24.6 C
Nova Iorque
segunda-feira, junho 30, 2025

Buy now

Início Site Página 1355

Folha ganha o Esso com redação ainda abalada por demissões

Desejado por dez entre dez jornalistas (e pelos veículos que representam), o Prêmio Esso de Jornalismo (ver nota abaixo) acaba de ser conquistado pela Folha de S.Paulo com a série O patrimônio e as consultorias que derrubaram Palocci, de autoria de Andreza Matais, José Ernesto Credendio e Catia Seabra. A honraria, no entanto, chega ao jornal num momento de tensão, ansiedade e tristeza, em decorrência das muitas demissões anunciadas na última semana.

Não se tem ainda o número certo do corte, mas os rumores são de que ele chegará a 10% da folha de pagamento. A direção da empresa, conforme apurou este J&Cia, aponta razões essencialmente econômicas para a decisão: “Com a inflação pressionando mais os custos e com o crescimento da economia caindo pela metade em relação ao ano passado, a empresa está fazendo agora um ajuste necessário no orçamento do ano que vem. Isso implica fechamento de algumas vagas, desligamento de alguns profissionais e certa margem de redução no consumo de papel-jornal. Entre as medidas, o caderno semanal Folhateen, que circulava desde 1991, deve converter-se numa seção incluída no caderno Ilustrada”, diz fonte do jornal.

Entre os que saem estão dois dos mais experientes e respeitados profissionais da casa, Edgard Alves , que coordenava a pauta de Esportes, e Luiz Marauskas , da Fotografia, ambos com mais de 40 anos de casa. Há em curso na empresa algumas negociações que podem minimizar os efeitos do corte e que buscam remanejar profissionais para outras editorias ou mesmo tê-los como colunistas ou colaboradores.

Até o fechamento da última edição de Jornalistas&Cia, na noite desta 3ª.feira (15/11), ainda não era possível avaliar o tamanho do corte, já que algumas demissões teriam sido revertidas e outras ainda não estavam sacramentadas. Nem o próprio Sindicato dos Jornalistas tem ideia desse número, segundo informou a este J&Cia seu presidente José Augusto de Camargo, que disse ter falado com representantes do jornal no final da tarde de 6ª.feira (11/11) e que deve retomar os contatos nesta 4ª. Para ele, a Folha nada mais está fazendo do que repetir a fórmula que adotou no final do ano passado: “Quando eles começam a fechar os números do balanço e a preparar o orçamento do ano seguinte, usam os cortes de trabalhadores para realizar lucros e manter dividendos.

Depois, ao longo do ano, vão recontratando, pegando frilas e no final do ano cortam de novo. Essa fórmula tem sido constante desde que as empresas passaram a ser administradas por financistas, e não é exclusividade da Folha. Vamos procurá-los novamente nesta 4ª.feira (16/11) para ver o que é possível reverter ou negociar”. Da redação, além de Edgard Alvez e Luiz Murauskas, saíram Mário Moreira, 18 anos de casa; Luis Curro, sub de Esporte; Rodrigo Vargas, correspondente em Cuiabá, cujo posto foi fechado; Leonardo Freitas (TEC); no Rio, Leila Coimbra, que foi para a Reuters (ver J&Cia 820), e Rodrigo Rotzsch, que havia sido editor de Mundo; na Folha Ribeirão, Ana Paula de Sousa Silva; na TV Folha, Fabio Gonçalves Rodrigues; e em Turismo, Vanessa Corrêa da Silva, que continuará colaborando para o caderno e outras publicações.

Também saíram o diretor industrial Adalberto Fernandes e a gerente Administrativa das Redações Marie Attia (marie.attia@uol.com.br e 11-3871-0876 / 8402-0022), que estava no jornal desde fevereiro de 2004, em sua segunda passagem por lá, cuidando de toda a infraestrutura de cobertura da Folha em megaeventos como Copa e Olimpíada; controle e acompanhamento orçamentário das editorias; planejamento orçamentário para o Agora São Paulo e a Regional Ribeirão Preto; contratações/negociações das agências nacionais e internacionais de notícias.

