Foi nomeado nesta quinta-feira (21/8), no Diário Oficial da União, o jornalista André Basbaum como novo presidente da Empresa Brasil de Comunicação (EBC). O decreto foi assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Com 25 anos de carreira, Basbaum tem experiência em cargos de liderança nas maiores emissoras de televisão do Brasil. Foi editor de Economia do Jornal Nacional, editor de especial do Jornal da Record, editor-chefe do SBT Brasil e diretor de jornalismo na Band. Antes de assumir a presidência da EBC, ocupava o cargo de diretor de integração de jornalismo da TV Record.
Basbaum substitui a Jean Lima, que pediu demissão da presidência da EBC após 1 ano e 10 meses de trabalho. Em sua gestão, Jean ampliou a Rede Nacional de Comunicação Pública para todas as capitais e relançou a TV Brasil Internacional.
José Hamilton Ribeiro e Lucio Flávio Pinto são dois dos mais admirados jornalistas brasileiros de todos os tempos. E conquistaram essa admiração por décadas de um denodado trabalho, que elevou ao mais alto patamar o jornalismo de nosso País.
Por isso, não seria justo com eles − nem com os demais jornalistas que continuam na lida − que disputassem uma das vagas entre os 100+ Admirados Jornalistas Brasileiros. Mesmo tendo sido muito bem votados e com pontuação para engrossar esse time de notáveis, J&Cia decidiu fazer a eles uma homenagem que faz justiça à história dos dois, dando-lhes o título de Hors Concours do Jornalismo Brasileiro. Eles estão em outra dimensão!
José Hamilton tem mais de 60 anos de jornalismo, 40 deles dedicados à Globo. Tem uma importância gigantesca na existência de J&Cia e do Portal dos Jornalistas. Foi dele a ideia de criar, em 1991, a coluna Moagem no jornal Unidade, do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, sobre o vaivém profissional, escalando para a tarefa o então colega Eduardo Ribeiro, diretor de J&Cia. A coluna permaneceu ativa por 21 anos e tornou-se o FaxMOAGEM, que posteriormente acabou virando o Jornalistas&Cia.
José Hamilton Ribeiro
José Hamilton começou no jornalismo em 1955, trabalhando como redator na rádio Bandeirantes. Posteriormente, passou a atuar na imprensa escrita, no extinto jornal O Tempo e em seguida na Folha de S.Paulo. Em 1962, foi para a Editora Abril, como redator-chefe da revista Quatro Rodas. Neste período, ganhou dois Prêmios Esso, um em equipe (em 1963, com a matéria especial Radiografia do Rio) e outro na categoria Regional/Grupo A (em 1964, com o especial São Paulo de corpo inteiro), ao lado de Mino Carta, Vitor Antônio Gouveia, Paulo Patarra e José Roberto Pena. Em 1966, foi editor-chefe da revista Realidade, comandando grandes reportagens. Em março de 1968, atuou como enviado especial para cobrir a guerra no Vietnã. Foi nessa ocasião que perdeu a parte inferior da perna esquerda na explosão de uma mina terrestre.
Na Realidade, venceu mais quatro Prêmios Esso, três deles individuais, todos na categoria Informação Científica. Em 1974, foi repórter da revista Veja. Passou uma temporada no interior de São Paulo, trabalhando como diretor de O Diário, de Ribeirão Preto, em 1975, e dirigiu o Dia e Noite, de São José do Rio Preto, em 1977, onde ganhou mais um Prêmio Esso, na categoria Regional/Sudeste, com a matéria Na boca da milésima extracorpórea. Voltou a São Paulo em 1978, quando assumiu o cargo de editor-chefe de Jornalismo da extinta TV Tupi, além do de diretor-geral do programa Pinga Fogo. Passou definitivamente para a frente das telas em 1981, como repórter especial do Globo Repórter, da Rede Globo. No mesmo ano, começou a produzir reportagens para o programa e para a revista Globo Rural, da qual se tornou, posteriormente, repórter especial. Venceu o Prêmio Maria Moors Cabot, da Universidade de Columbia, um dos mais importantes do jornalismo mundial, na categoria Outstanding on Latin America, pelo seu comprometimento com a liberdade de imprensa. Está também entre os mais premiados jornalistas brasileiros.
