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quarta-feira, julho 9, 2025

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Morre Affonso Romano de Sant’Anna, mais do que tudo, poeta

Morre Affonso Romano de Sant'Anna, mais do que tudo, poeta
Affonso e Marina em cena do documentário Clarice Lispector − A descoberta do mundo (Crédito: Divulgação)

Por Cristina Vaz de Carvalho, editora de J&Cia no Rio de Janeiro

Affonso Romano de Sant’Anna morreu nessa terça-feira (4/3), aos 87 anos, em sua casa em Ipanema, zona sul do Rio. Desde 2017 ele sofria de Alzheimer, e estava acamado há quatro anos. O velório foi no Cemitério da Penitência, na tarde desta quarta-feira, e o corpo foi cremado em cerimônia reservada. Sant’anna foi casado com a também escritora e jornalista Marina Colasanti, que morreu em janeiro deste ano (ver J&Cia 1.497). O casal deixou três filhas: Alessandra Colasanti, Alessandra de Sant’Anna e Fabiana de Sant’Anna.

Mineiro de Belo Horizonte, Affonso começou a trabalhar ainda bem jovem para custear os estudos. Participou de movimentos da vanguarda poética nas décadas de 1950 e 60. Em 1961, formou-se em Letras Neolatinas pela UFMG. Ainda nos anos 1960, foi bolsista nos Estados Unidos, quando participou do International Writing Program, voltado para jovens escritores de todo o mundo. Na mesma UFMG, mais tarde, fez seu doutorado.

Poeta multifunção, começamos a descrever sua trajetória pela atuação no jornalismo. Buscou popularizar a poesia escrevendo em jornais por mais de 30 anos. Foi crítico literário. Em 1984, assumiu a coluna anteriormente assinada por Carlos Drummond de Andrade no Jornal do Brasil, até 1988. Drummond seria o tema de sua tese de doutorado. Foi cronista de O Globo até 2005. Participou de programas de TV voltados para a popularização da poesia. Por último, escreveu para os jornais Estado de Minas e Correio Braziliense.

Como escritor publicou cerca de 50 títulos e recebeu diversos prêmios literários. Entre suas obras de destaque estão Intervalo amoroso (1998), Tempo de delicadeza (2007) e Como andar no labirinto (2012). Ao longo da carreira, acentuou o engajamento social, tornando-se um dos nomes mais marcantes da literatura nacional. Na obra Que país é este? (1980), o poeta traça, de maneira lírica, o panorama do Brasil sob o jugo da ditadura e virou um símbolo de mobilização popular.

Além de sua importância como escritor, foi gestor público e desempenhou papel crucial na política cultural do País. Como presidente da Fundação Biblioteca Nacional, entidade vinculada ao MinC, entre 1990 e 96 modernizou a instituição e criou o Sistema Nacional de Bibliotecas. Implementou o Programa de Promoção da Leitura (Proler), que mobilizou milhares de voluntários em todo o Brasil.

Teve movimentada vida acadêmica. Lecionou Literatura Brasileira na PUC-Rio, onde também dirigiu o departamento de Letras e Artes. Antes disso, nos Estados Unidos, em 1965, ministrou curso de Literatura Brasileira na Universidade da Califórnia (UCLA), em Los Angeles, quando também lançou seu primeiro livro de poesias, Canto e palavra. Em 1976, lecionou o mesmo tema na Universidade do Texas, em Austin. Também deu aulas na Universidade de Colônia, na Alemanha; Universidade de Aarhus, na Dinamarca; Universidade Nova, em Portugal; e Universidade de Aix-en-Provence, na França.

Recebeu algumas das principais honrarias brasileiras, como Ordem de Rio Branco, Medalha Tiradentes, Medalha da Inconfidência e Medalha Santos Dumont.

Sobre a própria vida, ele deixou este poema, entre tantos outros:

O que não escrevi, calou-me.

O que não fiz, partiu-me.

O que não senti, doeu-se.

O que não vivi, morreu-se.

O que odiei, adeus-se.