Na área de eventos, esteve por trás da exposição 90 Anos da Folha no MIS e do evento de aniversário do jornal, dentre outras coisas. Mas nem tudo são más notícias, como lembrou uma fonte do jornal: além do Esso de Jornalismo, houve também algumas contratações. O Guia Folha, por exemplo, contratou na semana passada os repórteres Aline Pellegrini, que já frilava para o caderno, e Rafael Gregório, que trabalhava com a ombudsman Suzana Singer, ambos egressos do programa de treinamento da Folha. E Daniel Medici, que havia deixado o jornal para uma temporada de estudos, volta para cobrir férias na Ilustríssima.

Em Suplementos, Patrícia Trudes da Veiga deixa a edição para se dedicar exclusivamente ao Prêmio Folha Empreendedor Social de Futuro, ao Prêmio Empreendedor Social e à Rede Folha de Empreendedores Socioambientais; no lugar dela assume interinamente Edson Valente. Não houve mudanças na equipe da Folhinha. Vale lembrar que a decisão da Folha pode não ser isolada, já que há rumores de que estejam em estudos cortes em outras redações de São Paulo.

Carro e futebol: paixão em dose dupla de Mário Venditti

Mário Sérgio Venditti, diretor de Redação da Carro Hoje, trocou profissionalmente a área esportiva pela automotiva. Trabalhou na revista Placar e na editoria de Esportes dos jornais Folha de S.Paulo e Diário Popular até se transferir para a Quatro Rodas, em 1992, como editor de automobilismo. Mas isso não significa que deixou o assunto futebol de lado. Palmeirense de coração, ele conta nesta entrevista à editora do Jornalistas&Cia Imprensa Automotiva Heloisa Valente, que uma das coisas que mais gosta de fazer é ir ao estádio ver o time jogar. E quando o assunto é carro, lembra de uma história inusitada do seu primeiro automóvel. Jornalistas&Cia Imprensa Automotiva ? Um carro inesquecível?Mário Sérgio Venditti ? O primeiro carro que tive, um Fusca 1978, que era do meu pai, passou para meu irmão e depois para mim. Ele teve uma história curiosa, triste, mas com final feliz. O ano era 1983 e o carro foi roubado em São Bernardo do Campo (SP) quando eu visitava uma exposição de móveis. Inconformado com a perda do veículo, que não tinha seguro, vivia ligando para a polícia para saber se haviam encontrado. Depois de três meses ele foi localizado no litoral, em Mongaguá. Fui até lá buscá-lo e quando cheguei ao local vi o Fusca em cima de um cavalete, sem os quatro pneus e a bateria, além de vários problemas na mecânica e pintura. Uma cena triste! Mas o desejo de tê-lo de volta era maior. Passei então em um borracheiro, comprei um jogo de pneus meia vida, uma bateria já usada e coloquei o carro para andar. Ele ficou comigo por mais quatro bons anos. J&Cia Auto ? Um momento automotivo que marcou a sua vida?Mário Sérgio ? Destaco dois: em 1998, na Quatro Rodas, eu e o fotógrafo Marco de Bari fomos de bicões ao lançamento do New Beetle em Atlanta (EUA). Mas era um evento destinado somente à imprensa americana, canadense e mexicana. Toda a edição estava pronta, só faltava a matéria de capa, que era justamente essa. Por isso, precisávamos andar nele de qualquer maneira. Lá em Atlanta, um assessor da Volkswagen não viu com bons olhos nossa presença e disse que não andaríamos no carro. No final das contas, e graças também à ajuda do jornalista brasileiro Sergio Oliveira, radicado no México, conseguimos dirigi-lo e voltamos com a capa! Outro momento foi a foto do acidente