Lúcio Flávio Pinto
Lúcio Flávio Pinto tem mais de cinco décadas de trabalho como jornalista, tendo iniciado a carreira em 1966. Aos 16 anos, trabalhou como repórter no jornal A Província, do Pará. Dois anos depois, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde trabalhou por pouco tempo no Correio da Manhã. Depois foi para São Paulo, atuando em Diário de S. Paulo, Diário da Noite, Veja, IstoÉ, Jornal da República, Jornal da Tarde e O Estado de S. Paulo, onde consolidou sua carreira, atuando como repórter entre os anos de 1971 e 1989. Ao mesmo tempo, trabalhou na imprensa alternativa, nos jornais Opinião e Movimento. Formou-se em Sociologia pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo, em 1973.
De volta a Belém, em 1975, editou o suplemento alternativo Bandeira 3, nos moldes do antológico Pasquim. Trabalhou em O Liberal, das Organizações Romulo Maiorana (ORM). Posteriormente, fundou o Jornal Pessoal, em 1987, o primeiro veículo independente do Pará. Em 2016, passou a integrar, como colunista, a redação da agência Amazônia Real.
Na carreira, venceu diversos prêmios, incluindo quatro prêmios Esso e três prêmios internacionais: Foi o primeiro não europeu premiado com a Colombe d’Oro per la Pace, a mais importante premiação da imprensa italiana; venceu o prêmio anual do Comittee for Jornalists Protection, dos Estados Unidos; e foi eleito um dos 100 heróis do jornalismo pela organização Repórteres Sem Fronteiras. É autor de mais de 20 livros sobre a Amazônia. Foi por muitos anos o +Premiado Jornalista da Região Norte, além de sempre figurar entre os +Premiados do País, em ranking realizado por este J&Cia.
Em 2023, Lúcio encerrou as atividades do Jornal Pessoal, que manteve por 36 anos. O motivo da decisão foi o Mal de Parkinson, do qual se descobriu portador em 2018. Ele segue sendo colaborador da Amazônia Real, com o envio de textos semanais.
Especializado na cobertura da Amazônia, Lúcio percorreu a região de forma intensa por quase 40 anos, de 1966 a 2002. No período, cobriu praticamente todos os acontecimentos e episódios importantes da região. E como viu tais acontecimentos com os próprios olhos, destaca que isso lhe possibilitou “criar uma visão tanto global − o que inclui fatos externos − como detalhada, factual e personalizada, com fontes em todos os Estados da região”.
Vai até a quinta-feira da próxima semana (28/8) o primeiro turno de votação para o Prêmio Einstein +Admirados da Imprensa de Saúde, Ciência e Bem-Estar 2025, iniciativa do Einstein Hospital Israelita, com organização deste J&Cia, que valoriza e reconhece o trabalho de jornalistas e veículos especializados na cobertura de Saúde, Ciência e Bem-Estar.
Nesta fase, profissionais de redações, comunicação corporativa e áreas afins podem indicar livremente até cinco jornalistas ou veículos em cada uma das categorias. A iniciativa tem oito categorias para os jornalistas e sete destinadas aos veículos.
Estão em disputa, entre os profissionais, as categorias +Admirado Jornalista Especializado em Ciência, +Admirado Colunista, +Admirados Jornalistas Regionais (Centro-Oeste, Nordeste, Norte, Sudeste e Sul), além da categoria principal, que elegerá os TOP 25 +Admirados Jornalistas do País. Entre os veículos as escolhas se dão nas categorias Agência de Notícias, Áudio (Programa de Rádio/Podcast), Jornais e Revistas (Impresso ou Digital), Programa ou Quadro de TV, Veículo Especializado em Saúde, Veículo Especializado em Jornalismo Científico e Site/Portal.
Os profissionais e veículos com o maior número de indicações serão classificados para o segundo turno do prêmio, que elegerá os TOP 25 +Admirados Jornalistas do Brasil, além dos TOP 3 +Admirados profissionais e veículos nas demais categorias. Na cerimônia de premiação serão anunciados os jornalistas e veículos vencedores em cada uma das categorias, além dos TOP 5 +Admirados Jornalistas do País. A cerimônia de premiação será em 27 de novembro.
