O mais antigo prêmio de jornalismo conhecido em todo o mundo é o Maria Moors Cabot, administrado pela Universidade de Columbia (EUA), criado em 1938 e concedido pela primeira vez em 1939. Apenas dois anos depois, um casal de brasileiros já era indicado para recebê-lo, Sylvia e Paulo Bittencourt. Sylvia, além disso, foi a primeira mulher a receber tal distinção. Esposa de Paulo, diretor do Correio da Manhã, do Rio de Janeiro, ela usava o pseudônimo de Majoy no jornalismo. Além de escrever para o jornal, foi correspondente de guerra da United Press na Europa. Seu nome completo era Sylvia de Arruda Botelho Bittencourt.
Luís Fernando Silva Pinto: do automobilismo para a política internacional
* Entrevista publicada na edição 106 de Jornalistas&Cia Imprensa Automotiva, de 20 a 26 de maio de 2011.
Luís Fernando Silva Pinto, correspondente da Rede Globo em Washington, está completando este mês 40 anos de jornalismo, boa parte vivida fora do Brasil, cobrindo política internacional diretamente de Londres e da capital norte-americana.
Mas o início de tudo foi no Jornal da Tarde, em São Paulo, onde começou a dar expediente aos 15 anos, bem antes de se formar em Jornalismo. E foi na redação do JT, mais especificamente no Jornal do Carro, que ele teve a primeira oportunidade de escrever sobre automobilismo, na equipe comandada à época por Luiz Carlos Secco.
“Eu era ainda bem garoto e, assim como muitos adolescentes, um apaixonado por carros e corridas”, conta. Ao longo da carreira, cobriu fatos mundiais importantes, como a primeira manifestação do movimento das Mães da Praça de Maio, na Argentina, revolução na Nicarágua, Guerra das Malvinas, primeira visita de João Paulo II ao Brasil, massacre na Praça da Paz Celestial em Pequim, atentados de 11 de setembro, entre outros. Nesta entrevista, concedida por telefone, o tema foi o universo automobilístico.
Jornalistas&Cia Imprensa Automotiva – Como foi o início desses 40 anos de profissão?
Luís Fernando Silva Pinto – Sempre gostei de carros e corridas. Lembro que ainda adolescente ia de bicicleta ao Autódromo de Interlagos acompanhar competições. Tive mais tarde muitas motocicletas. Comecei aos 15 anos, no Jornal da Tarde, pelas mãos de Luiz Carlos Secco, que à época era o editor do Jornal do Carro. Foi um grande aprendizado o dia a dia na redação ao lado de um profundo conhecedor do segmento. Aprendi que o universo automobilístico era muito mais do que o esporte em si e a enxergar o setor também pelo aspecto da indústria. A busca pela excelência da notícia é algo fascinante no Jornalismo. É um privilégio vivenciar isso.
J&Cia Auto – Por onde você passou antes de ingressar na Rede Globo?
Luís Fernando – Trabalhei na revista Duas Rodas, na equipe do Josias Silveira. Cheguei à TV Globo em 1976, a convite de Luis Fernando Mercadante, profissional de texto exemplar, com muitos perfis publicados na revista Realidade.
J&Cia Auto – Qual sua relação com o setor hoje?
Luís Fernando – Aqui nos Estados Unidos são muito comuns os clubes de automóveis. Porsche, Audi, Ferrari, BMW e outras empresas mantêm atividades que reúnem proprietários de veículos dessas marcas. Eles participam de encontros, passeios e cursos de pilotagem em pistas para conhecer todo o potencial dos automóveis, aprendendo dicas de segurança, velocidade e competição. Há 15 anos participo do Clube da Porsche como instrutor voluntário. São vários estágios pelos quais os proprietários passam. E quando não estou orientando vou para a pista tirar o melhor proveito dos carros. É um momento de descontração mental!
J&Cia Auto – Um carro inesquecível?
