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sábado, abril 20, 2024

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O café para a imprensa

Por Virgínia Queiroz

Houve um tempo que Montes Claros e o Norte de Minas tinham um seleto grupo de pecuaristas que eram considerados os “Marechais do Campo”. Eram grandes pecuaristas e criavam milhares de animais, que transformavam em bois gordos para venda. E Montes Claros já teve um líder rural que atuava em nível nacional. João Alencar Athayde tinha poder de persuasão e liderava reuniões em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte com a presença de líderes nacionais, representantes de importantes entidades, como a Sociedade Brasileira Rural.

Como presidente da Sociedade Rural, construiu o Parque de Exposições, hoje um local de diversões, principalmente nos dez dias de julho, quando é realizada a exposição agropecuária visitada por milhares de pessoas. E no recinto do parque a imprensa sempre era chamada para as entrevistas coletivas.

Esse fato se passou nos anos 1950. Fui chamado por doutor João Athayde para fazer a reportagem sobre a inauguração da primeira exposição agropecuária, que aconteceria dentro de 15. Também foram chamados Lazinho Pimenta, da Gazeta do Norte, e Júlio Melo Franco, da Tribuna de Montes Claros.

A coletiva estava do meio para o fim quando o entrevistado solicitou a presença de um garçom para servir um café aos jornalistas. Veio um rapaz conduzindo uma bandeja com as xícaras e um bule. O garçom, novato, meio inexperiente, colocou tanto café que extravasou as bordas das xicaras e o café encheu os pires. Doutor João, levantou-se de sua cadeira aborrecido, determinou em voz alta, bastante indignado e com dedo em riste:

– Recolhe! Recolhe! Recolhe! Tire imediatamente!

O rapaz assustado, indagou:

– O senhor não pediu café?

– Foi só o café. Mas não pedi que enchesse tanto as xícaras. É falta de educação e de consideração com os repórteres. Volta na cozinha e me faça o favor de trazer outras!

O garçom voltou ao restaurante e retornou com o bule cheio e novas xicaras. Doutor João, ficou observando…. e de dedo em riste, bradou:

– Coloque faltando um dedo! Um dedo! Um dedo! Um dedo!

E o moço, receando nova bronca, ia mirando cada xícara para não passar do ponto, olhando o líquido caindo e medindo a olho.

Nós prendemos o riso. Saboreamos o café. Nenhum olhava para o outro com receio de explodir na gargalhada.

Lá fora do parque, longe do entrevistado, o trio que participava da coletiva não parava de rir. E o Lazinho com o dedo em riste imitava: Um dedo! Um dedo! Um dedo!!!

Era assim o doutor João Athayde. Um homem que gostava de tudo muito certinho e tinha muito respeito com os jornalistas.

Décio Gonçalves de Queiroz

A contribuição desta semana vem novamente de Virgínia Queiroz, da Infinity, que trabalhou por 25 anos na TV Globo-SP e teve uma rápida passagem pela Band. Em homenagem ao pai, Décio Gonçalves de Queiroz, falecido em maio do ano passado, ela separou algumas histórias que ele publicou na coluna Canto de Página do Jornal de Notícias, de Montes Claros, no Norte de Minas, e enviou a este J&Cia. Vale lembrar que ele próprio dirigiu por décadas o Diário de Montes Claros, além de ter sido revisor no Estadão, nos anos 1950. A história que reproduzimos é da edição de 10 de fevereiro de 2017.

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Tem alguma história de redação interessante para contar? Mande para [email protected] e contribua para elevar o nosso estoque de memórias

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