Jornalista é encontrado morto, amordaçado e com as mãos amarradas em Curitiba

O jornalista Cristiano Luiz Freitas foi encontrado morto na terça-feira (4/3) dentro de sua própria casa em Curitiba, no Paraná.
Cristiano Freitas (Crédito: Instagram)

O jornalista Cristiano Luiz Freitas foi encontrado morto na terça-feira (4/3) dentro de sua própria casa em Curitiba, no Paraná. Segundo a polícia, o profissional, que tinha 46 anos, estava com as mãos amarradas, amordaçado e com sinais de estrangulamento. O velório e sepultamento ocorrem nesta quarta-feira (5/3).

Segundo a delegada Magda Hofstaetter, que investiga o caso, Cristiano foi encontrado por vizinhos que entraram na casa do jornalista após verem um veículo saindo do local e deixando o portão da casa aberto. Eles já haviam acionado a polícia momentos antes pois escutaram gritos vindo da casa.

O jornalista foi encontrado morto, com as mãos amarradas e amordaçado com uma fita que cobria o nariz e a boca. O suspeito ainda não foi identificado. De acordo com a polícia, existe a possibilidade de Cristiano ter combinado de se encontrar com o suspeito, pois não havia sinais de arrombamento na casa. A polícia vai analisar os aparelhos eletrônicos da vítima e câmeras de segurança de residências da região.

Cristiano Luiz Freitas, conhecido como Cris Freitas, formou-se em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) em 1999 e era especialista em Cinema pela Universidade Tuiuti do Paraná. Na carreira, trabalhou por anos na Gazeta do Povo, como editor do suplemento Gazetinha e do caderno FUN. Atuava também como assessor de imprensa, produtor de conteúdo, roteirista, produtor cultural e revisor. Fez projetos voltados para o público infantojuvenil, alguns deles premiados com o Grande Prêmio Ayrton Senna de Jornalismo.

CartaCapital reforça o grupo de colunistas e a reportagem

CartaCapital reforça o grupo de colunistas e a reportagem
Crédito: Reprodução/Carta Capital

A partir deste mês, os leitores terão novidades nas páginas da revista CartaCapital. Lígia Bahia, pesquisadora e médica sanitarista, passa a escrever mensalmente na coluna de Saúde, em revezamento com Drauzio Varella, Elnara Negri e o ex-ministro Arthur Chioro. Defensora da ciência e dos investimentos no SUS, Lígia Bahia tornou-se alvo de uma campanha infame do Conselho Federal de Medicina.

Na seção de Economia, o consultor de marketing Adalberto Viviani tratará, semanalmente, de quem produz e trabalha no Brasil, focado no mundo real que existe fora da Avenida Faria Lima. Em Seu País, o cientista político Cláudio Couto, professor da Fundação Getulio Vargas, une-se a Maria Rita Kehl e Marjorie Marona.

Em maio, a jornalista e escritora Cristina Serra passa a integrar o quarteto, um a cada semana, para analisar o Brasil. Na mesma seção, o jornalista Fred Melo Paiva promete muito humor em uma coluna dedicada à política e, quem sabe, ao futebol e à religião. Renato Meirelles, do Instituto Locomotiva, agregará uma vasta experiência em pesquisa de opinião e percepção dos anseios dos brasileiros.

Com passagens marcantes pelas revistas IstoÉ e Época e pelo site El País Brasil, Pedro Marcondes é o novo repórter em São Paulo. Ele tem no currículo um Prêmio Petrobras na categoria esportiva e foi finalista do Esso com uma série de denúncias de corrupção em contratos do Metrô de São Paulo. Atualmente, finaliza um livro sobre o doleiro Alberto Youssef, usado como biombo pelo ex-juiz Sergio Moro para justificar a Operação Lava Jato.

Segundo o diretor-executivo Sergio Lírio, “as estreias reafirmam o compromisso de CartaCapital com o jornalismo e o pensamento crítico”.

Edelman lançará Trust Barometer 2025 em Brasília na próxima quarta-feira (12/3)

Edelman lançará Trust Barometer 2025 em Brasília na próxima quarta-feira (12/3)
Crédito: Reprodução/Edelman

A Edelman apresentará oficialmente ao mercado, na próxima quarta-feira (12/3), em Brasília, o Edelman Trust Barometer 2025, e o fará em parceria com o IDP.  O estudo, que analisa a confiança nas instituições, está completando 25 anos e na atual edição ouviu 33 mil respondentes em 28 países.