Os classificados para o segundo turno serão anunciados em 2 de setembro, mesmo dia de início da segunda etapa do prêmio. A cédula de votação está disponível aqui.
A revista Apólice, especializada na cobertura do setor de seguros no Brasil, está comemorando 30 anos de trabalho. Para celebrar o marco, a publicação lançará na próxima terça-feira (26/8) a edição impressa especial número 311.
Ao longo de três décadas, a Apólice cobriu o setor de seguros, destacando a evolução do mercado, trazendo análises e informações relevantes para seguradoras, corretoras de seguros, resseguradoras, gestores de risco, investidores e consumidores.
Kelly Lubiato, diretora de redação da Apólice, destacou a atuação da revista na cobertura dos mais importantes eventos do setor: “Investimos na cobertura de eventos como Conec, Congresso Brasileiro dos Corretores de Seguros, Conseguro, entre muitos outros nacionais e internacionais, com entrevistas e matérias que levam ao público informações de bastidores, tendências, debates e decisões que moldam o futuro do mercado”.
A Apólice tem uma tiragem mensal de 12 mil exemplares e presença ativa nos meios digitais. Além disso, produz newsletters e conteúdo em plataformas multimídia. Ao longo de sua trajetória, a revista venceu alguns prêmios, como o de Jornalismo em Seguros, em 2024, nas categorias de Mídia Especializada e Jornalista de Seguros do Ano.
A agência LatAm Intersect realiza na próxima quarta-feira (27/8), a partir das 15 horas, o webinar gratuito Combatendo a desinformação: o poder da checagem de fatos e o papel do jornalista em tempos de IA, que debaterá os desafios do combate às fake news no Brasil.
Participarão do evento comunicadores especialistas em tecnologia e no combate à desinformação: Ben-Hur Correia, repórter do Grupo Globo, pesquisador do Centro de Estratégia e Inovação da Coppead/UFRJ e integrante do grupo de análise de IA do Grupo Globo; Raphael Kapa, jornalista, professor, pesquisador, coordenador de Educação da Agência Lupa e colunista da Rádio Roquette Pinto; e Sérgio Lüdtke, editor-chefe do Projeto Comprova, coalizão de 33 veículos de mídia contra a desinformação.
Além do debate, a LatAm Intersect vai apresentar uma pesquisa inédita sobre o impacto da desinformação no trabalho da imprensa. O estudo revelou que 61.5% dos jornalistas do Brasil ainda não utilizam ferramentas tecnológicas para verificar e obter informações, e quase 8% recorre ao ChatGPT com essa finalidade. Outro dado relevante é que pouco mais de 31% dos profissionais verificam informações em sites de notícias confiáveis e nas fontes que geraram os dados iniciais. E somente 12.5% revelaram acessar sites de checagem para apurar se as informações são confiáveis.
A Secom/PR, por meio da Secretaria de Políticas Digitais, lançou em 11/8 a Consulta Pública de Tomada de Subsídios sobre Sustentabilidade do Jornalismo Ambiental e sobre a Amazônia. A iniciativa tem como objetivo reunir contribuições para fortalecer o jornalismo voltado à cobertura ambiental e à região amazônica, especialmente em um contexto de recentes ameaças à liberdade de imprensa, à segurança de comunicadores e à integridade da informação.
A consulta ficará aberta até 7 de setembro, na plataforma Participa + Brasil. Ela é direcionada a jornalistas, comunicadores, veículos, especialistas, representantes de instituições públicas e da sociedade civil. O objetivo é diagnosticar os desafios enfrentados por quem atua na cobertura ambiental e da Amazônia, identificar formas de apoio à sustentabilidade do setor e receber sugestões para políticas públicas que garantam condições seguras, plurais e democráticas para o exercício da comunicação. As denúncias sobre este tema devem ser enviadas ao Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, Comunicadores e Ambientalistas do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania. Para envio de estudos e materiais complementares (até 20MB), utilize o e-mail [email protected], assunto: Tomada de Subsídios – Jornalismo Ambiental.