Luís Fernando – Porsche 911 em suas várias versões. O 993 é fantástico, com motor boxer. Eu aprendi a dirigir em um Fusca, então, é fácil imaginar o entusiasmo com o automóvel…
J&Cia Auto – Um momento automotivo que marcou sua vida?
Luís Fernando – Sempre fui fã do Nelson Piquet e quando ele sofreu aquele terrível acidente em Indianapolis eu estava na cobertura e tive que transmitir a notícia ao vivo. Outra passagem marcante foi um GP em Detroit, que o Ayrton Senna ganhou. Eu precisava da entrevista após a corrida. Ele sumiu para o quarto e não aparecia. Mas no final me atendeu.
J&Cia Auto – O que mais o impressiona na imprensa automotiva?
Luís Fernando – Acho a imprensa especializada muito boa e ágil. O destaque fica por conta do trabalho focado na defesa do consumidor. Um olhar voltado à segurança dos motoristas e dos pedestres.
J&Cia Auto – Um profissional da imprensa automotiva para homenagear o segmento?
Luís Fernando – Há muita gente boa nesse meio com enorme capacidade para boas pautas. Secco, Josias, Emílio Camanzi, Konrado Reys…
J&Cia Auto – Livro de cabeceira?
Luís Fernando – Gosto muito de ler e reler títulos. O fio da navalha (Somerset Maugham), O Aleph (Jorge Luís Borges) e Dom Quixote (Miguel de Cervantes).
J&Cia Auto – Time de coração?
Luís Fernando – Santos. Quando estava no litoral paulista, depois do almoço de domingo, meu tio me levava ao estádio para ver Pelé e Coutinho. Tem coisa melhor? (risos)
J&Cia Auto – O que mais gosta de fazer nos momentos de descanso?
Luís Fernando – Namorar. Tenho uma (namorada) há 25 anos, minha esposa.
J&Cia Auto – Algum hobby especial?
Luís Fernando – A paixão pelas pistas.
J&Cia Auto – Tipo de música que mais aprecia?
Luís Fernando – Minha geração é do rock. Mas me atualizo descobrindo coisas novas nos iPods dos meus filhos de 21 e 17 anos. É muito bom ligar o aparelho no sistema do carro e dirigir ouvindo novidades. Também gosto de MPB.
J&Cia Auto – Na televisão, qual programa predileto?
Luís Fernando – Gosto de drama e séries inglesas.
J&Cia Auto – Quais os jornais e revistas de que mais gosta? E sites especializados?
Luís Fernando – Leio de tudo um pouco, os grandes jornais do Brasil, Estados Unidos, Inglaterra…
J&Cia Auto – Um sonho por realizar?
Luís Fernando – Ter um programa de carros! Quero falar dos lançamentos, ir para as pistas e testar todos os detalhes.
Ranking J&Cia ? Os vitoriosos regionais de todos os tempos
Os campeões de prêmios de todos os tempos das cinco regiões brasileiras foram Luiz Maklouf Carvalho (Norte), com 155 pontos; Teresa Cristina Maia Dantas (Nordeste), com 295 pontos; Vicente Nunes (Centro-Oeste), com 277,5 pontos; Eliane Brum (também a campeoníssima nacional ? Sudeste), com 765 pontos; e Carlos Wagner (Sul), com 537,5 pontos. Aqui cabe também uma explicação. Como vários profissionais ganharam prêmios em mais de uma região, para efeito dos rankings regionais eles estão contabilizados na região de origem, ou seja, onde o profissional estava na época da premiação. Por essa razão, por exemplo, a gaúcha Eliane Brum aparecerá no ranking regional Sudeste com uma pontuação menor do que a que obteve no geral. Poderia também ter aparecido no Sul, caso tivesse pontuação para estar entre os dez mais daquela região, mas não foi esse o caso. Importante também frisar que, para efeito de classificação, o profissional figura na região onde o veículo tem sede. Se forem sedes descentralizadas, como as da Rede Globo, eles aparecem nas respectivas regiões. Se for uma sede centralizada, como Folha de S.Paulo, por exemplo, ele aparece sempre na região Sudeste, embora possa estar atuando em outra região, caso específico de Fernando Rodrigues, que é da sucursal Brasília do jornal. Nas tabelas a seguir você poderá conferir os dez mais premiados jornalistas brasileiros de todos os tempos das Regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul.Ranking J&Cia 2011:Entenda o sistema de pontuaçãoEliane Brum é a mais premiada de todos os temposOs vitoriosos de 2011Os vitoriosos regionais de 2011
Na RBS, série sobre aposentadorias ganha o Jayme Sirotsky
Giovana Perine, Zulmar Nunes, Fabian Londero, Ildiane Silva, Marcos Togo, Eduardo Alexandre, Upiara Boschi e Natália Viana, com a série Aposentadorias por invalidez na Assembleia Legislativa, veiculada na RBS TV Florianópolis e no Diário Catarinense, foram os grandes vencedores do Prêmio Jayme Sirotsky de Jornalismo e Entretenimento.