Segundo informa Ana Julião, CEO da Edelman no Brasil, a edição 2025 revela uma sociedade marcada pela frustração e o ressentimento: “Os medos pessoais, as falhas institucionais, a ascensão da globalização e os desafios do mundo polarizado contribuem para o crescimento do pessimismo, gerando um sentimento generalizado de insatisfação”.

Estarão presentes ao evento de lançamento o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes, o senador Eduardo Gomes e Larissa Alvarenga, da TV Globo, para debater os achados e discutir soluções.3

Repórter é furtado ao vivo no Rio Janeiro durante cobertura de carnaval

Repórter é furtado ao vivo no Rio Janeiro durante cobertura de carnaval
Crédito: Reprodução/Redes Sociais

O repórter Josué Amador, da Inter TV RJ, afiliada da Globo no interior do Rio, foi furtado ao vivo enquanto cobria o carnaval na noite da última sexta-feira (28/2). Ele transmitia informações sobre o movimento em direção à região dos Lagos e à região serrana quando um grupo de pessoas lançou spray de espuma em seu rosto e levou seu celular.

Em entrevista à coluna Splash, do UOL, o jornalista contou que, ao perceber a aproximação do grupo, tentou proteger o aparelho, mas ficou desnorteado com o ataque e não conseguiu impedir o furto. Após notar a ausência do celular, ainda tentou recuperá-lo: “Comecei a gritar e perguntei diversas vezes quem tinha pegado o aparelho. A esperança era de que alguém do grupo fosse do bem e me devolvesse o celular. Mas não foi isso o que aconteceu”.

Posteriormente, seguranças da Escola de Samba União de Maricá recuperaram o aparelho. Em nota de repúdio ao ocorrido, a Inter TV destacou a importância do respeito aos profissionais de imprensa e ressaltou que “qualquer ataque a um jornalista é um ataque à liberdade de imprensa”.

Entidades pedem ao STF suspensão de cobrança e ações judiciais contra Marcelo Auler

Entidades pedem ao STF suspensão de cobrança e ações judiciais contra Marcelo Auler
Marcelo Auler (Crédito: TV GGN/YouTube)

A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) protocolou no Supremo Tribunal Federal (STF) um abaixo-assinado pedindo a suspensão de cobranças e ações judiciais contra o jornalista Marcelo Auler. O documento foi assinado por 29 entidades defensoras da liberdade de imprensa e 550 jornalistas, juristas e políticos.

Em janeiro deste ano, Auler foi condenado a indenizar a juíza Márcia Regina Hernandez de Lima, da 3ª Vara de Família de Pinhais, do Paraná, por textos publicados em 2018 no Blog do Marcelo Auler e no Jornal do Brasil. As reportagens abordavam decisões judiciais sobre a deportação de crianças haitianas.

A Justiça do Paraná entendeu que Auler publicou informações falsas. Além de condenado a pagar indenização, que já totaliza R$ 76 mil, Auler teve as contas bancárias bloqueadas e zeradas e as reportagens foram censuradas. O jornalista também está proibido de falar sobre o processo movido pela juíza, que corre em segredo de Justiça.

A defesa de Auler alega que as reportagens continham informações de interesse público e que todo o conteúdo escrito foi feito com base em apuração criteriosa e entrevistas com testemunhas que lidaram diretamente com exilados haitianos.

No abaixo-assinado, dirigido ao presidente do STF, Luís Roberto Barroso, as entidades afirmam que as decisões da Justiça do Paraná contrariam a jurisprudência do STF que, ao julgar a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 6.792, decidiu que “a responsabilidade civil do jornalista, no caso de divulgação de notícias que envolvam pessoa pública ou assunto de interesse social, depende de o jornalista ter agido com dolo ou com culpa grave, afastando-se a possibilidade de responsabilização na hipótese de meros juízos de valor, opiniões ou críticas ou da divulgação de informações verdadeiras sobre assuntos de interesse público”.