Fábio Zambeli acaba de chegar ao Grupo In Press, contratado para ser diretor-geral da Athos Public Affairs, “nova unidade dedicada a soluções de alta performance em relações governamentais, inteligência política e estratégia institucional”, como diz o release divulgado pela organização na última semana.
Fábio ali chega após pouco mais de 2 anos como VP executivo da Ágora e de passagens por Jota, onde foi analista-chefe por 3 anos e 8 meses, e FSB, agência em que foi diretor por quase 6 anos. Em três passagens pela Folha de S. Paulo, foi editor adjunto, coordenador na sucursal Brasília e repórter.
Esse novo movimento do Grupo In Press, segundo maior grupo de comunicação do País, ocorre poucas semanas depois de seu desembarque da sociedade com a Oficina Consultoria e de sua instalação com unidade própria na Capital Federal. E reforça, como assinala a presidente executiva Roberta Machado, “a nossa vocação para oferecer soluções de alto impacto que combinem inteligência, ética e inovação”.
Segundo Zambeli a nova empresa nasce com a missão de ir além do monitoramento de políticas públicas: “Queremos ajudar os clientes a compreender o funcionamento das instituições, antecipar tendências e traduzir interesses legítimos em propostas que dialoguem com a agenda pública em todos os níveis da federação”.
Roberta Machado, Fábio Zambelli e Kiki Moretti
Kiki Moretti, sócia-fundadora e presidente do Conselho do Grupo In Press, diz que a Athos conecta a excelência em comunicação corporativa à crescente demanda das organizações por consultoria de alto nível que as apoie em sua atuação institucional junto ao poder público: “Com a unidade de public affairs e uma operação própria em Brasília, ampliamos a presença estratégica do grupo nos principais centros de decisão do País e reforçamos o nosso protagonismo na defesa dos interesses legítimos dos clientes”.
Pois é, eu disse e repito: dentro e fora da Bíblia há coisas de que até Deus duvida. Hehehe…
Não sei bem em qual versículo há prosa ou praga segundo a qual “Os olhos de quem zomba do pai ou despreza a obediência da mãe serão arrancados pelos corvos do ribeiro, e os filhotes da águia os comerão”.
A violência sem limites que marcou a Antiguidade e a Idade Média se repete ainda hoje diante de nossos olhos.
Ainda na Bíblia acham-se horrores previstos no Apocalipse.
Não são poucos os escritores que têm se debruçado sobre a questão da violência e previsões constantes nas páginas sagradas.
O cristianismo pega impulso após a morte de Jesus.
Não foram poucos os perseguidores de cristãos e do cristianismo.
Em nome de Deus, o povo e o Diabo fazem a festa.
A história registra as várias expedições das Cruzadas, entre os séculos 11 e 13.
Naqueles distantes tempos, Jerusalém estava nas mãos islâmicas. E o pau cantou, sobrando até pra multidões de meninos arregimentados pela Igreja. Veja só!
Acreditou-se em determinado momento que Jerusalém só seria retomada por mãos inocentes, puras.
Entre 7 de novembro de 1896 e 5 de outubro de 1897, algo terrível aconteceu no nosso patropi: cerca de 25 mil pessoas, entre velhos, mulheres e crianças, seguidoras do Conselheiro, foram massacradas pelo brioso Exército brasileiro daquele tempo.
Refiro-me aqui a Canudos, um pedaço de terra abandonado nos confins da Bahia e ocupado pelo cearense Antônio Vicente Mendes Maciel, o Antônio Conselheiro (1830-1897).
O que ocorreu lá em Canudos, o fluminense Euclides da Cunha (1866-1909) conta tintim por tintim no livro tornado clássico Os Sertões (1902).
Antes de Os Sertões, foi publicado O Rei dos Jagunços, de Manuel Benício, que era repórter do Jornal do Commercio.
Euclides e Manuel estiveram em campo, cobrindo a guerra.
Em 1981, o peruano Mario Vargas Llosa (1936-2025) publicou A Guerra do Fim do Mundo. Nesse livro, o autor mistura o real com o irreal. Entre seus personagens, há alguns que são da sua pura imaginação.
Vargas Llosa reconta o sangrento episódio com certa fúria. É como se lá estivesse de corpo e alma.