A série foi escolhida como a melhor matéria entre as 15 vencedoras do Prêmio RBS de Jornalismo e Entretenimento, que reconhece trabalhos produzidos por profissionais do Grupo RBS.
Confira a lista completa dos ganhadores: Reportagem de Jornal: Ângela Bastos (Diário Catarinense), com Os Desapartados ; Reportagem de TV: Elói Zorzetto, Daniella Poli, André Azeredo, Karina Chaves, Guto Teixeira, Itajaiba dos Santos, Marcos Valim Hofmann, Robson Stefani e Everton Correa (RBS TV Porto Alegre), com Pesadelo da Saúde ; Reportagem de Rádio: Jocimar Farina e equipe (Rádio Gaúcha), com Rodovia do Parque ,O Gaúcha Hoje está de Olho ; Jornalismo Investigativo: Giovana Perine, Zulmar Nunes, Fabian Londero, Ildiane Silva, Marcos Togo, Eduardo Alexandre, Upiara Boschi e Natália Viana (RBS TV Florianópolis e Diário Catarinense), com Aposentadorias por invalidez na Assembleia Legislativa ; Imagem Vídeo: Cláudio Vaz (RBS TV Santa Maria), com Flagrante de Violência no Calçadão ; Imagem Foto: Marcos Porto (Jornal de Santa Catarina), com A Dor se Repete ; Cobertura: Humberto Trezzi, Luiz Antônio Araujo e Rodrigo Lopes (Zero Hora), com Primavera Árabe ; Inovação Jornalística: Ricardo Chaves e Kamila Almeida (Zero Hora), com Vidas Ausentes ; Design/Layout: José Deon, Roberto Nielsen e Ricardo Wolffenbüttel (Pioneiro), com Buracos nas Estradas ; Blog: Cláudia Ioschpe (Zero Hora), com ByN9ve ; Entretenimento: Wania Bittencourt, Mariana Furlan, Vinicius Batista, Suellen Venturini, Aderlani Furlanetto, Marcelo Camacho, Daniela Pereira, Pamyle Brugnago e Caroline Passos (Jornal de Santa Catarina), com Para Seu Filho Ouvir ; Arte/Infográfico: Guilherme Gonçalves e equipe (Zero Hora), com Newsgames ; Sacada: Juliana Sakae, Patrícia Prado e Barbara Nickel (Diário Catarinense), com Tomada de Laguna pelo Twitter ; Ação Multimídia: Carlos Wagner, Diego Araujo, Isadora Neumann, Mauro Vieira e Rosane Tremea (Zero Hora, Canal Rural e outros), com Brasil de Bombachas ; Relação Comunitária: Neimar Beschoren e equipe (Grupo RBS em Santa Maria), com Viva a Faixa!