Preciosidades do acervo Assis Ângelo: Licenciosidade na cultura popular (C)

Por Assis Ângelo

O Nordeste brasileiro é um celeiro de cidadãos e cidadãs inspirados e fortes, como certamente diria o impagável fluminense Euclides da Cunha (1866-1909).

Euclides, que tombou à bala ao tentar matar o amante de sua mulher, foi jornalista e escritor de letras brilhante que nos legou a obra prima Os Sertões, que conta magistralmente a história da Guerra de Canudos.

Com certeza Euclides passou a vida sem pular cerca, deixando, porém, à mingua a mulher Anna (1872-1951).

Bom, mas não é de Euclides e sua obra que quero aqui falar.

Os nordestinos, como eu ia dizendo, são inspirados e fortes como o próprio Nordeste.

No começo do século 19 o Rio Grande do Norte gerou para o mundo Nisia Floresta, a primeira brasileira a brigar por direitos iguais entre homens e mulheres. Já falei disso e dela.

Depois de Nísia, o mesmo Rio Grande do Norte legou ao Brasil Irene Dias Cavalcanti.

Irene foi a primeira poeta nordestina a abordar o erotismo como matéria-prima de grande valor. Nasceu em 1927.

Em 1946, no Ceará, nasceu Joyce Cavalcante.

Não demorou e Joyce logo mostrou a que veio, exibindo com galhardia o seu talento. Tem uma dúzia de romances e outras criações no campo da literatura. É premiada no Brasil e na França.

Um dos seus livros marcantes é O Cão Chupando Manga, de 2001. Romance. A história se passa na capital paulista. Um restaurante de nível sofisticado é o lugar onde quase tudo acontece. O garçom, Zezinho, é o cão em pessoa e é também o personagem que inspira o título do livro. Tem paixão, sexo, essas coisas.

De prender a atenção de quem gosta do que é bom é também o provocante Inimigas Íntimas.

Nele, Joyce põe na roda um sujeito prepotente, rico, que vive com quatro mulheres e nelas manda como se nada fossem. É um pega pra capar e mais não digo.

Joyce é uma brasileira de sensibilidade agudíssima. Cheia de graça e vigor. Não há como não gostar dela. Provocantemente, responde a tudo que lhe perguntam. Ao cabra que duvidar recomendo que leia e espalhe por aí a entrevista que fiz com ela. Esta:

Joyce Cavalcante

Assis Ângelo − O sexo se acha na poesia, no romance, na pintura, no cinema, em todas as manifestações artísticas. Mas a hipocrisia não permite que se fale abertamente a respeito desse assunto.

Joyce Cavalcante − A hipocrisia é o pilar onde se escoram todas as religiões, como também as demais instituições de poder. É por essa estratégia que a religião vira política e ninguém se apercebe até ter sido escravizado. Amordaçado.

Assis − Joyce, que importância tem o sexo nas artes, especialmente na literatura?

Joyce − É de uma importância tão grande e abrangente que fica difícil imaginar qualquer expressão artística que não tenha sido alimentada pela energia vital do segundo Chakra, Svadisthiana. De cor laranja é o Chakra que gerencia a sexualidade e a criatividade, dois conceitos inseparáveis quando se trata da reverenciar a vida fazendo literatura.

Assis − Você teve problema ao abordar esse assunto no começo de sua vida como mulher e profissional da literatura?

Joyce − Não, nunca tive esse tipo de inibição. Principalmente porque a minha literatura − enquanto oscila entre o sagrado e o profano − se baseia, acima de tudo, na vida, que não pode nunca se dissociar do sexo. Porque o sexo é o ninho de toda manifestação de vida que possa existir. É o sopro primordial. Sem ele não haveria existência. Seríamos todos uns não nascidos.

Assis − É mais frequente o sexo na literatura masculina do que na feminina, por quê?

Joyce − Pelo que já li nessa vida, julgo que acontece uma total equivalência entre ambos os campos sexuais ao produzir suas respectivas literaturas. Existe, sim, diferença de abordagem, mas não na representatividade numérica. Acho que porque no campo do erotismo é preciso que as parcerias sejam compostas e trabalhem em sinergia, senão qual é a graça?