do piloto da F1 Karl Wendliger nos treinos do GP de Mônaco de 1994. A F1 estava consternada porque dias antes o Ayrton Senna havia morrido em San Marino. Lemyr Martins, da Quatro Rodas, foi o único jornalista do mundo a flagrar o acidente e a foto foi parar em várias revistas do mundo e no Jornal Nacional, em horário nobre, com o devido crédito. Apesar do fato triste, o reconhecimento do trabalho do colega foi motivo de comemoração na redação. Além desses, ter viajado pela revista Carro para países de culturas tão diferentes, como Emirados Árabes, Coreia do Sul, China e Japão, também foi enriquecedor. J&Cia Auto ? Onde iniciou suas atividades nessa área?Mário Sérgio ? Em 1992, na revista Quatro Rodas, onde permaneci por sete anos. Eu trabalhava na imprensa esportiva, mas chegou um momento em que julguei interessante para minha carreira mudar de ares. Aí, surgiu a oportunidade de ir para Quatro Rodas e aceitei. Foi uma decisão correta. J&Cia Auto ? O que mais o impressiona na imprensa automotiva?Mário Sérgio ? Numa época em que muitos jornalistas usam internet como fim, e não como meio, admiro a garra de alguns repórteres do setor que ainda apuram uma boa reportagem. Vão atrás dos fatos, entrevistam fontes e se preocupam em produzir um bom texto. J&Cia Auto ? Um profissional da imprensa automotiva para homenagear o segmento?Mário Sérgio ? Injusto citar apenas um, por isso, divido em três turmas. Da velha guarda, Claudio Larangeira e Lemyr Martins, que, apesar da longa estrada percorrida, tratam cada pauta como se fosse a primeira, tamanho é o entusiasmo. Da minha geração, Sergio Quintanilha, Wilson Toume, Jorge Tarquini e Pedro Kutney, jornalistas de primeiro nível e com os quais tive a honra de conviver em redações. E da nova geração, João Anacleto e Gerson Campos, talentos impressionantes. J&Cia Auto ? Livro de cabeceira?Mário Sérgio ? O encontro marcado, de Fernando Sabino. J&Cia Auto ? Time de coração?Mário Sérgio ? Certa vez, meu pai me disse: “Quando eu morrer, a maior herança que vou te deixar é ser palmeirense”. Ele tinha razão. O Palmeiras é uma das maiores paixões da minha vida. Não importa em que fase ele esteja. J&Cia Auto ? O que mais gosta de fazer nos momentos de descanso?Mário Sérgio ? Ir ao cinema como minha esposa, Márcia, ler um bom livro, estar com minha família e ir ao estádio ver o Palmeiras jogar. J&Cia Auto ? Algum hobby especial?Mário Sérgio ? Não tenho. J&Cia Auto ? Tipo de música que mais aprecia?Mário Sérgio ? Música para mim é assim: se agrada aos meus ouvidos, passo a gostar. Não tenho preconceito contra nenhum gênero. Mas não dá para não gostar de Beatles… J&Cia Auto ? Na televisão, qual programa predileto?Mário Sérgio ? Programas esportivos (inclusive as mesas-redondas de domingo à noite), telejornais, alguns humorísticos, como A Grande Família e Tapas & Beijos e bons filmes nos canais a cabo. J&Cia Auto ? Quais os jornais e revistas de que mais gosta? E sites especializados?Mário Sérgio ? Estadão, O Globo, IstoÉ e Época, além de Carro e Carro Hoje, no segmento automotivo. Mas considero as revistas brasileiras do setor, de uma forma geral, muito boas, como Autoesporte e Car and Driver. Entre os sites gosto de Carro Online, UOL Carros e os das revistas Auto Motor und Sport, alemã, e da americana Motor Trend. J&Cia Auto ? Um sonho por realizar?Mário Sérgio ? Passar um ou dois anos na Europa como correspondente internacional.