Memórias da Redação – Um escândalo durante a ditadura
A história desta semana é de Milton Saldanha (milton-saldanha@uol.com.br). Aposentado, ?mas sempre ativo?, como ele próprio afirma, tem há 17 anos um jornal mensal, o Dance, dedicado à dança de salão e mantém um blog de crônicas sobre os mais variados assuntos. Com 66 anos, 48 de jornalismo, dois livros publicados e um terceiro a ser lançado em breve, Periferia da História, atuou em vários órgãos de imprensa, no Rio Grande do Sul e em São Paulo. Como descobri e denunciei um escândalo durante a ditadura Um mero acaso, somado ao meu olhar atento sobre um trecho de ferrovia, em paisagem rural da Grande São Paulo, na região de Suzano, ensejaram aquela que certamente foi a maior reportagem da minha carreira de repórter, há 35 anos: a denúncia, em página inteira no Estadão de 1/7/1976, de um escândalo envolvendo o Ministério dos Transportes, cujo titular na época era o coronel Mario Andreazza. Em plena ditadura, Governo Geisel. Vale a pena contar essa história, com justa vaidade uma lição de jornalismo, porque tudo, de ponta a ponta, foi fruto da minha sacada de que algo estava errado, além do subsequente esforço de apuração, que levou mais de um mês até fechar todo o quadro e provar a denúncia. É bom lembrar que quase invariavelmente as denúncias de escândalos que chegam aos jornais e revistas são plantadas por pessoas com informações privilegiadas e que de alguma forma se sentiram lesadas. Geralmente, quem perdeu alguma concorrência pública. No caso deste relato não teve nada disso. Tudo começou e terminou com este repórter, sem qualquer interferência externa. O episódio começa num dia de muito sol e calor, quando peguei meu Fusca, sozinho, para fazer uma despretensiosa reportagem de turismo de fim de semana sobre a estrada SP-31, a rodovia Índio Tibiriçá, que liga Ribeirão Pires a Suzano, na Região Metropolitana da Grande São Paulo. Eu recém tinha assumido a chefia de Redação da Sucursal do ABC do Grupo Estado (Estadão, Jornal da Tarde, Agência Estado e Rádio Eldorado), por indicação de Dirceu Pio ao Raul Bastos, então chefe da rede de sucursais. Pio, ex-chefe da Sucursal, que sempre teve uma redação competente e respeitada, vinha me dando grande apoio e foi dele a sugestão da matéria sobre a estradinha, que contorna parte da represa Billings, é local de pescadores e de bancas de frutas, flores e mel produzido nas chácaras das redondezas. Fui parando para entrevistar comerciantes e pescadores, até que cheguei num posto de gasolina, no km 10, para abastecer e aproveitar para ouvir também o dono sobre o movimento na estrada. Era um japonês alto e simpático, Ishikawa, que começou lamentando que teria que encerrar seus negócios ali, fechar o posto e pensar no que fazer. Meu primeiro entendimento foi de que o movimento seria fraco e o posto estivesse dando prejuízo. Mas não era isso. Ishikawa me levou até o escritório e abriu documentos e mapas da região. E explicou: ali perto estava sendo erguida a barragem do Taiaçupeba, uma obra do governo paulista, destinada principalmente a ajudar no abastecimento do ABC e Zona Leste paulistana, além da regularização do fluxo do Tietê, para reduzir o impacto das enchentes. A cota de inundação da represa, como é chamada tecnicamente a área ocupada pelas águas, em pouco tempo alcançaria a estrada, ficando o posto nas margens. Já estava nas previsões a construção do desvio, com desapropriações de chacareiros de uma colônia japonesa que se dedicava ao cultivo de rosas. Ishikawa, mesmo não sendo engenheiro, até bolou e propôs ao Estado uma solução mais barata e menos complicada do que as desapropriações, que seria uma elevação da estrada. Ishikawa me contava tudo aquilo, eu ia fazendo anotações já vislumbrando novas pautas sobre o assunto, quando de repente bati o olho