qualquer deslocamento que fazíamos, tínhamos escolta armada. E quando fomos no muro, a gente foi num comboio militar, com uns 30 soldados
Nessa viagem foi a primeira vez que eu usei um drone. Foi um projeto supermultimídia, com imagens em 360 graus, e eu tinha acabado de comprar um drone para usar. Quando chegamos na fronteira, tinha um fosso e uma grade gigantesca que cerca esse fosso, com vários soldados em volta, e aquele clima de tensão. Aí tirei a câmera, comecei a fotografar rápido, e eu ia fazer algumas imagens com o drone também. Mas depois de só cinco minutos que chegamos lá, um soldado se aproximou e falou que, por questões de segurança, a gente não poderia ficar muito tempo ali. Ou seja, a gente atravessou meio mundo para no fim ficar só cinco minutos no muro? No fim, nem usei o drone. A gente acabou ficando 20 minutos no máximo. Quer dizer, foi uma canseira, indo atrás de diversas autorizações, muito tempo de viagem, deslocamento, para ficar pouco tempo no muro. Se fiquei 20 minutos registrando o muro foi muito.
Mas foi um projeto incrível e que, no começo, parecia inviável e impossível. Era muita grana para as viagens. Tentamos patrocínio por fora, mas não conseguimos. E no fim, a Folha bancou tudo e esse trabalho acabou sendo um dos trabalhos mais premiados do jornal.
Ranking 2024 – E sobre a série Pantanal em Chamas, o que você sentiu ao ver toda aquela destruição e ao tirar a foto emblemática do macaco carbonizado?
Lalo – Esse trabalho foi muito marcante para mim. Na época, estávamos fazendo um projeto chamado Amazônia sob Bolsonaro. Então, nosso foco estava 100% na Amazônia. Eu estava trabalhando com meu amigo Fabiano Maisonnave, que na época era correspondente em Manaus. E a gente começou a receber notícias de que os focos de incêndio no Pantanal estavam crescendo, lá perto de junho, julho. E aí já tínhamos viagem marcada para Amazônia, mas decidimos ir para o Pantanal antes da Amazônia.
E, sendo sincero com você, estávamos meio desinformados, para falar a verdade, a gente sabia que a situação estava feia, mas não tínhamos noção do quão grave estava. Quando chegamos lá, foi um grande susto. O céu estava lindo e azul, achávamos que não tinha tanto fogo assim, mas conforme fomos chegando perto do Sesc Pantanal, na região de Poconé, que era o lugar onde estavam concentrados os incêndios, de repente surgiu um muro de fumaça, era fogo por todo o lado. Não tínhamos noção do tamanho dos incêndios.
Na Amazônia, o que ocorre normalmente com os incêndios (isso está mudando recentemente por causa do clima) é o seguinte: o pessoal derruba as árvores pois não consegue colocar fogo com elas em pé pois são muito úmidas. Então, primeiro derrubam árvores, esperam a vegetação secar e colocam fogo quando a vegetação já está seca. E nesse processo, nesse meio tempo, os bichos conseguem fugir. Mas no Pantanal, é diferente, o fogo passa devastando tudo rapidamente. E a quantidade de animais mortos que vimos lá foi assustadora, de partir o coração. Foi um susto essa descoberta dos incêndios no Pantanal.
Depois disso tudo, seguimos viagem para a Amazônia, que já estava marcada, para continuar nossa cobertura. Mas admito que fiquei angustiado de deixar o Pantanal. Tentei convencer a Folha a voltar para Pantanal, mas naquele momento não tinha como. Então eu, angustiado, fui para lá por conta própria, com a minha família.
A foto específica do macaco queimado foi feita nessa viagem. Estávamos numa fazenda próxima à Serra do Amolar, na fronteira com a Bolívia, e o fogo tinha passado no dia anterior com uma velocidade gigantesca, um dos incêndios mais fortes que vi. No dia seguinte, percorremos a região por onde o fogo tinha passado. E no meio do cenário apocalíptico, com uma cinza esbranquiçada de tão forte que era o fogo, nos deparamos com essa figura. Quando olhei, até levei um susto, pois parecia quase uma figura humana. Era um macaco bugio, que estava em uma posição como se estivesse rastejando, fugindo das chamas, e é um movimento muito humano, parecia uma pessoa. Foi um choque. E quando olhamos em volta, percebemos que não era só aquele macaco, tinha outros, era um bando. Encontramos outros macacos carbonizados.