Assis − Eu estudei em colégio de padres e tive dificuldade para aprender e me divertir com livros cujas histórias tratavam de sexo. Henri Miller, por exemplo, eu li às escondidas. E você?

Joyce − Eu também li muito às escondidas, na minha adolescência. É saboroso, demais.

Meu pai tinha uma enorme biblioteca e muito organizada. Ler era o melhor passatempo na minha casa, porém tinha um severo controle etário, e alguns livros traziam o carimbo: “Impróprio para senhoritas”, nos avisando explicitamente que não era para chegar nem perto daquelas obras. No entanto, havia os livros religiosos os quais éramos incentivadas a ler. Um deles era A Vida de Santa Terezinha, que trazia uma sobrecapa em papel brilhante e colorida, ilustrada com a figura de uma linda moça coroada com um diadema de rosas. Enquanto minha mãe pensava que sua filhinha estava virando santa, eu utilizava essa sobrecapa para encobrir a capa de couro vermelho do Crime do Padre Amaro, de Eça de Queiroz; O Vermelho e o Negro, de Stendhal; Dona Flor e seus Dois Maridos, de Jorge Amado; O Romance de Tereza Bernard, de Madame Leandro Dupré, e inúmeras outras maravilhas.

Assis − Todos os grandes escritores brasileiros, incluindo Olavo Bilac e Guimarães Rosa, falaram com naturalidade sobre a relação mulher/homem e tal. Autores estrangeiros também. Os grandões, desde sempre, abordaram essa temática. Aretino, Sade, Baudelaire, Focault e tal e tantos. O que você poderia dizer de Gregório de Mattos e Drummond?

Joyce − Todos esses eu fui ler mais tarde e não me emocionaram tanto quanto os romances por mim citados. Mas Castro Alves, sim, me emocionou. Não obrigatoriamente no épico Navio Negreiro, mas nas poesias de Espumas Flutuantes. Estudei toda a sua obra quando estava no cursinho pré-vestibular. Estava cotado para cair na prova de português do vestibular. Não caiu, mas eu me apaixonei pelo poeta ao ponto de me sentir uma de suas musas. Fiquei fascinada por seus eróticos sonetos de amor, tão exagerados, tão intensos que, muito depois, encontrei nas letras das músicas de Cazuza um quê de Castro Alves.

Carlos Drumond, Guimarães Rosa e Baudelaire são mestres.

E, para não deixar no esquecimento as mulheres, devo citar a melhor de todas: Anaïs Nin. Por imposição da justiça, entre outras, a brasileira Júlia Lopes de Almeida.

Porém, não se assuste. Não abrirei essa caixa de Pandora, senão seria inaugurada uma noite sem fim.

Assis − A sua obra é pontilhada de erotismo. Fale mais um pouco a respeito disso.

Joyce − Aí vai. Divirta-se.

 

Para te falar dos meus seios

Parceiro,

Eu te contaria toda a história dos meus seios, te falaria deles com menos embaraço se por acaso tivesse tua mão enganchada na minha complementando minha coragem. (Não ache que é tão fácil ou tão indolor falar assim.)

Derrama com calma um olhar guloso pelo meu decote adentro, mas por favor, não me olhe depois como se pudesse ler meus pensamentos.

Gostaria também muito, nem que fosse por um pequeno segundo, de poder perceber minha imagem refletida na tua íris como se eu fizesse parte de ti. Ao mesmo tempo, ver tua imagem entrando pelos meus olhos, ou seja, eu em ti e tu em mim, numa alucinante projeção infinita.

(Deixa eu falar, nem que pareça tola. Deixa eu falar em paz de minhas vontades e expectativas sem a mínima disciplina. Sem censura largar minha cabeça à toa. Serão os seios o elemento básico de minha anatomia que me torna feminina e nos diferencia?)

Toque-me. Sinta como pulsa rápido meu coração.

Por cima do meu coração estão duas construções de minha geografia que brotaram com a única intenção de te provocar, principalmente quando uso certa blusa preta sustentada apenas por um cadarço. Daí, faço uso de tua imaginação e penso, que se puxas o laço, tudo vai ficar à mostra. E eu serei nada mais do que uma posta de mulher à tua disposição. (Vai ver que neles está nosso traço de união. Um traço atávico, pois não foi de algum seio que retiramos nossa primeira alimentação?)