Há um momento no livro que um dos militares pede, pelo amor de Deus, que o matem. Isso porque, cego e maneta que ficou, já não aguentava as tantas dores que sofria. Seu nome: Pires Ferreira, tenente, participante ativo da primeira expedição derrotada a Canudos, em novembro de 1896.
No livro de Llosa, Euclides é identificado como o jornalista míope, que finda por apaixonar-se por uma cabocla de nome Jurema.
O escritor peruano não economiza tinta para mostrar a violência do massacre, que resultou em “um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil soldados”, como Euclides define ao fim de Os Sertões.
O assassinato do ex-cangaceiro Pajeú, na obra de Llosa, que pagou os pecados ao seguir o Conselheiro, é chocante: seus olhos são furados, as orelhas arrancadas e a cabeça decepada.
Curiosidade: Antônio Vicente Mendes Maciel virou o Conselheiro e dedicou a vida a Deus depois de flagrar a mulher nos braços de outro homem. O contrário, exatamente o contrário, fez Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha. Partiu para cima do rival disparando tiros perdidos. Em contrapartida, três balas o atingiram, matando-o.
Animais domésticos sempre fizeram a alegria de crianças e adultos.
José de Alencar, Euclides da Cunha e Machado de Assis são alguns dos nossos autores que não negavam a afeição por gatos e cachorros.
Ali por 1905, uma garotinha de nome Alba deu de presente a Machado um gatinho de cor preta. Ela era sua vizinha e tinha uns 7 anos de idade.
Acordar com o som de um “bom dia” sintetizado, pedir que a luz se apague com um sussurro ou escolher a trilha sonora da manhã com um simples comando de voz deixou de ser roteiro de ficção científica. É realidade consolidada para milhões de lares ao redor do mundo. A cada ano, os smart speakers − ou alto-falantes inteligentes − ganham mais espaço, mais funções e, sobretudo, mais vozes com que dialogar.
É o que revela a mais recente edição da pesquisa global The Infinite Dial, da Edison Research, considerada uma das fontes mais confiáveis no rastreamento do consumo de conteúdo de áudio no mundo. Desde 1998, a pesquisa traça um retrato minucioso da evolução da escuta − e, mais recentemente, da interação vocal − em diversos mercados.
Nos Estados Unidos, onde a adoção da tecnologia começou com força ainda em 2016, com o lançamento do Amazon Echo e do Google Home, a presença dos smart speakers atingiu a marca de 35% dos domicílios. É um patamar que, embora significativo, parece ter se estabilizado nos últimos dois anos − sinal de maturidade de mercado, segundo analistas como Tom Webster, ex-vice-presidente da Edison Research. Para ele, “o que antes era curiosidade virou hábito, e agora, infraestrutura”.
Esse dado representa não apenas a presença do dispositivo, mas um novo comportamento: o uso rotineiro da voz como interface de controle de mídia, compras e automação residencial. Segundo o relatório Voicebot 2024, cerca de 70% dos usuários americanos utilizam seus smart speakers para ouvir música, 60% para verificar a previsão do tempo e 45% para ouvir notícias − dados que colocam o áudio como eixo central dessa revolução silenciosa.
Se nos EUA o uso se estabiliza, em mercados como o Reino Unido e a Austrália os números apontam para crescimento constante. Na terra da rainha, os smart speakers já estão presentes em 45% dos lares − o maior índice entre os países pesquisados. Especialistas creditam esse avanço à alta penetração da internet de banda larga e à familiaridade da população britânica com rádios digitais, podcasts e tecnologias hands-free.
Na Austrália, a adoção também segue firme: 40% da população possui um smart speaker, número impulsionado por políticas de incentivo à digitalização e à popularização de dispositivos com comando de voz embarcado, como TVs e centrais de ar-condicionado integradas.
De acordo com a especialista Amanda Lotz, da Queensland University of Technology, “o áudio digital encontrou na casa australiana um ecossistema ideal para florescer: conectividade, cultura sonora e adaptação tecnológica”.