Ficamos pensando sobre o quão devastadoras foram as chamas, e o quão rápidas elas foram, pois nem os macacos, que são bichos espertos e rápidos, conseguiram escapar. Encontramos até aves calcinadas nas árvores, que nem conseguiram voar, não deu tempo de voar, ou ficaram perdidas, tamanha a intensidade do fogo. Então, foi um choque tremendo. Estávamos acostumados a ver incêndios na Amazônia, mas no Pantanal, o que pegou de verdade foi a questão dos bichos, dos animais, e não só eles mortos, mas vimos muitos feridos, agonizando, filhotes sem os pais, bichos com a pata queimada, uma verdadeira tragédia.
Foto de um macaco bugio carbonizado para a série Pantanal em Chamas (2020). A posição do macaco lembra uma figura humana.
Ranking 2024 – Pensando em todos esses temas essenciais que você cobriu com suas imagens, qual a importância da fotografia para o jornalismo?
Lalo – Para responder a essa pergunta me vêm à cabeça algumas coisas. Depois de tantos anos cobrindo esses temas socioambientais, a minha percepção é que o interesse das pessoas por esses assuntos ainda é muito pequeno. Então, acho que a imagem, que é uma linguagem muito direta e cria muita empatia com o outro, é um jeito de se comunicar muito eficiente. Acho que as fotografias têm essa capacidade de atrair as pessoas para que se interessem pelas histórias.
Lalo em meio aos incêndios que atingiram o Pantanal em 2020.
Ainda mais hoje, em um mundo onde cada vez menos as palavras são usadas, a questão da imagem está cada vez mais presente, acredito que a fotografia jornalística, feita seguindo os padrões do jornalismo profissional, com credibilidade, critérios, apuração e conceitos, é muito eficiente, e tem capacidade de se comunicar com as pessoas de uma maneira muito imediata, forte e potente. Não adianta nada ficar falando que o Pantanal está queimando, queimou 30% do pantanal − tudo bem, é importante, mas acho que as pessoas conseguem se conectar mais com essa notícia quando veem por exemplo a foto do bugio queimado. Eu acho que a fotografia, nesse sentido, tem uma eficiência enorme.
Então, a fotografia é importante pelo poder de comunicação imediata e direta que ela tem, principalmente nesses assuntos que às vezes as pessoas acham chatos ou não se interessam muito. Você consegue criar uma conexão mais rápida e potente com os leitores.
Ranking 2024 – Qualquer tipo de investigação jornalística tem seus riscos, e com a cobertura da Amazônia e de questões socioambientais não é diferente. O que você tem a dizer sobre a questão da segurança dos jornalistas durante essas coberturas mais arriscadas?
Lalo – No caso da cobertura da Amazônia, especificamente, acredito que precisamos falar sobre alguns pontos que tornam o trabalho mais desafiador e mais perigoso. Grande parte das atividades que acontecem na Amazônia, de alguma forma estão ligadas a atividades ilícitas, garimpo, extração de madeira, drenagem de terra, assuntos recorrentes nas coberturas. Então, o tempo inteiro estamos em contato com esses grupos que praticam atos ilícitos, e às vezes até estão ligados a políticos, que estão cometendo crimes e obviamente não querem se expor. E cada vez mais temos grandes facções criminosas que estão por trás dessas atividades ilícitas, a situação vem se tornando complexa.
Para nós, que cobrimos pautas ligadas à Amazônia, a sensação que eu tenho é que, atrás daquela determinada curva, pode ter alguém te esperando, sabe? É a sensação de que, atrás daquela árvore, tem alguém te esperando, tem uma emboscada. E nós andamos muito nessas coberturas, não ficamos parados, vamos atrás da notícia, e então ficamos expostos a todo o momento, e com pouquíssimos recursos de como pedir socorro. Estamos muito por conta própria.
Outro ponto a se pensar é o seguinte: são regiões tão tensas, com uma tensão constante, que qualquer mal-entendido pode gerar uma tragédia. Trabalhamos sempre num certo nível de tensão. Uma vez, durante uma cobertura, novamente com Fabiano Maisonnave, estávamos num ramal da Transamazônica e paramos para fotografar um jerico, um caminhãozinho muito utilizado por lá, que tinha um adesivo do Bolsonaro. Descemos para tirar uma foto desse jerico, o Fabiano fez uma foto com o celular mesmo, e aí um cara saiu correndo com uma peixeira atrás da gente.
Em outra ocasião, eu estava em Altamira, tomando um guaraná num boteco. E o som estava bem alto, tocando músicas de sofrência, que falavam sobre traição, e tinha um casal já bêbado tomando cerveja do meu lado. Aí falei para o meu amigo e colega Marcelo Leite que estava na cobertura comigo: “Marcelão, você já reparou que aqui só toca música de corno?” E isso eu estava falando para ele, fiz uma piada. Aí o homem do lado ouviu, e ele queria me matar. Ele estava bêbado e disse que ia me matar e esperar a polícia.