Vá além da fantasia e me desfrute. Você me quer e eu te preciso.

Se você aqui não concordar, te demonstrarei em detalhes meu propósito, Me despojarei de qualquer roupa, coisa como jogar fora a embalagem que envolve a prenda para libertar a alegria de quem a recebe. É importante livrar-se de todas as prisões seculares que limitam. Aposentarei o antigo espartilho ou o não tão antigo sutiã, engrenagens que me apertam as carnes e me fazem tensa. Eu não estou conseguindo sozinha desatar tantas presilhas, peço que me ajudes. E desde que me ajudes, estarei quase nua. (Contra nós, são obstáculos essas peças que tentam nos separar na hora do abraço.)

Veja meus seios descobertos, desprotegidos, inteiramente à mercê de tua maldade ou de tua benevolência. É tudo teu.

Será então um momento perfeito aquele em que tu que me desabotoavas ainda há pouco, sentado na beirada da cama me rodeares a cintura, encaixando teu rosto de perfil, exatamente no hiato que existe entre, acolá. Num acanhado gesto, meio encabulada, dissimulando, vou me movimentar fingindo descompromisso, de forma a encostar tua boca em um dos meus mamilos. (Entretanto, minha intenção é te amamentar. Te sentir dependente, transformado em menino.)

Me suga, amor, enquanto solto um gemido baixinho. Modela com teus lábios meu prazer. Pode mordiscar. Não com muita força.

Seios são iguais as frutas de casca transparente e frágil. Quem com eles quiser brincar tem de ter muito refinamento e exatidão. Mesmo quando o desejo se confundir com a impaciência, é preciso cuidado. Certo dia lhes fizeste uns carinhos mais enérgicos, eu me lembro. Fiquei com os olhos cheios de água. Não era dengo nem exagero, não. É que eu fico sempre vulnerável quando está vindo minha menstruação. (Componente essencial da metafísica dos seios.)

Vamos deitar. Uma vez deitados, esconde teu nariz neles, quase te provocando um asfixiamento, ou um afogamento, já que pra ti eles se parecem com o mar.

Além de ser o mar, eles podem ser duas luas bêbadas e desorganizadas que oscilam quando faço movimentos tentando me enroscar em ti só para ganhar a sensação gostosa de teu peito cabeludo se roçando no meu. Gostas de te divertir com essas luas particularmente aos domingos pela manhã, quando acordamos. E eu nada mais quero das manhãs de domingo que eu tiver na vida a não ser tal ondulado, tal preguiça, tal contato. (Área na qual teu talento jamais será esquecido. Até no tempo em que eu não estiver mais contigo.)

Estou prontinha para amar, porém não tenho pressa. Deixa primeiro eu terminar de falar: quero propor um jogo diferente que retrate nossa imagem, nossa semelhança.

Foi por isso e por tanto que essa mulherzinha se permitiu inventar um jogo novo para te dar de presente. Não tenha receio, é um jogo bonito. No amor, todo ludismo é permitido. Vem cá. Deixa-me segurar teu sexo como se quisesse guardá-lo no peito. Devolvo a ti todas as folias que fizeste em mim. Esfregue-me, portanto. Do atrito de nossas peles, quem sabe eu consiga colher a intensidade do teu brilho num instante e o produto espalhar pelo meu pescoço, face, barriga, axila, por várias partes do meu todo.

No amasso demorado do fim, teu esperma secando vai se encarregar de nos unir suavemente, nos deixar misturados. Que loucura que é ficar assim: ser dois. (Porque em princípio a gente é solidão; junto fazemos a exceção).

 

Assis − Agora, Joyce, fale um pouco de você e da realidade que vive a mulher na nossa sociedade. Houve evolução? Que futuro você prevê?

Joyce − Estou completamente comprometida em escrever minha biografia. Isso quer dizer que, devido a tal escolha, me obrigo a ser mais passado do que presente e muito menos futuro.