nos trilhos de trem que passavam paralelos à estrada, a poucos metros dali. Um detalhe em especial chamou minha atenção: os dormentes de madeira (sobre os quais são fixados os trilhos) eram novos. Eu já havia morado perto de ferrovia e viajei muito de trem na infância e adolescência. Sabia que pelo uso e tempo ferrovias antigas têm dormentes enegrecidos e lascados. Ali não, tudo era novo. A madeira ainda estava clara. Logo, algo estava errado. Comecei a fazer perguntas a Ishikawa sobre a ferrovia e fiquei sabendo que o ramal, de 7,5 quilômetros, por onde passava um trem por dia transportando minério de ferro destinado à Cosipa, havia sido inaugurado pelo ministro Andreazza em agosto de 1971. Informação fácil de checar e que se confirmou. Porém, desde 1969 técnicos do Estado já vinham mantendo reuniões com moradores da região para tratar da desocupação da área que seria ocupada pela represa. Não fazia sentido. Como poderiam ter inaugurado os trilhos justamente sobre uma área que já estava prevista para ser inundada? Começava ali, no próprio posto de gasolina e com seu modesto dono, minha investigação de um escândalo que custou, na época, 45 milhões de cruzeiros (a moeda então vigente) aos cofres públicos. A busca da verdade Até concluir a matéria, que ocupou a última página inteira do Estadão (depois da capa, a mais nobre do jornal e mais ambicionada pelos repórteres), foi mais de um mês em que mergulhei de cabeça na investigação do caso. Saiu tudo na íntegra, sem qualquer mudança ou corte. ?45 milhões, o preço de um prazo político? foi a manchete da página. O espaço foi dividido em várias retrancas, onde contava, além do escândalo, os dramas dos atingidos pelas desapropriações, analisava os impactos da nova represa, custos, finalidades, soluções etc. Mereceu, claro, destacada chamada na capa do jornal. Tive que conciliar os trabalhos de apuração e texto com a chefia da redação, onde bolava pautas diárias para meia dúzia de repórteres e copidescava suas matérias. Não era fácil, mas o entusiasmo pela investigação estava acima de tudo. Eu não dava a mínima para horário de trabalho. Eram 12 horas por dia, não raro até mais. Saí a campo em busca de fontes, respostas e documentos. Tudo teria que encaixar, com precisão, acompanhado de provas. Para denunciar o seguinte: o ministro dos Transportes tinha autorizado e inaugurado uma obra em tempo e lugar errado, mesmo estando informado que ela não teria vida longa. Só poderia existir uma razão para isso: havia gente ganhando dinheiro no superfaturamento da obra. Detalhe que eu não tinha como provar, infelizmente, mas que ficava implícito para qualquer leitor mais ou menos atento. E, mesmo supondo que tivesse sido só incompetência e erro técnico, a decisão implicava num grande prejuízo aos cofres públicos. A bagunça e desintegração entre as esferas estadual e federal era tanta que a construção do ramal ferroviário começou mesmo com o projeto da barragem já em curso. As autoridades estaduais se apavoraram e espalharam ofícios aos mais diversos órgãos federais informando a situação e pedindo a urgente criação de um desvio. Em vão, o ministro mandou tocar em frente. Qualquer alteração mudaria todo o cronograma e havia um prazo político. Percorri diariamente corredores e tomei chás de cadeira em antessalas dos mais variados órgãos, muitas vezes só por um pequeno detalhe, mas sempre indispensável na composição da colcha de retalhos em que se constitui uma matéria investigativa: DAEE – Departamento de Águas e Energia Elétrica; Fepasa ? Ferrovia Paulista S.A., Departamento Nacional de Estradas de Ferro, Cetesb, Sabesp, DER, DNER, Palácio dos Bandeirantes e outros lugares… Haja entrevista e haja luta para fazer falar quem temia isso. Por exemplo: eu precisava ouvir o então presidente da Cetesb Renato Della Togna, que, em 