Lalo fotografando uma área invadida por grileiros dentro da Terra Indígena Trincheira/Bacajá (PA).
Outro problema é que estamos constantemente em lugares muito remotos, afastados. Então, qualquer emergência de saúde que você tiver, você está perdido. Imagine que você está no meio do Vale do Javari e você toma uma picada de cobra. E aí? Não tem soro, você está há três dias de barco de qualquer lugar… Eu, por exemplo, quase morri em 2023. Foi um milagre não ter morrido. E esse caso diz muito sobre o que é trabalhar na Amazônia.
Estava indo para Oiapoque, saindo do Amapá, para cobrir a exploração de petróleo na região. No meio do caminho, comecei a me sentir mal, sorte que eu estava com meu colega de cobertura e amigo Vinicius Sassine. Fui para o hospital, o médico pediu uns exames, eu comecei a alucinar, cheguei a ficar inconsciente, fiquei muito mal mesmo. Resumindo, eu estava com Meningite Meningocócica. Só que o médico até então achava que eu estava com dengue. Começaram a aparecer manchas no meu corpo, e por sorte o Vinicius Sassine fotografou e mandou para a irmã dele que era médica e estava fazendo residência em Ribeirão Preto (SP). Ela mostrou para um professor, que disse que isso estava com cara de Meningite Meningocócica. Ele falou que eu tinha horas de vida. Aí foi uma correria, eu precisei ser transferido para outro hospital, precisava de um avião UTI, já estava inconsciente, todo o rolo para pagar o preço caríssimo do avião, a saúde foi caindo por causa da demora, mas consegui chegar a São Paulo e me curei. Mas as chances de eu ter sobrevivido eram mínimas e eu deveria ter muitas sequelas, e não tive nada, foi um milagre. Tudo isso que passei foi muito ruim, mas poderia ter sido bem pior se eu estivesse em um local mais remoto.
Então, trabalhar na Amazônia tem esses dois grandes riscos, o risco de você estar lidando constantemente com essas atividades criminosas e ilegais, e é uma tensão constante, e você não sabe quem pode estar te esperando e o que pode acontecer, e qualquer fagulha pode desandar para uma tragédia; e ao mesmo tempo você estar trabalhando em lugares remotos, com pouca comunicação, pouco acesso a qualquer tipo de socorro. É muito desafiador.
Ranking 2024 – Qual foi o trabalho mais difícil que você já fez?
Lalo – Trabalhos difíceis acho que foram muitas pautas na Amazônia, muitas histórias angustiantes de fazer, tanto pela dificuldade em contar a história, os riscos que essa história envolvia, o quanto nós nos expomos. Mas do ponto de vista pessoal, uma das histórias que mais me tocou como ser humano, como pessoa, que me deixou muito aflito e arrasado mesmo, foi a história do estreito de Darién, que fiz com a Mayara Paixão, no ano passado.
A selva de Darién, entre a Colômbia e o Panamá, é uma rota extremamente perigosa, pela qual passam milhares de pessoas diariamente, consumidas pelo sonho de chegar aos Estados Unidos. É um drama humano terrível, que envolve muitas crianças, passando por essa experiência horrorosa que é fazer essa travessia. Eu saí arrasado dessa cobertura. As crianças sofriam muito, e as famílias faziam a travessia sem recurso nenhum, na cara e na coragem, por esperança, por desespero, um pouco de tudo. E zero recursos. E eles ainda precisavam chegar nos Estados Unidos, e as crianças doentes, com fome, e eram milhares todos os dias. E tudo isso para chegar no muro, pois a parte pior é a parte do México, pois lá tem muita violência, então muitos ainda estão no meio do caminho, é uma situação angustiante. Foi uma das coisas que mais me tocou nesses últimos trabalhos.
Foto da série Darién, a Selva da Morte, publicada em 2024. A imagem mostra a situação de milhares de famílias que fazem esta perigosa travessia diariamente.
Ranking 2024– O que você gostaria de fotografar mas ainda não fotografou?
Lalo – Acho que gostaria de fotografar mais a América Latina. Sair um pouco do Brasil. Já fotografei um pouco, mas quero fazer mais registros da América Latina, principalmente nos países andinos. Achar histórias nesses lugares interessantes. Quero sim continuar fotografando questões socioambientais, eu me interesso muito por essa relação entre o homem e o ambiente, mas queria sair um pouco dessa zona.
Às vezes é bom sair da sua zona. Estou muito focado na cobertura da Amazônia, por exemplo, e às vezes é muito exaustivo você focar tanto em um só tema, por mais que esse seja um tema superdiverso. É muito importante sair dessa sua zona às vezes, especialmente porque você pode inclusive ver outras perspectivas sobre esse tema que você está cobrindo.