Na Nova Zelândia, o cenário é diferente. A pesquisa aponta que a posse de smart speakers permanece estagnada em 22% da população, índice praticamente idêntico ao registrado nos últimos três anos. Entre os motivos estão o alto custo relativo dos dispositivos, o menor apelo dos conteúdos locais integrados aos assistentes de voz e preocupações crescentes com privacidade digital.
(Crédito: Connect2affect.org)
Um estudo conduzido pela Victoria University of Wellington revelou que 46% dos neozelandeses têm receio de que smart speakers escutem conversas privadas sem autorização − o que pode estar freando a adoção, especialmente entre idosos e usuários com maior preocupação com dados pessoais.
Mesmo com ritmos distintos, os dados apontam para uma constatação global: o áudio é a interface dominante da nova era da computação doméstica. O que começou com o teclado, passou pelo toque e agora se consolida na voz. Os smart speakers, nesse cenário, são mais do que gadgets: são pontes sensíveis entre os mundos digitais e físicos.
A aposta das big techs acompanha essa virada. A Amazon já testa uma versão do Alexa baseada em IA generativa. O Google Assistant está sendo remodelado para integrar-se aos serviços do Gemini, e a Apple, ainda discreta no mercado, trabalha para integrar o Siri com a suíte Apple Intelligence.
O Brasil ainda não é contemplado oficialmente pelo Infinite Dial − mas não está fora da tendência. Segundo pesquisa da Kantar IBOPE Media, 17% dos brasileiros já utilizaram smart speakers em 2024, número que cresce especialmente nas capitais. A chegada de versões em português de dispositivos como o Amazon Echo e o Nest Mini já impulsiona um novo ciclo de interação vocal no País, que pode seguir a curva de adoção dos mercados mais desenvolvidos.
Com smart speakers, a casa deixa de ser muda. Ela escuta, responde, aprende. Sugere a trilha sonora ideal, lembra os compromissos do dia, avisa sobre o clima e até ensina a fazer um risoto − tudo por voz. Com a aceleração da inteligência artificial, esses dispositivos ganham ainda mais autonomia, adaptando-se aos hábitos do usuário com precisão algorítmica.
Mais do que utilidade, trata-se de uma nova forma de presença digital, em que o som ocupa o centro da experiência tecnológica. O desafio agora é garantir que essa escuta seja também ética, segura e inclusiva.
Fontes consultadas:
Edison Research. The Infinite Dial 2025 – EUA, Reino Unido, Austrália, Nova Zelândia
Voicebot.ai. Smart Speaker Usage Trends, 2024
Lotz, Amanda. “Audio Cultures in the Age of Smart Devices”, QUT Media Research, 2024
Victoria University of Wellington. Digital Privacy and Smart Speaker Adoption in New Zealand, 2024
Kantar IBOPE Media. Inside Radio Brasil – Tendências de Áudio Digital, 2024
Dines Neto, Alberto. “A voz como mediação digital no Brasil contemporâneo”, UFBA, 2023
Álvaro Bufarah
Você pode ler e ouvir este e outros conteúdos na íntegra no RadioFrequencia, um blog que teve início como uma coluna semanal na newsletter Jornalistas&Cia para tratar sobre temas da rádio e mídia sonora. As entrevistas também podem ser ouvidas em formato de podcast neste link.
(*) Jornalista e professor da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) e do Mackenzie, pesquisador do tema, integra um grupo criado pela Intercom com outros cem professores de várias universidades e regiões do País. Ao longo da carreira, dedicou quase duas décadas ao rádio, em emissoras como CBN, EBC e Globo.
Foi realizado em 14/8 o debate Reputação na Era da Hiperexposição, evento em celebração aos 30 anos deste J&Cia e da Máquina, agência focada em reputação e comunicação corporativa. O encontro, que reuniu especialistas, comunicadores e líderes de redação de todo o País, discutiu os caminhos para se construir uma boa reputação em um mundo pautado pela desinformação e pela ascensão de novas tecnologias, como a inteligência artificial.
Ao abrir o evento, Eduardo Ribeiro, diretor do J&Cia, declarou: “Ao longo dessas três décadas, acompanhamos de perto as transformações do jornalismo, a chegada de novas tecnologias, a evolução das redações e as mudanças nas relações entre imprensa, empresas e públicos. Mudou a forma, mudou a velocidade, mas não mudou a essência:
a credibilidade e a qualidade da informação continuam sendo nosso norte”.