Aner celebrará 25 anos com lançamento de História Revista

A Aner marcou para o próximo dia 21/11, às 20h30, no Teatro Alfa, em São Paulo, a festa de celebração de seus 25 anos de vida. E vai lançar, no evento, o livro História Revista (Direção Editorial de Gustavo Curcio), que resgata a produção editorial do Brasil dos últimos 25 anos.

A segunda atração da noite é a Orquestra Ouro Negro, que apresentará composições do maestro Moacir Santos (falecido em 2006). Será o mesmo espetáculo que ela fez no Rose Theater, no Lincoln Center, em Nova York. Presidida por Roberto Muylaert, a Aner representa hoje um mercado que, com seus 4.700 títulos (e uma tiragem anual superior a 440 milhões de exemplares), faturou em 2010 mais de R$ 4,7 bilhões, com um crescimento publicitário, em relação a 2009, de 14,92%. Interessados em participar da comemoração devem solicitar convites pelos 11-3814-0414 / 9470 ou eventos@aner.org.br.

Alberto Cataldi é promovido a editor do site Autoesporte

Alberto Cataldi foi promovido a editor do site Autoesporte. Ele, que já havia sido estagiário na equipe em 2005, depois saiu para trabalhar no Terra e na Editora Abril, retornou à redação em 2008, como repórter e desde julho deste ano vinha atuando como editor-assistente. Cataldi agora passa a se reportar diretamente ao redator-chefe Glauco Lucena e ao diretor de Redação Marcus Vinicius Gasques.

A Autoesporte, a propósito, acaba de estrear na rede social Google+, onde posta notícias e abre espaço para comentários dos seguidores. Ela também possui versões disponíveis em outras redes sociais, como Facebook, Twitter e Orkut.

Carro do Ano 2021 – Na última semana a publicação anunciou para mais de 500 convidados, no Credicard Hall, em São Paulo, a nova versão reestilizada do Fiat Palio como grande vencedora do prêmio Carro do Ano 2012. Nas demais categorias, os vencedores foram: Carro Premium – Mercedes Classe C; Utilitário – Peugeot 3008; Utilitário Premium – BMW X3; Motor até 2.0 – Fiat; Motor acima de 2.0 – Audi; e Carro Verde – VW Polo BlueMotion. O concurso elegeu ainda Publicidade do Ano, categoria em que a Fiat igualmente venceu, com a propaganda do Fiat 500; e Site do Ano, que destacou o trabalho da Citroën.

O Povo lança caderno especial do The New York Times

O jornal O Povo lançou na última semana um suplemento especial com matérias do The New York Times. No Brasil, até agora apenas a Folha de S.Paulo editava o caderno. Publicado sempre às 2ªs, traz notícias traduzidas sobre política, economia, mundo, artes e ciência do mundo todo. ?Nós já temos uma parceria consolidada com o New York Times por meio da publicação das colunas do economista Paul Krugman e do jornalista Thomas Friedman. Nosso forte conteúdo editorial e analítico vai ao encontro do que é editado pelo jornal americano. Estamos muito felizes em oferecer este novo e diferenciado material aos nossos leitores?, afirma o diretor-geral de Jornalismo de O Povo Arlen Medina Néri. As colunas de Krugman e Friedman permanecem no núcleo de Negócios, respectivamente, aos domingos e às 6ªs.

As mudanças no Correio do Povo

Além da descontinuidade da coluna de Economia, que Denise Nunes assinava e que deixou de ser publicada no início de novembro, o Correio do Povo promoveu outras mudanças. Segundo o diretor de Redação Telmo Flor, mudaram as datas de circulação de seus cadernos Habitação & Mercado e Mais Preza. Desde o início do mês, o Habitação & Mercado, que trata do setor imobiliário e de construção civil, e que era publicado às 6ªs.feiras, passou a circular às 4ªs. O objetivo é publicar mais conteúdo editorial sintonizado com os interesses dos leitores que buscam a edição dos Classificados do mesmo dia. O Mais Preza, destinado ao público universitário, passa para a 6ª.feira e ganha mais proximidade com o fim de semana e a agenda do público jovem. O  Correio também está investindo na ampliação de seus cadernos especiais, como o Guia de Turismo, que ganhou duas edições neste mês. O caderno Carros & Motos, por exemplo, terá um especial de viagens de final de ano, enquanto o Habitação e Mercado terá uma edição temática sobre reformas.

Wallace Nunes associa-se à TV+ para lançar Leia+ABC

Wallace Nunes vendeu sua parte na Editora Mês no ABC, que passa a ser editada no Paraná, e associou sua Sustentabilidade Editorial ? que já edita e publica a revista Truck&Motors ? à Rede TV+, do publicitário Carlos Carreiras. Juntos, eles preparam o lançamento da revista Leia+ABC, mensal, de atualidades, dirigida ao público A e B da região, que vai substituir a Mês, mas em outro formato. Serão 84 páginas e 40 mil exemplares circulando nas sete cidades, com maior concentração em São Bernardo, Santo André e São Caetano. Ela deve entrar em gráfica no dia 15 de novembro. Segundo Wallace, a ideia é tornar a marca forte a partir da divulgação da revista em todos os programas da TV+ que não sejam dirigidos especificamente ao comércio no ABC. Integram a redação, além dele (jornalista responsável e editor-executivo) e Carreiras (publisher), a editora Andressa Besseler e os repórteres Carla Xavier, Gustavo Dezan e Natalia Regazzo. O time de colunistas/colaboradores é formado por Nivaldo Prieto e Orlando Duarte (Esportes), Darcio Arruda (Música), Izabelli Stein (Sociedade), Gustavo Baena (Política e Economia & Tecnologia) e Adriana Mingorance (Saúde, Educação e Sociedade).