Vou escrevendo com a maior isenção, como sempre fiz com todos os meus romances. O objeto é inspirar quem vier em seguida. Já estou em pleno emprego vendo o passado o presente e o futuro se desenrolarem na minha frente como se fosse um filme colorido e emocionante, mas não é nada disso. Aqui está a mesma Joyce.

Contatos pelos assisangelo@uol.com.br, http://assisangelo.blogspot.com, 11-3661-4561 e 11-98549-0333


O adeus a Rui Xavier

O adeus a Rui Xavier

Morreu em 1°/3 Rui Xavier, aos 79 anos. A causa da morte não foi divulgada. Ele estava internado desde 20 de fevereiro no Hospital Samaritano, no Rio de Janeiro. Deixa as filhas Dani e Carol, além de cinco netos.

Nascido em 1945, no Rio de Janeiro, Rui chegou a ser um preso político por dois anos, entre 1969 e 1971. No Jornalismo, trabalhou no Estadão na década de 1990, destacando-se como editor de política. Trabalhou também em Jornal do Brasil, O Dia, Gazeta Mercantil, Veja e Exame, nas editorias de política e economia. Era conselheiro da Associação Brasileira de Imprensa (ABI).

Em 1994, à época trabalhando no Estadão, Rui fez parte de um momento histórico do programa Roda Viva, da TV Cultura. Ele foi um dos convidados da entrevista com o então governador de São Paulo, Orestes Quércia. O jornalista fez uma pergunta sobre o enriquecimento do político, que se irritou e respondeu Rui com termos como “safado”, “mentiroso” e “caluniador”. O episódio é frequentemente relembrado nas redes sociais.

Colegas de redação do Estadão como Vera Rosa, Luiz Fernando Rila e Hélio Gama Neto lamentaram a morte do jornalista.

Revista Nosso Meio lança versão impressa para comunicadores de Brasília

Revista Nosso Meio lança versão impressa para comunicadores de Brasília
Crédito: Reprodução/Nosso Meio

A revista Nosso Meio lançou semana passada na Capital Federal sua primeira edição impressa. Trata-se de uma plataforma de conteúdo especializada em negócios que apresenta o trabalho e as ações de jornalistas, publicitários, assessores e profissionais de marketing e suas ações junto às marcas e empresas. Não por acaso Brasília foi escolhida para ser a primeira capital fora do Nordeste a receber uma edição impressa, como explica o fundador do Nosso Meio, Fernando Hélio: “Quando a gente olha para esse nicho, é indiscutível dizer que Brasília é o mercado mais pujante, é o maior mercado quando se fala de comunicação. É aí que as decisões são tomadas e difundidas para o restante do País”.

E o impresso chegou com novas editorias: Mundo das Pesquisas, Reputação e Inovação – Presente & Futuro. Entre os profissionais que se destacam na cena brasiliense estão Marcos Trindade, CEO da FSB Holding; Mariana Oliveira, secretária de Comunicação Social do STF; e Marcos Carvalho, da PwC Brasília.

A primeira edição da revista foi impressa um ano depois da criação do portal, em 2021. Com base em Fortaleza, a publicação já está em sua 14ª edição e circula em todos os nove estados do Nordeste, com publicações trimestrais e uma tiragem de 3,5 mil exemplares. Na capital do País, a revista teve tiragem inicial de 1,5 exemplares e terá edições trimestrais que serão distribuídas a comunicadores, agências e empresas voltadas para a Comunicação.

Fichel Davit lança livro sobre lides sindicais no Rio

Fichel Davit lança livro sobre lides sindicais no Rio

Fichel Davit Chargel lançou em 25/2, na sede do Sindicato dos Jornalistas do Município, seu livro Subsídios para a história do Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro, obra que faz parte das comemorações pelos 90 anos da entidade.

O autor traz um trabalho de pesquisa minuciosa, no período que vai do século XIX até 1940. Mostra as intervenções da entidade na luta pela regulamentação da profissão e pelos direitos trabalhistas. Hoje aposentado, Fichel dedica-se ao Museu da Comunicação e Costumes, que ele mantém em prédio histórico na ilha de Paquetá, com um acervo de mais de 20 mil peças, reunidas durante 70 anos.

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