1968, tinha sido o superintendente da Divisão do Vale do Tietê. Era uma das autoridades estaduais que alertou, por escrito, sobre o problema. Ao tentar marcar um encontro, por telefone, percebi que ele fugia da raia. Claro, aquilo era mexer em vespeiro. Fui para seu gabinete na Cetesb, em Pinheiros, e me plantei na antessala uma tarde inteira. ?Em alguma hora ele terá que aparecer?, era minha idéia fixa. Só quase no final do dia isso ocorreu. ?Não posso atender, tenho um coquetel no térreo agora?, me disse. ?Vou junto?, respondi, colado ao homem como um carrapato. Descemos o elevador, eu já entrevistando. Depois em pé, no coquetel, entre canapés e coxinhas de frango. Esperava ele dar atenção a alguém e voltava à carga. O homem acabou falando, com certeza não tudo, mas tive que tirar suas declarações como carro que pega no tranco, aos empurrões. E certamente falou, em parte, para se livrar do tremendo chato que era aquele repórter. O nome do jornal pesava, então ele me aturou com paciência, digamos. Eu também não era bobo, fiz pressão insinuando que o seu silêncio seria questionado pelo Estadão. Como um quebra-cabeça, tudo ia se encaixando. Depois eu organizava os fatos em ordem cronológica. Esse andamento era animador. De entrevista em entrevista, ora em on, ora em off, mais documentos, foi possível fazer a denúncia. O mais precioso documento era a cópia de um oficio do DAEE, devidamente datado, informando ao Ministério dos Transportes sobre o cronograma de obras da represa. Além do périplo pelas repartições oficiais, voltei à região dezenas de vezes, para ouvir moradores, empresários, chacareiros. Numa das ocasiões, acompanhado do fotógrafo Clóvis Cranchi Sobrinho, que fez fotos dos famosos trilhos e da bacia da barragem do Taiaçupeba, que ilustraram a matéria. Nos dias seguintes à publicação, o jornal deu editoriais sobre o caso e fez matérias de repercussão, aos cuidados da Local, como era chamada a equipe de reportagem de cobertura da Capital. A censura nesse período já estava quase suspensa ? ainda bem. Um pouco antes, e não teria saído uma única linha. A denúncia não deu em nada, como sempre acontecia durante a famigerada ditadura. Autoridades reagiam de modo truculento e não davam explicações. Jornalistas insistentes corriam sérios riscos, até de prisão. Mas, pelo menos, minha reportagem alcançou a opinião pública. Só isso já foi uma grande vitória.
Comissão da Câmara aprova Landell no Livro dos Heróis da Pátria
Ante o parecer favorável do relator Esperidião Amin, a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara dos Deputados aprovou no último dia 15/12 o Projeto de Lei 7504/2010, que dispõe sobre a inscrição do nome do padre Roberto Landell de Moura, verdadeiro inventor do rádio, no Livro dos Heróis da Pátria. Com o recesso de final de ano e se não receber emendas no prazo regimental de cinco sessões ordinárias, a CCJC deve encaminhar o projeto para sanção da presidenta Dilma Rousseff em fevereiro, o que representará o reconhecimento oficial da importância da obra de Landell para o País, equiparando-o a outros cientistas ilustres como Vital Brazil, Oswaldo Cruz e Santos Dumont. Vale lembrar que o projeto foi apresentado em 17/6/2010 pelo então senador Sérgio Zambiasi (PTB/RS), por sugestão de seu chefe de Gabinete Dirceu Braz Goulart Neto (hoje exercendo a mesma função junto à senadora Ana Amélia Lemos), e de Marcello Antunes, assessor de imprensa da Liderança do PT e do Bloco de Apoio ao Governo no Senado, todos simpatizantes do Movimento Landell de Moura.
O adeus a Rodolfo Fernandes
A morte precoce, aos 49 anos, abreviou o sofrimento de Rodolfo Fernandes, seus familiares e amigos na tarde de sábado (27/8), na Clínica São Vicente, no Rio. A causa foi insuficiência respiratória, decorrente de esclerose lateral amiotrófica (ELA).