Ranking 2024 – Você tem alguma marca registrada nas fotos, algo que você sempre faz questão de mostrar nos seus trabalhos?
Lalo – Acredito que não, mas, inconscientemente, acabo sempre mostrando nas minhas fotos essa questão de a paisagem ser muito presente, e o ser humano não ser o sujeito principal. O ser humano acaba virando mais um elemento dessa paisagem, não é o sujeito principal. Meu trabalho mostra muito dessa relação homem-paisagem e homem-ambiente, e às vezes só foto do ambiente sem o personagem, e muitas vezes a foto só do ambiente sem o personagem conta mais do personagem do que se ele estivesse na foto.
Acho que meu trabalho é muito isso. As vezes pessoas acham meio frio, por estar meio distante das pessoas. Mas nem todo trabalho é assim, claro, mas acredito que tenho muito essa questão de destacar o ambiente, de colocá-lo no lugar de sujeito principal.
Foto do trabalho Distopia Amazônica, tirada em Altamira (PA), em 2019. A imagem mostra um menino ribeirinho na comunidade de Paratizão, às margens do Rio Xingu, próximo à represa de Belo Monte.
Ranking 2024 – Quais são suas referências no fotojornalismo?
Lalo – Acho que não tenho uma ou algumas referências específicas. Creio que é muito mais um processo em que você vai “pescando” uma coisa ou outra de vários colegas, de trabalhos que você vê, tudo vai te fazendo pensar, e você vai criando aquele “caldo” na sua cabeça e aí sai a inspiração, o jeito que você enxerga as coisas. Na verdade, é um conjunto de diversas influências diárias que vou absorvendo e isso que vai me inspirando.
Mas para citar alguns, aqueles que considero os “mestres” da fotografia, trabalhos referências na história, falo sobre Eugene Smith, fotógrafo americano fantástico. Teve seu auge nos anos 1950-1960, tem trabalhos incríveis. E o admiro pela persistência, pela obstinação de tentar contar histórias do melhor jeito possível, a forma como se doava pelas histórias.
Admiro muito também o Sebastião Salgado, não só pelas fotografias, mas como ele conseguiu viabilizar os projetos, é um cara que pensa grande, que pensou fora da caixa e conseguiu fazer trabalhos sobre os grandes temas da humanidade. É um cara que, quando comecei a estudar fotografia, no começo dos anos 1990, ele já estava na história da fotografia. E continuou trabalhando depois de mais 30 anos, produzindo que nem um louco, trabalhos importantes, então admiro também essa longevidade.
Lalo descendo em um garimpo de ouro ilegal dentro da Reserva Nacional do Cobre (Renca), no Pará.
Ranking 2024– Quais dicas você daria para jornalistas que querem ingressar no fotojornalismo?
Lalo – Acredito que o mais importante é encontrar um tema em que você tenha um interesse genuíno, que você não esteja fotografando só por trabalhar. Que você tenha um interesse real sobre aquilo que está fotografando, isso faz toda a diferença no trabalho final, e você consegue fugir de estereótipos. Dedique-se a temas em que tenha algum interesse, em que acredite, e aí o trabalho acontece naturalmente.
Em termos de carreira, de fato, é uma carreira dura. Eu peguei muitas transições, do preto e branco para o colorido, depois para o digital, depois a chegada da internet e das redes sociais. E eu tentei sempre me adaptar a essas realidades que foram aparecendo.
A indústria do fotojornalismo deu uma derretida. Mas tento ver o lado bom das coisas. Com a internet e os avanços tecnológicos, conseguimos publicar hoje com muito mais qualidade, e temos espaços quase infinitos para expor nossos trabalhos. O grande desafio é viabilizar tudo isso em termos econômicos, mas em relação a possiblidades criativas, vejo muitos caminhos hoje em dia.
Ranking 2024 – E o que vem de novo por aí? Novos projetos, grandes reportagens multimídia?
Lalo – Eu consegui recentemente uma bolsa incrível da National Geographic Society, um financiamento. Com isso, vou fazer um trabalho sobre os impactos das mudanças climáticas nas populações amazônicas, principalmente indígenas e ribeirinhas. A ideia é falar sobre como as mudanças climáticas mudam os modos de vida dessas populações, que são pessoas que estão muito conectadas aos ciclos naturais, e de repente encontram uma nova realidade climática, e como eles estão se adaptando (ou não) a essas novas realidades.
E tem um outro trabalho, com financiamento de uma fundação norueguesa, em parceria com Vinicius Sassine, sobre grandes obras na Amazônia. É um trabalho que vai sair na Folha, e não posso adiantar muitas coisas. Mas é um projeto que vai durar pelo menos um semestre. Só nesse ano de 2025, tenho pelo menos umas 12 viagens marcadas para a Amazônia.