Leila Coimbra começa na Reuters

Leila Coimbra chega à Reuters para assumir a cobertura da área de petróleo e gás no Rio de Janeiro, na equipe de Commodities e Energia, coordenada pelo editor Marcelo Teixeira. Ela estava na sucursal da Folha de S.Paulo, também cobrindo o setor de energia, e antes havia trabalhado na sucursal do jornal em Brasília, colaborando com a equipe de Economia. Também teve passagens pelo Valor Econômico e pela área de comunicação corporativa, coordenando esse trabalho na subsidiária brasileira da EDP. Na Reuters, atuará em parceria com Sabrina Lorenzi, que chegou neste ano para acompanhar o setor de mineração. Com as duas, o serviço brasileiro da agência, chefiado por Alexandre Caverni, busca acompanhar o volume crescente de notícias na área empresarial no Rio de Janeiro, incluindo os setores naval, de logística e de fertilizantes.

Feridas da GZM continuam abertas uma década depois

Dezenas, centenas, milhares foram as histórias de vida afetadas pelo descalabro administrativo-financeiro do mais importante jornal de Economia da história do Brasil, a ainda querida Gazeta Mercantil. Não, a Gazeta Mercantil já não tem um corpo em que se sustentar, porque este, esquartejado por barbaridades empresariais de todas as naturezas, foi indigentemente sepultado sem honras no campo largo do tempo. Foi um sepultamento lento, impiedoso, lancinante, onde os gritos da desesperada coragem de muitos, com o inexorável passar dos dias, deram lugar aos sussurros da indignação e ao mutismo de vergonha de todos. Não houve choro explícito, porque homens (e mulheres e crianças) não choram. Não nessa hora. Mas foram muitas as lágrimas que, contidas, pregavam peças escapando fugidias aos olhos, sem frescor, sem alegria. Sem tristeza, até. Porque eram apenas lágrimas da incredulidade. Como aceitar, afinal, que um jornal que era o exemplo mais bem acabado da defesa serena e pragmática do capitalismo sustentável fosse um poço de insustentabilidade? Como explicar que a publicação econômica mais brilhante de que se tinha notícia no Hemisfério Sul e que norteava a economia do País fosse um abismo de ?dernorteamento? econômico? Como desconfiar que uma organização que exigia das empresas e do mercado práticas fiscais responsáveis fosse uma fraude contábil? Como acreditar que um veículo que defendia e se colocava ao lado de quem era bem sucedido empresarialmente fosse um fiasco de gestão? Como entender que um jornal que falava verdades, e por elas era respeitado, praticasse mentiras? Difícil. Muito difícil. Tão difícil quanto entender como jornalistas tão experimentados, talentosos, respeitados e ciosos de sua reputação pessoal (e também do veículo em que atuavam) demorassem tanto para reagir, praticamente anulando as poucas chances que teriam de reverter o quadro se fizessem isso ao cabo e ao tempo. Foi-se o corpo. Ficou a alma, a energia, o exemplo do bom e digno jornalismo, por muitos apontado como uma das melhores escolas de que se tem notícia no País. Estão por aí, espalhados por inúmeras redações e outras atividades, as dezenas, centenas de jornalistas que passaram pela Gazeta Mercantil, particularmente nos anos da Major Quedinho, no Centro de São Paulo. Se saíram com os bolsos vazios, o coração despedaçado e a autoestima abalada, com certeza carregaram consigo um excepcional legado, o da retidão, da ética e do bom jornalismo. Foi para contar um pouco dessa traumática história, mostrando a montanha russa em que se transformou o fim, da Gazeta Mercantil, num ciclo que se agudizou com a greve de outubro de 2001, que este Jornalistas&Cia convidou a editora-contribuinte Nora Gonzalez. Nora, que foi personagem e testemunha desse processo, escreveu com a razão. Mas os leitores vão perceber que em várias passagens o coração falou mais alto, enriquecendo ainda mais esse emocionante trabalho. Importante frisar que parte da culpa deste especial é de Cecília Zioni, que, com duras críticas à mídia, a quem acusa de ter negligenciado e relegado essa história ao esquecimento, fez a provocação certa, na hora apropriada. Está aí o especial, que busca resgatar, dentro dos limites de nossa capacidade e recursos, um pedaço dessa triste história.- Jornalistas&Cia – Edição Especial – Dez anos da greve da Gazeta Mercantil

Memórias da Redação – A lição de Geraldinho Nunes

A história desta semana é uma colaboração de Luiz Roberto de Souza Queiroz, o Bebeto (lrobertoqueiroz@uol.com.br).