Diagnosticada havia dois anos, a doença é um distúrbio degenerativo do sistema nervoso central, ainda sem cura e de causa desconhecida. Provoca restrições progressivas na capacidade motora, resultando em paralisia, dificuldade para falar, engolir e respirar, sem comprometer a parte cognitiva. Rodolfo trabalhou até a última 5ª.feira (25/8), quando reuniu, no final da tarde, os editores-executivos para decidir a primeira página do dia seguinte e do final de semana, conforme depoimento de Luiz Antônio Novaes, o Mineiro, e Helena Celestino, publicado no jornal.
O imortal da ABL Merval Pereira resumiu: “Marcou sua passagem pelo jornal com uma linguagem que refletia a visão crítica e irônica do mundo e, com os cadernos especiais, […] aprofundando os temas mais importantes do momento”.
Nos últimos tempos, para se comunicar, Rodolfo usava um equipamento com tecnologia eye tracking. Projetado e desenvolvido para o cientista britânico Stephen Hawking, o método se compõe de um software que tem o teclado no monitor, sobre o qual há uma câmera hipersensível, que percebe o movimento dos olhos. Esta relação entre o usuário e a tela, mediada pelo olho, é o que existe de mais avançado na interação entre o ser humano e a máquina. A pessoa com paralisia olha para uma letra, que é acionada, depois outra e, assim, sucessivamente. Uma voz do computador repete a palavra escrita, que também aparece digitada. Independentemente disto, é possível se conectar.
Por esse sistema, Rodolfo podia abrir seu computador, ler jornal todos os dias, trocar e-mails. Miriam Leitão comenta: “A doença avançava e, com gestos, atitudes e delicados sinais, ele foi conduzindo a Redação a entender o sentido da palavra “inevitável” […]. No final, só lhe restava o olhar; e era suficiente”. Filho de Hélio Fernandes, dono da Tribuna da Imprensa, na juventude Rodolfo ia para o jornal nas férias escolares, trabalhar como faz-tudo na Redação. Depois de formado, foi para a Tribuna, em Brasília e, a partir daí, desenvolveu carreira independente. Esteve em Folha de S.Paulo, Jornal de Brasília e Jornal do Brasil.
Chegou à sucursal do Globo, como repórter, em 1989. Seis anos depois, voltou ao Rio, como editor de Nacional e, em um ano, passou a editor-chefe. Dele diz Hélio Fernandes, hoje com 90 anos: “Acho que todos vão concordar comigo: era um homem sem inimigos. Ao contrário do pai, o que prova que nem tudo é genética”. Em sua gestão, O Globo ganhou 93 prêmios, nacionais e internacionais.
Da estada em Brasília, chamou para trabalhar com ele, no Rio, Ascânio Seleme, agora nomeado para sucedê-lo, e que diz: “Um analista estupendo dos bastidores da política nacional. Sempre encontrava um ângulo novo, um ponto de vista diferente da história, da notícia. Era capaz de dar furo em coletiva”. E também o editor-executivo Luiz Antônio Novaes, o Mineiro, amigo daquela data. O Globo tem uma história de diretores de Redação exigentes, duros com sua equipe, desde Evandro Carlos de Andrade.
O cargo, em qualquer veículo, não costuma ser simpático. Na gestão de Rodolfo, poucos se lembram de um diretor tão querido por sua equipe. Cora Rónai define: “Ele herdou a garra do pai, o senso de humor do tio [Millôr Fernandes] e a inteligência desconcertante dos dois. Herdou também a natural elegância da mãe. Era firme e decidido, mas ao mesmo tempo doce e suave”.
E Ancelmo Gois completa: “Conheci poucos com tão elevado sentimento de amizade e generosidade, que distribuía igualmente para reis e plebeus”. Para nós, deste Jornalistas&Cia, foi, mais do que tudo, um amigo. Quanta notícia exclusiva, quantos detalhes das notícias nebulosas, sempre seguidos da recomendação: “Pode editar como quiser”.