No painel de abertura, Camila Achutti, CEO da Mastertech, falou sobre o uso da IA pelas agências, e em que medida a tecnologia pode ser útil ou prejudicial à reputação da empresa: “Quando falamos de IA, é inevitável ficarmos com um sentimento de receio, algo que na maioria das vezes parece negativo. E devemos nos adaptar a esta tecnologia, da forma mais rápida possível. Porém, acredito que o uso propriamente dito da IA não arranha a reputação. O risco, na verdade, está na falta de transparência, no como, no onde e no quando o uso da IA foi feito”.
Camila Achutti (Crédito: Máquina)
“Não há nada de errado em utilizar essa tecnologia. O importante é informar esse uso (e como foi feito esse uso) para as pessoas”, refletiu Camila. “Então, é essencial que as agências se atenham aos seguintes pontos: atualizar sempre os clientes sobre o que fazem e como fazem; utilizar a IA com ética e reponsabilidade; e atuar sempre com transparência”.
A inteligência artificial foi um dos temas que percorreu o debate principal do evento, no qual participaram lideranças de tradicionais veículos da imprensa brasileira: Carla Araújo, editora-chefe do UOL Brasília; Givanildo Menezes, diretor de jornalismo da CNN Brasil; Marcelo Sakati, editor-chefe da Bloomberg Línea; Sérgio Dávila, diretor de redação da Folha de S.Paulo; e Silva Araújo, editora executiva do Broadcast/Agência Estado. A mediação foi de Ricardo Gandour, professor da ESPM e ex-Estadão, Folha de S.Paulo, CBN, Diário de S. Paulo e Editora Globo.
Silvia Araújo declarou que a reputação no jornalismo se refere à credibilidade do trabalho da imprensa, em coberturas e apurações feitas com ética e aliadas aos fatos. Para ela, os jornalistas não podem nunca abrir mão dessa credibilidade: “Nós, enquanto jornalistas, somos prestadores de serviços também e, no caso, informamos. No jornalismo de negócios, por exemplo, temos a ponta de maximizar o valor para a empresa, mas também temos a outra ponta, que se refere ao telespectador, ao leitor, e devemos nos atentar aos fatos. Então, dependendo do setor em que a empresa atua, é isso que vai ditar a reputação dela. A credibilidade, a essência e a reputação do jornalismo são intocáveis”.
A editora do Broadcast/Agência Estado destacou também que a imprensa deve saber ir “além dos releases”, pois muitas vezes, em relatórios enviados aos jornalistas, os números lá destacados não correspondem à realidade, e cabe ao jornalismo saber filtrar o que é importante e reportar o que de fato está acontecendo: “É importante sempre termos isso em mente, quando recebemos releases e relatórios. Como lidar com o envio desses documentos, pensando também na relação empresa/imprensa. Às vezes, os números destacados nem sempre correspondem à realidade, números extremamente positivos não mostram o que de fato está acontecendo”.
Sérgio Dávila vê a inteligência artificial como uma aliada do jornalismo, se bem aplicada e de forma moderada. Ele comentou que, a partir do momento em que começou a se falar sobre inteligência artificial, a Folha de S.Paulo criou um núcleo específico sobre o tema, para analisar e avaliar o seu uso no dia a dia: “Desde a ascensão da tecnologia, criamos um núcleo e analisamos como poderíamos usá-la. Transcrição de entrevistas, legendagem, descrição de vídeos, resumir matérias em tópicos, transformar textos em gráficos. No que ela puder ser usada para ajudar o jornalista a se dedicar ao que ele faz mais de valioso, que é ir atrás de informação exclusiva e fazer reportagens, vamos usar sem medo. Mas nada vai ao ar sem que tenha passado por uma verificação de olhos humanos. Então, mesmo fazendo essas traduções, descrições, com IA, nada vai ao ar sem passar pela verificação e validação humana”.