A lição de Geraldinho Nunes

 

Já lá se vão alguns anos, desde quando a madrinha dos cegos Dorina Nowill me pediu que entrevistasse deficientes de sucesso. Fazia parte da campanha cujo objetivo era tirar de casa, onde viviam enfurnados, as centenas de milhares de cegos que não se arriscavam a buscar a chamada inclusão social. Corporativista, como todo jornalista, procurei um “coleguinha” com restrição de mobilidade, Geraldo Nunes, da Rádio Eldorado que, durante meia hora contou, nos estúdios da Fundação Dorina, como sua mãe sofrera ao ouvir dos médicos que o filho jamais seria capaz de andar, como ele resolveu e conseguiu desmentir os médicos com muito esforço, dos erros e acertos, até que um dia se tornou independente e capaz de andar sozinho.

Contou também da dificuldade para estudar, já que até hoje caminha com duas muletas, dos problemas que teve com as mãos, problemáticas, de como foi difícil, baixo e trôpego, se impor nas coletivas até que descobriu que sua voz forte supria a falta de agilidade. Encantou a todos contando como valorizou a voz que o tornou conhecido, como se sujeitou a fazer os programas de rádio da madrugada, problema menor, porque nunca dormiu bem.

Geraldinho explicou que estuda permanentemente, especializando-se na história de São Paulo, de como se tornou o “Repórter Aéreo”, a bordo do helicóptero no qual sempre teve dificuldade para subir e com o qual caiu na Marginal do Tietê, sem que esse acidente lhe tirasse a vontade de voar. Foi uma história emocionante e ele ensinou aos milhares de cegos que nos ouviram que eles são pessoas como as outras, que os direitos são os mesmos, apesar da deficiência e que essa, no fundo, é só um motivo a mais para lutar e vencer.

Passaram os anos e em meados de outubro entrevistei duas cegas, ?cobaias? do primeiro curso brasileiro de Especialização Olfativa. A ideia é que, sem enxergar e, portanto, sem distrações como a cor do perfume, o formato da embalagem, o cego pode “tornar-se todo nariz”.

Dominar os aromas a ponto de identificar em cada aula 50 cheiros diferentes, de temperos a produtos químicos, passando por alimentos e bebidas, capacitando-se ao longo de um ano de estudo muito puxado a trabalhar com as misturas de álcool, essências e demais produtos que, misturados cuidadosamente, compõem os perfumes os quais, combinando-se com o odor de cada pele, vão deixar a mulher com um cheiro único e irresistível. A entrevista interessava muito, porque a especialidade é uma das poucas em que os cegos têm melhores condições de vencer do que nós outros, que eles chamam de videntes. E a prova é que, embora ainda estudando, as alunas do curso já são sondadas para empregos na indústria de cosméticos. Como sempre, me aproximei das deficientes visuais e me apresentei: ?Eu sou o Bebeto, e mais que uma entrevista nós vamos é conversar sobre o curso, porque o escolheram, o que estão achando…?.

E fui cortado por uma delas que disse não ser necessária apresentação alguma: “Eu me lembro bem da sua voz e da entrevista maravilhosa que você fez com o Geraldo Nunes, da Rádio Eldorado, que nos ensinou a lutar e a não desistir nunca”.

A deficiente visual disse isso e, desinibida, foi usando a bengala-longa para avançar pelo corredor acústico e estreito até o minúsculo estúdio. Fiquei um pouco para trás pensando que, tantos anos depois, eu tivera a oportunidade de ver nas duas moças o fruto da árvore cuja semente o Geraldinho plantou. E pensei que é muito bom ser repórter e viver momentos assim.

pt_BRPortuguese