A última que enviou, de forma espontânea, em 22/3, já valendo-se da tecnologia de escrita por meio dos olhos foi essa: “Caro, veja que legal. Com a nomeação da Adriana Oliveira para editora de Rio no lugar do Paulo Motta, pela primeira vez na história do Globo, e talvez da imprensa, todas as editorias do jornal são chefiadas por mulheres, à exceção de dois enclaves machistas onde esta realidade ainda vai demorar a chegar: Esporte e Carro.
A lista é impressionante: O País, Rio, Inter, Ciência/História, Economia, Segundo Caderno, Revista O Globo, Rio Show, Morar Bem, Revista da TV, Megazine, Boa Viagem, Prosa & Verso e, naturalmente, o Ela. E o que é melhor: foi um processo natural, sem precisar de cotas ou ações afirmativas, baseado unicamente na competência das envolvidas. Em breve, isso sim, o jornalismo vai precisar de cotas para os homens…”. Antes dela, em 19/1, quando o arguimos sobre a nomeação de Ascânio como seu adjunto, escreveu com os olhos: “O adjunto sempre existiu na nossa estrutura. Eu mesmo fui adjunto do Ali [Kamel], que foi adjunto do [Luís] Erlanger etc. É apenas a oficialização de uma situação que já existia de fato”. Rodolfo deixa dois filhos, Felipe e Letícia, futuros jornalistas, do primeiro casamento com Sandra Araújo.
Após o velório na tarde de domingo, 28/8, no Memorial do Carmo, seu corpo foi levado ao Crematório do Caju.
Ranking J&Cia – Os vitoriosos regionais de 2011
Os mais premiados jornalistas em 2011 nas cinco regiões brasileiras foram Wilson Severo (Norte), com 90 pontos; Fabiana Moraes (Nordeste), com 75 pontos; Fernando de Castro Lopes (Centro-Oeste), com 65 pontos; Mônica Bergamo e Cátia Toffoletto (Sudeste), empatadas com 135 pontos; e Marjuliê Martini e Marcos Porto (Sul), também empatados com 65 pontos.
A seguir você confere os dez mais premiados jornalistas brasileiros por região no Ranking J&Cia de 2011. No caso da Região Norte, o ranking contempla apenas seis profissionais. E há casos onde são mais de dez profissionais, em função de empate em alguma posição da lista.
Leandro Mazzini estreia no Congresso Em Foco
Leandro Mazzini passou a integrar desde a última semana o time de colunistas do site Congresso em Foco, com a coluna Esplanada, de notas políticas e bastidores de Brasília. Entre 2007 e 2011, ele respondeu pela coluna Informe JB, antes do Jornal do Brasil passar a ser digital. Mineiro de Muriaé, com 35 anos de idade e 12 de profissão, Leandro é pós-graduando em Ciência Política pela UnB. Iniciou a carreia no jornalismo político no Rio de Janeiro. Ao mudar-se para Brasília, passou a cuidar do Informe JB. É autor do livro de crônicas Corra que a Política vem aí. Atualmente, sua coluna de notas é reproduzida em vários jornais do País. É também apresentador de dois programas de debates políticos na Rede Vida: Tribuna Independente (às 3ªs.feiras) e Frente à Frente (às 2ªs, 4ªs e 6ªs).
Especial J&Cia – Infoglobo
Em 5 de novembro de 2007, Jornalistas&Cia esteve na Infoglobo, no Rio de Janeiro, para entrevistar o então CEO da empresa Paulo Novis e o diretor-executivo Agostinho Viera. Ali, numa conversa agradável e sem pressa, o diretor Eduardo Ribeiro e a editora Cristina Vaz de Carvalho conheceram um pouco melhor o presente e o futuro de uma das mais importantes empresas jornalísticas do País.
Da conversa nasceu a edição especial 615A, sob o título: Infoglobo: pés no presente e olhos no futuro. Quatro anos depois, Eduardo e Cristina voltaram àquele cenário para conversar com Marcello Moraes, o novo CEO da organização. Foram novamente conferir as novidades, a transição e os planos.
A edição especial você confere no Especial Jornalistas&Cia – Infoglobo.