O diretor de redação da Folha alertou porém para os impactos negativos que o uso excessivo da inteligência artificial pode gerar no jornalismo, principalmente por parte das big techs: “A IA causa uma grande disrupção no nosso negócio, pois com os mecanismos de pesquisa e resultados perdemos muita audiência e cliques, e as pessoas têm acesso aos nossos conteúdos sem que recebamos por isso, sem que tenhamos algum tipo de retorno. Então, é preciso regulamentar isso, impedir que a IA faça com que o jornalismo deixe de ganhar em termos financeiros e de audiência”
Nesse contexto, Marcelo Sakati reiterou a importância do jornalismo manter o seu diferencial e a sua essência, que é a busca pela informação, ética e bem apurada: “Cada vez mais fica evidente a diferença entre influenciadores/produtores de conteúdo e o trabalho dos jornalistas, com ética, imparcialidade e atenção aos fatos. E precisamos garantir a precisão da informação, que é fundamental, mesmo com o uso da IA. Na Bloomberg, usamos a tecnologia para ganho de produtividade, em entrevistas, transcrições, resumos e descrições. Fazemos uso apenas nesses casos, não se pode nunca substituir o raciocínio humano, pois é isso que gera valor”.
O editor-chefe da Bloomberg Línea destacou também a importância de o jornalista trazer em sua bagagem referências e conhecimentos, que serão necessários inclusive para julgar se de fato são interessantes e revelantes os conteúdos de releases e relatórios: “A maneira como o jornalista retrata, como escreve determinada reportagem, deve ser feita com franqueza e transparência. O jornalista deve pensar em várias coisas: o público-alvo, se é interessante, se é confiável e viável, são muitas variáveis. É importante ir além dos branded contents, no sentido de ver o que de fato está acontecendo, e não necessariamente o que a empresa quer passar”.
Givanildo Menezes comentou sobre o uso da IA no dia a dia da CNN Brasil e reiterou que a tecnologia não substitui os trabalhadores, mas sim serve como ajuda em determinadas tarefas mais mecanizadas: “Deixamos claro que a IA não vai substituir jornalistas e sim otimizar nosso tempo. Na CNN, desenvolvemos ferramentas próprias na casa, não podemos usar as open sources por questões de contrato. Mas estamos indo bem, usamos em entrevistas, descrições, transcrições, traduções, a IA tem ajudado muito. A IA não é fonte, não é apurador e muito menos um repórter. Nos ajuda com processo braçal e de certa forma ‘libera’ nossos cérebros para que possamos focar em apurar e correr atrás da informação, e melhorar assim o conteúdo”.
Sobre reputação e credibilidade, o diretor de jornalismo da CNN Brasil afirmou que, para além de construir um bom relacionamento com empresas e leitores/consumidores de notícias, através da transparência, ética e veracidade dos fatos, é muito importante que os veículos se atentem ao que seus próprios funcionários estão publicando nas redes, e se os conteúdos condizem com as crenças da empresa: “Devemos cuidar da reputação dos nossos funcionários, dos nossos repórteres. Se, por exemplo, um determinado jornalista publica coisas na internet que não condizem com os valores do veículo, da emissora, é algo preocupante. É essencial que a gente mantenha esse aspecto no radar também”.
Por fim, Carla Araújo destacou a importância dos relacionamentos na construção da imagem e da reputação de uma empresa, incluindo as jornalísticas, principalmente no jornalismo político, focado na cobertura dos Três Poderes: “A dinâmica de Brasília é baseada nos relacionamentos, então a credibilidade e a reputação são essenciais para que tenhamos acesso a informação de qualidade, checagem e acesso às fontes. Isso é essencial e não tem como substituir. Os governos mudam, políticos e autoridades vão e deixam cargos, e a relação com essas fontes é baseada inteiramente em sua reputação e credibilidade, então é muito importante cultivá-las e preservá-las”
A editora-chefe do UOL em Brasília destacou que as relações devem sempre ser pautadas pela transparência: “A transparência é tudo. A relação com empresa e imprensa deve ser direta e reta. Muitas vezes, recebemos sugestões de pautas que nada têm a ver com nosso trabalho, nossas especializações, nossos públicos-alvo. Então, é importante que os assessores saibam filtrar e enviar as informações certeiras para as pessoas que de fato estarão interessadas nisso. A reputação e o relacionamento vão se construindo assim, sempre, é claro, com muito respeito”.